Unidade 2 Módulo 5
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Módulo 5 - Subsistema de controle de Pessoas

1 – Administrando as informações sobre as pessoas na Organização

Deve haver um mecanismo de controle de pessoas, para que as diversas partes da organização possam desempenhar sua responsabilidade, em relação a elas.

Quanto maior for a organização e mais descentralizada em sua estrutura, maior será a necessidade de controle de seus recursos humanos.

Fonte: CHIAVENATTO, Idalberto. Recursos Humanos. Ed.3ª. São Paulo-SP: Ed. Atlas, 1995, p.465.

A palavra controle tem muitas conotações e seu significado depende da função ou da área específica em que é aplicada.

• pode ser função administrativa e gerencial de controle; neste caso, é parte do processo administrativo, como o planejamento, a organização e a direção;

• pode ser meios de regulação de um sistema ou organização. É o caso das tarefas específicas que um controller aplica em uma empresa. O mecanismo de controle detecta qualquer desvio dos padrões normais;

• pode ser função restritiva de um sistema para manter os participantes dentro dos padrões desejados. É o caso do controle de frequência dos empregados.



Tela 2
Módulo 5 - Subsistema de controle de Pessoas

A essência do controle é a ação que ajusta as operações aos padrões predeterminados, e sua base é a informação que os gerentes recebem. É a função que consiste em medir e corrigir o desempenho de subordinados, a fim de assegurar que os objetivos da empresa e os planos delineados para alcançá-los sejam realizados. Consiste em verificar se tudo ocorre conforme o planejado. Atua no sentido de ajustar as operações a determinados padrões, previamente estabelecidos, e funciona de acordo com a informação que recebe.

Muitas vezes a palavra controle está associada a algum aspecto negativo. Por exemplo, nas organizações e na sociedade ao ser interpretada no sentido de restrição, coerção, delimitação e inibição.



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Módulo 5 - Subsistema de controle de Pessoas

2 - Processo de Controle

Fonte: CHIAVENATTO, Idalberto. Recursos Humanos. Ed.3ª. São Paulo-SP: Ed. Atlas, 1995, p.467.

O controle é feito a partir de uma seqüência de etapas que formam um processo (Chiavenatto, 1995):

  • estabelecimento dos padrões desejados;

  • observação do desempenho;

  • comparação do desempenho com os padrões desejados;

  • ação corretiva.


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Módulo 5 - Subsistema de controle de Pessoas

Utilidades dos Controles Organizacionais

1. padronizar o desempenho por meio de inspeções, supervisão, procedimentos escritos ou programas de produção.

2. proteger os bens organizacionais de roubos, desperdícios e abusos, mediante exigência de registros escritos, procedimentos de auditoria e divisão de responsabilidade

3. padronizar a qualidade de produtos ou serviços oferecidos pela empresa, por meio de treinamento de pessoas e inspeções.

4. limitar a quantidade de autoridade que está sendo exercida pelas várias posições ou níveis das organizações, por intermédio de descrições de cargos, diretrizes e políticas.

5. Medir e dirigir o desempenho dos empregados por meio de sistemas de avaliação do desempenho, supervisão direta, vigilância e registros.

Fonte: CHIAVENATTO, Idalberto. Recursos Humanos. Ed.3ª. São Paulo-SP: Ed. Atlas, 1995, p.468.


Tela 5
Módulo 5 - Subsistema de controle de Pessoas

3 - Bancos de Dados e Sistemas de Informação de Pessoas

As informações sobre as pessoas estão registradas nos Bancos de Dados de Pessoal. Para isso, utilizaremos os conceitos citados por Chiavenatto (1995):

Conceito de dados e de informações - São elementos que servem de base para a resolução de problemas ou para a formação de juízo. Um dado é apenas um índice, exige interpretação do indivíduo para sua manipulação. Assim, como dados não constituem informação, a informação isolada não é significativa.

Se os dados exigem processamento (classificação, armazenamento e relacionamento) para que possam informar, a informação também exige processamento para que possa adquirir significado.

A informação constitui-se de dados coletados, organizados, ordenados, e com os quais são atribuídos significados e contextos. Informação = dado em uso. Apresenta aspecto fundamental que a diferencia do dado.

O termo processamento de dados designa a grande variedade de atividades que ocorrem tanto nas organizações, nos grupos sociais, como entre pessoas.

O processamento de dados pode ser:

Manual

Automático

Semiautomático>



Manual

Quando efetuado manualmente, utilizando-se de fichas, talões, mapas, com ou sem auxílio de máquinas de escrever ou calcular.



Automático

É feito em computadores.



Semiautomático

Características do processamento manual aliadoàs características do processamento automático.



Tela 6
Módulo 5 - Subsistema de controle de Pessoas
Fonte: CHIAVENATTO, Idalberto. Recursos Humanos. Ed.3ª. São Paulo-SP: Ed. Atlas, 1995, p.473.

Banco de dados - Segundo Chiavenatto (1995) é um sistema de armazenamento e acumulação de dados devidamente codificados e disponíveis para o processamento e obtenção de informações. É um conjunto de arquivos relacionados logicamente, organizados de forma a melhorar e facilitar o acesso aos dados e eliminar redundância. É comum existir vários bancos de dados relacionados entre si por meio de um software que executa as funções de criar e atualizar arquivos, recuperar dados e gerar relatórios.



O importante é que haja dentro da organização um banco de dados sobre seus recursos humanos capaz de abastecer um sistema de informações sobre as pessoas, além de um sistema de auditoria capaz de regular o seu funcionamento. Esse banco de dados pode obter e armazenar dados a respeito de diferentes estratos:

• dados pessoais sobre cada empregado


cadastro de pessoas

• dados sobre os ocupantes de cada cargo


cadastro de cargos

• dados sobre empregados de cada seção

cadastro de seções

• dados sobre salários e incentivos

cadastro de remuneração

• dados sobre benefícios

cadastro de benefícios

• dados sobre cursos e atividades de treinamento

 

• dados sobre competências e habilidades

 


Tela 7
Módulo 5 - Subsistema de controle de Pessoas

Sistemas de Informações de Recursos Humanos - O Sistema de Informações de Pessoas obtém dados e informações acerca do empregado, do ambiente organizacional, do ambiente externo (mercado de trabalho, exigências e restrições legais) do macroambiente (conjuntura econômica, política etc.) Este fluxo de dados sofre um trabalho de coleta, processamento e utilização. Alguns dados são coletados para avaliação e diagnóstico da força de trabalho, objetivando decisões. Outros dados são tabulados e apresentados na forma de pesquisa, análise e acompanhamento para fins de caracterização, como é o caso de pesquisas salariais e de benefícios sociais. Outros, ainda, são armazenados no banco de dados para posterior recuperação e processamento para descrição.

Fonte: CHIAVENATTO, Idalberto. Recursos Humanos. Ed.3ª. São Paulo-SP: Ed. Atlas, 1995, p.474.

Segundo Chiavenatto (1995), a elaboração de um sistema de Informação de Pessoas requer observação sistemática e análise e avaliação da organização ou de seus subsistemas, e das suas respectivas necessidades de informação.



Sistema de informações

É um conjunto de elementos interdependentes, logicamente associados para que de sua interação sejam geradas informações necessárias à tomada de decisões. O órgão de ARH deve comunicar e abastecer todos os órgãos de informações.



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Módulo 5 - Subsistema de controle de Pessoas

Um sistema de informação deve identificar e envolver toda a rede de fluxos de informação para ser projetado para cada grupo de decisões. A ênfase deve ser colocada na necessidade de informações e não simplesmente no uso da informação como convencionalmente se faz. O sistema de informação é a base do processo decisório da organização.

Fonte: CHIAVENATTO, Idalberto. Recursos Humanos. Ed.3ª. São Paulo-SP: Ed. Atlas, 1995, p.476.



Tela 9
Documento sem título

Planejamento de um Sistema de Informações de Pessoas

Segundo Chiavenatto (1995), o sistema de informações de pessoas utiliza como fontes de dados, elementos fornecidos por:

  • Banco de dados de pessoas

  • Recrutamento e seleção de pessoas

  • Treinamento e desenvolvimento de pessoas

  • Avaliação do desempenho

  • Administração de salários

  • Registros e controles de pessoas

  • Estatísticas de pessoas

  • Higiene e segurança

  • Respectivas chefias


Tela 10
Módulo 5 - Subsistema de controle de Pessoas

O sistema de informações de pessoas deve ser planejado e montado para atingir determinados objetivos. O alcance desses objetivos é que permitirá avaliar a eficácia do sistema: levar os órgãos de linha à tomada de decisões adequadas sobre pessoas.

Fonte: CHIAVENATTO, Idalberto. Recursos Humanos. Ed.3ª. São Paulo-SP: Ed. Atlas, 1995, p.477.


Tela 11
Documento sem título

4 - Auditoria de Pessoas

O controle de pessoas em uma organização requer também, uma auditoria nas atividades de Gestão de Pessoas a fim de verificar a execução da política de pessoal.

Auditoria de pessoas

A auditoria é um sistema de controle e se baseia na determinação de padrões de quantidade, qualidade, tempo e custo. Esses padrões permitem a avaliação e controle por meio da comparação com os resultados ou desempenho daquilo que se pretende controlar.

O propósito principal da auditoria, segundo Chiavenatto (1995), é mostrar como o programa está funcionando, localizando práticas e condições que são prejudiciais à organização ou que não estão compensando o seu custo ou, ainda, práticas e condições que devam ser acrescentadas.

A auditoria é um sistema de revisão e controle para informar a administração sobre a eficiência e a eficácia do programa em desenvolvimento.



Auditoria de pessoas

É a análise das políticas e práticas de pessoas de uma organização, e avaliação do seu funcionamento atual, seguida de sugestões para melhoria.



Tela 12
Módulo 5 - Subsistema de controle de Pessoas

Padrões de Avaliação e Controle de Pessoas

A Gestão de Pessoas necessita de padrões capazes de permitir uma contínua avaliação e um sistemático controle de seu funcionamento (Chiavenatto, 1995).

Geralmente são utilizados vários padrões na avaliação e controle do sistema de Gestão de Pessoas.

Os tipos de padrões podem ser, segundo Chiavenatto (1995):

• padrões de quantidade – são os padrões expressos em número ou em quantidade, como número de empregados, percentagem de rotação de empregados, número de admissões, índice de acidentes etc.

