Módulo 1

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Módulo 01 – A evolução do Pensamento Sistêmico
1 - Introdução

“O que observamos não é a natureza em si, mas a natureza exposta ao nosso método de questionamento.” (CAPRA, 1975)

O processo de Modelagem e Simulação de Negócios é uma atividade muito abrangente e, sob um determinado prisma, relativamente complexa. Não se deve, contudo, confundir complexidade com dificuldade. Partindo da idéia de que ao se construir um modelo está-se exercitando uma nova compreensão científica não apenas dos negócios, mas da vida, observa-se que os problemas abordados por essa disciplina são problemas sistêmicos, isto é, os componentes estão interligados e são interdependentes. E, por se tratar de uma abordagem científica, existem métodos que lhe são próprios, capazes de lidar com a complexidade anteriormente citada. É, pois, o momento de se aprofundar os estudos da modelagem e simulação, procurando compreender sua fundamentação científica e, para isso, nada melhor do que estudar a evolução do pensamento sistêmico através da história.

O físico austríaco Fritjof Capra, que esteve presente no Terceiro Fórum Social Mundial, realizado em Porto Alegre, entre 23 e 28 de janeiro de 2003, no livro A Teia da Vida: Uma nova compreensão Científica dos Sistemas Vivos, afirma que “quanto mais estudamos os principais problemas de nossa época, mais somos levados a perceber que eles não podem ser entendidos isoladamente”.




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O autor cita alguns exemplos:

- só será possível estabilizar a população quando a pobreza for reduzida em âmbito mundial;

- as enormes dívidas dos países em desenvolvimento contribuem para a extinção de espécies animais e vegetais em escala massiva;

a escassez de recursos e a degradação do meio-ambiente têm estreita relação com populações em rápida expansão, assim como estas estão relacionadas ao crescimento da violência.

Para o autor, a crise está em uma percepção equivocada desses problemas, que continuam a ser tratados dentro de uma ótica científica ultrapassada e obsoleta. Apresentar e conhecer as bases de um novo paradigma para a ciência é uma obrigação para todos os administradores preocupados com sua inserção na nova sociedade contemporânea. Apenas por meio de uma reflexão crítica acerca desses paradigmas, será possível aos futuros gerentes do século XXI colocarem suas empresas em consonância com os ditames dessa nova ordem social, administrando mudanças e criando empresas comprometidas com o desenvolvimento auto-sustentável e com a responsabilidade social.



Paradigma: “uma constelação de realizações – concepções, valores técnicas, etc. – compartilhada por uma comunidade científica e utilizada por essa comunidade para definir problemas e soluções legítimas.” (KUHN, 1962). Para aprofundar o conhecimento sobre as mudanças de paradigmas, recomenda-se a leitura do livro de Thomas Kuhn – A Estrutura das Revoluções Científicas - Ed. Perspectiva, São Paulo, 1987




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2 - Noções de Ecologia Profunda

De acordo com Capra existem já vários sinais de que o paradigma atual – o qual tem dominado nossa cultura por quase três séculos – encontra-se em processo de franca decadência. Em suas palavras,


“Esse paradigma consiste de várias idéias e valores entrincheirados, entre os quais a visão do universo como um sistema mecânico composto de blocos de construção elementares, a visão do corpo humano como uma máquina, a visão da vida em sociedade como uma luta competitiva pela existência, a crença no progresso material ilimitado, a ser obtido por intermédio de crescimento econômico e tecnológico e – por fim, mas não menos importante – a crença de que uma sociedade na qual a mulher é, por toda a parte, classificada em posição inferior à do homem é uma sociedade que segue uma lei básica da natureza.”

O novo paradigma que aponta no horizonte social pode ser denominado de visão holística. Na visão holística, as partes de cada sistema se encontram no todo, e os princípios e as leis que regem o todo se encontram em cada uma das partes. Todos os fenômenos ou eventos interligam-se e interpenetram-se, de forma que se pode concluir que tudo é interdependente. Capra afirma que essa visão pode, também, ser denominada de ecológica, desde que o termo ecológico seja empregado em um sentido mais amplo do que se está acostumado.



Holístico: do grego holos, que significa todo.




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Compreender uma empresa, do ponto de vista holístico, significa vê-la como um todo funcional e compreender a interdependência de seus componentes. A visão ecológica da empresa também inclui esse processo, mas acrescenta a percepção de como a empresa está inserida no seu ambiente – de onde vêm os suprimentos utilizados na produção, quem são os fornecedores, como é o processo de produção, como a produção é distribuída, como afeta o meio ambiente natural e a comunidade que consome os seus produtos –, e assim por diante.

Em relação aos sistemas vivos, essa distinção é ainda mais importante, pois as conexões dos sistemas vivos com o meio ambiente são muito mais vitais.




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A chamada “ecologia profunda” foi fundada pelo filósofo norueguês Arne Naess, no início da década de 70, ao realizar a distinção entre “ecologia rasa” e “ecologia profunda”. A ecologia rasa é antropocêntrica, isto é, centrada no ser humano. Sua concepção básica é de que os seres humanos estão situados acima ou fora da natureza, a natureza é colocada como um instrumento a serviço do homem. A ecologia profunda vê o homem como parte do meio ambiente natural. Não se trata de uma coleção de objetos isolados, mas uma rede de fenômenos que estão profundamente interconectados e são interdependentes. Nesse sentido, os seres humanos são concebidos apenas como um fio particular na teia da vida. A ecologia profunda é, também, uma percepção espiritual na qual o indivíduo tem uma sensação de pertinência, de conexidade, com o cosmos como um todo. O criador da ecologia profunda a define como o processo


“[...] de formular questões mais profundas. É também essa a essência de uma mudança de paradigma. Precisamos estar preparados para questionar cada aspecto isolado do velho paradigma. Eventualmente, não precisaremos de nos desfazer de tudo, mas antes de sabermos isso, devemos estar dispostos a questionar tudo. Portanto, a ecologia profunda faz perguntas profundas a respeito dos próprios fundamentos da nossa visão de mundo e dos nossos modos de vida modernos, científicos e, industriais, orientados para o crescimento. Ela questiona todo esse paradigma com base numa perspectiva ecológica: a partir da perspectiva de nossos relacionamentos uns com os outros, com as gerações futuras e com a teia da vida da qual somos parte.”




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É importante observar as mudanças entre pensamentos e valores do velho e novo paradigma. Basicamente, existem duas tendências: auto-afirmativa e a integrativa, sendo ambas aspectos essenciais de todos os sistemas vivos. Nenhuma delas é, basicamente, boa ou má. O que é bom, o saudável, é um equilíbrio dinâmico; e o que a mal, ou insalubre, é o desequilíbrio, a ênfase excessiva em uma das tendências em detrimento da outra.

Ao observar nossa cultura industrial ocidental, vê-se que enfatizamos em excesso as tendências auto-afirmativas e, normalmente, deixamos de lado as integrativas. A tabela abaixo coloca lado a lado essas tendências antagônicas.

Pensamento
Valores
Auto-afirmativo
Integrativo
Auto-afirmativo
Integrativo
racional
intuitivo
expansão
conservação
análise
síntese
competição
cooperação
reducionista
holístico
quantidade
qualidade
linear
não-linear
dominação
parceria
      Fonte: CAPRA, 2000

É interessante observar que os valores auto-afirmativos como competição, expansão e dominação estão, na maioria das vezes, relacionados com o mundo masculino. Esse fato tem origem na sociedade patriarcal, na qual, não somente esses valores são incentivados, como recebem recompensas econômicas e poder político. Isso explica a resistência dos homens em migrar para um sistema de valores mais equilibrado.




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Como exemplo, pode-se citar as estruturas hierárquicas presentes em nossa sociedade: estruturas políticas, militares e corporativas são hierarquicamente ordenadas, com os homens geralmente ocupando os níveis superiores, e as mulheres, os níveis inferiores.

Enquanto o velho paradigma está fundado em valores antropocêntricos, a ecologia profunda se baseia em valores ecocêntricos (centralizados na terra). Isso significa dizer que a ecologia profunda reconhece o valor de todos os sistemas vivos não humanos, e que, se essa rede de interdependência entre os sistemas humanos e a natureza for rompida, significará a extinção do próprio homem. Essa percepção da ecologia profunda deve fazer parte de nossa vida cotidiana, pois está intrinsecamente ligada à ética.




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A ecologia profunda veio para superar o pensamento cartesiano valorizando, essencialmente, as ciências da vida. Dessa forma, sendo a profissão de administrador intrinsecamente ligada às ciências da vida, a responsabilidade de estudá-las, reconhecê-las e integrá-las às organizações, é uma das tarefas essenciais do administrador do século XXI.

Para isso, deve-se ter consciência de que os valores da natureza estão ali cerceados na experiência profunda, ecológica ou espiritual, de que a natureza e o eu são um só. Essa expansão do eu até a identificação com a natureza é a instrução básica da ecologia profunda, como Arne Naess claramente reconhece:


“O cuidado flui naturalmente se o eu é ampliado e aprofundado de modo que a proteção da natureza livre seja sentida e concebida como proteção de nós mesmos... Da mesma forma, se o eu, no sentido amplo dessa palavra, abraça um outro ser, você não precisa de advertências morais para demonstrar cuidado e afeição.... Você o faz por si mesmo, sem sentir nenhuma pressão moral para fazer... Por ser a realidade é como é experimentada pelo eu ecológico, nosso comportamento, de maneira natural e bela, segue normas de estrita ética ambientalista.”



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3 - Teorias Sistêmicas: o conhecimento em forma de rede

O Pensamento Sistêmico apresenta algumas características-chave. A primeira delas é a mudança na visão das partes para o todo. Os sistemas vivos são todos integrados, e não podem ser reduzidos às categorias de suas unidades. Suas propriedades essenciais são do todo, que nenhuma das partes possui. Elas são resultado das “relações de organização” das partes, ou, em outras palavras, de um contexto de relações ordenadas que caracteriza cada classe de organismo ou sistema. Se um sistema é dissecado, suas propriedades sistêmicas são destruídas.

Uma segunda característica-chave do pensamento sistêmico é a capacidade de deslocar a atenção de um lado para outro entre níveis sistêmicos. Vimos, em Modelagem e Simulação de Negócios I, que os sistemas são constituídos de subsistemas. O importante, neste ponto, é ressaltar que diferentes níveis de sistêmicos apresentam níveis de complexidade diversos. Em cada nível, os fenômenos observados exibem propriedades não existentes em níveis inferiores. Segundo Capra, as propriedades sistêmicas de um determinado nível são denominadas de propriedades emergentes, uma vez que emergem desse nível em particular.




