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Módulo 01 - Definições, visão sistêmica e classificação dos sistemas de produção

1 - Idéias principais e secundárias

Vamos iniciar nosso estudo exercitando a leitura e a interpretação de texto. A questão a seguir foi retirada de uma prova de concurso público do Estado do Maranhão, em 2005, elaborada pela Fundação Carlos Chagas (FCC). Leia atentamente o texto e responda às questões 1 e 2.


Com as agravantes do desmatamento e do aquecimento global, a seca na Amazônia ganha alguns contornos de novidade que se dissipam no longo curso da história da região. De acordo com o meteorologista Pedro Dias, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a atual redução das chuvas se encaixa no padrão de ciclos observado na Amazônia no último século. É o que os técnicos chamam de "variabilidade decadal do Oceano Pacífico", que impacta o Atlântico.

Os regimes de chuvas ao norte e ao sul do Rio Amazonas se têm alternado, em ciclos de três décadas, ao longo de 120 anos. Nos anos 40, 50 e 60 choveu menos na Amazônia. Nas três décadas seguintes, as chuvas aumentaram. Agora, no início do século XXI, a região pode estar começando um novo ciclo de 10% a 15% a menos de chuva, assim como aconteceu no início do século XX. "Nos últimos 100 a 120 anos, os ciclos têm sido bastante regulares", diz.

Coincidentemente, as variações possivelmente causadas pelo efeito estufa também são da ordem de 10% a 15%. "Há um consenso de que o aumento do efeito estufa já tem uma magnitude comparável à da variação natural", registra Pedro Dias. Assim, o que poderia acontecer, falando grosseiramente, é que a variação causada por esse efeito venha se somar à variação natural, duplicando o impacto sobre o ambiente. O meteorologista salienta, que se trata de variações médias ao longo de três décadas, e não de ano a ano, quando o comportamento pode ser bem diferente.

Numa escala ainda maior de tempo, a atual seca se torna mais relativa. Entre 5 mil e 3 mil anos atrás, onde hoje existe floresta, havia grandes extensões de savana, característica de regiões com longos períodos de seca. Também há registros de grandes variações nas chuvas e de períodos em que os rios baixaram, causando mudanças significativas na fauna e na flora, lembra Virgílio Viana, Secretário do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas.

"Esta é a maior seca com internet e cobertura em tempo real", ironiza Elpídio Gomes Filho, Superintendente da Administração das Hidrovias da Amazônia Ocidental (Ahimoc). Adaptados a grandes variações de profundidade dos rios entre os períodos de chuva e de estiagem, os portos da Amazônia têm um sistema de braços flutuantes inventado pelos ingleses que sobem e descem, acompanhando a superfície da água.

"Os rios sobem 14 metros durante 6 meses e descem 14 metros durante 6 meses, de forma previsível, milenar e regularmente", assegura Elpídio.

Adaptado de Lourival Sant'Anna, O Estado de S. Paulo, 16.10.2005




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Ao ler um texto, procure sublinhar as informações básicas, indispensáveis em cada parágrafo e você perceberá que a idéia central (ou a frase que o resume) já aparece no primeiro parágrafo e será retomada (mesmo que de forma implícita) nos parágrafos de desenvolvimento e, finalmente, será reafirmada no último parágrafo do texto.

Observe que o primeiro período (“Com as agravantes do desmatamento e do aquecimento global, a seca na Amazônia ganha alguns contornos de novidade que se dissipam no longo curso da história da região.)” está na ordem inversa.

Na ordem direta ele ficaria assim: “A seca na Amazônia ganha alguns contornos de novidade que se dissipam no longo curso da história da região com as agravantes do desmatamento e do aquecimento global.”

Na ordem direta, identificam-se, mais facilmente, os termos essenciais, ou seja, sujeito + predicado + complementos e, conseqüentemente, o tópico frasal do período ou parágrafo.

Vimos, no exercício que fizemos com o texto, que as questões tinham como objetivo levar o leitor a compreender a idéia principal do texto e as relações que se estabelecem entre as idéias desenvolvidas, nesse caso, as relações de causa e conseqüência.

Para fazermos uma leitura eficiente de um texto e, conseqüentemente, interpretá-lo é necessário que estejamos atentos à forma como são estruturadas as idéias e as relações de sentido decorrentes dessa organização.


 


A idéia central do parágrafo é enunciada por meio do período denominado tópico frasal (também chamado de frase-síntese ou período tópico). Esse período orienta ou governa o resto do parágrafo; dele nascem outros períodos secundários ou periféricos; ele será o roteiro do escritor na construção do parágrafo; é o período mestre, que contém a frase-chave.

Como o enunciado da tese, que dirige a atenção do leitor diretamente para o tema central, o tópico frasal ajuda o leitor a agarrar o fio da meada do raciocínio do escritor; como a tese, o tópico frasal introduz o assunto e o aspecto desse assunto, ou a idéia central com o potencial de gerar idéias-filhote; como a tese, o tópico frasal é enunciação argumentável, afirmação ou negação que leva o leitor a esperar mais do escritor (uma explicação, uma prova, detalhes, exemplos) para completar o parágrafo ou apresentar um raciocínio completo.

