Há, basicamente, três recursos para citar o discurso alheio: discurso direto, discurso indireto, discurso indireto livre. Vejamos um a um.

Discurso direto: para entender esse processo, observemos a seguinte passagem de Machado de Assis em que o narrador primeiro introduz a fala de um alfinete. No caso, o alfinete está tentando persuadir a agulha a deixar de ser tola e a não se dispor mais a ficar abrindo caminho para a linha, que, sem fazer nenhum esforço, borda o tecido, participa de festas e recepções, ao passo que a agulha, que trabalhou, fica sempre fechada em casa dentro de uma caixinha. Em seguida, introduz a fala de um homem.

Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:

— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar a vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária! (Um apólogo.)

Levando em conta os dados que nos interessam, podemos destacar que o narrador está reproduzindo o discurso do alfinete e o do professor de melancolia. Em ambos os casos, ele reproduz a fala dos dois personagens por meio das próprias palavras deles. Tudo se passa como se o leitor estivesse ouvindo literalmente a fala desses personagens em contato direto com eles. Exatamente por isso é que esse expediente se denomina discurso direto.

Marcas típicas do discurso direto

O discurso direto apresenta algumas marcas importantes:

a) Vem introduzido por um verbo que anuncia a fala do personagem (“murmurou”, no caso do alfinete; “disse”, no caso do professor de melancolia). Tais verbos costumam ser denominados verbos de dizer (dizer, responder, retrucar, afirmar, falar e outros do mesmo tipo).

b) Normalmente, antes da fala do personagem, há dois pontos e travessão.

c) Os pronomes, o tempo verbal e palavras que dependem de situação são usados literalmente, determinados pelo contexto em que se inscreve o personagem: o personagem que fala usa a 1ª pessoa; para falar com o interlocutor, utiliza-se da 2ª pessoa; os tempos verbais são ordenados em relação ao momento da fala e assim por diante.



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