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Para Descartes, em qualquer sistema o comportamento poderia ser analisado em termos das propriedades de suas partes. Contudo, as propriedades das partes não são propriedades intrínsecas, podendo ser compreendidas apenas dentro do contexto do todo maior. Afirma-se, então, que o pensamento sistêmico é pensamento contextual e, explicar as coisas considerando o seu contexto significa explicá-las considerando o seu meio-ambiente. Desse modo, pode-se também afirmar que o pensamento sistêmico é pensamento ambientalista.

Na visão mecanicista, o mundo é uma coleção de objetos. Estes, naturalmente, interagem uns com os outros, havendo, portanto, relações entre eles. Mas, dentro dessa visão, as relações são secundárias, como mostra a figura a seguir:

                  Fonte: CAPRA, 2000. Adaptado.




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Na visão sistêmica, compreendem-se que os próprios objetos são redes de relações, embutidas em redes maiores. As relações são fundamentais para um pensador sistêmico, enquanto as fronteiras dos objetos são secundárias. Essa idéia é representada na figura a seguir:

                  Fonte: CAPRA, 2000. Adaptado.

Por muitas dezenas de anos, os cientistas conceberam o conhecimento como um edifício construído por vários blocos de conhecimento que eram sobrepostos. No pensamento sistêmico essa metáfora é substituída pela de rede. Quando se observa a realidade em termos de uma rede, forma-se em nosso cérebro também uma rede interconectada de conceitos e de modelos fundamentados.




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A origem dessa concepção sobre o conhecimento provém do físico Geoffrey Chew, com a sua denominada “filosofia bootstrap”, na década de 1970. Essa filosofia abandona a visão de blocos de construção fundamentais da matéria “como também não aceita unidades fundamentais, quaisquer que sejam – nem constantes, nem leis, nem equações fundamentais. O universo material é visto como uma teia dinâmica de eventos inter-relacionados.” (CAPRA, 2000). É como imaginar uma densa floresta, em que as raízes de todas as árvores estão interligadas e formam uma densa rede na qual não há fronteiras precisas entre as raízes.

Essa nova abordagem da questão, afirma Capra, leva a uma importante questão:

- “Se tudo está conectado entre si, como será possível entender alguma coisa?”




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Partindo desse princípio, para explicar qualquer fenômeno ter-se-ia que entender todos os outros, o que, evidentemente, seria impossível. O autor afirma, então, que “o que torna possível converter a abordagem sistêmica numa ciência, é a descoberta de que há conhecimento aproximado”. Sob a ótica do paradigma cartesiano, há a crença no conhecimento científico de que todas as coisas podem ser explicadas completa e definitivamente com o desenvolvimento da ciência. Já para o novo paradigma emergente, despertado a partir das descobertas da física quântica nas primeiras décadas do século passado, todas as concepções e todas as teorias científicas são limitadas e aproximadas e a ciência, ao contrário, nunca pode fornecer uma compreensão completa e definitiva.

Para comprovar essa teoria é possível fazer mentalmente a seguinte simulação:

  • Deixa-se cair um objeto qualquer, de uma certa altura. É possível, por exemplo, calcular, a partir de uma simples fórmula newtoniana, o tempo que o mesmo levou para atingir o solo. Como acontece com a maior parte da física newtoniana, a resistência do ar é desprezada e o cálculo não será totalmente correto.
  • Se o objeto fosse, por exemplo, uma fina folha de papel, o experimento simplesmente não funcionaria.
  • Decide-se, então, pela inclusão de um termo simples à fórmula, para calcular a resistência do ar. O cálculo será mais preciso, porém não completamente, pois a resistência do ar depende da temperatura e da pressão.
  • Com muito mais rigor, poderá ser deduzida uma fórmula complexa para levar em consideração essas duas últimas variáveis.
  • Porém, a resistência do ar depende, também, da convecção do ar.
  • A convecção do ar não é causada apenas por uma janela ou porta aberta, mas também pelo próprio padrão respiratório de quem está fazendo a experiência.

Conclui-se, portanto, que a ciência não seria neutra, uma vez que o próprio observador interfere na experiência. Por mais precisas que sejam as fórmulas, elas serão sempre uma aproximação. Alguém pode indagar que o experimento possa ser conduzido em laboratório, sem a interferência do experimentador. Essa idéia de laboratório também é falha, pois nenhum laboratório pode reproduzir toda a riqueza das variáveis de um ambiente, ou seja, trata-se de um modelo e, portanto, de uma aproximação. Não se trata de negar o conhecimento gerado pela experiência, mas de desenvolver um raciocínio ampliado das múltiplas inter-relações entre todos os fenômenos.



Convecção do ar: circulação, em grande escala, de partículas de ar por um recinto.




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4 - Modelagem, Simulação de Negócios e Interdisciplinaridade

“Eu quase que nada sei, mas desconfio de muita coisa.” Guimarães Rosa

O papel da Modelagem e Simulação de Negócios não se restringe apenas à construção e simulação de modelos que ajudem a compreender o mundo dos negócios. Já vimos anteriormente que a Dinâmica de Sistemas é uma metodologia de caráter eminentemente multidisciplinar. No entanto, trata-se de uma classificação incompleta, ou mesmo equivocada, como será visto a seguir.

Nosso objetivo é completar a definição e a contextualização da disciplina, de modo a se ter melhor compreensão de sua potencialidade, não só no âmbito acadêmico, mas, e principalmente, na prática das organizações.

Em outras palavras, o objetivo é demonstrar como a Modelagem e Simulação de Negócios, por meio da Dinâmica de Sistemas, pode ser uma ferramenta útil para conduzir o processo de reintegração das disciplinas mediante a prática organizacional.




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No que tange à interdisciplinaridade, um aspecto bastante significativo, e que é abordado neste módulo, passa pela elaboração de seu próprio conceito. A existência de vários conceitos revela uma dificuldade de definição que está, muito possivelmente, relacionada ao caráter de práxis do termo.


“[ a interdisciplinaridade] ... não se aprende nem se ensina, mas se vive, pois é fundamentalmente uma atitude de espírito, feita de curiosidade, de abertura, no sentido de aventura e da descoberta, de intuições das relações existentes entre as coisas e que escapam à observação comum.”
Hilton Japiassu

O mesmo autor afirma que: “[...] a interdisciplinaridade não é apenas um conceito teórico: ela é sobretudo uma prática.



Práxis
Conjunto de atividades humanas tendentes a criar as condições indispensáveis à existência da sociedade e, particularmente, à atividade material, à produção (prática).




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5 - A evolução interdisciplinar: conceitos básicos

Alguns conceitos de interdisciplinaridade, apresentados por autores diversos, foram sintetizados no sentido de auxiliar na construção de seu entendimento.

Para o filósofo francês Yves-François Le Coadic, a interdisciplinaridade,


“traduz-se por uma colaboração entre diversas disciplinas, que leva a [ ] interações, isto é, uma certa reciprocidade, de forma que haja, em suma, enriquecimento mútuo.”

Francisca dos Santos Gonçalves, professora da Escola de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, em artigo sobre o tema, afirma:


“Interdisciplinaridade consiste em um trabalho em comum, tendo em vista a interação de disciplinas científicas, de seus conceitos básicos, dados, metodologia, com base na organização cooperativa e coordenada do ensino. Trata-se do redimensionamento epistemológico das disciplinas científicas e da reformulação total das estruturas pedagógicas da escola, de forma a se possibilitar que as diferentes disciplinas se interpenetrem em um processo de intensa fecundidade.”

Sua abordagem se concentra em uma concepção que busca a construção coletiva do conhecimento. Para a autora, a concepção de interdisciplinaridade pressupõe indivíduos (ou educadores) imbuídos de um verdadeiro espírito crítico, abertos para a cooperação, o intercâmbio entre as diferentes disciplinas, o constante questionamento do saber arbitrário, cristalizado e desvinculado da realidade: exige a prática da pesquisa, a troca, a sistematização de idéias, a construção do conhecimento, em um processo de indagação e de busca permanente.




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Para Julie Klein, da Wayne State University de Detroit (EUA), as atividades interdisciplinares são o resultado de desenvolvimentos históricos e contemporâneos nas disciplinas, profissões e novos campos interdisciplinares que surjam.

Complementando a apresentação de conceitos sobre o tema, cabe aqui acrescentar algumas terminologias elucidativas:


“DISCIPLINARIDADE - conjunto sistemático e organizado de conhecimentos que apresentam características próprias nos planos do ensino, da formação, dos métodos e das matérias.”



“MULTIDISCIPLINARIDADE - gama de disciplinas propostas que propomos simultaneamente, mas sem fazer aparecer as relações que podem existir entre elas.”



“INTERDISCIPLINARIDADE - axiomática comum a um grupo de disciplinas conexas e definida no nível hierárquico imediatamente superior, o que introduz a noção de finalidade.”



“PLURIDISCIPLINARIDADE - justaposição de diversas disciplinas situadas geralmente no mesmo nível hierárquico e agrupadas de modo a fazer aparecer as relações existentes entre elas.”

Tais terminologias apresentadas foram colocadas por H. Japiassu (1976), em seu livro sobre a interdisciplinaridade e a patologia do saber. Para o autor, a especialização – tão freqüente na atualidade – é a fragmentação das disciplinas, dos objetivos, da experiência. Ela revela muito mais o sintoma da situação patológica na qual se encontra o saber, do que se constitui como um progresso do conhecimento. Japiassu considera que o objeto epistemológico só será apreendido na interdisciplinaridade, sendo, pois, preciso que cada especialista esteja impregnado de um espírito epistemológico suficientemente amplo, para que possa observar as relações de sua disciplina com as demais, não negligenciando o terreno de sua própria especialidade.




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Por conseguinte, a interdisciplinaridade é o objeto de consideração de todos que vêem na fragmentação das disciplinas científicas um esfacelamento dos horizontes do saber.

A interdisciplinaridade, portanto, configura-se como um tríplice protesto: contra um saber fragmentado; contra a esquizofrenia intelectual entre uma universidade – cada vez mais compartimentada – e a sociedade, em sua realidade dinâmica; contra o conformismo das situações adquiridas e das idéias recebidas ou impostas.


“TRANSDISCIPLINARIDADE – coordenação de todas as disciplinas e interdisciplinas do sistema de ensino inovado, sobre a base de uma axiomática geral”.