Assim, o tópico frasal é enunciação, supõe desdobramento ou explicação. A idéia central ou tópico frasal geralmente vem no começo do parágrafo, seguida de outros períodos que explicam ou detalham a idéia central.




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TERMOS ESSENCIAIS DA ORAÇÃO


Chamamos de termos essenciais da oração aqueles que compõem a estrutura básica da oração, ou seja, que são necessários para que a oração tenha significado. São eles: sujeito e predicado.

SUJEITO

Sujeito é o elemento do qual se diz alguma coisa. Sujeito é o ser que pratica ou recebe a ação que o verbo expressa.

Núcleo do sujeito

É a palavra (substantivo ou pronome) que realmente indica a função sintática que está exercendo.

Exemplo:
O computador travou novamente.
        Núcleo
A lâmpada está queimada.
    Núcleo

PREDICADO

O predicado é aquilo que se comenta sobre o sujeito, o que se diz sobre ele.

TIPOS DE PREDICADO

Há três tipos de predicado: predicado nominal, predicado verbal e predicado verbo-nominal.

• O predicado nominal expressa o estado do sujeito. Neste caso, o verbo é de ligação.


Exemplo:
O dia continua quente.
             PREDICADO
Todos permaneciam apreensivos.
                       PREDICADO

Observação: o núcleo do predicado nominal é chamado predicativo do sujeito, pois lhe atribui qualidade ou condição.

• O predicado verbal expressa a ação praticada ou recebida pelo sujeito.

Exemplo:
Os professores receberam o prêmio.
                                 PREDICADO

Observação: o núcleo do predicado verbal é o verbo, pois sua mensagem principal é a ação praticada ou recebida pelo sujeito.

Exemplo:
Os trabalhadores exigem melhores condições de trabalho.
                                                   PREDICADO

• O predicado verbo-nominal informa a ação praticada e o estado do sujeito.

Exemplo:
Nós chegamos cansados.
          AÇÃO     ESTADO

Cândida retornou feliz da viagem.
                AÇÃO   ESTADO

Observação: o predicado verbo-nominal é constituído de dois núcleos – um verbo e um nome – porque fornece duas informações: ação e estado.

TERMOS INTEGRANTES DA ORAÇÃO

Integrantes são os termos que integram o sentido da oração, funcionando como complementos, sem os quais a mensagem não chega a se finalizar. São termos que servem para complementar o sentido de certos verbos (complemento verbal) ou nomes (complemento nominal), pois seu significado só se completa com a presença de tais termos.

COMPLEMENTO VERBAL

Objeto direto

Completa o sentido do verbo transitivo direto, sem o auxílio de preposição.

Exemplo:
Eles esperavam o ônibus.
            VTD         Obj. Dir.

Um método bem prático para determinar o objeto direto é perguntar QUEM? ou O QUÊ? Depois do verbo.

Ela vendia O QUÊ? Doces
                            Objeto direto

Objeto indireto

Completa o sentido do verbo transitivo indireto e é regido por preposição.

Exemplo:
Aline gosta de frutas.
                   Objeto indireto

Não confio em políticos.
                    Objeto indireto

Para reconhecer o objeto indireto, basta perguntar: QUEM? ou O QUÊ? depois do verbo + preposição

Exemplo:
Aline gosta de frutas.
Aline gosta de quê? De frutas.




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COMPLEMENTO NOMINAL


É o termo que completa o sentido de substantivos, adjetivos e advérbios, ligando-se a esses nomes por meio de preposição.

Exemplo:
Tenho a certeza de sua culpa.
                       Complemento Nominal. (tem certeza de quê?)

A árvore está cheia de frutos .
                            Complemento Nominal. (está cheia de quê?)

Nós chegamos perto dos gorilas.
                             Complemento Nominal (chegou perto de quem ou de quê?)

Para determinar o complemento nominal, basta seguir o esquema:

Nome + preposição + QUEM ou O QUÊ?

Ele é perito em computação.
                 Complemento nominal (é perito em quê?)

AGENTE DA PASSIVA

O agente da passiva é outro termo integrante e ocorre em orações cujo verbo se apresenta na voz passiva a fim de indicar o elemento que executa a ação verbal.

Exemplo: As terras foram invadidas pelos sem-terra.

A cidade estava cercada de belezas naturais.

Observação: O agente da passiva, o objeto indireto e o complemento nominal são regidos por preposição, muitas vezes há dúvidas na diferenciação dos três. Quando isso acontecer, basta observar o sujeito da oração. Para ser agente da passiva o sujeito precisa ser paciente, ou seja, precisa ser aquele que sofre a ação verbal.

Exemplo:
A jangada havia sido levada pelas tsunamis.
                                        Agente da passiva

Sentia-se livre de qualquer responsabilidade.
                           Complemento nominal

TERMOS ACESSÓRIOS DA ORAÇÃO

Acessórios são os termos secundários, que não integram necessariamente a estrutura básica da oração. Apesar de prescindíveis são necessários para o entendimento do enunciado porque informam alguma característica ou circunstância dos substantivos, pronomes ou verbos que os acompanham. Dividem-se em adjunto adnominal, adjunto adverbial e aposto.