• padrões de qualidade – são os padrões relacionados com aspectos não quantificáveis, como métodos de seleção utilizados, resultados de treinamento, funcionamento da avaliação do desempenho;

• padrões de tempo - rapidez na integração de pessoas recém admitidas, permanência média do empregado na empresa, tempo de processamento das requisições de pessoas;

• padrões de custo - custo direto e indireto da rotação de pessoas; custo direto e indireto dos acidentes no trabalho; custo dos benefícios sociais; custo dos encargos sociais; relação custo-benefício do treinamento.


Padrões

É um critério ou um modelo previamente estabelecido para permitir comparação com os resultados ou objetivos alcançados.



Tela 13
Módulo 5 - Subsistema de controle de Pessoas

A auditoria de pessoas pode ser executada por um consultor externo ou por um da própria organização. Este consultor assume o papel de autoridade em pesquisa de recursos humanos (Chiavenatto, 1995) e dedica-se a verificar alguns aspectos das diretrizes de Gestão de Pessoas.



Tela 14
Módulo 5 - Subsistema de controle de Pessoas

5 - Contabilidade de Pessoas e Balanço Social

O controle de pessoas na organização passa pela verificação dos conceitos de Contabilidade de Pessoas e Balanço Social nas Organizações (Chiavenatto, 1995).

Assim como a contabilidade tradicional se dirige para o acionista avaliar aspectos das finanças e da contabilidade, a contabilidade de pessoas visa o balanço social, de forma a verificar como a organização executa a responsabilidade social em termos de pessoas e do seu negócio (Chiavenatto, 1995).

A preocupação visa destacar o ser humano como uma grande preocupação.

O aspecto social e humano é contabilizado em virtude da boa produtividade, do clima organizacional, ou seja, dos fatores humanos e sociais que contribuam para os resultados favoráveis.



Tela 15
Módulo 5 - Subsistema de controle de Pessoas

O balanço social é um conceito cuja concretização ainda está incompleta, pois na inventariação dos valores sociais apenas são focalizados certos aspectos que não são mais do que um dos lados do balanço, ou seja, aspectos do ativo social. As organizações não costumam evidenciar aspectos negativos, ou seja, aspectos do passivo social. Neste sentido, se não temos ativo social e passivo social, não poderemos ter balanço social.



Chiavenatto (1995) lembra que se a organização despende algo com o chamado aspecto social, ela deve ter uma remuneração compensatória por isso. Em outros termos, a cada custo deve corresponder um benefício. Assim, duas ideias são básicas; a primeira é a de que o ser humano é um ativo para a organização; e a segunda, é que, como para todos os outros bens, torna-se necessário conhecer o custo de obtenção desse ativo e da sua lei de amortização ou retorno. Implicitamente, essas duas noções preliminares introduzem uma noção do tipo capitalista, de que todo ativo deve ser rentável, tendo em vista o objetivo da organização, que é o lucro.



Tela 16
Módulo 5 - Subsistema de controle de Pessoas

O balanço social busca recapitular em documento único os principais dados que permitam apreciar a situação da organização no domínio social, registrar as realizações efetuadas e medir as mudanças ocorridas no curso do ano em referência e dos anos anteriores. Assim, o balanço social deve comportar informações sobre o emprego, a remuneração, os encargos sociais, as condições de higiene e segurança, a produtividade das pessoas, as disfunções (como rotatividade, o absenteísmo, os conflitos trabalhistas) e as relações trabalhistas.

O balanço social deve retratar não somente as relações entre a organização e seus recursos humanos, mas, sobretudo, as relações entre a organização e a sociedade em seu conjunto, englobando, assim, informações sobre as seguintes categorias de parceiros sociais:

1. os empregados, sua contribuição, características, remuneração, encargos sociais, potencial de desenvolvimento, promoções, condições de trabalho etc.;

2. os acionistas, sua constituição, características, capital de risco aplicado e resultados financeiros;

3. os clientes e usuários, sua constituição, características, nível de produção e de vendas etc.;

4. os fornecedores de matérias-primas e equipamentos, sua constituição, características, para que possam avaliar a solvência e rentabilidade da organização;

5. as entidades locais, regionais e nacionais relacionadas com aspectos de ambiente, controles, operações de organização, etc;

6. as autoridades públicas em geral.



Tela 17
Módulo 5 - Subsistema de controle de Pessoas

Desse modo, o balanço social procura demonstrar as relações entre a organização e seus parceiros sociais, bem como a influência social ou societária e o impacto social exercido pela organização. Procura retratar os diversos fluxos entre a organização e seu ambiente.

O estado da arte do balanço social reflete a situação social e política de cada país, e não há um consenso a respeito de sua natureza e conceituação. Assim, o balanço social de uma empresa brasileira difere do de uma empresa europeia e americana.



Tela 18
Módulo 5 - Subsistema de controle de Pessoas

Classificação das Contas Sociais - Os modelos de contabilidade social consideram cada elemento importante sob o prisma social como uma conta analítica particular.

Podemos classificar quatro categorias de contas sociais:

1. As contas sociais reduzidas a análises em termos de custos sociais, relacionadas com os principais parceiros sociais da organização como:

a) pessoas: investimentos e/ou despesas anuais correntes referentes a melhorias das condições de trabalho ou higiene e segurança, idem quanto à formação de treinamento de pessoas, despesas para melhoria da qualidade de vida das pessoas e das suas famílias (cantina, creches, colônias de férias, grêmios etc.)

b) clientes ou usuários: investimentos como (pesquisas, instalações de controle de qualidade, melhorias no produto ou no serviço) que objetivam melhorar atendimento ou proteção ao consumidor.

c) Coletividade: despesas quanto à antipoluição, melhorias urbanas, ambiente físico, obras de interesse coletivo.



Tela 19
Módulo 5 - Subsistema de controle de Pessoas

2. As contas sociais em que as ações com fins sociais são avaliadas em termos de custos monetarizados e em termos de impacto não monetarizados. Trata-se de um melhoramento do item precedente, em que o produto social é conhecido, mas não avaliado em expressão monetária. Assim, além de um benefício financeiro definido, inclui-se um benefício social não exprimível em unidades monetárias, mas em melhores condições de trabalho, em acréscimo de educação ou cultura, em menor poluição

3. As contas sociais em que os custos sociais e produtos sociais são monetarizados para se determinar um resultado global. O único exemplo característico desta categoria é o modelo de balanço social em que todas as grandezas são expressas em dinheiro e os princípios da partida dobrada são estritamente respeitados, havendo uma conta para cada um dos seguintes parceiros:

a) empregados

b) organização

c) público em geral e comunidade

d) acionistas



Partida dobrada

Método da partida dobrada é um método de contabilidade das contas da empresa o qual preconiza que para cada crédito existe um débito.



Tela 20
Módulo 5 - Subsistema de controle de Pessoas

4. As contas sociais que visam essencialmente mostrar como, no curso do tempo, evolui a parte da riqueza criada pela organização e como é distribuída entre os diversos parceiros sociais. Este modelo parte de certa ideia de justiça social vestida de uma concepção política da sociedade: procura evidenciar o fato de que a economia liberal é apta a proporcionar o bem-estar material de todos os parceiros sociais, seja para mostrar como os ganhos de produtividade são repartidos entre os diferentes parceiros sociais, sobretudo nas empresas nacionalizadas ou de economia mista. Na forma mais elementar este tipo de contabilidade apresenta anualmente um quadro de repartição ou de sobreposição do valor agregado entre os diversos parceiros sociais, considerando dois períodos sucessivos de tempos para demonstrar:

a) se a produtividade da organização melhorou de um período para o outro e em que proporção;

b) se ocorreu um adicional de produtividade, como esse benefício foi proporcionado e distribuído para todos os parceiros sociais.



Tela 21
Módulo 5 - Subsistema de controle de Pessoas

6 - Responsabilidade Social da Organização

Representa os compromissos da organização com a sociedade e está voltada para a atitude e comportamento da organização em face das exigências sociais, em conseqüência das suas atividades. Isto implica a avaliação e compensação dos custos sociais gerados por ela e a ampliação do campo dos seus objetivos, definindo o papel social a desenvolver para conseguir a legitimidade e responsabilidade perante os diversos grupos humanos que a integram e a sociedade no seu conjunto (Chiavenato 1995).

A organização é uma instituição de grupos humanos integrados por um sistema de relações econômicas, sociais e tecnológicas intra e intergrupos que interagem dinamicamente entre si. Cada uma delas depende do seu ambiente para as suas entradas e para as suas saídas sendo bem sucedida e alcançando eficácia quando consegue atingir seus objetivos e é capaz de atender às necessidades do seu ambiente. Sob esta ótica, responsabilidade social da organização se dá quando cumpridas as prescrições de leis e de contratos, constituindo a sua resposta às necessidades da sociedade, isto é, internalizando o que é bom para a sociedade e respondendo ao que ela espera da organização. Por esta razão, seu conceito de responsabilidade social está condicionado pelo meio ambiente político, social, econômico, além de ter de considerar os grupos por ela afetados e o tempo. Uma mesma atividade organizacional pode ser socialmente responsável num dado momento dentro de um conjunto de circunstâncias culturais, sociais etc., e socialmente irresponsável em outro momento, lugar e circunstâncias.



Responsabilidade Social

Responsabilidade social não significa a atuação socialmente responsável dos seus membros, nem as atividades de beneficência, mas os compromissos da organização com a sociedade em geral e de forma mais intensa com aqueles grupos ou parte da sociedade com a qual está mais em contato: com seu ambiente tarefa.



Tela 22
Módulo 5 - Subsistema de controle de Pessoas

O balanço social surge como um instrumento para delimitar e definir a responsabilidade da organização (Chiavenatto, 1995).

a) etapa política: é a fase da tomada de consciência por parte da direção da organização quanto à necessidade do balanço social, como um instrumento de relações públicas;

b) etapa técnica: quando surge a exigência de um sistema de informação social, e o balanço social é um instrumento válido para isso;

c) etapa de integração dos objetivos sociais: quando o processo decisório passa a integrar os novos objetivos sociais, como reflexo da ideia da responsabilidade social, nos diversos níveis da organização, o balanço social passa de um mero instrumento de informação-comunicação para um sistema de administração. Tais objetivos são tratados com a mesma força dos econômicos, afetando profundamente o processo de tomada de decisão organizacional.

Deste modo, o balanço social passa a ser um sistema de informação dirigido ao público a respeito do comportamento socialmente responsável da organização, o qual mostra se a organização está fazendo um bom trabalho ou não, seja do ponto de vista dos seus participantes, dos seus acionistas, dos seus clientes, do público geral e da comunidade.