Para se falar de interdisciplinaridade deve-se falar de interação de disciplinas. O termo “disciplina” é entendido, hoje, como sinônimo de “ciência”. Assim, a “disciplinaridade” significa a exploração científica especializada de determinado domínio homogêneo de estudo.

O projeto interdisciplinar, segundo Hilton Japiassu, deve ser buscado na complexidade dos problemas para se chegar ao conhecimento humano, se não em sua integridade, pelo menos numa perspectiva de “convergência” de nossos conhecimentos parcelares.




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A interdisciplinaridade pode ser apresentada, também, como resultante da verificação de os progressos rápidos das diferentes disciplinas provocarem não apenas a constatação dos limites de cada uma delas, mas todo um esforço considerável de superação, que toma a forma de colaboração entre disciplinas diversas ou entre setores heterogêneos de uma mesma Ciência, culminando em interações recíprocas, em que se descobre uma verdadeira reciprocidade nas trocas de dados, de informações, de resultados, de metodologia.

Quanto às precisões terminológicas, para o autor, ainda não se definiu um sentido epistemológico único e estável para a interdisciplinaridade. Trata-se de um neologismo cuja significação nem sempre é a mesma e cujo papel nem sempre é compreendido da mesma forma.

O espaço do interdisciplinar não pode jamais ser constituído pela simples soma de todas as especialidades, nem ao menos por uma síntese de ordem filosófica dos saberes especializados. O fundamento desse espaço deverá ser buscado na negação e na superação das fronteiras disciplinares.



Epistemologia: estudo crítico dos princípios, hipóteses e resultados das ciências já constituídas, e que visa determinar seus fundamentos lógicos, o valor e alcance objetivo delas (teoria da ciência ou do conhecimento.



Neologismo: emprego de palavras novas.




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O grau próprio do interdisciplinar pode ser caracterizado como o nível em que a colaboração entre as diversas disciplinas, ou entre setores heterogêneos de uma mesma ciência, conduz a interações propriamente ditas, ou seja, a uma reciprocidade nos intercâmbios, de tal forma que, no final do processo interativo, cada disciplina saia enriquecida. Um empreendimento interdisciplinar efetivo se configura todas as vezes em que ele consegue incorporar os resultados de várias especialidades, tomando de empréstimo a outras disciplinas certos instrumentos e técnicas metodológicas, fazendo uso dos esquemas conceituais e das análises que se encontram nos diversos ramos do saber, objetivando a integração e a convergência, após terem sido comparados e julgados.

O multidisciplinar, para Hilton Japiassu, é um termo que evoca somente uma simples justaposição, num projeto determinado, dos recursos de várias disciplinas, sem implicar necessariamente num trabalho de equipe, e coordenado. No nível do multidisciplinar, a solução de um problema só exige informações tomadas de empréstimo a duas ou mais especialidades - ou setores do conhecimento - sem que as disciplinas envolvidas sejam alteradas ou enriquecidas. O procedimento multidisciplinar consiste em estudar um objeto sob diferentes ângulos, mas sem que tenha necessariamente havido um acordo prévio sobre os métodos ou sobre os conceitos a serem utilizados. Sendo a Dinâmica de sistemas uma metodologia para abordagem de sistemas complexos, conclui-se, portanto, que sua dimensão é interdisciplinar e não multidisciplinar.




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Tanto o multidisciplinar, quanto o pluridisciplinar, somente realizam um agrupamento, intencional ou não, de certos módulos disciplinares, sem haver uma relação entre as disciplinas (no caso do multi – visa à construção de um sistema disciplinar de apenas um nível e com diversos objetivos), ou com apenas algumas relações (no caso do pluri – visa à construção de um sistema de um só nível e com objetivos distintos, porém dando margem a certa cooperação, embora excluindo qualquer coordenação).

A transdisciplinaridade, termo criado por Jean Piaget, significaria uma etapa superior das relações interdisciplinares, que não se contentaria em atingir interações ou reciprocidade entre pesquisas especializadas, mas que situaria essas ligações no interior de um sistema total, sem fronteiras estabelecidas entre as disciplinas. No entanto, o próprio Piaget considerou tal etapa uma utopia, pois estamos muito longe de chegar a um sistema total, de níveis e objetivos múltiplos, coordenando todas as disciplinas e interdisciplinas, tomando por base uma axiomática geral - objetivos de sistemas globais - capaz de instaurar uma coordenação a ser feita tendo em vista uma finalidade comum dos sistemas.




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6 - Alavancando a aprendizagem por meio de modelos dinâmicos

O professor Carlos Seabra conta que cinco cegos encontraram um elefante e que cada um começou a apalpar uma parte dele. Como cada um apalpou apenas partes diferentes, nenhum deles teve uma idéia exata do animal, ou seja, do todo. Muitas das instituições de ensino do país e do exterior seguem esse mesmo modelo cognitivo, ensinando “trombologia” em uma disciplina, “rabologia” em outra, “orelhologia” em outra e assim por diante. E o aluno que se vire para pensar em como montar o elefante.

Pensar... isso todos fazem. Mas o que significa? O dicionário Aurélio diz coisas como “combinar idéias, formar pensamentos, racionar, estar preocupado etc.”. Serão estas boas definições no âmbito da Dinâmica de Sistemas? Não, é o que afirma Barry Richmond, em sua obra An introduction to System Thinking.

Para o autor, pensar sistemicamente consiste de duas atividades: construir modelos mentais e simulá-los com o objetivo de chegar a conclusões e tomar decisões. Porém, antes de modelar e simular é importante recuperar o conceito de modelos mentais.



RICHMOND, Barry. An Introduction to System Thinking. Hanover: High Performance Systems, 2001
Barry faleceu em 2003, vítima de um ataque cardíaco fulminante. Apesar de ter problemas cardíacos, jamais cedeu a eles, participando das famosas maratonas de Nova Iorque, sempre que possível. Tendo estudado com Jay Forrester no MIT, desenvolveu os softwares de simulação Stella (indicado para a área acadêmica) e iThink (para consultores empresariais). Deixou um grande legado de contribuições para a Dinâmica de Sistemas e para a educação.




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Modelos mentais são abstrações seletivas da realidade criadas por nossos cérebros. Por maiores que sejam nossas orelhas, narizes e os demais captadores de informações do ambiente presentes no corpo humano, não se pode captar toda uma realidade. Assim, com o passar dos anos, são construídos diversos modelos mentais da realidade em nossos cérebros. A maneira como eles são construídos depende, fundamentalmente, dos processos de socialização a que cada indivíduo foi submetido, determinando os filtros mentais que captam as informações do ambiente.

Se a intenção é saber de um filho porque ele não foi bem na prova de Matemática, pode-se, a princípio, ignorar a cor de seus olhos (mas não a expressão) ou o tamanho de seu cabelo (mas não se estão bem cuidados, o que pode identificar uma causa). Porém, é muito pouco provável que a cor dos olhos ou o tamanho do cabelo tenham interferido na nota, embora possível. Uma criança que é míope e tanto ela quanto seus pais desconhecem o problema, formará modelos mentais diferentes de quem tem uma visão normal. Nesse caso, o uso de óculos irá restaurar rapidamente a formação de significado.



Para maiores informações sobre os processos de socialização, indica-se a leitura da obra A Construção Social da Realidade.




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Simulam-se esses modelos no sentido de construir significados para experiências a que se é submetido durante a vida e, também, para tomar decisões relevantes, profissionais ou pessoais. Assim, compreende-se que os modelos mentais são simplificações para a compreensão da realidade. Cabe citar, então, duas frases muito importantes para o profissional que deseja utilizar a Dinâmica de Sistemas como metodologia de interpretação do mundo e dos negócios:


O mapa não é o território, a palavra não é coisa que descreve. Sempre que o mapa é confundido com o território, instala-se no organismo uma perturbação semântica. A perturbação continua até serem reconhecidas as limitações do mapa". Conde polonês Alfred Korzybsky (1879-1950).



Todos os modelos estão errados. Alguns são muito úteis”. W. Edwards Deming (1902-1986).

É importante recuperar de tempos em tempos essas citações no sentido de evitar confundir os modelos criados com a própria realidade. É imprescindível reconhecer as limitações dos modelos, da mesma forma que as suas grandes contribuições. Porém, se o objetivo é pensar, os modelos sistêmicos são uma poderosa ferramenta. No entanto, se a opção for por empregar métodos não estruturados de abordagem de problemas, como a intuição, não será necessário utilizar nenhum modelo mental. Possivelmente, os resultados serão bem diferentes em termos de eficiência e eficácia.




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A figura a seguir é um mapa sistêmico das atividades de pensar.

Fonte: RICHMOND, 2001. Adaptado.

Como a figura sugere o processo de construir (um modelo mental) é dividido em duas atividades: selecionando e representando. A primeira atividade responde à seguinte questão: “O que deve ser incluído no modelo mental?”. A segunda atividade responde à questão: “Como se deve representar o que foi selecionado?”. As respostas a essas questões são fundamentais na construção de um modelo mental. Normalmente, as escolas são ineficientes em dotar os alunos da capacidade de realizar esse processo. Esse é um dos motivos pelo qual a educação brasileira enfrenta tantas crises e tantas críticas.




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A figura também mostra que os resultados da simulação desempenham um papel muito importante no processo de pensar: eles retroalimentam as atividades de seleção e representação das variáveis do mundo real. Resultados da simulação que não fazem sentido ou são considerados como errados, representam a necessidade de rever o processo de construção do modelo, fazendo os seguintes questionamentos:

  • Alguma variável importante do modelo mental não foi incluída no processo?
  • Alguma variável incluída no modelo foi mal representada?

Essas questões constituem grande oportunidade para o processo de aprendizagem. Contudo, antes de adentrar nessa discussão, é importante discutir o processo de comunicação.




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Um modelo do processo de comunicação pode ser observado na figura a seguir.

Fonte: RICHMOND, 2001. Adaptado.

A primeira idéia transmitida por esse modelo é a de que o processo de pensar é intrinsecamente ligado ao de comunicar. Assim, a variável “disponibilizando as informações para o público”, o resultado do processo de pensar, são a matéria-prima para o processo de comunicação. Três fontes de matéria-prima são ilustradas na figura: o modelo mental, os resultados da simulação e as conclusões e decisões. Disponibilizando estas três fontes, outras pessoas poderão “pensar” sobre o processo. Mais especificamente, elas poderão compará-las com as próprias bases de informação que conhecem o que nada mais é que um processo de aprendizagem e de construção de conhecimentos.




