Discurso indireto livre: vamos ler esse fragmento de Graciliano
Ramos em Vidas secas que relata o delírio da cachorrinha
Baleia à beira da morte.
Baleia encostava
a cabecinha fatigada na pedra. A pedra estava fria, certamente Sinhá
Vitória tinha deixado o fogo apagar-se muito cedo.
Baleia queria dormir. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano
enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num
pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio
de preás, gordos, enormes.
Nesse fragmento
não há indicadores muito evidentes dos limites entre a
fala do narrador e a fala do personagem (Baleia). Mas percebe-se que
de “E lamberia as mãos de Fabiano” até o fim
trata-se do delírio que Baleia está tendo. Pela mudança
de tempo verbal e pelo tipo de adjetivos atribuídos aos substantivos
(enormes, gordos), podemos pressupor que se trata do “discurso”
elaborado pelo personagem e não pelo narrador.
Para esclarecer
melhor, confrontemos uma frase do texto com a correspondente em discurso
direto e indireto:
Discurso direto:
Baleia pensava: O mundo ficará todo cheio de preás, gordos,
enormes.
Discurso indireto: Baleia pensava que o mundo ficaria todo cheio de
preás, gordos, enormes.
Discurso indireto livre: O mundo ficaria todo cheio de preás,
gordos, enormes.
Como se pode notar
o discurso indireto livre corresponde a uma espécie de discurso
indireto do qual se excluíram: os verbos de dizer que anunciam
a fala do personagem, a partícula introdutória (que, se).
No discurso indireto livre conservam-se, na forma interrogativa e imperativa,
perguntas, ordens, súplicas ou pedidos. Nele, estão presentes
exclamações, interjeições e outros elementos
expressivos.