Tela 23
Módulo 5 - Subsistema de controle de Pessoas

Resumo

A Gestão de Pessoas requer que se faça o controle por meio de:

- Banco de dados e sistemas de informação.
- Auditoria de recursos humanos.

O controle é feito a partir de uma seqüência de etapas que formam um processo:

  • estabelecimento dos padrões desejados;

  • observação do desempenho;

  • comparação do desempenho com os padrões desejados;

  • ação corretiva.

Sistema de Informação é um conjunto de elementos interdependentes, logicamente associados para que de sua interação sejam geradas informações necessárias à tomada de decisões. O órgão de pessoas deve comunicar e abastecer todos os órgãos de informações relevantes sobre os recursos humanos neles lotados para que os respectivos chefes administrem adequadamente os seus subordinados.

Um sistema de informação de pessoas utiliza como fontes de dados, elementos fornecidos por: banco de dados de recrutamento e seleção, treinamento e desenvolvimento de pessoas, avaliação de desempenho, administração de salários, registros e controles de pessoas, a respeito de faltas, atrasos, disciplinas, higiene e segurança.

Auditoria de recursos humanos

A auditoria de Gestão de Pessoas pode ser definida como a análise das políticas e práticas das pessoas de uma organização e avaliação do seu funcionamento atual, seguida de sugestões para melhoria. O propósito principal da auditoria de pessoas é mostrar como o programa está funcionando, localizar práticas e condições que são prejudiciais à organização ou que não estão compensando o seu custo ou, ainda, sugerir práticas e condições que devam ser acrescentadas. A auditoria é um sistema de revisão e controle para informar a administração sobre a eficiência e eficácia do programa em desenvolvimento.

Contabilidade de recursos humanos e Balanço Social

O fator humano constitui o elemento mais importante das organizações. O desempenho das organizações não pode ser adequadamente avaliado se o fator humano não for incluído nessa avaliação. Cumpre colocar a pessoa no centro das preocupações, não só da administração como também da contabilidade.

O balanço social é um sistema de informação dirigido ao público a respeito do comportamento socialmente responsável da organização. Expressa um conjunto de índices e indicadores que apresentam os níveis de cada uma das variáveis tomadas como relevantes pela organização para fazer cumprir sua responsabilidade. Procura mostrar se a organização está fazendo um bom trabalho ou não, seja do ponto de vista dos seus participantes, dos seus acionistas, dos seus clientes, do público geral e da comunidade. Busca recapitular em um único documento os principais dados que permitam apreciar a situação da organização no domínio social, registrar as realizações efetuadas e medir as mudanças ocorridas no curso do ano em referência e dos anos anteriores.

Responsabilidade social significa os compromissos da organização com a sociedade e de forma mais intensa com aqueles grupos ou parte da sociedade com a qual está mais em contato: seu ambiente. A responsabilidade social está voltada para a atitude e comportamento da organização, face às exigências sociais da sociedade em consequência de suas atividades. Implica a avaliação e compensação dos custos sociais que a mesma gera e a ampliação do campo dos seus objetivos, definindo o papel social a desenvolver para conseguir com tudo isto a legitimidade e responsabilidade perante os diversos grupos humanos que a integram e perante a sociedade no seu conjunto.



Unidade 3 Módulo 1
Tela 24
Modulo 1 - Reestruturação produtiva e impactos na administração de pessoas
1 - Globalização: o novo cenário mundial

As transformações estruturais das sociedades, provocadas pela globalização, desafiam as Ciências Sociais a pensar o mundo como uma sociedade sem fronteiras. As condições de soberania, de hegemonia e o papel do Estado estão em reformulação. As empresas adquirem poder sempre crescente; passam a operar em escala global e sobrevivem em mercado sem fronteiras, substituem o trabalho humano pela eficiência e perfeição da alta tecnologia, geram desemprego ou realocam trabalhadores.

A globalização representa um desafio, na medida em que modifica estruturalmente as sociedades, incorporando-as em uma única sociedade global. Alguns autores têm definido o processo de globalização, entre eles Octávio Ianni, Marcos Arruda, Castells.



Octávio Ianni

Para Octávio Ianni globalização é “a intensificação das relações sociais em escala mundial, que liga localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distância. A globalização tende a ser vista apenas como um processo econômico, sendo, no entanto, uma realidade em formação que interfere em todas as áreas da sociedade.”



Marcos Arruda

Marcos Arruda entende que a globalização tem se pautado em características competitivas e excludentes. Ele afirma que o caminho mais indicado para lidar com a globalização seria partir da diversidade de pessoas, de nações e de diferentes culturas, construir uma globalidade baseada na complementaridade de seus componentes. A proposta cooperativa de Arruda tem como princípio geral iniciar transição para um mundo organizado em torno das necessidades do ser humano, como o bem estar, a comunicação e a solidariedade, com a natureza e, com todos os seres.
A globalização, na visão de Arruda (1997) acaba por impor mudanças dramáticas nas comunidades locais por forças vindas de cima. O desenvolvimento da globalização vinda de baixo seria a maior esperança de um mundo mais igualitário, no qual a economia e a mudança social, não signifiquem exclusão e empobrecimento de grande parcela da população mundial. Essa perspectiva, porém, apesar de ser vista como ideal, torna-se utópica, visto que a cooperação e interação vindas de baixo não encontram respaldo no sistema social vigente, em que os interesses do capital são dominantes.



Castells

Castells (1996) questiona os teóricos que baseiam suas análises da globalização em teorias da sociedade pós-industrializada, formulada em sua maioria nos anos 1960 e início de 1970, sendo anteriores, portanto, à consolidação da revolução das tecnologias da informação. Em função da época de sua elaboração, seus autores não puderam prever o impacto dessas tecnologias e seus desdobramentos no ambiente de trabalho, que revolucionaram o próprio trabalho, a organização, a produtividade, a competitividade e, a sociedade. Como características dessa nova sociedade, Castells destaca o enfoque sobre os processos e inclui em todas as esferas da atividade humana a informação que é, simultaneamente, a matéria-prima e o resultado final em que o conhecimento é aplicado para gerar mais conhecimento e processar informações. A geração do conhecimento e o processamento da informação tornam-se cada vez mais centralizados.



Tela 25
Modulo 1 - Reestruturação produtiva e impactos na administração de pessoas

Não somente as sociedades avançadas, mas todas as sociedades interdependentes são incluídas no processo de transformação estrutural. A produtividade e a competitividade baseiam-se cada vez mais no conhecimento e na informação. O trabalho qualificado e as matérias-primas deixam de ser estratégicos.

Durante a década de 1970, a maioria das organizações definia-se numa estrutura predominantemente hierarquizada, departamentalizada, formal, com centralização de informações e de decisões, estrutura essa criada com base nas grandes empresas industriais.

Os padrões de produção de tais organizações caracterizavam-se por aspectos como produção em massa, notadamente de bens de baixa diferenciação e produção em linha de montagem.



Tela 26
Modulo 1 - Reestruturação produtiva e impactos na administração de pessoas
Havia, assim, uma padronização do maquinário e do equipamento, da mão de obra e das matérias-primas. A organização e a gestão do trabalho baseavam-se em elementos como divisão de tarefas, especialização do trabalhador, separação entre execução e produção, aumento do controle, dentre outros. O trabalho era rotineiro com pequeno grau de envolvimento dos operários e a produção era estimulada sobretudo por incentivos financeiros. Esse conjunto de características configura o que ficou conhecido como o paradigma taylorista/fordista ou o modo de produção fordista.

Fatores como a saturação do mercado de bens duráveis, a perda do poder aquisitivo de grande parte da população, a entrada de novos países produtores e a formação de blocos regionais levaram as empresas a repensar sua forma de organização. Iniciou-se nessa época, a busca de novos padrões e modelos organizacionais, para fazer frente a esses novos desafios de competitividade por meio dos quais as empresas poderiam sobreviver.



Tela 27
Modulo 1 - Reestruturação produtiva e impactos na adiministração de pessoas
2 - Reestruturação do Setor Produtivo

As transformações decorrentes da globalização trouxeram um novo nível de competição mundial para as organizações produtivas e prestadoras de serviço, impondo-lhes novos padrões de qualidade e produtividade.

Diante desse cenário, era necessário implantar não apenas mudanças tecnológicas, mas em especial novas formas de organização de trabalho, na busca de uma empresa mais flexível e integrada, que elevasse a produtividade e fizesse frente a um ambiente marcado pela imprevisibilidade e complexidade do mercado.

Mudanças tecnológicas

Surgiam, assim, estruturas organizacionais menos hierarquizadas, mais ágeis e mais enxutas, que possibilitariam uma redução de custos em diferenciação de algumas das empresas perante seus concorrentes (Salerno, 1993).



Tela 28
Modulo 1 - Reestruturação produtiva e impactos na gestão de pessoas

Os impactos decorrentes da busca por produtividade e da crescente competitividade estimularam as empresas a se modificarem estruturalmente. Nesse contexto, as empresas iniciaram um processo de reestruturação produtiva, buscando:


flexibilização da produção
produtividade
competitividade.


As organizações procuraram adequar o processo produtivo, tentando tornar compatíveis as novas exigências de consumo diferenciado e a individualização crescente das demandas, à necessidade de economia de escala na produção. A reestruturação produtiva representou uma busca por maior racionalização técnica e organizacional, com consequente modernização dos parques produtivos, por meio da automação e robotização, flexibilização empresarial, mediante adoção de novos modelos organizacionais.

Na busca por redução de custos, também um requisito para a competitividade, etapas intermediárias dos processos de produção e indústrias que utilizam mão de obra intensiva foram deslocadas para países periféricos, eliminando postos de trabalho, nos países desenvolvidos e provocando uma divisão internacional do trabalho.



Tela 29
Modulo 1 - Reestruturação produtiva e impactos na adiministração de pessoas
O processo acelerado da globalização tem transformado o mercado mundial de trabalho, sugerindo mudanças incompatíveis com a estabilidade empregatícia. A política do full employment (emprego pleno) é substituída pela do employ hability (contratação de acordo com as habilidades), num amplo risco de precarização do emprego, seja em nível societário (desemprego), seja no âmbito das empresas (terceirização, contrato temporário de trabalho etc.).

A redução dos empregos também se relaciona com as exigências de formação profissional, tendendo a excluir do mercado formal de trabalho as pessoas que não acompanham o desenvolvimento tecnológico e as mudanças de mentalidade e de comportamento organizacional.