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Esse processo é representado na figura a seguir.

Fonte: RICHMOND, 2001. Adaptado.

A primeira etapa do processo de aprendizagem foi identificada na discussão do processo de pensar. Pode-se denominá-lo aprendizagem auto-reflexiva. Ele acontece quando os resultados da simulação são usados para redirecionar o próprio processo de construção dos modelos. A comunicação pode ser considerada um outro processo de aprendizagem. Como demonstrado na última figura, a matéria-prima para esse processo de aprendizagem é: o próprio modelo, os resultados da simulação associados ao modelo e/ou as conclusões da simulação. O nível de aprendizagem vai depender tanto da qualidade das retroalimentações disponibilizadas, no qual “qualidade” implica tanto em conteúdo como forma, bem como da motivação e habilidade em “escutar” as retroalimentações.




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Módulo 02 – Dinâmica de Sistemas

Uma quarta fonte de matéria-prima foi incluída no modelo: os impactos resultantes das ações tomadas. Normalmente, há uma grande dificuldade em perceber os impactos associados a uma decisão em sua plenitude. Isso porque as ramificações sistêmicas de uma decisão podem ser tão “longas” que se torna praticamente impossível determinar a sua extensão.

Considera-se importante dispensar algum tempo analisando o processo que demonstra o sistema formado pelos verbos pensar, comunicar e aprender. Pode-se perceber uma forte ligação no processo de aprendizagem: o aumento na qualidade de representação de modelos mentais. A aprendizagem somente ocorre por meio da mudança, tanto do modelo mental, como de sua representação. Os três processos – pensar, comunicar e aprender – formam um ciclo de retroalimentação positivo. A menos que ocorra a mudança, não haverá aprendizagem.




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Módulo 02 – Dinâmica de Sistemas

7 - Modelagem e Simulação e interdisciplinaridade

Além da aprendizagem, a utilização de Diagramas de Fluxos e Estoques pode levar à efetiva construção de projetos interdisciplinares. A Educação à Distância – EAD não muda, ou não deveria mudar, em essência, o processo de aprendizagem. Ao contrário, vários projetos alicerçados por uma correta orientação e atuação didático-pedagógica, conteúdos e suporte de professores habilitados, têm demonstrado níveis superiores de aprendizagem em relação aos cursos presenciais.

Na parte inicial desse módulo, vimos que a interdisciplinaridade só ocorre na prática, na concretização efetiva de projetos. A Dinâmica de Sistemas disponibiliza, desse modo, ferramentas e metodologias disponíveis aos estudantes de EAD para preencherem, com base em suas próprias experiências, as lacunas eventualmente presentes em um modelo educacional em processo de maturação.

A figura a seguir demonstra como esses resultados podem ser alcançados. Ressalta, além do que foi exposto, que uma boa parcela do processo cognitivo está nas mãos dos próprios alunos que, nutrindo-se das fontes de infra-estrutura disponíveis, são, em última instância, responsáveis por seu próprio aprendizado. Esse fator é uma variável independente da modalidade de ensino: presencial, semi-presencial ou puramente virtual.

Fonte: RICHMOND, 2001. Adaptado.

A síntese interdisciplinar ocorre na aquisição de habilidades gerais de representação de conteúdos. A aprendizagem – como já comprovado por vários estudiosos – ocorre apenas quando assentada nos conhecimentos prévios e experiências vivenciadas pelas pessoas, o desenvolvimento dessas habilidades e a evolução do conhecimento pressupõe a práxis, elemento central do esforço interdisciplinar. Corroborando essa afirmação, não é possível representar o que não se conhece. Como o conhecimento é contextual, o aluno tão somente terá oportunidade de aumentar suas habilidades de representação se estiver vivenciando e aplicando os conteúdos disponibilizados em sua vida pessoal e profissional, nas complexas interações do tecido social.




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Módulo 02 – Dinâmica de Sistemas

Resumo

processo de Modelagem e Simulação de Negócios é uma atividade relativamente complexa. Não se deve, contudo, confundir complexidade com dificuldade. Esta última é superada durante próprio processo reflexivo de construção de modelos.

A sociedade atual, segundo o físico Fritjof Capra, passa por uma transição de paradigmas, em que o novo paradigma que se apresenta é denominado de “visão holística”. Também pode ser utilizado o termo “visão ecológica” em um contexto amplo, em que se consideram todas as interligações entre os componentes dos sistemas nos quais estamos inseridos.

Enquanto o velho paradigma está fundado em valores antropocêntricos, a ecologia profunda se baseia em valores ecocêntricos (centralizados na terra). Isso significa dizer que a ecologia profunda reconhece o valor de todos os sistemas vivos não humanos e que, se essa rede de interdependência entre os sistemas humanos e a natureza for rompida, significará a extinção do próprio homem. Essa percepção da ecologia profunda deve fazer parte de nossa vida cotidiana, pois está intrinsecamente ligada à Ética.

O Pensamento Sistêmico muda a visão das partes para o todo e tem a capacidade de deslocar a atenção de um lado para outro entre níveis sistêmicos. No Pensamento Sistêmico, a idéia do conhecimento como um edifício construído por vários blocos de conhecimento sobrepostos é substituída pela de rede. Quando se observa a realidade em termos de uma rede, forma-se em nosso cérebro também uma rede interconectada de conceitos e de modelos fundamentados.

Este módulo teve como ponto central a questão da interdisciplinaridade. Em especial, preocupou-se em demonstrar que classificar a Dinâmica de Sistemas como uma metodologia de caráter eminentemente multidisciplinar é uma definição incompleta, ou mesmo equivocada.

A interdisciplinaridade é uma concepção que busca a construção coletiva do conhecimento. Pressupõe indivíduos (ou educadores) imbuídos de um verdadeiro espírito crítico, abertos para a cooperação, o intercâmbio entre as diferentes disciplinas, o constante questionamento do saber arbitrário, cristalizado e desvinculado da realidade: exige a prática da pesquisa, a troca, a sistematização de idéias, a construção do conhecimento, em um processo de indagação e de busca permanente.

Foi visto que o espaço do interdisciplinar não pode jamais ser constituído pela simples soma de todas as especialidades, nem ao menos por uma síntese de ordem filosófica dos saberes especializados. O fundamento desse espaço deverá ser buscado na negação e na superação das fronteiras disciplinares.

O multidisciplinar é um termo que evoca somente uma simples justaposição, num projeto determinado, dos recursos de várias disciplinas, sem implicar necessariamente num trabalho de equipe e coordenado. No nível do multidisciplinar, a solução de um problema só exige informações tomadas de empréstimo a duas ou mais especialidades – ou setores do conhecimento – sem que as disciplinas envolvidas sejam alteradas ou enriquecidas. O procedimento multidisciplinar consiste em estudar um objeto sob diferentes ângulos, mas sem que tenha, necessariamente, havido um acordo prévio sobre os métodos ou sobre os conceitos a serem utilizados.

Sendo a Dinâmica de sistemas uma metodologia para abordagem de sistemas complexos, conclui-se, portanto, que sua dimensão é interdisciplinar e não multidisciplinar. Para defender essa hipótese, foram apresentados modelos qualitativos demonstrando como a Dinâmica de Sistemas pode alavancar a aprendizagem organizacional e romper as fronteiras disciplinares por meio da modelagem e simulação de negócios.




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Módulo 3

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Módulo 03 – Modelagem e Complexidade
1 - O Processo de Tomada de Decisões

“Queremos ser os poetas de nossa própria vida e, primeiro, nas menores coisas.” Nietzsche

Já se teve uma visão geral do pensamento sistêmico e dos processos de modelagem e simulação. Contudo, um dos pontos centrais dentro dessa disciplina é a correta compreensão do que são modelos, porque e como são construídos e, principalmente, sua aplicação dentro das organizações, tendo em vista a complexidade crescente das mesmas e do ambiente em que estão inseridas.

O processo de tomada de decisões é uma constante dentro das organizações e se torna cada vez mais difícil, à medida que aumenta a complexidade das empresas e do ambiente no qual estão inseridas. Mudanças tecnológicas, pressões políticas e sociais, concorrência, redução de custos etc., todos esses elementos em constante interação, fazem que o processo de decisão se traduza em altos níveis de stress para os gerentes e em verdadeiras encruzilhadas para as organizações.




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Módulo 03 – Modelagem e Complexidade

Como as pessoas tomam decisões atualmente? Como reagem a essa crescente complexidade? Existem várias alternativas, porém, muitas pessoas continuam utilizando métodos pouco ortodoxos. Michael Pidd, em sua obra, Modelagem empresarial, cita alguns:

a) “Nas coxas”: implica, quase sempre, em uma tomada de decisão rápida e sem pensar nas conseqüências. Algumas vezes pode ser a decisão acertada, mas, por outro lado, pode ser extremamente perigosa. Alguém já imaginou fazer uma cirurgia com uma equipe médica que irá tomar decisão “nas coxas”, sem nenhum planejamento e sem se preocupar em consultar informações seguras sobre o seu estado clínico?

b) Superstição: pessoas que tomam decisões baseadas em alguma crença mística, consultando oráculos, cartas, astrologia etc. Sem preconceitos, mas é difícil imaginar a credibilidade de um governante, um diretor de uma empresa ou um comandante de uma aeronave tomando decisões com bases místicas.

c) Fé e confiança: implica em uma transposição de observações. Tendo uma pessoa experimentado condições aparentemente semelhantes em um processo decisório anterior, adquire confiança de que a solução servirá para outras situações, abandonando o exame mais detalhado do contexto atual.

d) Não fazer nada: famosa técnica do avestruz, de enfiar a cabeça em um buraco e esperar que o problema seja resolvido por si mesmo. Às vezes pode até dar certo, mas os riscos são enormes.



Nas coxas é uma expressão que indica serviço mal feito. Originou-se na telha feita às pressas pelos escravos, na própria coxa, sem utilizar os instrumentos adequados da olaria ou da cerâmica. SILVA, Deonísio da. A vida íntima das palavras. São Paulo: Arx, 2002.




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Módulo 03 – Modelagem e Complexidade

Deve-se pensar que, ao se tomar uma decisão, sempre haverá conseqüências, mesmo a decisão de não se fazer nada. As conseqüências podem estar sob controle ou podem ser considerados risco ou incerteza. Na maior parte das vezes, os problemas enfrentados pelos gerentes dependem da ação de outras pessoas, de eventos que não podem ser controlados e de outras variáveis, como o tempo. Some-se a isso o elevado grau de competição atingido pela sociedade, o que torna obrigatório considerar cuidadosamente como os outros players do mercado irão agir.

