Relações intertextuais como a que acabamos de examinar acabam sendo, no fundo, uma conversa de leitores privilegiados. Só os conhecedores do poema de Drummond compreenderão a mensagem passada pelos anunciantes da caneta.

Em muitos casos, o que se constata é que a capacidade de perceber as relações intertextuais cria uma espécie de grupo privado, ao qual só têm acesso pessoas que dispõem de um referencial de leitura acumulado ao longo da vida e que, por essa razão, identificam prontamente as relações estabelecidas. Nesse grupo, há um pressuposto partilhado por todos os membros: a leitura é condição necessária para participação. Fazem parte do ‘‘grupo” todos aqueles que, por terem experimentado, ao longo da vida, o prazer de passar horas e horas lendo livros, dispõem agora de um conjunto variado de referências, ao qual recorrem, sempre que necessário.

Quando não compreendemos determinadas piadas ou algumas propagandas, é bem possível que isso seja em razão da falta de referências suficientes para compreender o humor ou a mensagem que se deseja transmitir.

De certa forma, não dispor das referências necessárias pode nos aproximar da condição dos analfabetos, que não leem porque desconhecem o valor simbólico das letras. Aqui, não lemos porque não somos capazes de compreender as relações intertextuais, embora conheçamos todos os símbolos usados para representá-las.



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