A necessidade de adaptação levou a um enxugamento das estruturas e a novos tipos de relacionamento entre as empresas. Parte dos processos organizacionais foi repassada a outras empresas, por meio da terceirização, de parcerias e de prestação de serviços (por autônomos), visando estruturas organizacionais mais enxutas e eficientes.

Em alguns países em desenvolvimento, como o Brasil, a situação de desemprego é ainda mais grave, pois estão expostos ao desemprego conjuntural, causado pela instabilidade econômica típica desses países, além do estrutural, provocado pela mudança no processo de produção, resultante da substituição das pessoas pelas máquinas e das transformações na organização do trabalho e no gerenciamento da força do trabalho. Além disso, é cada vez mais recorrente a falta de preparo da mão de obra em face dos novos postos de trabalho que estão surgindo.

Assim, empresas de todo o mundo percebem a necessidade de mudar, sob pena de não serem capazes de competir e sobreviver, e sentem os reflexos da globalização e a necessidade de mudança.



Tela 30
Modulo 1 - Reestruturação produtiva e impactos na administração de pessoas
  3 - A Gestão de Pessoas diante do Novo Cenário

As mudanças causadas pela globalização e reestruturação no ambiente organizacional impuseram modificações também na Gestão de Pessoas nas empresas. A necessidade de aumentar a produtividade e a qualidade torna necessária a otimização do uso do potencial humano como ativador do processo de trabalho nas organizações. A tecnologia, tanto em termos de equipamentos como de gestão e de processos, modificou a maneira de gerenciar os recursos e as pessoas, delineando novos desenhos organizacionais.

Esse novo contexto obrigou uma redistribuição da autoridade formal nas empresas, exigindo maior descentralização, maior autonomia dos funcionários e maior transferência de responsabilidade aos empregados. Tal situação, aliada a novos parâmetros de cobrança de resultados, com maior exigência, pode alterar as formas de controle do trabalho, impondo aos funcionários maior autocontrole e autorregulação. A contrapartida do aumento de autonomia é o aumento de cobrança. Para lidar com essas mudanças de parâmetros, a Gestão de Pessoas necessita de reformulação.



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Modulo 1 - Reestruturação produtiva e impactos na administração de pessoas
O setor de pessoas vem sofrendo sérias modificações, chegando até mesmo a ser extinto em algumas empresas. Nesse ambiente instável, interna e externamente à organização, faz-se necessário repensar a área de pessoas e redefinir sua missão. Toda a antiga filosofia de gestão de pessoal, com suas ferramentas tradicionais, passa a ser questionada. Gonçalves (1997) aponta a necessidade de as empresas centrarem-se em processos, com foco nos clientes e a importância da nova Gestão de Pessoas visando prepará-las para atuar nesse contexto. O planejamento de pessoas deverá adequar-se às novas necessidades das organizações, de flexibilidade e de adaptação às constantes e rápidas mudanças. Assim, a Gestão de Pessoas parece adquirir características de staff. Antigos analistas (como de cargos e salários) tendem a ser deslocados de funções técnicas para consultivas.

A tendência é que o conhecimento de Gestão de Pessoas passe a ser disseminado para um maior número de pessoas dentro da organização, notadamente para os gerentes das áreas funcionais. A função de gerenciamento de pessoal ganha nova perspectiva com a incorporação do instrumental de pessoas pelos gerentes das outras áreas, capacitando-os a desenvolver e utilizar, de forma mais efetiva, as aptidões de seus subordinados, possibilitando a agregação de valor aos processos.

Os gerentes precisam desenvolver a capacidade de interpretação do comportamento humano, a fim de compreender a reação das pessoas, especialmente nos momentos de mudança, e saber como utilizar essas informações em tais circunstâncias. Assim, na perspectiva de Gonçalves (1997), a Gestão de Pessoas passa a ser vista, cada vez mais, como uma área estratégica que não deve ficar sob a responsabilidade de um único departamento ou divisão. As políticas de Gestão de Pessoas devem formular um conjunto estruturado de estratégias, programas e instrumentos de gestão integrados entre si e com as demais estratégias da organização. Nessa tarefa, deve analisar o ambiente externo (gestão pública, planejamento, economia e legislação), o ambiente interno (estratégias, processos, qualidade, marketing de produtos e serviços, finanças, custos, gestão de pessoas e de projetos) e as habilidades comportamentais dos gestores (liderança, administração do tempo, de conflitos, formação e desenvolvimento de equipes).



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Modulo 1 - Reestruturação produtiva e impactos na administração de pessoas

Um dos papéis da Gestão de Pessoas é desenvolver estratégias para o comprometimento dos trabalhadores com os objetivos organizacionais, utilizando sua efetiva participação como catalisador das mudanças necessárias ao alcance de um estágio mais avançado nas organizações. Cabe à Gestão de Pessoas a iniciativa de, junto com a direção da empresa, fazer transição do estilo de gerenciamento tradicional, autocrático e burocrático para o estilo de gerenciamento mais democrático. Esse sistema gerencial requer maior participação dos funcionários, mas opta, muitas vezes, pela redução de mão de obra, entendida não somente como diminuição de custos, mas também como redutor da instabilidade causada pela interferência humana nos processos.

A Gestão de Pessoas deve criar mecanismos que minimizem a insegurança dos empregados que permanecem na empresa. Em parte, isso pode ser conseguido com maior transparência na comunicação interna sobre as reais possibilidades de manutenção de mão de obra e os esforços empreendidos nesse sentido.



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Modulo 1 - Reestruturação produtiva e impactos na administração de pessoas

4 - O Novo Trabalhador

É cada vez mais presente nas organizações a exigência de um novo tipo de trabalhador, que tome atitudes mais elaboradas e intelectualizadas. As empresas parecem não mais necessitar de profissionais estritamente técnicos, mas de pessoas voltadas para processos de interpretação, elaboração e transformação. Isso significa afirmar que, em lugar de uma especialização rígida, busca-se maior flexibilidade, raciocínio lógico e capacidade de adaptação, de aprendizado, de comunicação, de trabalho em equipe, de tomada de decisão, de avaliação dos resultados e de identificação e solução de problemas. Dessa forma, quanto mais seletivo o processo de escolha dos empregados mais adequados ao novo contexto.

Entretanto, para obter esse novo tipo de trabalhador, as empresas não podem depender exclusivamente da oferta do mercado de trabalho. As organizações têm a possibilidade de formar internamente os profissionais com o perfil ideal, preparando-os para lidar com as mudanças intrínsecas ao novo processo produtivo. Por meio de treinamento atualizado, os funcionários tornam-se mais adaptáveis às mudanças, criando condições para sua permanência na empresa e para concorrência com a mão de obra externa.




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Modulo 1 - Reestruturação produtiva e impactos na administração de pessoas

A necessidade de repensar a Gestão de Pessoas nas empresas de todo o mundo e as questões do novo tipo de trabalhador impõem como desafios aos pesquisadores organizacionais e aos gerentes, uma atitude reflexiva sobre mudanças e a possibilidade de adequação ao novo contexto. Em um cenário de concorrência global tão acirrada e sob pena de não serem capazes de proagir (ou reagir) à velocidade das mudanças, já não basta aos profissionais das organizações e aos gestores de pessoas refletirem sobre esses assuntos: eles precisam se colocar em ação em direção às mudanças.



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Modulo 1 - Reestruturação produtiva e impactos na administração de pessoas

5 - A Empresa Moderna e o Processo de Gestão de Pessoas

Este item procura apresentar as transformações que estão ocorrendo com as organizações inseridas no contexto mundial de contínuas mudanças, bem como as novas tendências no processo de gestão e analisar seus impactos sobre a Gestão de Pessoas.

Na época atual, o mundo passa por um processo histórico caracterizado por imensa integração econômica, pelo crescimento dos processos de disseminação da informação e do conhecimento, por meio da evolução explosiva das telecomunicações, da informática e da automação eletrônica e microeletrônica dos meios produtivos. A concorrência global e o aceleramento nas inovações tecnológicas implicam em novas ameaças e oportunidades (HAMEL & PRAHALAD, 1994).



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Modulo 1 - Reestruturação produtiva e impactos na administração de pessoas

Nessas novas condições, as empresas encontram-se diante de inúmeros desafios. Para garantir sua capacidade de competir e sobreviver no mercado com exigências internacionais, constantemente, procuram inovar em tecnologia ou em novos modelos de gestão, proporcionando, assim, maior integração com seus clientes, fornecedores, funcionários e acionistas. Tal processo visa o desenvolvimento e o aperfeiçoamento das pessoas.

A internacionalização afetou o aspecto da cultura organizacional, incorporando as diversidades étnicas e culturais no ambiente de negócios e do trabalho. A comunidade passou a ter papel importante para as atividades da empresa. Assim, as questões sociais e ambientais têm o poder decisivo na definição das estratégias empresariais. Alguns autores (RAMOS, 1981), que procuram as novas direções no desenvolvimento organizacional, atribuem o aspecto moral, além do técnico, ao processo de produção. Dessa maneira, o trabalho é considerado não apenas como uma atividade metamórfica, mas também como processo criativo, que proporciona contribuições em termos de educação e de satisfação para o trabalhador. Então como as empresas são modificadas e se modificam para navegar num ambiente tão mutável e multidimensional?



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Modulo 1 - Reestruturação produtiva e impactos na administração de pessoas

O processo de inovação, muitas vezes, leva à mudança no desenho organizacional (KILIMNIK, 1997) por meio da descentralização produtiva, que permite aperfeiçoamento das atividades e serviços específicos, do achatamento das estruturas hierárquicas, da desintegração vertical, que reduz a cadeia de atividades e da focalização nas competências específicas da empresa, da terceirização. A organização passa a ser orientada para processos (GONÇALVES, 1997), que permitem melhor alinhamento aos objetivos e melhor desempenho para direcionar as atividades, orientando-a para a satisfação das necessidades do mercado e dos clientes. A dependência da estrutura organizacional à estratégia da empresa, que é moldada em grande parte pelas condições do ambiente externo, foi enfatizada ainda por CHANDLER (1990). O processo da formação da estrutura da empresa moderna vai além dessa visão contingencial e implica na interdependência em duas direções que facilitam o processo de aprendizagem organizacional e maior flexibilidade da empresa.