Diversos exemplos podem ser observados em setores altamente competitivos, como o automotivo ou telecomunicações. Não faz muito tempo, a intensa competição no setor de telecomunicações fez que o custo de uma ligação internacional para o consumidor fosse mais barato que um interurbano ou mesmo uma ligação local, representado no diagrama de ciclos causais a seguir:

Verifique o estudo de caso que gerou esse diagrama.




Player: (jogador) é pessoa física ou instituição que atua no mercado, tendo em vista defender seus interesses, como lucros e participação.




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Módulo 01 – Conceito de Custo de Capital

Guerra de Tarifas: Embratel X Intelig
Fonte: Case elaborado pelo Prof. Alexandre Gracioso - Central de Cases ESPM/EXAME
Adaptação: Prof. Niraldo Nascimento

Introdução

Em 2001, cada vez mais próximo da abertura do mercado de telecomunicações prevista para 2002, Embratel e Intelig, atuais concessionárias e espelho da área IV (cobertura das ligações de longa distância, nacionais e internacionais) do mapa traçado pela Anatel, tinham muito com o que se preocupar, além do impacto causado pela pirataria. Viam-se pressionadas também, pelos fantasmas da Telefónica e Telemar, que já haviam declarado interesse em atuar no segmento de longa distância, e de outras empresas, como a AT&T Latin American, que poderão também solicitar um pedaço desse bolo.

Como o mais claro e explícito exemplo dessa competição deflagrada está a guerra de preços travada do final de julho até o início de setembro de 2000. Até que ponto uma empresa pode abaixar seu preço, sem colocar em risco sua própria existência? Teria sido a guerra a melhor opção? É preciso tempo para reflexão, mas é justamente isto que as duas operadoras menos tinham naquele momento.

A guerra das tarifas DDI: do estopim à guerra explícita

Desde a privatização do Sistema Telebrás em julho de 1998, a situação da Embratel nunca mais foi tão cômoda quanto era na época da gestão estatal. Desde então, entraram na concorrência da telefonia fixa as operadoras resultantes do desmembramento e a privatização (Brasil Telecom, ex-Tele Centro Sul, Telefônica, Telemar e Embratel) e as novas autorizadas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), denominadas empresas-espelho (ou espelhinhos, como são carinhosamente chamadas).

Com a entrada efetiva da Intelig, espelho (aquela que presta os mesmos serviços e está nas mesmas áreas das originais) da Embratel, em janeiro de 2000, deu-se início as primeiras “trocas de farpas” entre as operadoras de longa distância inter-regionais e internacionais.

Muitas disputas (principalmente aquelas relacionadas às políticas de preço) foram travadas entre as concorrentes, como o “Sempre 21” e “Plano Descomplique”; resultando assim na redução dos valores das ligações. No entanto, a concorrência até então recatada, subitamente, deu lugar à guerra explícita de preços.




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Módulo 01 – Conceito de Custo de Capital
O estopim desse embate ocorreu quando a Intelig, numa sexta-feira (27 de julho de 2001), anunciou a sua promoção, cuja validade era de cinco semanas, em que a ligação para os EUA pelo 23 (código da espelho) saía a R$ 0,09 o minuto.

Em resposta rápida à ação da rival, a Embratel, na segunda-feira seguinte (30 de julho de 2001), revidou com a promoção de R$ 0,07 o minuto para os EUA e também para o Canadá, a princípio com duração de dez dias.

Sem indício algum de trégua, no dia seguinte (31 de julho), a Intelig contra-atacou, reduzindo ainda mais o minuto: R$ 0,06.

Como se a brusca redução nos preços das ligações internacionais não bastasse, na mesma semana as duas voltaram a se confrontar: a espelho ampliou a promoção para a Inglaterra e a concessionária, por sua vez, estendeu o período da promoção até a mesma data da concorrente (2 de setembro) para os EUA e até o dia 6 para o Canadá.

O novo Day After, assim chamado o dia seguinte ao fim da promoção, foi marcado pela volta dos preços, mas com uma ressalva: não ao mesmo patamar cobrado em julho. A nova tabela da Intelig reduziu para R$ 0,69 o minuto dos EUA; para Portugal, França ou Alemanha, passou para R$ 1,39 em relação aos R$ 1,50 antes taxado e para o Japão, a queda foi de 12% ao ficar em R$ 1,59 o minuto. Já a redução da Embratel valia só para quem havia se inscrito nos planos alternativos, cujos descontam variam de 3% a 5%.

Outra ação de caráter ofensivo e que, de certa forma, reacendeu a disputa na telefonia internacional, foi protagonizada pela Intelig através da promoção “O mundo inteiro por menos de 1 real” iniciada dois dias após a última redução. A companhia cobraria, até 11 de novembro de 2001, R$ 0,64 o minuto da ligação para os EUA e Canadá; R$ 0,89 para a Europa, Mercosul e Japão; e R$ 0,99 para os demais países.



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Módulo 01 – Conceito de Custo de Capital
Combate direto

Com a luta entre a Embratel e a Intelig, ficava no ar uma grande incógnita: até quando a disputa, fundamentalmente baseada na variável preço, seria sustentável para ambas as operadoras? Guerras de preços desse gênero são muito arriscadas não só para as duas prestadoras, como podem resultar também na fragilização e debilitação do segmento como um todo.

Popularizar os serviços da telefonia fixa é objetivo da Anatel, órgão regulador e responsável por aplicar as regras do programa de desestatização do setor, aprovou a guerra de tarifas travada entre a Intelig e a Embratel. “A competição é muito boa, mas quando opera em níveis incompatíveis ao custo, torna-se instrumento perigoso, já que pode provocar a saída de uma das empresas do setor. E, claro, nós não queremos isso”, afirmou o presidente da Anatel. A fim de ilustrar seu argumento, o presidente relembra o caso do Chile, quando nove das doze prestadoras quebraram devido à competição predatória.

Segundo ele, a disputa não refletia a realidade dos custos, pois as operadoras estavam trabalhando abaixo do custo mínimo. Cada prestadora tem de pagar uma taxa de R$ 0,06, por ligação, para as operadoras locais, simbolizando o uso de sua rede. Além disso, eles têm um custo fixo por chamada, de R$ 0,40, totalizando R$ 0,46 de gasto por chamada. Isto é, para cobrir os gastos e lucrar, as operadoras precisam cobrar de 50 centavos a 1 real por minuto.

Guerreiro ressaltou também que as tarifas da telefonia fixa já apresentavam uma boa disputa, chegando mesmo a atingir uma diferença de até 50% em alguns horários específicos.




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Módulo 01 – Conceito de Custo de Capital
Retaguarda

Por que a Intelig iniciou a guerra de preços? Por que a Embratel a acompanhou? Em que se pautam as estratégias de marketing destas operadoras, que as fez detonar uma guerra tarifária que, aparentemente não teria vencedor? Em parte, a resposta a essas perguntas está nos diferentes objetivos de negócio de cada uma das empresas.

De um lado está a Intelig que, fazendo jus ao seu reconhecido marketing agressivo, iniciou a disputa com objetivos claros. “Fizemos este movimento porque queríamos dar uma resposta clara para o mercado e, principalmente, para os nossos clientes de que a Intelig é a melhor opção para ligações DDI”, afirmou a Intelig. E completou “a Intelig entrou no mercado para promover a concorrência efetiva – reforçar o posicionamento de ser a melhor oferta para ligações DDI.” Fortalecer a imagem junto aos consumidores, aumentar sua participação no mercado de chamadas internacionais, mudar a mentalidade do usuário e acostumá-lo a utilizar o 23 nas ligações, não só das chamadas de longa distância, as quais estavam em promoção, como também para outros países cujas tarifas não foram reduzidas, também fazem parte das metas da espelho. Em suma, de acordo com o analista do Yankee Group, Raphael Duailibi, a Intelig tem como objetivo fazer com que as pessoas adquiram o hábito de discar seu código de longa distância; afinal, só conhecer não basta, é preciso discar.

Para Wladimirski, a empresa resolveu adotar uma postura mais agressiva depois de conquistar cerca de 500 clientes corporativos desde janeiro de 2001, ao indagarem como poderiam ser mais agressivos também no mercado de voz, que só foi possível devido aos acordos com as outras operadoras internacionais.

Do outro lado, a Embratel, afirmou ter reconhecido que a estratégia de promoção é uma forma de preparar o mercado para novas alternativas e evitar perda de receitas para empresas que realizam chamadas ilegais. “Não estamos em guerra, estamos reagindo à determinada ação. Somos conhecidos como ágeis nas respostas”, afirmou a Embratel. Embora o preço promocional não cobrisse os custos da Embratel, a empresa justificou as perdas como parte de uma estratégia para fidelizar a clientela.

Em vista de atingirem suas metas e objetivos, as empresas correm contra o tempo. Na medida em que o usuário é bastante forte, de modo que as operadoras não só devem ter forte presença de mídia para tornar o cliente fiel ao seu número, mas também deve oferecer descontos, promoções, “clubes”, bônus, sorteios e demais vantagens. No segundo estágio da concorrência estabelecido pela Anatel (após 2002), os serviços vetados poderiam ser abertos tanto para os atuais concessionários e autorizados (os espelhos) quanto para novos operadores. Na prática, isso significava que a operadora poderia estabelecer novos contratos visando ao oferecimento de outro serviço e/ou outra área.

Eis então mais um motivo que incitou à disputa travada: a abertura do mercado. Aquelas que anteciparem as metas de desempenho estabelecidas seriam premiadas com o aval da Anatel para prestação de outros serviços e atuação em outras áreas. Com isso, a competição tendeu a aumentar em 2002. A Anatel pretendia distribuir mais de 50 códigos de prestadora para complemento de chamadas de longa distância.

Os investimentos em rede física de atendimento e marketing são muitos pesados, bastando lembrar que a Telemar previa gastar R$ 8 bilhões para antecipar as metas fixadas para 2003, por exemplo. Assim, o mais provável é que as operadoras locais focassem seu esforço na longa distância nacional e internacional a partir dos clientes já atendidos em sua área original de concessão. Em outras palavras, Embratel e Intelig, que dividem o filão das ligações internacionais, teriam de aceitar a divisão do bolo em mais fatias.




