"A
nova geração de talentos é formada por pessoas
menos comprometidas com a empresa.” Isso se reflete na adesão
ao modelo de controle acionário: em 1998, 87,5% dos profissionais
de 25 a 30 anos eram acionistas da empresa. Hoje, a taxa é de
54,3%.
Preocupado,
Gemignani muniu-se na última semana de junho com 50 funcionários
para debater a questão. Um dos motivos apontados para a queda
de interesse foram as demissões do ano passado, quando a empresa
teve de cortar seu quadro pela metade. “Não saíram
só os de desempenho baixo, foi um corte na carne. As pessoas
interpretaram assim: a empresa quer comprometimento, mas não
pode oferecer garantias?", diz Gemignani.
Diagnosticar o problema é muito mais fácil do que resolvê-lo.
“Estamos tratando uma doença nova com mecanismos antigos.
Enquanto não encontrarmos um antídoto, o que podemos fazer
é reconhecer que existe uma questão e tentar amenizar
pelas bordas?", diz Pianucci, da HP. Recentemente, a diretoria
da HP reuniu-se para discutir um dos principais problemas apontados
pelos funcionários: excesso de trabalho.
Foi criado um grupo de estudo com profissionais de diversos níveis
que terá 30 dias para fazer um diagnóstico, 60 para sugerir
soluções e 90 para implementá-las. Com um detalhe:
a turma deverá partir do pressuposto de que o volume de trabalho
não vai diminuir!
Na Accentute, os líderes estão sendo orientados a filtrar
melhor a pressão e há massagistas no escritório
uma vez por semana pata atender os mais estressados. “Resolve?
Claro que não”, diz Fleck. “Mas é uma
forma de dizer: reconhecemos que vocês estão pressionados”
Até mesmo os executivos da AmBev, famosa por sua cultura aguerrida
de busca de resultados, estão atentos. “Se não
tomar conta do modelo abrasivo, você corre o risco de deteriorar
o relacionamento entre as pessoas e a empresa”, diz Magim
Rodrigues, que, em janeiro de 2004, trocará a presidência
executiva pela vice-presidência do conselho de administração
da cervejaria. Os excessos causados pela busca de resultados a qualquer
preço - característica do modelo AmBev de gestão
- foram constatados há cerca de dois anos, na forma de exageros
na área de pessoal: para fechar suas metas, os gerentes não
titubeavam em apertar os custos, cortando, inclusive, gastos com salário
e treinamento. “Hoje eles continuam tendo autonomia para fazer
o que for necessário pelo resultado”, diz Magim. “Mas
não podem mexer na política de pessoas”.