Outra vez você deve estar pensando: “Isto não existe. Não existem relações que sejam puramente racionais”. Outra vez, também, deve lembrar-se do campo conceitual. Na realidade, essa característica é adaptável a diversas contingências. Por exemplo, sabe-se que no Brasil as relações afetivas são muito importantes, inclusive para o bom desempenho de funcionário. Foi Sérgio Buarque de Holanda que relatou a impressão de um comerciante inglês quando esteve no Brasil. Para o comerciante, antes de a pessoa tornar-se seu cliente deve-se tornar seu amigo.

Exageros à parte, sabe-se que no Brasil a relação que se desenvolve com o mundo do trabalho é muito diferente da que se desenvolve em países com uma cultura organizacional racional mais próxima do modelo das burocracias racionais, como nos Estados Unidos e Inglaterra. No Brasil, ao contrário, as organizações que não levam em consideração a importância das relações pessoais para formulação de suas políticas de recursos humanos podem ter funcionários insatisfeitos.

Certo executivo esteve nas festas organizadas por uma empresa no fim do ano, em que se confraternizavam patrões e empregados. Para ele tais eventos eram impossíveis de acontecer na Inglaterra, seu país. Era impressionante, a seu ver, como as relações humanas nas empresas brasileiras conseguem preservar espaço para relações fora dos limites racionalizantes.

Com estas afirmações, apenas gostaria de levá-lo a concluir que, primeiro: as organizações estão inseridas em contextos culturais, e dessa forma, não existe uma única forma de se estruturar e combinar as características das organizações. Segundo: a busca por aumentar a eficiência pode levar, inclusive, à utilização, à incorporação de elementos considerados como tradicionais na vida da empresa. Ora, se numa festa de final de ano, um churrasco na chácara do patrão pode potencialmente aumentar o índice de satisfação do empregado com a empresa e, consequentemente, a elevação da produtividade, por que não utilizar desses mecanismos que são considerados típicos de uma relação tradicional? A revalorização de aspectos desprezados e rejeitados pelo modelo taylorista, principalmente a nova visão sobre a importância da valorização da capacidade criativa do funcionário, ao mesmo tempo em que se criam mecanismos para que ele interprete a sua vida organizacional como a coisa mais importante.

Conforme discutiremos à frente, estamos vivendo uma nova relação entre capital e trabalho, que nos põe diante de outras táticas para aumentar a eficiência, logo, os lucros das organizações.



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