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Módulo 01 – Conceito de Custo de Capital
A preparação para a abertura do mercado de telecomunicações, na época, porém, não era o único motivo da guerra de preços. Destaca-se, também que a briga fazia parte do combate à pirataria. Os piratas cobram cerca de R$ 0,25 por minuto nas ligações entre Brasil e EUA, em serviços de callback, por exemplo.

A intenção das duas operadoras, segundo a Embratel era de recuperar o volume de ligações feitas por 70 empresas “piratas”, isto é, aquelas que oferecem ligações internacionais via sistemas de callback, que não recolhem impostos no Brasil. “A alta do dólar é um bom momento para combater estas empresas, pois o pagamento às piratas é feito em dólar”, explica.

A pirataria custava ao país, na época, uma perda de receita equivalente a R$ 300 milhões anuais, dos quais 60% referentes a ligações feitas a partir de São Paulo. As operadoras queriam recuperar o dinheiro oferecendo alta qualidade durante o período promocional, em comparação com as ligações feitas por piratas; conseqüentemente, fidelizando o usuário.

Conclusão

O mercado brasileiro de ligações internacionais passou por algumas alterações durante o período das promoções “DDI mais barato que DDD”. O saldo da guerra entre Embratel e Intelig, em linhas gerais, foi o aumento significativo das ligações e duração média das mesmas. A Intelig conseguiu capitalizar sua marca indiretamente: com um aumento de 20% nas ligações DDD e seu número de usuários subiu de 19 milhões para 21 milhões. A Embratel reduziu em 3,3% a estimativa anual de Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) por causa da rixa.

Para Adriana Menezes, analista de telecomunicações do Yankee Group, a guerra de preços favoreceu a Intelig, que tinha cerca de 10% do mercado. Para a Embratel, com cerca de 90%, o aumento do tráfego durante a promoção não compensou a queda de receita.

Enfim, a lógica da competição tem limite físico. No caso, ela tem justificativa, se por curto prazo, no aliciamento e na fidelização da clientela. Mas a qualquer custo? Isso varia de acordo com o benefício pretendido. Pode ser aumentar a massa de usuários cativos ou um maior poder de barganha de contratos e de parcerias da operadora com as gigantes do lado de fora (americanas, européias ou japonesas).

Teria sido válido arriscar todo um segmento, como foi a guerra tarifária, à custa da possibilidade de incremento do market share?



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Módulo 01 – Conceito de Custo de Capital
Desenvolvimento e explicação do diagrama de ciclos causais

Duas variáveis chaves foram identificadas nesse estudo de caso: a política predatória da Intelig (que iniciou o processo) e a política predatória da Embratel (que aceitou o desafio). O diagrama procura, também, demonstrar as relações causais que levaram a Intelig a adotar essa política, nesse caso através de relações lineares expressas pelas variáveis “cultura organizacional da Intelig” e “políticas governamentais de privatização”. Por que lineares? Porque não estamos interessados em representar ciclos de retroalimentação que definam essas duas variáveis. Para isso, seria necessário perguntar, por exemplo, o que causa a “cultura organizacional da Intelig” que a define como uma empresa de marketing agressivo? Isso, certamente, demandaria uma pesquisa mais aprofundada que não é o objetivo desse estudo de caso.

Observa-se que as duas empresas têm como foco da competição predatória a fixação da marca e a fidelização dos clientes, aumentando o marketshare. Para os clientes essa concorrência entre as duas empresas se mostrou, a curto prazo, como uma grande vantagem devido à redução dos custos das ligações internacionais. No plano econômico, porém, havia uma preocupação da ANATEL com a sustentabilidade das próprias empresas e a ameaça para outras que não poderiam praticar os mesmos preços.

É interessante observar que os ciclos de retroalimentação das duas empresas são muito semelhantes. Contudo, o diagrama não é capaz de explicar porque, a princípio, o resultado desse processo beneficiou mais a Intelig do que a Embratel, simplesmente porque o texto também não relata de maneira clara esse fato. Isso é o que denominamos de “lacuna de informação”.

Embora a construção do diagrama contribua para elevar os níveis de aprendizagem do caso, essa lacuna poderia, do ponto de vista estratégico, se configurar em um excelente projeto de pesquisa. Ou seja, é possível que políticas agressivas de marketing sejam uma boa opção para empresas novas e entrantes no mercado competirem com as mais antigas e tradicionais?

Essa é uma das contribuições da análise sistêmica: ao tentar descrever o “todo” encontramos as lacunas de informação que, não raras vezes, são fundamentais para a compreensão de um processo ou mesmo para a elaboração de um projeto de pesquisa que pode conduzir a novas teorias de negócio.

Qualquer um pôde perceber que era uma situação insustentável a partir de um determinado prazo. Será que alguém de uma dessas empresas chegou a pensar nas conseqüências de tais políticas para o consumidor e para a própria organização? Trata-se, obviamente, de um caso extremo, apenas para ressaltar a complexidade do processo decisório na atualidade.




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2 - Planejamento e Modelagem

Se a tomada de decisão é tão difícil, não seria a análise lógica do processo, ou seja, planejar e analisar as conseqüências, uma perda de tempo? Não seria melhor seguir o “instinto” como faziam os antigos empreendedores do passado? A resposta é não, por razões muito fortes.

Os comandantes de vôos de longa distância sabem muito bem a importância do planejamento. Antes de decolar, eles registram um plano de vôo especificando a rota pretendida, horários, aspectos climáticos, etc. Isso não significa que o vôo será cumprido exatamente como o planejado, pois uma série de variáveis não estão diretamente sob controle. Porém, é com base nesse planejamento que os comandantes terão domínio sobre as decisões a serem tomadas quando surgirem imprevistos, como, por exemplo, rotas alternativas, previsão de combustível, aeroportos de emergência etc. Além disso, e muito importante, a comparação entre o planejado e o real, quando documentado, constitui-se em um repositório de conhecimentos que poderá ser utilizado posteriormente.





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Um exemplo real é o de uma grande construtora brasileira que, no final da década de 1990, descobriu que grande parte dos conhecimentos de décadas de trabalho estavam armazenados em caixotes, em galpões. Era hábito da empresa, ao término de uma obra, encaixotar todos os documentos a ela relativos. Na época, a empresa percebeu não serem apenas papéis que ficavam inacessíveis, mas o conhecimento que poderia ser aplicado em outras obras (desde, é claro, que fosse atualizado e contextualizado). Com a orientação de especialistas em informação e documentação, atuando juntamente com o pessoal técnico (engenheiros), foi possível à empresa recuperar e disponibilizar grande parte desse conhecimento em uma base de dados, agregando valor nas futuras obras da empresa.

Continuando na área da construção civil, supõe-se, agora, que a Prefeitura de uma grande capital tenha encarregado alguns técnicos de elaborarem o projeto de um grande viaduto para solucionar o problema de tráfego em uma determinada região por dez anos, no mínimo. O problema observa-se, não é apenas fazer o projeto de um viaduto que seja seguro e suporte o trânsito, mas construir um componente que terá um papel fundamental em um sistema, afetando significativamente a sociedade e a economia. A evolução do fluxo de tráfego é uma das variáveis críticas desse problema que, por sua vez, é afetada por outras, como a valorização das áreas adjacentes em função da facilidade de acesso, as avenidas que receberão o novo fluxo de veículos, o desenvolvimento tecnológico, a propensão de desenvolvimento urbano etc. Uma maneira de realizar o planejamento desse novo componente urbano seria utilizar a simulação em computador por meio da construção de um modelo. Um outro modelo poderia, ainda, prever todos os recursos físicos necessários à construção do viaduto, as atividades a serem desenvolvidas, a ordem de realização e os respectivos prazos, um tipo específico de aplicativo de computador denominado Gerenciador de Projetos.




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3 - Compreendendo um modelo

Uma definição primária de modelo é que ele é uma representação de uma parte da realidade. Contudo, é interessante lembrar as palavras do Conde polonês e matemático Alfred Korzybsky (1879-1950):

O mapa não é o território, a palavra não é coisa que descreve. Sempre que o mapa é confundido com o território, instala-se no organismo uma perturbação semântica. A perturbação continua até serem reconhecidas as limitações do mapa.”

O que Korzybsky quer dizer é que um modelo não pode ser confundido com a realidade e, se isso acontece, haverá uma interpretação equivocada do modelo, o que remete à idéia de um modelo não ser apenas uma simplificação da realidade.

Modelos têm um motivo pelo qual são construídos, os quais, por sua vez, vão determinar os seus próprios limites. Assim, um mapa hidrográfico da Amazônia é um modelo com o objetivo, por exemplo, de auxiliar a navegação em um território relativamente complexo e definido. Esse modelo deve ser simplificado justamente para facilitar a sua interpretação e para que seja ÚTIL. Se um mapa tem tantos detalhes que se aproxima da própria realidade, sua noção de utilidade estará seriamente comprometida, pois tenderá a ser tão complexo como a própria realidade. A utilidade do modelo foi muito bem expressa por W. Edwards Deming (1902-1986), o chamado “pai da qualidade total”:




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Todos os modelos estão errados. Alguns são muito úteis.”

Os modelos são e sempre serão errados porque não expressam a realidade em toda a sua complexidade, ou seja, nenhum modelo pode jamais estar completo. Além disso, modelos são construídos por seres humanos que têm “visões de mundo” diferentes. Alguns, por exemplo, consideram um carro como um mero meio de transporte, outros já o vêem como um símbolo de “status” ou de aventuras e desafios, enquanto outros simplesmente detestam automóveis. Michael Pidd defende essa idéia argumentando que “nossas visões de mundo afetam o que nós vemos e como descrevemos nossas experiências. Elas também afetam nossas escolhas”.

Assim, para lidar com esta percepção de que diferentes visões de mundo podem levar a diferentes descrições da realidade, Pidd utiliza o termo multifacetada ao se referir à realidade. É como se fosse um diamante refletindo as luzes por suas diferentes facetas, sendo que a posição de cada observador lhe dará uma idéia diferente da pedra. Esse entendimento remete a uma questão crucial dentro da modelagem:


É possível termos diferentes modelos para uma mesma realidade.



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Até o momento, foram atribuídas as seguintes características aos modelos:


  • Representação parcial da realidade;
  • Orientado a um objetivo;
  • Noção de utilidade;
  • Noção de limite;
  • Dependente da “visão de mundo” do modelador.

