Tivemos assim, nas últimas décadas, importantes mudanças
sociais e culturais que acabaram estimulando os jovens - especialmente
as mulheres adolescentes - ao início da vida sexual ativa. Sem,
no entanto, prepará-los para o exercício consciente dessa
sexualidade. Como seria de se esperar, essa situação resultou
num grande aumento da frequência de doenças sexualmente
transmissíveis e de gestações indesejadas.
No
Brasil, embora não existam estatísticas globais, dados
do IBGE nos dão conta de que ocorrem cerca de 600 mil partos
adolescentes por ano, aos quais devemos acrescentar no mínimo
outras 500 mil gestações que terminam em abortamento provocado.
Outra
cruel faceta do problema é a do filho socialmente indesejado.
A inadequação social dessas crianças, muitas vezes
abandonadas e mal-amadas, é importante causa de mortalidade infantil
e de delinquência juvenil.
Do
ponto de vista orgânico, as pesquisas mais recentes vêm
mostrando que as complicações médicas da gravidez
precoce não são importantes. Os maiores riscos, na verdade,
são psicológicos e sociais. Tanto é assim que a
gestação transcorre praticamente sem problemas, quando
desejada e acolhida por um ambiente socialmente favorável.
Lembremos
que, uma vez instalada uma gestação indesejada, a adolescente
só tem três soluções possíveis, nenhuma
delas satisfatória em todos os sentidos: abortamento, casamento
de conveniência ou, se as anteriores não forem as eleitas,
ser mãe solteira adolescente.
O abortamento provocado, pelos riscos que traz, não é
evidentemente uma opção recomendável. Casamentos
por conveniência frequentemente acabam em separação
e, quando não, levam a um convívio infeliz. Finalmente,
num meio preconceituoso como é o nosso, ser mãe solteira
adolescente é uma condição extremamente penosa.
Assim, nenhuma dessas três soluções é a ideal,
cada uma delas criando novos problemas.
A
solução, evidentemente, não está em reprimir
a sexualidade dos adolescentes, mas sim em prepará-los para o
seu exercício. Em outras palavras, a solução só
será possível com a instalação de programas
coerentes e duradouros de educação sexual.
(Nelson Vitiello. Pais&Teens, fev./mar./abr.
1997. In: Português: Linguagens, Literatura,
Produção de Texto e Gramática, volume III, 33-335.)