ADJUNTO ADNOMINAL

São palavras que acompanham o substantivo para caracterizá-lo, determiná-lo ou individualizá-lo. O adjunto adnominal pode ser representado por: adjetivos; artigos; numerais; pronomes adjetivos; locuções adjetivas.

Adjetivo:

As casas antigas eram mais trabalhadas.
         Adj. adnominal
              Adjetivo

Artigo:

        As estrelas iluminavam a noite.
Adj. adnominal             Adj. adnominal
      Artigo                         Artigo

         Os carros estavam descontrolados.
Adj. adnominal
      Artigo

Numeral:

Três árvores caíram.
Adj. adnominal
Numeral

Dois carros chocaram-se violentamente.
Adj. adnominal
Numeral

Pronome adjetivo:

Aqueles computadores estão quebrados.
Adj. adnominal
Pronome adjetivo

Aqueles garotos estão impossíveis hoje.
Adj. adnominal
Pronome adjetivo

Locução adjetiva:

O suco de laranja estava gostoso.
        Adj. Adnominal
        Locução adjetiva

Observação: Funcionam também como adjuntos adnominais os pronomes oblíquos quando assumem o valor de pronomes possessivos.

Feriram-me as pernas. (Feriram minhas pernas)




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ADJUNTO ADVERBIAL

É a função sintática da palavra ou da expressão (no caso de locução) que servem para modificar ou intensificar o sentido do verbo, do predicado ou de outro adjunto adverbial, atribuindo-lhe uma circunstância.

Exemplos:
- Circunstância de tempo:
Só obtivemos os gabaritos do vestibular no dia seguinte.
                                                        locução adverbial

- Circunstância de lugar:
O trânsito está engarrafado na Avenida Recife.
                                         locução adverbial

- Circunstância de modo:
Os turistas foram recebidos alegremente.
                                    adjunto adverbial

- Circunstância de intensidade:
Comemos pouco no almoço.
        adjunto adverbial

- Circunstância de causa:
Estávamos tremendo de frio.
                      locução adverbial

- Circunstância de companhia:
Vou sair com você.
        locução adverbial

- Circunstância de instrumento:
Com a vassoura retirou a sujeira da sala.
locução adverbial

- Circunstância de dúvida:
Possivelmente chegaremos atrasados.
adjunto adverbial

- Circunstância de finalidade:
Estudo para aumentar meus conhecimentos.
                       locução adverbial

- Circunstância de meio:
Prefiro viajar de carro.
             locução adverbial

- Circunstância de assunto:
Conversamos sobre economia.
                   locução adverbial

- Circunstância de negação:
Não deixarei desarrumarem a casa.
adjunto adverbial

- Circunstância de afirmação:
Com certeza iremos ao parque.
locução adverbial

Atenção: Não se deve confundir adjunto adverbial com advérbio: advérbio é a classe gramatical; adjunto adverbial é a função sintática. Ou seja: advérbio é o nome da palavra; adjunto adverbial é a função que a palavra exerce dentro da oração.

APOSTO

É o termo que tem por objetivo explicar, esclarecer, resumir ou comentar algo sobre outro termo da oração.

Recife, a Veneza brasileira, sofre durante o período chuvoso.
                     Aposto

AMD, fabricante de processadores, vem ganhando mercado.
                     Aposto

Observações:

O aposto pode aparecer anteposto ao termo a que se refere.

Ex: Veneza brasileira, Recife está sofrendo com o começo do inverno.
            Aposto

O aposto pode aparecer precedido de expressões explicativas.

Ex: Algumas matérias, a saber, matemática, física e química, são as que apresentam maiores dificuldades de aprovação no vestibular.

VOCATIVO – TERMO INDEPENDENTE

É considerado um termo independente da oração porque não faz parte de sua estrutura. É usado para expressar o sentimento do falante; sentimento esse usado para invocar, chamar, interpelar ou apelar a quem o falante se dirige.

Menino, venha cá!
Vocativo

Meus filhos, tenham calma.

DIFERENÇA ENTRE VOCATIVO E APOSTO

O vocativo não mantém relação sintática com nenhum termo da oração, enquanto o aposto mantém relação sintática com um ou vários termos da oração.

Meninos, voltem aqui.
Vocativo


São Paulo, centro financeiro, sofre com as altas taxas de desemprego.
                       Aposto




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ORDEM DIRETA E ORDEM INVERSA

Para estudar a sintaxe da língua portuguesa, é importante que se comece por observar a organização mais usual das sentenças. Geralmente os enunciados seguem determinada seqüência – a chamada ordem direta –, que se inicia com o sujeito, seguido de verbo, de complementos e, finalmente, de expressões adverbiais.

Rigorosamente na ordem direta está uma frase como: "Ele entregou os documentos ao secretário ontem" (sujeito/ verbo/ objeto direto/ objeto indireto/ adjunto adverbial). A compreensão desse enunciado é imediata, pois ele se apresenta na seqüência mais freqüente na língua.

As alterações feitas nessa ordem buscam enfatizar algum termo da oração. Na frase: "Os documentos, ele os entregou ao secretário ontem", o objeto direto anteposto (e retomado pelo pronome átono "os") ganha destaque por ter sido posto no início do período.