Uma definição mais abrangente é dada por Pidd:


Um modelo é uma representação externa e explícita de parte da realidade vista pela pessoa que deseja usar aquele modelo para entender, mudar, gerenciar e controlar parte daquela realidade”.

Nesse conceito, o que Pidd acrescenta ao que já foi discutido é bastante interessante. Primeiramente, o termo “representação externa e explícita de parte da realidade”. O autor pretende, com isso, deixar claro que os modelos a que se refere não devem ser confundidos com os denominados “modelos mentais” que nos orientam nas interpretações e decisões ao longo da vida. Esses modelos são informais, internos e explícitos e, embora tenham influência na construção e interpretação dos modelos explícitos, não são normalmente representados em meio físico.




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Em segundo lugar, Pidd amplia os objetivos do modelo (entender, mudar, gerenciar e controlar), como também, sua noção de utilidade e valor, à medida que, dentro das ciências administrativas, não impõe uma estrutura hierárquica para seu uso. Em outras palavras, a modelagem não é prerrogativa das pessoas que detêm poder dentro de uma organização, mas uma metodologia que pode ser utilizada por todos aqueles que desejem trabalhar com uma determinada realidade.

O professor e diretor do Grupo de Sistemas Dinâmicos do Massachusetts Institute of Technology – MIT, John D. Sterman, afirma em seu artigo “A Skeptic’s Guide do Computer Models” que em vários e diferentes momentos da vida as pessoas se depararão com resultados de análises realizadas por modelos computadorizados e deverão julgar sua validade e relevância. Infelizmente, a maioria das pessoas não está capacitada para fazer isso de uma maneira inteligente, já que enxergam os computadores e os modelos como uma grande “caixa preta”, dispositivos que operam misteriosamente. Por isso, é fácil e provável serem estas pessoas usadas, acidental ou intencionalmente, para que terceiros atinjam seus objetivos. Segundo o autor, muitos modelos já foram construídos e usados para justificar decisões erradas já tomadas e ações desastrosas já realizadas anteriormente, em uma tentativa de livrar “cientificamente” os responsáveis, da culpa que lhes cabia.




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Módulo 03 – Modelagem e Complexidade

4 - Modelos Mentais vs Modelos Computadorizados

As pessoas usam modelos mentais diariamente. Suas ações são baseadas não no mundo real, mas nas imagens mentais desse mundo, nas relações entre seus componentes e nas influências que suas ações têm sobre ele, afirma Sterman.

Os modelos mentais têm algumas vantagens poderosas. Um modelo mental é flexível podendo levar em consideração uma variedade de informações que não exatamente dados precisos; pode adaptar-se a novas situações e ser modificado à medida que recebe novas informações. Os modelos mentais são os filtros através dos quais as pessoas interpretam suas experiências, avaliam seus planos e fazem suas escolhas dentre os diferentes caminhos a serem seguidos. Os grandes sistemas da Filosofia, da Política, da Literatura etc. são, em certo sentido, modelos mentais.

Contudo, os modelos mentais também têm suas desvantagens. Eles não são facilmente compreendidos por outras pessoas, de modo que as interpretações sobre o mundo podem diferir. Os pressupostos nos quais se baseiam são difíceis de serem comprovados, implicando ambigüidades e contradições internas que não podem ser detectadas, modificadas e corrigidas.




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Módulo 03 – Modelagem e Complexidade

As pessoas parecem não ter muito problema em criticar os modelos mentais das outras pessoas. Por outro lado, têm muito pouca consciência de seus próprios modelos mentais, de como são construídos e utilizados para tomar decisões. Segundo Sterman, psicólogos afirmam serem apenas poucos fatores considerados durante o processo de tomada de decisão, o que implica em dizer que, nesse processo, os modelos mentais usados pelas pessoas são extremamente simples e, não raras vezes, costumam falhar.

Essas falhas têm sido demonstradas por pesquisas do comportamento das pessoas em organizações e mostram que as decisões não são tomadas pela consideração racional dos objetivos, opiniões e conseqüências. Na maioria das vezes são tomadas mecanicamente, utilizando procedimentos padrões que se adaptam muito lentamente às mudanças do ambiente, determinados pelo papel dos tomadores de decisão em uma organização e limitados pela quantidade de tempo e informações disponíveis. Não fossem suficientes, as informações disponíveis podem estar incompletas ou erradas.





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Módulo 03 – Modelagem e Complexidade

Os gerentes também são influenciados pelas relações de autoridade, pelo contexto organizacional, por pressões diretas, por questões culturais e motivações pessoais. Estudiosos organizacionais identificaram dúzias de interferências que podem influenciar o processo de tomada de decisão, implicando, não raras vezes, em decisões erradas. Para o autor, tomar decisões é tão complicado como montar um grande quebra-cabeça.

Por outro lado, os modelos computadorizados realizaram avanços em relação aos modelos mentais em diferentes aspetos:


  • Eles são explícitos. São totalmente documentados e podem ser revistos por qualquer pessoa;
  • Infalivelmente, demonstram as conseqüências das “verdades” assumidas pelo modelador;
  • Eles são compreensíveis e capazes de inter-relacionar muitos fatores simultaneamente.

Atualmente, um modelo computadorizado com essas características tem grandes vantagens sobre um modelo mental, afirma Sterman. Na prática, contudo, modelos computadorizados estão em um nível abaixo do ideal:


  • A documentação é pobre e complexa dificultando seu estudo e compreensão;
  • Eles são tão complicados que os usuários não têm confiança em sua consistência e exatidão;
  • Eles são incapazes de tratar relacionamentos e fatores difíceis de quantificar, para os quais não existam dados ou fujam ao leque de conhecimentos da pessoa que está modelando.

Devido a essas possíveis falhas, os modelos computadorizados precisam ser examinados cuidadosamente pelos potenciais usuários. Mas, em que bases esses modelos devem ser julgados? Como alguém pode saber se um modelo foi bem ou mal desenhado, se seus resultados serão válidos ou não? Como um usuário que deseja pesquisar soluções pode decidir se um tipo de modelagem ou um modelo específico é adequado para o problema que tem em mãos? Como usos indevidos de um modelo podem ser detectados e prevenidos? Não existe uma resposta pronta e clara para todos esses questionamentos, mas algumas sugestões úteis serão abordadas nas próximas seções.




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Módulo 03 – Modelagem e Complexidade

5 - O valor da simplificação

Modelos são aproximações e é nisto que reside o seu valor. Um exemplo pode ser observado no mapa de metrô de uma grande cidade como Paris, como mostra Pidd.

O interessante sobre esses mapas é que eles permitem que o leitor entenda as possíveis rotas por meio de uma distorção proposital da realidade. Primeiramente, o layout físico das linhas é distorcido no mapa para enfatizar as direções gerais e conexões. Assim, rotas que dividem o mesmo túnel no mundo físico são mostradas separadas no mapa lógico. Em segundo lugar, o uso das cores permite ao leitor identificar as diferentes linhas e suas conexões. (E, obviamente, as linhas do trem não são coloridas no mundo físico).

Portanto, defende Pidd, não é uma crítica válida afirmar que modelos são simplificações, pois precisamente esta simplificação torna-os úteis. Uma pergunta inteligente seria então: “Qual é o grau de simplificação desejável e como podemos sabê-lo antecipadamente?”




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Módulo 03 – Modelagem e Complexidade

O autor afirma não haver uma resposta clara à questão já que a complexidade do modelo dependerá do objetivo desejado. Contudo, faz algumas inferências:


  • Se duas explicações parecem igualmente plausíveis, então é melhor usar a mais simples das duas;
  • Para decidir se um elemento do modelo é necessário ou não, reveja seu objetivo;
  • Apenas com uma visão global pode-se ter certeza de que um modelo representa adequadamente a realidade modelada;
  • É importante que os cientistas administrativos tentem estabelecer o grau em que seus modelos são válidos e;
  • Modelos são simples no sentido de que são inteiramente explícitos e podem ser testados por outras pessoas.

Fazer um modelo é de certa forma, limitar e reduzir um sistema, isto é, de todas as múltiplas variáveis que compõem um sistema real, seleciona-se aquelas responsáveis por seu comportamento. Esta seleção de variáveis relevantes pretende responder à lei de Pareto, aquela que afirma serem umas poucas variáveis (não mais do 20%) responsáveis por 80% do comportamento de um sistema (ou mais). Chamada de lei 80-20 está presente em muitos aspectos da vida: umas poucas variáveis respondem pela maioria das causas e/ou dos efeitos. Segundo esta lei, o desenho de modelos com um número relativamente pequeno de variáveis pode ser muito útil aos objetivos e fins para os quais o modelo foi construído. A aplicação da lei de Pareto aos modelos é defendida por José Alfonso Delgado Gutiérrez, autor espanhol do livro “Análisis Sistêmico: Su aplicación a las comunidades humanas”.




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6 - Modelos para o controle e a tomada de decisão

Michael Pidd assume que dois aspectos importantes do gerenciamento são a tomada de decisões e o controle. Ele, contudo, não está negando outros aspectos importantes do trabalho gerencial, o que considera extremamente tolo. Mas, uma boa parte do trabalho dos gerentes está relacionado ao cumprimento de determinadas metas, ao estabelecimento de políticas e regras para atingi-las e à tomada de decisões. Nesses aspectos, a abordagem por meio de modelagem e simulação pode ser bastante útil.

Uma decisão deve ser tomada quando se depara com mais de uma opção, que pode ser apenas duas ou um número próximo do infinito. Um gerente pode defrontar-se com a decisão de ter apenas dois fundos de investimento confiáveis nos quais aplicar um determinado capital, o que é relativamente simples. Contudo, as decisões se tornam mais complexas à medida que se inserem em uma cadeia de seqüencial de decisões, em que cada uma das quais afeta as opções subseqüentes. Um exemplo simples pode ser o de uma indústria X que reclama ao fornecedor que as embalagens de seu produto passaram a apresentar problemas nas dobras do papelão, que se rasgam facilmente.

O problema pode estar no próprio papelão que é disponibilizado por um outro fornecedor, que o compra de uma indústria que resolveu diminuir custos empregando um componente de qualidade inferior na confecção do papelão. Enquanto o problema não é resolvido, haverá uma intensa mobilização no sentido de resolver o problema antes que a marca do produto seja afetada por uma falha no controle de qualidade que não estava, aparentemente, sob controle da indústria X. Isso envolverá uma série de decisões em decorrência da complexidade da cadeia produtiva, implicando em estratégias que minimizem os impactos para os clientes e os custos para a organização. Em seguida, será necessário desenvolver uma série de controles, de modo a evitar que o mesmo problema ou algum semelhante venha a ocorrer.