As mudanças afetam a organização e os modos do trabalho. Os princípios tradicionais de Administração, da divisão do trabalho, da amplitude de controle e disciplina e da comunicação formal do papel não atendem mais às características do mundo contemporâneo. A dinâmica mudou, a execução das tarefas individuais transformou-se no trabalho em equipe, ou seja, o subjetivo do trabalhador, sua experiência e visão pessoal passam a ser essenciais para o sucesso da empresa. O tipo do trabalhador Homo faber dá lugar ao Homo sapiens (CARNEIRO, 1995) cuja função não é mais executar, mas pensar. As empresas buscam o novo perfil do seu empregado valorizando os conhecimentos e educação geral, a esfera mais ampla das experiências profissionais e pessoais. A Empresa do futuro necessita dos novos modelos de administração e do profissional com novas competências gerenciais.



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Modulo 1 - Reestruturação produtiva e impactos na administração de pessoas

Mudanças para a Gestão de Pessoas – Neste novo século, observa-se que a empresa moderna promove uma verdadeira revolução nos princípios tradicionais do desenho organizacional, motivada pela mola-mestra dos resultados financeiros. Tais modificações afetam inúmeros aspectos da vida humana como saúde, relações sociais, economia, tecnologia e política, sejam em países desenvolvidos ou em desenvolvimento.

Para a adequada gestão dos seus resultados, a empresa moderna adota, como referencial, os processos determinantes da agregação de valor aos produtos e serviços oferecidos. Tendo o uso intensivo da tecnologia transformado a matriz da eficiência empresarial, o desenho organizacional evolui de forma a contemplar a adequação do profissional que, de simples executante de tarefas prescritas, passa a ser um gestor de processos.

A alocação dinâmica de recursos, o trabalho realizado em equipes e orientado por projetos e a coordenação efetiva estabelecem novos princípios de desenho organizacional, sugerindo um realinhamento constante das verdadeiras fronteiras da organização que se desligaram dos conceitos físico e geográfico para adotar visão mais ampla, flexível e dinâmica que apontam para a visão orgânica da instituição. As oportunidades delineiam o modelo organizacional que resulta em criação de valor para os produtos e serviços oferecidos, deixando claro que os recursos necessários poderão não estar sempre numa empresa específica, ou mesmo não pertencer a ela.



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6 - As Novas Relações Organizacionais

O quadro dinâmico apresentado exige uma nova relação entre o capital e o trabalho nas organizações. Assim como o primeiro, que busca a rentabilidade sem se preocupar com credos ou ideologias, a relação de trabalho deixa de ser durável e exige a redefinição do modelo organizacional. Nessa reorganização, criam-se novos referenciais de poder, uma vez que, como nos apresenta KILIMNIK (1997), há uma desintegração vertical, um achatamento da pirâmide com eliminação de níveis hierárquicos nas organizações. Por outro prisma observa-se o fenômeno da terceirização, que dá uma dinâmica particular aos novos processos organizacionais. Em prol dos resultados finais, a iniciativa dos empregados é colocada em evidência, ou seja, tanto na empresa geradora do processo como naquelas que se responsabilizam por suas etapas terceirizadas.



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Modulo 1 - Reestruturação produtiva e impactos na administração de pessoas
Nesse ponto, podemos qualificar os negócios como um jogo, em que os fornecedores, clientes, competidores e parceiros complementares interagem com a empresa, que oferece produtos e serviços. Nesse jogo, uma organização deve ser vista como passível de estar atuando, a qualquer momento, como qualquer um dos elementos citados, aos que se denomina nova rede de valor (BRAMDENBURGER & NALEBUFF, 1996). Essa flexibilidade apresenta desafios relevantes para a gestão de recursos humanos que passa a ter que redirecionar ações de treinamento para um profissional que precisa se adaptar a novas funções. A multidisciplinaridade de capacitações passa a ser ingrediente importante na formação de equipes multifuncionais, que se complementam na cadeia de produção. Toda essa evolução traz à função de recursos humanos, um universo de desafios que exige novos olhos, novas estratégias de abordagem dos problemas e novas ações.

Com as novas tecnologias e a nova visão negocial, surgirão profissionais que, ao perder o status do emprego estável, deverão ser apoiados adequadamente, para que não percam a cultura e o clima organizacional necessários ao alcance dos níveis de produtividade esperados. A função de pessoal deve desenvolver novas competências gerenciais, tanto para consumo próprio como para o enfrentamento de um processo de gestão de mudança continuada, em que o plano de carreira deixa seu ar mais sisudo e torna-se flexível o bastante para que novas lideranças sejam desenvolvidas nesse novo ambiente.



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Modulo 1 - Reestruturação produtiva e impactos na administração de pessoas
 

A ênfase está na Gestão de Pessoas, preparando-as para o trabalho real em contraponto ao trabalho prescrito, em que a melhoria na qualificação dos gerentes para o enfrentamento de desafios continuados é tarefa das mais urgentes. À função de pessoal cabe a participação integrativa na reorganização das novas linhas de poder e na recomposição de quadros, adequando-os à nova realidade institucional da organização.

A tecnologia da informação possibilita, com as suas vertentes interligadas em rede, o trabalho em organizações virtuais. De fato, nem a organização, nem o trabalho em si são virtuais. O que denota esse conceito de virtualidade é a possibilidade de se redirecionar os processos de forma global, sob a égide do sentido e do valor dados à informação nos novos tempos. Assim, mantendo-se as pessoas fisicamente numa localidade, a efetividade de muitos processos, como aqueles relacionados a serviços, não podem mais estar diretamente relacionados a conceitos tradicionais vinculados ao trabalho. Os conceitos jurídicos também deverão ser revisados para bem orientar a empresa cem sua totalidade, particularmente, o profissional de pessoal. Nesse caminho, aproveita-se a tecnologia da informação disponível para a realização de treinamento a distância e para o desenvolvimento da nova cultura organizacional globalizada.

Apesar da manutenção da riqueza da imagem e do alto grau de interatividade possível, essas tecnologias ainda não fazem parte do consciente coletivo dos profissionais não especialistas em tecnologia da informação. A opção pelo treinamento não presencial deve ser realizada com cuidados especiais. O resultado obtido na produtividade ao longo do tempo depende do nível de aproveitamento que profissionais de diferentes gerações farão dessas novas abordagens.



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Desafios Apresentados à Gestão de Pessoas - Nesse mundo globalizado, organizado em redes, transformar pessoas passa a ser o maior desafio estratégico. E essas, uma vez transformadas comporão times autônomos, o que não deve ser uma tarefa imediatista. Deve se constituir em processo evolutivo, a ser observado pacientemente por aqueles que irão ocupar as empresas do futuro. Neste aspecto, certo tipo de meritocracia está sendo formado, para que permaneçam nas organizações, como em uma seleção natural, somente pessoas realmente adequadas à confecção dos produtos e à execução dos serviços propostos.

Essa realidade apresenta contornos que precisam ser analisados sob o ponto de vista profissional, político e ético nas organizações. Visto que diferentes organizações operam processos distintos na confecção e oferta de produtos e serviços específicos, a adequação extremada do profissional poderá ser um fator o qual restringirá a sua inserção noutra empresa, ainda que do mesmo ramo de negócios. As políticas de Gestão de Pessoas deverão contemplar mecanismos que aproveitem essas qualidades presentes no profissional treinado sem deixar de lado os limites éticos dessa transformação.

Apesar disso, todo esse quadro da empresa do futuro convive, em meio à transição, com um universo de ferramentas básicas que a administração de recursos humanos mantém incorporadas às organizações, o que exige cuidado adicional para que um sincronismo seja encontrado, pois não se transformarão pessoas com argumentos, tecnologias e ferramental inadequado.


 


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Modulo 1 - Reestruturação produtiva e impactos na administração de pessoas

Impactos sobre a Gestão de Pessoas - Diante das mudanças na estrutura das empresas, na necessidade de novas habilidades para os empregados e na procura por maior flexibilidade, é natural que se demandem também modificações nos processos de trabalho da área de Gestão de Pessoas das organizações.

Uma das maiores mudanças tende a ser adoção de equipes autodirigidas e o empowerment – reconhecer o valor dos empregados e dar a eles suficiente poder de decisão e responsabilidade para que possam desempenhar suas tarefas e resolver seus problemas sozinhos. É claro que, primeiramente, a empresa precisa analisar se o uso do trabalho em equipe valerá a pena; mas, se assim for verificado, a Gestão de Pessoas passa a ser a facilitadora desse processo. Deve, então, ser dada ênfase no treinamento e desenvolvimento do indivíduo e da equipe. Também o recrutamento e a seleção deverão adequar-se para identificar profissionais já formados ou com potencial para trabalhar em equipe. Essa adequação advém das demandas, habilidades e competências específicas exigidas do profissional atuando em equipes, diferentes daquelas analisadas para o trabalho isolado.



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O gerenciamento das pessoas deve envolver o implemento das equipes auxiliando-as a: definir metas; estágios do processo de implementação; formas de mensurar seu sucesso e progresso; recursos alocados; responsabilidades e recompensas.

No caso do recrutamento e seleção, a tendência atual é privilegiar outros aspectos além dos tradicionais, como escolaridade, experiência e aptidões técnicas do tipo conhecimento de software. Um dos aspectos a ser buscado no recrutamento de novos funcionários é o comprometimento, ou seja, até que ponto as pessoas estão dispostas a se envolver com os objetivos da empresa. Além disso, a capacidade de assumir responsabilidade pelos próprios erros, a fidelidade, a iniciativa, flexibilidade, a produtividade pessoal e a facilidade de relacionamento pessoal são aspectos que devem ser avaliados na seleção por serem importantes em organizações modernas.

É bastante útil procurar essas características no momento mesmo do recrutamento, pois desta forma pode-se diminuir os gastos da empresa para desenvolver essas características. Ainda que as aptidões e competências profissionais continuem sendo importantes e avaliadas na seleção, as empresas estão percebendo que uma pessoa emocionalmente envolvida com o trabalho tende a dar o melhor de si, por perceber a relação direta entre o sucesso da empresa, de cada equipe e de cada pessoa.



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Modulo 1 - Reestruturação produtiva e impactos na administração de pessoas
A Gestão de Pessoas também desempenha um significativo papel para trabalhar a motivação dos empregados. Além de procurar recrutar pessoas internamente motivadas, o uso de reforços positivos, como o reconhecimento por um serviço bem feito, melhora a autoestima. Assim, o gerenciamento delas deve orientar os executivos sobre a importância de lhes dar as informações necessárias para a realização de um bom trabalho, fornecendo um feedback regular sobre seus progressos.