O recurso da inversão é largamente usado pelos poetas, que buscam privilegiar o aspecto subjetivo da linguagem. Em muitos casos, a mera anteposição do adjetivo ao substantivo dá subjetividade à expressão ("verdes olhos" em vez de "olhos verdes", por exemplo). Essa inversão de ordem chama-se anástrofe.

Presente em muitos textos poéticos está o hipérbato, figura de construção em que a mudança na ordem dos termos é um pouco mais severa, o que, por vezes, dificulta a compreensão do conteúdo. Isso é o que se vê no excerto abaixo, extraído do poema "I-Juca-Pirama", de Gonçalves Dias. O velho chefe timbira liberta o prisioneiro tupi por considerá-lo fraco e, portanto, indigno de ser devorado no ritual antropofágico, provocando a resposta do jovem índio, ferido em sua dignidade:

" — Ora não partirei; quero provar-te/ Que um filho dos tupis vive com honra,/ E com honra maior, se acaso o vencem,/ Da morte o passo glorioso afronta.// — Mentiste, que um tupi não chora nunca,/ E tu choraste!... parte; não queremos/ Com carne vil enfraquecer os fortes".

Na ordem direta, os trechos seriam: "E afronta o passo glorioso da morte com honra maior se acaso o vencem" e, depois, "Não queremos enfraquecer os fortes com carne vil". Dessa forma, o entendimento linear do texto certamente seria instantâneo, mas a musicalidade e a atmosfera solene do diálogo se perderiam.




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2 - Estruturação de idéias

Pensemos em um livro. Esse livro tem vários capítulos e apresenta-se com clareza e boa organização. Como o autor conseguiu isso?

Com certeza, ele tem bom domínio do conteúdo e estruturou suas idéias em uma seqüência que garante a clareza. O livro, em geral, é dividido em capítulos e cada um deles se organiza em parágrafos. Estes, por sua vez, são compostos por períodos, nos quais estão as idéias. É possível, então, reconhecer vários níveis de organização das idéias. Não importa a extensão do conteúdo. Ao estruturar suas idéias, o autor torna sua obra compreensível. Ou seja, não é suficiente que se tenha bom domínio do conteúdo e conhecimento das estruturas de organização do texto, é preciso ter uma boa estrutura de idéias.

Vamos verificar se você compreendeu bem a organização das idéias do texto? Leia o texto abaixo e responda às questões seguintes.


– Haveis de entender, começou ele, que a virtude e o saber têm duas existências paralelas, uma no sujeito que as possui, outra no espírito dos que o ouvem ou contemplam. Se puserdes as mais sublimes virtudes e os mais profundos conhecimentos em um sujeito solitário, remoto de todo contato com outros homens, é como se eles não existissem. Os frutos de uma laranjeira, se ninguém os gostar, valem tanto como as urzes e plantas bravias, e, se ninguém os vir, não valem nada; ou, por outras palavras mais enérgicas, não há espetáculo sem espectador. Um dia, estando a cuidar nestas coisas, considerei que, para o fim de alumiar um pouco o entendimento, tinha consumido os meus longos anos, e, aliás, nada chegaria a valer sem a existência de outros homens que me vissem e honrassem; então cogitei se não haveria um modo de obter mesmo efeito, poupando tais trabalhos, e esse dia posso agora dizer que foi o da regeneração dos homens, pois me deu a doutrina salvadora.

Machado de Assis. O segredo do bonzo.



1. Idéia e estrutura
Idéia refere-se a conteúdo. Uma seqüência de idéias está relacionada com a estrutura. É o conhecimento do assunto que indicará o que é essencial ou principal em um texto ou em uma obra. A seqüência de idéias começa a ser definida na tipologia textual e se completa na organização dos parágrafos.



2. Conteúdo e estrutura
Mesmo em um texto pequeno, as idéias principais podem ser reunidas em um resumo, numa síntese ou em uma seqüência de itens. Se a síntese do conteúdo for feita com a previsão dos trechos do texto, provavelmente estarão sendo definidas as idéias centrais dos parágrafos.



3. Parágrafo e estrutura
Os parágrafos não são resultado apenas de regras preestabelecidas sobre sua construção. Eles são decorrência natural da necessidade de distribuir bem o conteúdo no texto e também uma forma de valorizar as idéias principais desse conteúdo.

Ao definir as idéias centrais do parágrafo, começa a ficar claro para quem lê e interpreta a relação entre conteúdo e estrutura do texto.



4. Idéias secundárias
Um texto contém muito mais idéias secundárias do que idéias principais. Os conteúdos das idéias secundárias não são os mais importantes, mas sem eles o texto não flui — torna-se pesado. Na verdade, não é possível escrever um texto sem as idéias secundárias.

As idéias secundárias funcionam como atores coadjuvantes. Cumprem um papel secundário, mas imprescindível. É importante o domínio dessas idéias para ler, interpretar e escrever bem.

Colocadas em excesso, as idéias secundárias dificultam a compreensão do essencial. Mas quando há idéias de menos, o texto fica sintético demais, telegráfico. As idéias secundárias são dispensáveis somente quando queremos fazer uma síntese ou um resumo do conteúdo.




