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Informação e Sabedoria (Virgílio Fernandes Almeida - Professor Titular do Departamento de Ciência da Computação da UFMG). Num resvalo, Riobaldo, o sábio jagunço de "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa matutou: "Também o que é que vale e o que é que não vale? Tudo". Eis aí uma síntese perfeita de um dos dilemas deste fim de século. Informação é a moeda do nosso tempo, mas qual o seu valor? Informação nem sempre significa conhecimento e muito menos sabedoria. Os meios de comunicação nos bombardeiam com dados, informações úteis e bobagens a todo instante. Grande parte do tempo, a informação tem sido fenômeno de crise, violência, angústia, corrupção e injustiça. São dezenas de canais de TV a cabo, dúzias de jornais nacionais, locais, comunitários, revistas semanais e, mais recentemente, a Internet. Os avanços nos computadores e nas redes de comunicação tornam possível o acesso a milhões de bytes de informação, em qualquer parte do mundo e a qualquer instante. Frente a essa overdose de informação, fica sempre uma grande dúvida: para que tudo isso? Agora que estamos nos aproximando do milênio da informação, é preciso entender primeiro as diferenças entre dado, informação e conhecimento. Pode-se dizer que os dados são símbolos escritos pelas mãos do homem ou por máquinas. Essas diferenças ficam bem claras quando vistas no contexto de uma preocupação, comum a quase todos nós: a pressão arterial. Dados são os números que se lê no aparelho de medir pressão. A informação, por sua vez, é o julgamento, a opinião, que se tem a partir dos dados. Em outras palavras, a informação é o dado que faz diferença para alguém. Informação existe aos olhos de quem entende; o mesmo dado pode ser zero para uns e mil para outros. Portanto, no nosso exemplo, a informação é a interpretação que o médico dá aos valores medidos pelo aparelho, dizendo se a pressão é alta ou não. Conhecimento, por sua vez, é um passo além da informação. E na verdade a capacidade de agir em função das informações. Conhecimento é a ação que o médico toma com base na informação, ou seja, é o diagnóstico e a prescrição de um tratamento! Na era dos computadores, da Internet, das comunicações por satélite e fibras óticas tudo é visto como rápido e instantâneo. Nem tudo! O conhecimento, nas várias áreas do saber humano, não é uma mera questão de acessar informações ou ingerir grandes massas de dados. Aliás, numa época de abundância de informações o que fica escasso é o tempo. O tempo para se dedicar atenção à leitura de um bom livro, descobrindo lentamente seus personagens nas páginas do papel, e vivendo com eles as várias experiências de vida que as boas obras da literatura proporcionam. O tempo para separar num fundo de bateia a grossa areia dos granetes de ouro. Bem, e quanto à sabedoria? Aí a conversa muda completamente. Não bastam dados, informações e conhecimento. Sabedoria é o conhecimento justo das coisas, dos homens e do mundo. Sabedoria é aquilo que nos mostram Guimarães Rosa, Drummond, Villa-Lobos, Pixinguinha, Portinari, Darcy Ribeiro e muitos outros. Não existem atalhos para o conhecimento e a sabedoria! Conhecimento e sabedoria chegam à época certa, precedidas de muito esforço, trabalho, leitura e viver. |
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