Existem várias técnicas de motivação de empregados, como: criar canais de comunicação fáceis de usar, promover reuniões destinadas a comemorar o sucesso do grupo, reconhecer publicamente um trabalho bem feito, aprender com todos sobre aquilo que os motiva e quais atividades que desenvolvem em tempo livre. Outras maneiras eficazes de mantê-los motivados são: reconhecer suas necessidades pessoais, usar o desempenho, as contribuições ao trabalho em equipe e a apresentação de novas ideias como base para uma eventual promoção.



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Modulo 1 - Reestruturação produtiva e impactos na administração de pessoas
É também essencial recompensar financeiramente de forma competitiva, pois fica difícil manter as pessoas estimuladas a fazer um bom trabalho e aprimorar seus conhecimentos sem um retorno financeiro bem definido, tanto em termos atuais quanto futuros.

Assim, a Gestão de Pessoas tem importante papel na motivação dos empregados, direta e indiretamente. De forma indireta, por meio do treinamento e da preparação dos gerentes na utilização adequada das ferramentas, supervisionando o seu uso. Sua atuação direta faz-se pelo próprio desenvolvimento dessas ferramentas além da criação de uma política de salários e um plano de carreira para estimular os empregados.



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Modulo 1 - Reestruturação produtiva e impactos na administração de pessoas
Resumo

O mundo organizacional e de negócios desloca-se do enfoque de mercado local para o global.

As organizações adquirem novas posições, regulam e desenvolvem novas formas de viver e de trabalhar, assim como instâncias de socialização dos diversos atores que as compõem e as estruturam.

A transformação do sistema empresarial se processa sob o signo da modernização tecnológica nos países desenvolvidos.

O que muda, entretanto, não é apenas o aspecto tecnológico, no que se refere a equipamentos e materiais. Trata-se de transformação mais profunda, que muda radicalmente os modos de funcionamento do sistema empresarial: as condições de produção, a relação com os mercados, a visão, e o tratamento com os trabalhadores. Nesse contexto, os antigos modos de produção não são mais eficazes: novos modelos de gestão se implantam.

As palavras-chave desse novo discurso são: integração, abordagem sistêmica dos modos de produção, horizontalidade dos procedimentos e das comunicações, descentralização das estruturas e das decisões. A combinação das funções de fabricação, manutenção e qualidade fazem “descer” os objetivos econômicos até o “chão de fábrica”, sendo diretamente abertos à flutuação dos mercados.

Implicam também mudanças na forma, conteúdo e natureza do trabalho a partir do fenômeno da globalização e da reestruturação produtiva, denotando maior exigência na análise de suas consequências para as organizações, para a administração e para os trabalhadores.



Unidade 3 Módulo 2
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Modulo 2 - Transformações do mundo do trabalho

1 - O trabalho e as Mudanças no Cenário Produtivo Mundial

Um novo cenário vem se consolidando no mundo do trabalho e transformações tecnológicas, estruturais e econômicas exercem grandes impactos sobre as pessoas e a gestão dessas dentro das organizações.
Apesar de essas transformações terem atingido, indiscriminadamente, todos os setores socioeconômicos, especificamente no sistema fabril de produção, encontram-se características marcantes desse processo. Essas características sugerem a necessidade de novas concepções e abordagens sobre organização/empresa, trabalho e trabalhador, tendo em vista a
reestruturação do setor produtivo decorrente desse processo de mudança.

A crise do petróleo, em meados da década de 1970, é um dos marcos referenciais do início das transformações do trabalho, embora as origens do processo antecedam cronologicamente esse período. Essas mudanças ocorreram paralelas e concomitantemente no ambiente macroeconômico e intraorganizacional desde 1930. Na verdade, não se pode dissociar todo
esse processo de reestruturação produtiva da realidade econômica do círculo virtuoso do fordismo.



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Modulo 2 - Transformações do mundo do trabalho

O taylorismo e o fordismo surgem e se consolidam em uma época na qual a produção em massa é garantida por um mercado apto a absorvê-la como um todo. A grande preocupação dos empreendimentos fabris durante esse período é ampliar as taxas de produtividade e reduzir os custos de fabricação. As indústrias de grande porte estrutural são uma das características desse processo à medida que refletem uma política de
sucesso empresarial calcada na ampliação da produção (CHANDLER, 1976).

A prescrição do trabalho, a fragmentação da tarefa e a mecanização das operações são ferramentas desse sistema fabril que serve tanto para tornar mais dóceis os trabalhadores (FOUCAULT, 1987) quanto para aumento da produtividade. Deixa-se claro nesse processo, que a padronização e a prescrição das tarefas são feitas em um contexto em que poucas mudanças ocorriam no processo produtivo ao longo do tempo. A fragmentação do trabalho se dá de forma que o trabalhador se torna intercambiável, ou seja,
de fácil substituição (FLEURY & FLEURY, 1997). O operário se configura, nessa situação, como um simples executor de tarefas ritmadas e
padronizadas e o trabalho enquadra-se como fonte de sofrimento
patogênico (DEJOURS, 1992).

Segundo HELOANI (1994), entre 1950 e 1960 ocorreu um forte movimento
de organização sindical que refletia o descontentamento do trabalhador em relação ao processo produtivo. Os sindicatos foram responsáveis pela aquisição de muitos ganhos salariais durante esse período.



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Modulo 2 - Transformações do mundo do trabalho
No final da década de 1960, o modelo de produção em massa começou a mostrar evidentes sinais de sua fragilidade. O Estado, não podendo sustentar seus gastos em função da crescente dívida pública e elevação dos salários, estava se tornando um empecilho à competitividade dentro do padrão de contenção de custos. Nesse aspecto, o fordismo-taylorismo apresenta incoerência, pois, ao mesmo que precisa dos salários adequados para a manutenção do sistema, prega a contenção de custos e, dentro desses, a redução dos salários.

Na década de 1970, intensificam-se as iniciativas de automatização microeletrônica das fábricas, mas é na década de 1980 que esse processo se consolida. As máquinas são implementadas para a substituição de tarefas repetitivas e mecânicas que até então eram realizadas pelos operários.

No início da década de 1990, há um recrudescimento do neoliberalismo, tendo como pano de fundo a globalização, os movimentos de qualidade e o aumento da competitividade. O Setor de serviços cresce, absorvendo grande parte da mão de obra que está sendo liberada pelo setor fabril. A mão de obra feminina se insere fortemente no mercado de trabalho. Em decorrência do excesso de trabalhadores disponíveis, os mais velhos e os mais jovens encontram mais dificuldades de inserção no mercado de trabalho, sendo os primeiros considerados como incapazes de se adequar às novas exigências e os últimos inexperientes. Destaca-se o caráter estrutural da crise como evidencia MATTOSO (1995:78).



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Modulo 2 - Transformações do mundo do trabalho
Como consequência desse processo, a classe trabalhadora ficou enfraquecida em relação aos seus direitos. Com as novas formas de trabalho, a classe operária ficou heterogeneizada, fragmentada e complexificada (ANTUNES, 1995).

Dentro desse novo contexto, as organizações precisam adaptar-se às exigências de um mercado que, além de se inserir em uma competitividade internacional, estava estrangulado pela redução de consumo e de gastos governamentais. As empresas que querem sobreviver precisam, cada vez
mais, garantir a aceitação de seus produtos segundo diferenciais competitivos.

As mudanças não se restringem ao advento e expansão da tecnologia. A estrutura das organizações, assim como a gestão da força produtiva é repensada a partir do momento em que se constata que o sucesso
empresarial não está associado à dimensão das mesmas. O que garante sua competitividade é a capacidade de se adaptar às constantes variações de mercado, que se traduzem por flexibilidade, inovação e qualidade dos produtos, aliadas à estruturação de elementos cooperativos dentro e entre as organizações, garantindo, assim, um contínuo diferencial competitivo. (TAUILLE-1994)

TAUILLE (1994) chama a atenção para o fato de que as novas formas que tomam as estruturas das organizações ante esse novo processo não se restringem às modificações tecnológicas. A estruturação de elementos cooperativos dentro das organizações e entre elas é o que lhes garantirá alcançarem o padrão competitivo.

PIMENTA (1997) aponta a cooperação como um dos pontos em que há uma ruptura no modelo taylorista-fordista na estrutura do trabalho. A mesma estrutura que no modelo tradicional fica reduzida ao sequenciamento das atividades na produção, surge, no modelo atual, como forma dinâmica que sustenta o novo sistema fundamentado na inovação e na aprendizagem.



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Modulo 2 - Transformações do mundo do trabalho

Técnicas de gestão surgidas no final de 1970/80 difundem-se a exemplo da experiência da Terceira Itália e do Toyotismo no Japão e ganham espaço. Independentemente da discussão sobre a possibilidade de ter ocorrido uma ruptura e superação do modelo taylorista-fordista ou não, ficam evidentes algumas mudanças ocorridas no processo produtivo. Ressalta-se, entretanto que, dependendo do setor de atuação, do tipo de empresa, do país em que se localiza e do montante de investimentos, há diferenças de intensidade dessas transformações para cada caso, como salientam ANTUNES (1995), PIMENTA (1997) e FLEURY & FLEURY (1997).

Essas modificações na forma de gestão da força de trabalho acabam por definir um novo tipo de trabalho e trabalhador. O trabalho não se restringe exclusivamente à produção repetitiva de tarefas fragmentadas e pré-definidas. Ao contrário, ele engloba, em um mesmo cargo, tarefas diferentes que exigem conhecimento de mais de uma operação e pode demandar a habilidade de controle de mais de uma máquina. O trabalho já não pode ser prescrito como antes, em função das linhas flexíveis de produção, em que ele necessita ser um constante alvo de inovações. Em alguns casos, em dias diferentes, o funcionário executa tarefas diferentes. O trabalhador deve tornar-se um funcionário polivalente ou multifuncional. A subjetividade do trabalhador constitui-se em um elemento importante para a criatividade e a mudança no ambiente produtivo. Deve agir de forma cooperativa com os demais funcionários e ser comprometido com o processo produtivo. Agrega-se a necessidade de um trabalhador que utilize sua inteligência e sua capacidade a favor do processo produtivo e não apenas se utiliza um elenco restrito de habilidades, como anteriormente, no modelo taylorista-fordista.



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Modulo 2 - Transformações do mundo do trabalho

Desse novo trabalhador é exigido que dedique todo seu esforço para os objetivos organizacionais. Entretanto, é por meio das mudanças na gestão das pessoas que esse processo é implementado. O trabalhador passa a ser percebido como uma chave importante para o aprendizado e inovação da organização (FLEURY & FLEURY, 1997). Além disso, o trabalho em grupo passa a ter maior importância do que o trabalho individual e, por isso, a compreensão dos aspectos culturais passa a ser um ponto fundamental na gestão das pessoas.

