Em processos negociais, o melhor antídoto para o medo é a construção de cenários que permitam antecipar os possíveis impactos de cada proposta. Mas não basta prever os impactos. A previsão precisa ser comunicada e discutida com as demais partes envolvidas. Ao construir o seu planejamento de negociação, você irá identificar os riscos inerentes ao processo e pensar soluções para minimizá-los. Essa é uma forma de estar mais seguro durante o processo negocial, tornar mais clara a exposição de suas propostas e argumentos e favorecer a adoção de processos criativos na negociação.

Na verdade, não basta “querer ser criativo” durante o processo negocial. Como veremos a seguir, as condições favoráveis e algumas técnicas de criatividade podem ajudar bastante para que soluções novas sejam desenvolvidas e para que as necessidades e os objetivos das partes possam ser atendidos.

Na entrevista de Roger Fisher à revista HSM MANAGEMENT, ele fala da importância da criatividade nos processos negociais e cita excelente exemplo de como a ideia criativa pode ser a solução para uma negociação em que o acordo está difícil.


O Sr. pode dar um exemplo de criatividade?

Lembro-me de quando estávamos em Chipre discutindo como dividir a ilha entre turcos e gregos e constituir uma federação. O exército turco ocupava cerca de 40% da ilha e a população grega representava aproximadamente 60% da população total. Como dividir? 40-60? 50-50? Então, eu disse: "Por que não dividir 40-80? Por que não dizer que os turcos poderão utilizar 40% da ilha e os gregos 80% e cada um terá um porto seguro e um pedaço que representa 20% da ilha no qual trabalharão juntos?" A sugestão deixou-os sem fôlego, porque nunca tinham pensado na possibilidade de que a soma das partes seria mais de 100%, se compartilhassem o aeroporto e algumas cidades.

O Sr. diz que é preciso criar opções durante a negociação, mas como fazer isso?

Muitas vezes é útil ter um período de brainstorm informal, durante o qual nada represente um compromisso. Eu diria nesse período: "Você me vende a propriedade, eu posso pagar US$ 1 milhão, mas vamos antes pensar em outras possibilidades". Se eu não oferecer US$ 1 milhão, você pode pensar que estou querendo ficar com a casa de graça. Mas estou só procurando injetar alguma criatividade sem que isso signifique um compromisso. A outra possibilidade é imaginar o que seria recomendado por uma terceira parte. O que fizeram outras pessoas nas mesmas circunstâncias? Nesse ponto, é muito importante ser criativo. Algumas pessoas têm dificuldade de fazer qualquer outra coisa além de exigir que suas próprias soluções sejam aceitas. É bom quando alguém diz: "Talvez possamos fazer isso de outra forma; que tal examinar outras possibilidades?" Isso exige criatividade e geralmente significa que, durante um certo tempo, as ideias da outra parte não serão criticadas. Com o brainstorm, todas as ideias são apresentadas e surgem as ideias que serão selecionadas para análise, mais tarde. Ao final, chega-se a uma decisão, porém bem mais tarde.



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