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incrível história de Dona Emerenciana, a Sovaquenta” Houve épocas em que era possível reconhecer a idoneidade moral das mulheres pelas suas...pasmem... pelas suas axilas! No tempo das melindrosas, moçoilas de família e senhoras decentes não depilavam as axilas. As catraias, palomas, quengas é que tinham esse mau hábito. Já no tempo da Tropicália, Baby – então Consuelo –, Gal Costa e Maria Bethânia mantinham suas axilas cabeludas, o que causava espanto: “essas hippies, transviadas, não tomam nem banho”, era o que se dizia. O mesmo sovaco: duas interpretações diferentes. Vamos, então, analisar a incrível história de Dona Emerenciana, a Sovaquenta. Em meados do século XVIII, D. Emerenciana, uma matrona lusitana recém-chegada da “terrinha”, funda um vilarejo no interior de Goiás. D. Emerenciana tinha os cabelos de sua honorável axila tão longos que chegava a fazer “trancinhas” neles. Em decorrência desta sua característica tão peculiar, acabou por receber a alcunha de “a sovaquenta”. Ainda hoje, quase dois séculos após seu falecimento, mantém-se a tradição: as mulheres do vilarejo, quase todas descendentes de dona Emerenciana, não depilam as axilas, em respeito à memória de sua ancestral mais ilustre. Quando uma dessas jovens, tresloucada e rebelde, resolveu depilar suas axilas e, com todo o despudor, expô-las em público, a comunidade ultrajada, em peso, foi às ruas com cartazes e palavras de ordem, para demonstrar sua indignação e exigir que a jovem delinquente parasse de atentar contra os valores sovacais, digo, culturais do vilarejo. O que podemos concluir dessa pitoresca história? É possível avaliar a moralidade de uma mulher pelo estado das suas axilas? No caso do vilarejo de Dona Emerenciana, é relevante discutir-se sobre o papel das axilas femininas? Por quê? Se a Ética é uma disciplina filosófica – uma reflexão crítica sobre as crenças, valores, moralidade –, como ela nos coloca diante dos dilemas postos pelas... axilas da Dona Emerenciana? |
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