A gestão das pessoas ganha uma conotação estratégica, ao mesmo tempo em que se torna complexa. Ela passa a servir como forma de canalizar a produção e a força de trabalho para a construção de uma empresa voltada para inovação, flexibilidade, criatividade, mudança e renovação, garantindo competitividade no contexto instável. Ao mesmo tempo, vê-se na difícil tarefa de ter que lidar com aspectos tais como trabalho em equipe, subjetividade do trabalhador, cultura organizacional, dentre tantos outros, destinados à consecução dos objetivos empresariais.



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Modulo 2 - Transformações do mundo do trabalho

2 - Culturas Brasileira, Organizacional e Pessoal

A cultura da organização é uma importante variável para entender os processos rápidos e contínuos de mudanças no âmbito das relações de trabalho.

A cultura brasileira identifica valores e símbolos que agregam um povo em torno das concepções de nacionalidade e cidadania. Isso só é possível na medida em que se resgatam, historicamente, elementos que conduzem a essas concepções e as relacionam com traços identificáveis dessa cultura, nas ações e comportamentos dos indivíduos na sociedade.



Cultura

Segundo PARSONS (apud MOTTA, 1997: 198), é um sistema de valores, e como os valores na sociedade moderna evoluem no tempo, não pode haver uma continuidade cultural por um período longo.

Para Schein (apud FLEURY & FLEURY, 1997: 24), é formada pelo conjunto de pressupostos básicos que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os problemas de adaptação externa e integração interna e que funcionou de forma suficiente para serem considerados válidos e ensinados a novos membros como a forma correta de perceber, pensar e sentir com relação
a esses problemas.




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Modulo 2 - Transformações do mundo do trabalho
Autores como Freyre, Furtado, Holanda e outros (apud SALES, 1994) procuram a explicação para os padrões que dominavam a sociedade brasileira do século passado, por meio do resgate histórico do modo de produção escravista e suas consequências. De forma geral, a explicação gira em torno da incorporação dos elementos da estrutura escravista, agrária, assistencialista e oligárquica, ratificando a cidadania concedida,
fruto da cultura da dádiva (mandar/pedir, mando/subserviência, mandar/obedecer, mando/obediência). Essa configuração da cultura política brasileira reforça as desigualdades sociais presentes na nossa sociedade. (SALES, 1994:26)

Entendemos que a cultura nacional dá suporte e sustentação para que as instituições criem, modifiquem ou reforcem os valores e símbolos conforme seus objetivos. Por outro lado, adventos como a globalização e a mudança da centralidade do trabalho (como eixo norteador e formador da cultura), possibilitam a coexistência de uma pluralidade de concepções que atribui sucesso às organizações que sabem valer-se da flexibilidade e, assim, criam uma identidade diferente das demais. São essas novas características organizacionais que têm posto em foco a cultura brasileira e, mais especificamente, os valores e símbolos que apregoam como se constituíram e como se inter-relacionam com os demais elementos de seu ambiente.



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Modulo 2 - Transformações do mundo do trabalho
3 - Cultura Organizacional e de Pessoal

O contexto socioeconômico enfrentado pelas empresas neste final de século caracteriza-se pela sua velocidade de transformação. A revolução tecnológica obriga as empresas a se adaptarem rapidamente e de maneira satisfatória a ambientes em ininterrupta modificação. Assim, as organizações buscam compreender a si mesmas, com o intuito de transformar essa compreensão em fator de adaptação e criação de uma atmosfera propícia à inovação, ao incremento da produtividade, reforçando seus pontos fortes e buscando a superação das deficiências eventualmente detectadas.

A partir da cultura organizacional é possível captar a lógica das relações internas, suas contradições, suas mediações, para melhor compreender os estágios administrativos, os sucessos e fracassos além das facilidades ou dificuldades impostas às mudanças institucionais (CURVELO, 1993). O conhecimento de sua própria cultura organizacional torna-se um elemento- chave do processo de compreensão interior e autodescoberta da organização.



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Modulo 2 - Transformações do mundo do trabalho
AKTOUF (1994) aponta que fica claro que a Gestão de Pessoas não deve contribuir para aprofundar o fosso entre dirigentes e dirigidos, tratando o empregado como input e, ao mesmo tempo, dispondo de mão de obra, entusiasta e pronta a mobilizar-se para ultrapassar metas. Por outro lado, Aktouf desconsidera o fato de que a economia capitalista gera uma sociedade hierarquizada e que a desigualdade está presente de forma intrínseca. Pode ser talvez minimizada, reduzida, mas não eliminada.

No cenário futurístico do novo modelo de organização virtual, entra em xeque a própria gestão de pessoal, vista como detentora de papel estratégico na construção de universo simbólico que visa aproximar e
integrar, e que é organizada segundo os mesmos paradigmas que orientam a formação dos setores produtivos.



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Modulo 2 - Transformações do mundo do trabalho
A necessidade cada vez mais urgente de otimizar a Gestão de Pessoas nas empresas tem proporcionado o surgimento de impasses, normalmente solucionados por decisões apressadas e que nem sempre contemplam a complexidade que a função requer. As atividades rotineiras de gestão de pessoal deixam de lado situações problemáticas que são reduzidas ao limite da competência e do feeling de cada um. É o que comenta SARSUR (1997:12).

"As práticas de Gestão de Pessoas são, em verdade, ainda recentes no contexto brasileiro, e a própria área ainda não conseguiu de fato, ocupar um espaço no interior das organizações. A reivindicação, abordada por muitos autores, de uma atitude mais estratégica, parece mesclar-se com necessidades diárias de mostrar serviço por meio de resultados concretos e palpáveis, como o número de contratações ou o número de funcionários treinados. Por vezes, os profissionais da área acabam tão envolvidos com atividades rotineiras que podem não atentar para o ritmo acelerado de mudanças que os cercam”.

As rotinas não deixarão de existir, só que a Gestão de Pessoas terá novos papéis a desempenhar na motivação para o trabalho, dentro de um contexto situacional, fazendo com que os empregados se sintam capazes de dirigir seu próprio destino, sem exercer funções manipulativas e despersonalizadoras. E, desse modo, contribuir para a administração do século XXI, conforme AKTOUF (1996: 238-244), preparando pessoas comprometidas e bem pagas para se tornarem seres pensantes e inteligentes que, mais do que nunca, serão essenciais para o alcance de melhor rentabilidade das organizações.



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4 - Subjetividade, Trabalho e Gestão de Pessoas

A análise de HOBSBAWN (1995) sobre fatos históricos ocorridos entre 1914 e 1990 em nível mundial, leva à perspectiva que esse período não tem demonstrado qualquer sinal de estabilização ou tendência de equilíbrio.

Para o autor, o século acaba em problemas, impacto de um cenário de incerteza tem acarretado profundas modificações nas organizações e no sistema produtivo. Além disso, a globalização econômica acelerou significativamente o ambiente empresarial, ligando o mercado mundial e integrando cada produtor ao sistema internacional.

A melhoria no produto fabricado pode ser obtida mais rapidamente que a melhoria da gestão das pessoas. Uma das linhas de pensamento contemporâneo busca o diferencial competitivo para as organizações por meio da Gestão de Pessoas, uma vez que somente com as mudanças comportamentais podem-se alcançar alguns patamares ideais (dos quais a flexibilidade faz parte). Em decorrência de tais transformações, houve uma mudança nas funções das empresas, que vêm sendo obrigadas a assumir novas responsabilidades, especialmente ligadas ao campo da cidadania e da busca da qualidade de vida na sociedade.

A organização passa a ser, portanto, considerada além de seu espaço tecnológico e/ou econômico, para revelar-se como espaço social. A ampliação do espaço organizacional no âmbito da sociedade é fruto da própria conjuntura na qual ela se insere, marcada em particular pela abertura das relações empresariais (não basta só produzir, é necessário se relacionar nas esferas exteriores aos muros da organização). Nesse sentido é que se pode afirmar que essas organizações atuam de modo a estruturar “sujeitos do trabalho”. Na visão de WIGLEY (1994), citada em FONSECA (1997), “além de concentrar a atenção nas edificações existentes no parque fabril, é necessário associá-las (as organizações) a premissas sócio-político-pedagógicas determinadas, que as colocam como (...) garantia cultural de uma série de qualidades e valores, como a ordem, a estabilidade, a segurança, o controle, a delimitação, o enclausuramento (...) (WIGELY, 1994:241)”



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Valendo-se desse recente ponto de vista de estruturação de sujeitos de trabalho, a questão da subjetividade passou a se constituir em um pensamento dominante na Administração. Há que considerar que os estudos de Hawthorne apontaram para a importância da organização informal do trabalho, do papel dos grupos e da comunicação para a produtividade, mas a subjetividade no trabalho, há bem pouco tempo, passou a ser encarada como uma das variáveis que interferem no processo organizacional.

A vertente mais otimista pode afirmar que a preocupação com a subjetividade está relacionada à busca de um trabalho e de um trabalhador mais completo, menos alienado e mais integrado às necessidades organizacionais. Os pessimistas podem encarar o movimento de entender e agregar a subjetividade das pessoas à organização como mais uma forma de dominação e expropriação do saber que se estende para a dominação e a expropriação do ser, do estar sendo no mundo.

O fato é que se pode falar, sem exageros, do esgotamento do modelo tradicional de Gestão de Pessoas baseado em remuneração salarial. Desde Maslow e McGregor já se havia delineado que apenas salário não era fator motivacional e de recompensa pelo trabalho humano. Hoje, os novos modelos de gestão, em especial o japonês, apregoam qualidade total a partir das pessoas, e isso é possível se as pessoas de fato estiverem integradas à estratégia global das empresas. Na Gestão de Pessoas vem à tona um novo constructo – a subjetividade, na tentativa de conhecer melhor o envolvimento do indivíduo no trabalho.


Estudos de Hawthorne

Trata-se das experiências realizadas por Elton Mayo numa das unidades da Western Eletric (Estados Unidos) no início do século e que originaram as ideias da Escola de Relações Humanas.



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5 - Subjetividade: uma visão multidisciplinar

Falar de interioridade e de subjetividade remete à questão da construção da realidade psíquica. A realidade psíquica é fruto da internalização das imagens dos outros e de si próprio. Esta realidade se constrói em fases correspondentes aos estágios de desenvolvimento do indivíduo.