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3 - Como distinguir as idéias principais das idéias secundárias

Para distinguir uma idéia principal de uma idéia secundária podemos seguir algumas dicas:

1. em qualquer parágrafo existe, usualmente, uma frase que exprime uma idéia principal;
2. as frases que exprimem as idéias principais caracterizam-se por conter afirmações mais genéricas e amplas;
3. as frases que exprimem as idéias secundárias transmitem informações mais detalhadas;
4. se forem retiradas as frases que exprimem as idéias principais, o texto deixa de fazer sentido;
5. se forem retiradas as frases que exprimem as idéias secundárias, o sentido do texto não é alterado.





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4 - Texto e coerência

Acompanhe a tira a seguir.

Observe a resposta dada pela secretária do general Dureza no último quadrinho: Envie ontem. Tomada fora de contexto, essa é uma fala incoerente. Ninguém pode enviar algo no dia anterior. Ontem expressa uma referência temporal de passado. Envie é um verbo flexionado no imperativo afirmativo que traduz uma ordem a ser cumprida no futuro próximo. Essas duas palavras não fazem sentido se relacionadas uma à outra. Por isso, a fala da moça é incoerente.

Para usarmos de forma competente a linguagem ao ler, interpretar e elaborar textos é importante identificar incoerências, ou seja, identificar o que pode provocar efeitos diversos daquele que faz sentido no texto. Para isso, é necessário começar por entender melhor a chamada coerência textual.

Devemos pensar sobre o significado preciso da palavra coerência e sobre o sentido que esta palavra adquire quando empregada com relação aos textos escritos, particularmente. Vejamos, então, a definição encontrada em um dicionário para coerência:


Coerência
[s.f.] 1. qualidade, condição ou estado de coerente; 2. ligação, nexo ou harmonia entre dois fatos ou duas idéias; relação harmônica, conexão.

Fonte: Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.

Observe que a definição apresentada não vincula necessariamente a coerência a textos, sejam eles orais ou escritos. Na verdade, o conceito está relacionado à existência de conexão, de nexo entre situações, acontecimentos ou idéias.




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A coerência tem a ver, basicamente, com as condições para o estabelecimento de um sentido em um contexto determinado, quer se esteja considerando o sentido de acontecimentos, de idéias mentalmente postas em relação, de partes de um todo ou conjunto harmônico, quer se esteja considerando o sentido de textos, orais ou escritos, por meio dos quais se procura veicular verbalmente um sentido qualquer.

Pode-se, portanto, vincular a noção de coerência às condições para que algum evento (textual ou não) seja interpretado em um contexto específico (isto é, possa ter um sentido a ele atribuído numa determinada situação).


Coerência textual é uma relação harmônica que se estabelece entre as partes de um texto, em um contexto específico, e que é responsável pela percepção de uma unidade de sentido.

Vemos, assim, que não é possível determinar se algo é coerente ou incoerente sem levar em conta o contexto, que é fator determinante para a correta interpretação daquilo que se percebe, ouve ou lê.




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Resumo

Para fazermos uma leitura eficiente de um texto e, conseqüentemente, compreendê-lo e interpretá-lo é necessário que estejamos atentos à forma como são estruturadas as idéias e as relações de sentido decorrentes dessa organização. Ao definir as idéias centrais do parágrafo, começa a ficar claro para quem lê e interpreta a relação entre conteúdo e estrutura do texto.

Em qualquer parágrafo existe, usualmente, uma frase que exprime a idéia principal, que é o tópico frasal.

As frases que exprimem as idéias principais caracterizam-se por conter afirmações mais genéricas e amplas; as frases que exprimem as idéias secundárias transmitem informações mais detalhadas.

Coerência textual é uma relação harmônica que se estabelece entre as partes de um texto, em um contexto específico, e que é responsável pela percepção de uma unidade de sentido.

Para se determinar se um texto é coerente ou não devemos levar em conta o contexto em que ele é produzido, fator que contribui para a correta interpretação.




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1 - Construindo as relações no texto

A capacidade de relacionar corretamente as idéias de um texto é um aspecto essencial da construção da coerência. A relação entre as idéias precisa ser feita por meio de mecanismos de coesão que ajudem o leitor a compreender o que se pretende dizer, afinal, a interpretação de um texto depende diretamente das relações de sentido que o leitor estabelece.

Alguns elementos coesivos que têm participação muito importante na construção da coerência textual são os conectivos.

Observe o quadrinho abaixo.

Você percebeu que as imagens e o texto seguem uma seqüência, certo? Essa seqüência, por sua vez, estabelece uma relação entre as idéias do texto. O sentido dessas idéias é resultado da organização do texto. No penúltimo quadrinho, temos a quebra da seqüência inicial, pois o esperado é que Snoopy vá pegar o seu jantar. No entanto ele está impossibilitado de sair do lugar, mas o seu dono não sabe e interpreta o fato como descaso. O conectivo se é usado, pelo autor, para estabelecer essa relação de sentido, ou seja, se Snoopy não veio pegar seu jantar ele o dará aos gatos do vizinho.

Identificamos, a seguir, as principais relações de sentido que costumamos utilizar em textos escritos e orais. Vamos, por meio de exemplos, explicar como essas relações podem ser construídas com o auxílio de conectivos. Para interpretar corretamente um texto, você deve ser capaz de identificar essas relações.




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2 - A relação de causa e conseqüência

Muitas vezes, quando estamos escrevendo um texto, precisamos apresentar para o leitor uma situação, em que determinados fatores provocam determinadas conseqüências. Ao associá-los, lingüisticamente, é necessário deixar clara a relação de causalidade entre eles, porque é a existência de uns que determina a dos outros.

Na nossa língua, muitos conectivos podem indicar esse tipo de relação: porque, pois, como, por isso, já que, visto que, uma vez que etc.

Observe os períodos abaixo:

Os bancários desejavam um aumento de salário. (causa)

Os bancários fizeram greve. (conseqüência)




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Como sabemos, as palavras pertencem ao campo lexical ou ao campo semântico. Chama-se circunstância a condição particular que acompanha um fato. Um grupo de palavras pertence à mesma área semântica quando elas, num determinado contexto, têm em comum a expressão de um conceito que as aproxime.

Vamos relacionar a área semântica de algumas circunstâncias, como de causa, conseqüência, fim, conclusão, já que essa área, por meio das relações de sentido, é bastante cobrada em questões de interpretação de textos. Vejamos algumas:

Circunstância de causa;
Circunstância de conseqüência, fim, conclusão.



O campo lexical é o conjunto de palavras que pertencem a uma mesma área de conhecimento, e está dentro do léxico de alguma língua.

São exemplos de campos lexicais:

- o da medicina: estetoscópio, cirurgia, esterilização, medicação, etc.
- o da escola: livros, disciplinas, biblioteca, material escolar, etc.
- o da informática: software, hardware, programas, sites, internet, etc.
- o do teatro: expressão, palco, figurino, maquiagem, atuação, etc.
- campo lexical dos sentimentos: amor, tristeza, ódio, carinho, saudade, etc.
- campo lexical das relações interpessoais: amigos, parentes, família, colegas de trabalho, etc.

Semântica é o estudo do significado, no caso das palavras, a semântica estuda a significação das mesmas individualmente, aplicadas a um contexto e com influência de outras palavras.

O campo semântico, por sua vez, é o conjunto de possibilidades que uma mesma palavra ou conceito tem de ser empregada (o) em diversos contextos. O conceito de campo semântico está ligado ao conceito de polissemia.

Uma mesma palavra pode tomar vários significados diferentes em um mesmo texto, dependendo de como ela for empregada e de que palavras a acompanham para tornar claro o significado que ela assume naquela situação.

Por exemplo:

- conhecer: ver, aprofundar-se, saber que existe, etc.
- bacia: utensílio de cozinha, parte do esqueleto humano.
- brincadeira: divertimento, distração, passa-tempo, gozação, piada, etc.
- estado: situação, particípio de estar, divisão de um país, etc.

O campo semântico pode também ser o conjunto das maneiras que são utilizadas para expressar um mesmo conceito.

Exemplos:

- Campo semântico em torno do conceito de morte: bater as botas, falecer, ir dessa para a melhor, passar para um plano superior, falecer, apagar, etc.
- Campo semântico em torno do conceito de enganar: trapacear, engabelar, fazer de bobo, vacilar, etc.



Circunstância de causa

O processo mais comum para expressarmos as circunstâncias de causa é nos servirmos de conjunções adverbiais ou palavras que significam causa:

substantivos: motivo, razão, explicação, fundamento, desculpa e outros.
conjunções (e locuções): porque, visto que, pois, por isso que, já que, uma vez que, porquanto, na medida em que, como, etc.
preposições (e locuções): por, por causa de, em vista de, em virtude de, devida a, em conseqüência de, por motivo de, por razões de, à mingua de, por falta de, etc.



Circunstância de conseqüência, fim, conclusão

Se o fato determinante de outro é a sua causa, esse outro é a sua conseqüência. A conseqüência desejada é o fim (propósito, obstáculo), Vejamos os exemplos seguintes:

Causa: Os motoristas fizeram greve porque desejavam aumento de salário.
Fim: Os motoristas fizeram greve para conseguir aumento de salário.
Conseqüência: Os motoristas fizeram tantas greves que conseguiram aumento de salário.

Atenção: Em sentido inverso, partindo-se da conseqüência, chega-se à causa. Observe:
Causa: Os motoristas conseguiram aumento de salário, porque fizeram greve.

Vocabulário semântico de conseqüência, fim e conclusão.

1. Fim, propósito, intenção

substantivos: projeto,objetivo, finalidade, meta, pretensão, etc.
partículas e locuções: com o propósito de, com a intenção de, com o fito de, com o intuito de, de propósito,intencionalmente – além das preposições para, a fim de, e as conjunções afim de que, para que.

2. Conseqüência, resultado, conclusão

substantivos: efeito, seqüência, produto, decorrência, fruto, reflexo, desfecho, desenlace, etc.
partículas e locuções: pois, por isso, por conseqüência, conseqüentemente, logo, então, por causa disso, em virtude disso, devido a isso, em vista disso, visto isso, à conta disso, como resultado, em conclusão, em suma, em resumo, enfim.




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Muitas vezes a relação de causa e conseqüência é evidenciada pelo uso de uma conjunção. Em alguns casos, isso não acontece tão explicitamente, sendo necessário compreender todo o contexto para identificar essa relação. Vamos ver como isso acontece? Leia o texto e faça o exercício a seguir.