O desenvolvimento afetivo e cognitivo passa de uma predominância da projeção a uma predominância da internalização, mesmo se tratando sempre de dois mecanismos concomitantes do nosso imaginário. Quando se fala da realidade interior, deve-se, portanto, entender que o que o sujeito internaliza e interioriza não são seus pais reais, não são fatos como eles chegam ou existiram na realidade objetiva externa, são imagos de seus pais que são, por um lado, o resultado da projeção de seus próprios fantasmas arcaicos, e por outro lado resultado da introjeção dos objetos que, mesmo quando o sujeito tem deles uma visão realista, conservam sempre uma certa dimensão fantasmática (LAPIERRE, 1993).



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Modulo 2 - Transformações do mundo do trabalho
De acordo com Lapierre (1993), a interioridade é inerente à prática da gestão e aos vários papéis simbólicos que representam as organizações para os indivíduos. O dirigente atua sobre a realidade exterior com base em sua dimensão interior. É na reflexão sobre a sua ação que um dirigente descobre um pouco mais a cada dia os fantasmas inconscientes que sustentam sua visão, sua posição afetiva e seu método de interação na sua prática de direção.

O processo de tomada de decisão organizacional e as práticas gerenciais são envolvidos pela objetividade e pela subjetividade, mesmo que haja uma tendência em negar a interioridade presente nas ações.

No espaço da organização, torna-se imprescindível a adoção de estratégias que disciplinem a força de trabalho. Entretanto, essa disciplina é garantida não mais por ações coercitivas, mas pela “adesão e interiorização de regras (...) [em que] (...) elementos tradicionais de controle estão ultrapassados pela força da adesão do pessoal aos princípios de base da empresa e pela fidelidade com que cada um os aplica”. (Lima, 1995)

Nesse sentido, a educação e a mídia aparecem como principais formas de persuasão.

Na construção da subjetividade, da identidade e, até mesmo da cultura, a mídia é um fator de peso. A velocidade da informação e a força da imagem, que atualmente podem atravessar distâncias em segundos, têm contribuído de maneira cada vez maior para o estabelecimento de padrões de conduta.



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Modulo 2 - Transformações do mundo do trabalho

Assim, nas organizações, o que a mídia está buscando é a convergência simbólica, ou seja, dizer aquilo que ressoa nas pessoas e, quando o assunto é publicidade, motivá-las à ação. Nessa perspectiva, compreender o funcionamento da mídia em relação à subjetividade é importante para compreender a construção do projeto em relação ao ambiente organizacional.

O papel da Gestão de Pessoas tem se modificado ao longo do desenvolvimento do capitalismo, passou de uma função marcadamente de controle e suprimento de mão de obra para uma forma de atuação mais
assertiva e crítica.



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Modulo 2 - Transformações do mundo do trabalho

Torna-se cada vez mais comum, nas organizações, adotar políticas de recursos humanos que valorizem o aprendizado, o desenvolvimento de capacitações e habilidades pessoais, por meio de recompensas econômicas associadas a recompensas simbólicas, modelos de descentralização e competição entre colegas, aumento do fluxo de informações, intelectualização de tarefas e, sobretudo, controle pela adesão e interiorização de regras ao invés da imposição concreta de ordens e proibições.

O modelo de Gestão de Pessoas que emerge da busca em absorver e integrar as pessoas como sujeitos de si mesmos, pode assegurar uma nova condição de trabalho e, até mesmo, um novo modelo de organização.

Entretanto, o processo é mais complexo do que aparenta. Delimitar as fronteiras da subjetividade, seja incorporando, seja estimulando, seja criando, é um movimento que envolve riscos de ordem não apenas psicológicas. As regras do jogo não são claras, tampouco os resultados que podem surgir da tentativa de gerenciar o que há de mais íntimo nas pessoas.



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Modulo 2 - Transformações do mundo do trabalho
Os pontos críticos desta análise podem ser:

a) o questionamento de uma nova Gestão de Pessoas, fundamentada na subjetividade, a ser implantada apenas como um elemento reformador do atual modelo de organização do trabalho;

b) o repensar da estrutura produtiva.

Essas questões não invalidam os esforços que vêm sendo empreendidos para humanizar as relações de trabalho. Por intermédio da administração de recursos humanos, baseada nessa nova ótica, procura-se garantir a manifestação da subjetividade no processo de trabalho. Para isso é necessária a articulação entre a ressonância simbólica, de uma parte, e o espaço da palavra de outra parte. O grande desafio para os gestores nesse início de século é: respeitar a individualidade e a interioridade das pessoas, ao mesmo tempo em que as incorpora aos objetivos organizacionais traduzindo-se em novo ambiente e em novas relações interpessoais e produtivas.

A subjetividade aparece como fator de relevância do saber no contexto produtivo atual, pois estabelece à demarcação de um limite, sendo este a “impossibilidade de colocar entre parênteses a experiência e a vida dos homens que trabalham.” (SANTOS, 1997). É ela que dá sentido à função do trabalhador enquanto papel social e permite a sua participação de forma mais interativa e produtiva, gerando benefícios recíprocos para a realização do indivíduo e os resultados que a empresa almeja. Por tanto tempo desconsiderada, quando não completamente ignorada pelos gestores da organização, a subjetividade é uma dimensão cada vez mais integrada à nova lógica organizacional, pois o trabalhador que simplesmente cumpria normas e instruções cegamente parece ter definitivamente perdido seu lugar, abrindo espaço para a proliferação de questionamento a respeito do trabalho e das formas de melhorá-lo. Isso pressupõe um novo profissional
que enfatiza seu lado subjetivo ao invés de encobri-lo.



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Modulo 2 - Transformações do mundo do trabalho
6 - Liberdade e capital humano: o novo paradigma

A década de 1960 trouxe intenso conflito a muitos elementos da sociedade. À medida que as atitudes correspondentes a uma sociedade industrial amadureciam, começaram a desmoronar-se em vista dos novos paradigmas da sociedade do conhecimento pós-industrial, teve início uma transformação de atitudes em massa.

Embora os EUA tenham sido o centro da revolução por maior liberdade, este novo paradigma disseminou–se por todo o mundo na década de 1980. Isso pode ser observado pelo crescimento dos Partidos Verdes, na Europa Ocidental, pela disseminação da democracia na América Latina e Ásia e pelas mobilizações da Europa Oriental e a reestruturação da ex-União Soviética com a Perestroika.

A essência dessa revolução se faz em torno da liberação do potencial humano e constitui um resultado direto do crescimento da importância do capital humano na economia e do papel do computador e da tecnologia nas comunicações. A educação constitui uma experiência de libertação, que desenvolve o conceito de que a liberdade é um pré-requisito para uma efetiva disseminação dos conhecimentos e desprendimento das energias criativas.



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Modulo 2 - Transformações do mundo do trabalho

Um conceito fundamental dessa nova consciência da sociedade do conhecimento (pós-industrial) é o poder de mudar o estilo de vida. O valor-chave dessa consciência está no centro das revoluções por maior liberdade. Inclui a revolução empreendedora que está transformando a economia: movimento pelos direitos civis, pelo meio-ambiente, feminista, papel da mulher, são respostas para o mundo que está sendo transformado pela tecnologia.

O capital humano é a variável econômica crítica na sociedade do conhecimento.

Valores sociais básicos

Sociedade industrial

Sociedade pós-industrial do conhecimento

 Hierarquia

 Igualdade

 Conformidade

 Individualidade e criatividade

 Padronização

 Diversidade

 Centralização

 Descentralização

 Eficiência

 Eficácia

 Especialização

 Generalização, interdisciplinar, holismo

 Maximização da riqueza material

 Qualidade de vida, conservação dos recursos materiais

 Ênfase no conteúdo quantitativo

 Ênfase na qualidade do resultado

 Segurança

 Auto-expressão e auto-realização



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Resumo

Um novo cenário vem se consolidando no mundo do trabalho. Transformações tecnológicas, estruturais e econômicas exercem grandes impactos sobre as pessoas e a gestão dessas dentro das organizações. Apesar de essas transformações terem atingido indiscriminadamente todos os setores socioeconômicos, especificamente no sistema fabril de produção encontram-se características marcantes desse processo. Essas características sugerem a necessidade de novas concepções e abordagens sobre organização/empresa, trabalho e trabalhador, tendo em vista a reestruturação do setor produtivo decorrente de todo esse processo de mudança.

No final da década de 1960, o modelo de produção em massa começou a mostrar evidentes sinais de sua fragilidade. O Estado não pôde sustentar seus gastos em função da crescente dívida pública e elevação dos salários, que estava tornando um empecilho à competitividade dentro do padrão de contenção de custos. Nesse aspecto, o taylorismo-fordismo possui uma incoerência, pois, ao mesmo tempo que precisa dos salários adequados para a manutenção do sistema, prega a contenção de custos e, dentro desses, a redução dos salários.

Durante a década de 1970, intensificam-se as iniciativas de automatização microeletrônica das fábricas, mas é na década de 80 que esse processo se consolida. As máquinas são implementadas para a substituição de tarefas repetitivas e mecânicas que até então eram realizadas pelos operários.

No início da década de 1990, há um aprofundamento do neoliberalismo, tendo como pano de fundo a globalização, os movimentos de qualidade e o aumento da competitividade. O Setor de serviços cresce, absorvendo grande parte da mão de obra que está sendo liberada pelo setor fabril. A mão de obra feminina se insere fortemente no mercado de trabalho. Em decorrência do excesso de trabalhadores disponíveis, os mais velhos e os mais jovens encontram mais dificuldades de inserção no mercado de trabalho, sendo os primeiros considerados como incapazes de se adequar às novas exigências e os últimos, inexperientes.

Como consequência desse processo, a classe trabalhadora ficou enfraquecida em relação aos seus direitos. Com as novas formas de trabalho, a classe operária tornou-se heterogênea, fragmentada e complexa (ANTUNES, 1995).

Dentro desse novo contexto, as organizações precisam adaptar-se para as exigências de um mercado que, além de se inserir em uma competitividade internacional, estava estrangulado pela redução de gastos governamentais e pela redução do consumo. As empresas que querem sobreviver precisam, cada vez mais, garantir a aceitação de seus produtos segundo diferenciais competitivos.

As transformações não se restringem a esses movimentos de implementação e expansão da tecnologia. A estrutura das organizações assim como as gestões das forças produtivas é repensada a partir da constatação de que o sucesso empresarial não está associado às grandes organizações. O que garante a competitividade da organização é a capacidade de se adaptar às mudanças de mercado que pode ser traduzido por flexibilidade e à constante inovação e qualidade dos produtos, garantindo um contínuo diferencial competitivo (Tauille 1994).