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3 - A relação de condição

É freqüente a necessidade de, em um texto, expressarmos a dependência entre duas idéias (ou fatos), de tal maneira que a existência ou ocorrência de uma esteja condicionada à existência ou ocorrência da outra. O raciocínio hipotético, por exemplo, constrói-se com base nesse tipo de relação. Como conectivos nesse tipo de estrutura, podemos usar: se, caso, contanto que, dado que, desde que, a menos que, a não ser que etc.

Observe os dois períodos:

Os bancários receberão aumento. (fato possível)
Os bancários precisam fazer greve. (condição para realização do fato)




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4 - A relação de acréscimo ou conjunção

Às vezes, durante a elaboração de um texto, é preciso indicar que mais de um fato ou mais de uma ideia atuam de forma conjunta na determinação de um resultado ou de uma consequência.

Há vários conectivos para estabelecer a relação de acréscimo ou conjunção: e, também, além de, não só, nem (para o caso de se fazer um acréscimo negativo) etc.

Repare nos períodos abaixo:

O menino pegou chuva no caminho. (fato ao qual será acrescentado outro)
O menino ficou na escola com a roupa molhada o dia inteiro. (fato a ser acrescentado)
O menino pegou uma pneumonia. (resultado da junção dos fatos)





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5 - A relação de gradação

Outras vezes, em lugar de apenas acrescentar idéias a outras, desejamos fazê-lo indicando que há certa hierarquia ou gradação entre elas. O estabelecimento desse tipo de relação pode marcar tanto o argumento ou idéia mais importante (com o auxílio de conectivos: até, até mesmo, inclusive), como também informar a existência de idéias, fatos ou argumentos mais importantes que aquele que se optou por apontar (nesse caso, os conectivos passariam a ser: pelo menos, ao menos, no mínimo, quando muito, no máximo).

Leia atentamente os períodos abaixo:

No Brasil não se incentiva a prática de esportes. (primeira idéia)
Os atletas brasileiros são mal preparados. (segunda idéia)
Os atletas brasileiros podem almejar competir em uma Olimpíada. (idéia a ser hierarquizada com relação às demais)




Hierarquia é a ordenação de elementos em ordem de importância.




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6 - A relação de contradição de uma expectativa criada

Às vezes, uma primeira idéia que apresentamos no texto sugere uma determinada conclusão e precisamos indicar ao leitor que ela acaba não ocorrendo, por mais previsível que seja.

Para designar esse tipo de relação contraditória, podemos utilizar vários conectivos: mas, porém, contudo, entretanto, todavia, embora, ainda que, mesmo que, apesar de etc.

Leia atentamente os períodos abaixo:

Um aluno está com febre alta. (situação)
O aluno irá à aula. (expectativa a ser quebrada)





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7 - A relação de tempo

Dentre os elementos que dão sentido ao texto, há, também, aqueles responsáveis pelo estabelecimento de relações de tempo entre a ocorrência de diferentes fatos.

Esses elementos podem expressar a precedência (que ocorre antes) temporal entre os fatos, a sua sucessão (que ocorre depois), bem como a simultaneidade (que ocorre ao mesmo tempo). Como conectivos, podemos lembrar de: ontem, hoje, amanhã, antes, depois, cedo, tarde, primeiramente, em seguida, a seguir, finalmente, quando, sempre, nunca, enquanto etc.

Observe os períodos:

O casal estava no cinema. (primeiro acontecimento)
Sua casa foi assaltada. (segundo acontecimento, simultâneo ao primeiro)

Vale lembrar que as relações que estudamos neste módulo são apenas algumas das que podemos estabelecer com o auxílio dos "nós" lingüísticos. Para controlá-las da melhor forma possível, precisamos conhecer, primeiramente, o sentido das idéias, fatos ou argumentos que pretendemos relacionar e, em segundo lugar, escolher o elemento coesivo correto para expressar tal relação.




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8 - A coesão e a coerência

Sabemos que coerência e coesão são aspectos importantes na articulação textual e, por isso mesmo, estão intimamente relacionados. Observe que essa relação se estabelece na medida em que a coerência vincula-se ao conteúdo, e a coesão à forma de expressão desse conteúdo.

Ambas as noções referem-se, portanto, a propriedades de ligação entre as partes de um texto: a coerência resulta da relação harmoniosa entre conceitos no interior de um texto e entre estes e a realidade exterior. Já a coesão é a propriedade de ligação entre os elementos lingüísticos.

Vejamos o exemplo a seguir:


"Tem uma mulher, Maria, claro, que vem cozinhar pra mim e sempre chega com notícias da decomposição da sua família. 'Minha mãe tá com urina preta', justo quando eu estou tomando café. [...]

Tomei meu suco de tomate depressa quando ouvi a chave da dona Maria na fechadura. Foi ali, ali.

— Meu irmão tá escarrando sangue."

VERISSIMO, Luis Fernando. O jardim do diabo. Porto Alegre: L&PM, 1999.

Descontando ou não o humor (que pode, para alguns, parecer de gosto duvidoso), percebemos que a coerência do trecho transcrito é "perfeita". Se, em princípio, poderia ser estranha a ligação entre os fatos: (1) ouvir o barulho da chave na fechadura; (2) "adivinhar” que se trata de Maria; e (3) apressar-se em tomar suco de tomate; por outro lado, eles formam uma seqüência perfeitamente lógica, uma vez que o leitor está de posse de uma informação, dada anteriormente, de que existe uma mulher, Maria, que vai até a casa do narrador cozinhar para ele.

Além disso, sabemos que essa cozinheira tem uma conversa sobre temas desagradáveis, geralmente relacionados a doenças. Por fim, acentuando o efeito cômico, o autor coloca na fala de Maria, de estalo, a hemoptise (tosse seguida pela expectoração do sangue) do irmão. Pois bem, essa ligação perfeita dos fatos garante coerência a esse trecho do texto.

Quanto à coesão: ela é, como já dissemos, garantida por elementos gramaticais no interior das frases. Por exemplo, o pronome sua, em itálico no texto, liga a família a Maria, ou seja, garante que é da própria família que Maria costuma falar tanto. Se o pronome não aparecesse, restaria uma ambigüidade; e se, ao invés de sua, fosse, por exemplo, minha, a família neste caso seria a do narrador: estaria ligada a ele.

A coesão não é condição necessária nem suficiente da coerência: as marcas de coesão encontram-se no texto ("tecem o tecido do texto"), enquanto a coerência não se encontra no texto, mas constrói-se a partir dele, em dada situação comunicativa.




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9 - Coerência e interpretação

O bom leitor é capaz de identificar as relações de sentido, compreendendo não apenas o que se apresenta explicitamente, mas também as intenções do autor. Para isso, devem-se observar os indícios deixados no texto, tais como a escolha do título (que nunca é por acaso), os elementos de coesão e os conectivos utilizados para dar coerência ao texto.

Leia atentamente o texto abaixo.

Oito Anos

Por que você é Flamengo
E meu pai Botafogo?
O que significa
"Impávido colosso”?

Por que os ossos doem
enquanto a gente dorme?
Por que os dentes caem
Por onde os filhos saem?

Por que os dedos murcham
quando estou no banho?
Por que as ruas enchem
quando está chovendo?

Quanto é mil trilhões
vezes infinito?
Quem é Jesus Cristo
Onde estão meus primos?

Wel!, wel!, wel! Gabriel...

Por que o fogo queima,
Por que a lua é branca?
Por que a terra roda,
Por que deitar agora?

Por que as cobras matam,
Por que o vidro embaça?
Por que você se pinta,
Por que o tempo passa?

Por que que a gente espirra,
Por que as unhas crescem?
Por que o sangue corre,
Por que que a gente morre?

Do que é feita a nuvem,
Do que é feita a neve?
Como é que se escreve
Réveillon?

Paula Toller/Dunga. CD Partimpim de Adriana Calcanhoto.
São Paulo. 2004


O que podemos dizer sobre o texto que acabamos de ler?

Podemos dizer que o texto é um conjunto de frases interrogativas sem ligação entre si?

Podemos dizer que se trata de um texto sem coerência?

Qual o título do texto? E por que esse título: “Oito anos" ?

Que relação podemos estabelecer entre o título e o conteúdo do texto?

E se acrescentarmos a essa reflexão o fato de que se trata de uma canção cuja letra é constituída por uma "lista" das perguntas que Gabriel, filho da Paula Toller, com oito anos de idade, fazia para ela? Agora é coerente, não é?

Produzimos sentido para o texto, apesar e a partir mesmo do que se nos apresenta como "incoerência", pois os nossos conhecimentos lingüísticos, enciclopédicos e textuais permitem-nos a construção da coerência.




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Leia atentamente o texto a seguir para responder às questões.




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Resumo

Um aspecto essencial da construção da coerência é a capacidade de relacionar corretamente as idéias de um texto. A relação entre as idéias precisa ser feita por meio de mecanismos de coesão seqüencial que ajudem o leitor a compreender o que se pretende dizer. Para interpretar corretamente um texto, você deve ser capaz de identificar essas relações.

As principais relações de sentido que costumamos utilizar em textos escritos e orais são:

  • causa e conseqüência;
  • condição;
  • acréscimo ou conjunção;
  • gradação;
  • contradição de uma expectativa criada;
  • tempo.

A noção de coerência está relacionada ao conteúdo, aos significados, ao encadeamento das idéias, situações ou acontecimentos que são veiculados em um texto. Já a coesão está relacionada à forma, à superfície do texto; em outras palavras, ela é garantida por procedimentos gramaticais. Ambas referem-se, portanto, a propriedades de ligação entre as partes de um texto: a coerência resulta da relação harmoniosa entre conceitos no interior de um texto e entre estes e a realidade exterior. Já a coesão é a propriedade de ligação entre os elementos lingüísticos.

A coesão não é condição necessária nem suficiente da coerência: as marcas de coesão encontram-se no texto, enquanto a coerência constrói-se a partir dele, em dada situação comunicativa.

O bom leitor deve identificar as relações de sentido, compreendendo não apenas o que se apresenta explícito no texto, mas também as intenções do autor. Devem ser observados os indícios deixados, tais como a escolha do título (que nunca é por acaso), os elementos de coesão e os conectivos que dão coerência ao texto.