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Módulo 03 – Modelagem e Complexidade

Como demonstrado no exemplo anterior, o controle está relacionado com a tomada de decisões. Na maioria das vezes, tomar a decisão é a parte mais fácil. O difícil e o que demanda mais tempo é implementar e gerenciar os processos resultantes da tomada de decisão. Isso pode desencadear uma série de discussões com argumentações prós e contras, pesquisas e consultas. Tais atividades demandam muito tempo, considerando ainda que a implementação de uma ou mais decisões pode gerar reflexos em variáveis que podem não estar sob o controle direto da organização, como, por exemplo, as preferências do consumidor. Os sistemas de controle, segundo Pidd, dependem da disponibilidade de informações sobre a performance, que são enviadas de volta a um gerente capaz de compará-las com o desejado e mudar a performance do sistema conforme necessário. Esse caso é ilustrado na figura a seguir, no qual a seta azul corresponde ao fluxo de informações sobre o estado atual do sistema, recebido pelo gerente, que poderá, assim, implementar as ações corretivas necessárias.




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Módulo 03 – Modelagem e Complexidade

7 - Modelagem Soft e Hard

Em função da influência exercida pela pesquisa operacional nas ciências administrativas ficou-se com a impressão de que apenas modelos matemáticos são úteis e interessantes. Uma distinção entre modelagem Soft e Hard faz-se necessária na medida em que é preciso desvincular a idéia de que modelos sempre oferecem respostas precisas e exatas sobre os problemas enfrentados nas organizações e que este é o único fator relevante na modelagem.

As abordagens Hard, que não são objeto dessa disciplina, assumem que os modelos são uma representação apropriada do mundo real e que os resultados da simulação podem ser confrontados diretamente com a realidade. Este tipo de modelagem tem sua origem calcada nas ciências exatas, mais particularmente na física newtoniana, e têm atendido com sucesso a muitos empreendimentos humanos. Não há como negar a utilidade de modelos que simulam, por exemplo, a resistência de uma ponte ao fluxo de tráfego a que será submetida. Nesse caso, não há espaço para trabalhar com dados e informações subjetivas. Alguns métodos de programação matemática e simulação computacional também têm sido utilizados com eficiência nas ciências administrativas, principalmente quando a natureza lógica do problema se apresenta de uma maneira bastante clara. Algumas áreas nas quais as abordagens Hard são utilizadas estão listadas abaixo:


  • Programação da produção
  • Planejamento de redes de telecomunicações;
  • Gerenciamento da cadeia de suprimentos;
  • Serviços financeiros, etc.





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Módulo 03 – Modelagem e Complexidade

Um exemplo típico de uma abordagem hard é mostrada no enunciado a seguir:


Um vendedor de frutas pode transportar 800 caixas de frutas para sua região de vendas. Ele necessita transportar 200 caixas de laranja a R$20,00 de lucro por caixa, pelo menos 100 caixas de pêssegos a R$10,00 de lucro por caixa, e no máximo 200 caixas de tangerinas a R$30,00 de lucro por caixa. De que forma ele deverá carregar o caminhão para obter o lucro máximo?

Fonte: Pesquisa Operacional I (apresentação em PowerPoint)
Gerson Lachtermacher, Ph.D. e Paulo Sérgio Coelho, M.Sc.

Trata-se de um exercício de programação linear cujo objetivo é a maximização dos recursos de modo a encontrar o lucro máximo. Este problema é resolvido matematicamente por meio de equações de 1º grau e não há dúvidas quanto ao resultado a ser alcançado, ou seja, o modelo se espelha na realidade.




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Módulo 03 – Modelagem e Complexidade

Os pressupostos das abordagens Soft defendem a idéia de que os modelos são construídos para permitir às pessoas pensarem mediante suas próprias posições e engajarem-se em debates com outras pessoas para determinar o curso de possíveis ações. A definição dos problemas não é direta, podendo ser bastante complicada, já que se supõe os problemas como resultados de construções sociais, dos relacionamentos das pessoas e do ambiente que as cerca, dotando-os, portanto, de características psicológicas subjetivas e muito mais complexas de serem modeladas. Isto contrasta com a visão comum em abordagens Hard, de que o trabalho se inicia uma vez que tenha sido definida uma necessidade e é imprescindível supri-la, enfatizando-se “o como” e não “o por quê”. As metodologias Soft são baseadas no pressuposto de as percepções do mundo das pessoas terem variações e que suas preferências possam também diferir. Desta forma, afirma Pidd, é importante tentar compreender as diferentes maneiras pelas quais os diferentes atores interessados podem encarar o tratamento das questões em estudo.

A tabela a seguir resume as principais diferenças entre as abordagens hard e soft, embora se deva ter em mente as diferenças apresentadas, visando isolar-se as distinções entre os dois estereótipos, e as muitas matizes existentes entre eles.

Tipo
Abordagens hard
Abordagens Soft
Definição do problema
Vista como direta, unitária
Vista como problemática, pluralista
A organização
Assumida tacitamente
Requer negociação
O modelo
Uma representação do mundo real
Uma forma de gerar debate e insight a respeito do mundo real
Resultado
Um produto ou recomendação
Progresso por meio da aprendizagem
      Tabela: Abordagem hard versus soft
      Fonte PITT (1998)

Finalmente é preciso fazer um alerta em relação a esses conceitos e a Dinâmica de Sistemas, para a qual essas características podem não ser tão óbvias, na medida em que esta tem por base uma analogia com os sistemas físicos. Contudo, o foco de uma análise de dinâmica de sistemas em processos organizacionais ativos força a discussão de uma série de fatores subjetivos levando a análise, quase que inevitavelmente, para a linha de abordagem soft.




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Módulo 03 – Modelagem e Complexidade

Resumo

O processo de tomada de decisões é uma constante dentro das organizações e se torna cada vez mais difícil, à medida que aumenta a complexidade das empresas e do ambiente em que elas estão inseridas.

As pessoas usam modelos mentais diariamente. Suas ações são baseadas não no mundo real, mas nas imagens mentais desse mundo, nas relações entre seus componentes e das influências que suas ações têm sobre ele.

Um modelo mental é flexível, podendo levar em consideração uma variedade de informações que não exatamente dados precisos; pode adaptar-se a novas situações e ser modificado à medida que recebe novas informações.

Os modelos computadorizados realizaram avanços em relação aos modelos mentais em diferentes aspetos: são explícitos, totalmente documentados e podem ser revistos por qualquer pessoa; infalivelmente, eles demonstram as conseqüências das “verdades” assumidas pelo modelador; são compreensíveis e capazes de inter-relacionar muitos fatores simultaneamente.

Um modelo computadorizado com tais características, atualmente tem grandes vantagens sobre um modelo mental. Na prática, contudo, modelos computadorizados estão em um nível abaixo do ideal: a documentação é pobre e complexa dificultando seu estudo e compreensão; são tão complicados que os usuários não têm confiança em sua consistência e exatidão; incapazes de tratar relacionamentos e fatores difíceis de quantificar, para os quais não existam dados ou fujam ao leque de conhecimentos da pessoa que está modelando.

Fazer um modelo é, de certa forma, limitar e reduzir um sistema, isto é, de todas as múltiplas variáveis que compõem um sistema real, seleciona-se aquelas responsáveis por seu comportamento. O desenho de modelos com um número relativamente pequeno de variáveis pode ser muito útil aos objetivos e fins para os quais o modelo foi construído.

Em função da influência exercida pela pesquisa operacional nas ciências administrativas ficou-se com a impressão de que apenas modelos matemáticos são úteis e interessantes. Uma distinção entre modelagem Soft e Hard faz-se necessária, de forma a desvincular a idéia de que modelos sempre oferecem respostas precisas e exatas sobre os problemas enfrentados nas organizações e de que este é o único fator relevante na modelagem.

Para as abordagens Hard, os modelos são uma representação apropriada do mundo real e os resultados da simulação podem ser confrontados diretamente com a realidade.

Observe as diferenças de abordagens hard e soft visando isolar-se as distinções entre os dois estereótipos e as diversas matizes entre os dois.

Tipo
Abordagens hard
Abordagens Soft
Definição do problema
Vista como direta, unitária
Vista como problemática, pluralista
A organização
Assumida tacitamente
Requer negociação
O modelo
Uma representação do mundo real
Uma forma de gerar debate e insight a respeito do mundo real
Resultado
Um produto ou recomendação
Progresso por meio da aprendizagem
      Tabela: Abordagem hard versus soft
      Fonte PITT (1998)



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Módulo 1

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Módulo 01: Modelagem e simulação em equipe: arte e ciência

1 - Planejando um encontro para modelagem

“O conhecimento isolado obtido por um grupo de especialistas num campo restrito não tem em si mesmo qualquer espécie de valor. Só tem valor no sistema teórico que o integra no conhecimento restante, e apenas na medida em que contribui realmente nesta síntese para responder à questão: Quem somos nós?”. E. Schrödinger

Analistas sistêmicos constroem modelos e reportam os resultados de seus estudos. Construtores de modelos assumem implicitamente que o conhecimento adquirido por meio da pesquisa científica é suficiente para convencer as pessoas a mudar suas políticas organizacionais.

Segundo Jac Vennix (1997), pesquisador e professor da Universidade de Nijmegen, Holanda, estudos relacionados ao impacto dos modelos computadorizados nas políticas organizacionais têm revelado convincentemente dois fatos:


• Em muitos casos, esse impacto é conceitual (isto é, as pessoas aprendem com ele), mais do que instrumental;
• Grande parte da aprendizagem ocorre no desenvolvimento do modelo, muito mais do que quando o modelo é terminado.

Não se trata de uma surpresa, já que nas últimas décadas a ênfase da Dinâmica de Sistemas se tem direcionado muito mais à modelagem como aprendizagem e à modelagem para a aprendizagem organizacional. A atividade de construção de modelos vem crescendo como um método para estruturar discussões e debates, criando um ambiente de aprendizagem no qual decisões e estratégias podem ser explicitadas e testadas. Como conseqüência, nas últimas décadas vários analistas sistêmicos têm tido maior ou menor sucesso experimentando abordagens que envolvem grupos de clientes mais sistemicamente e mais profundamente no processo de construir um modelo dinâmico de negócios.




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Módulo 01: Modelagem e simulação em equipe: arte e ciência

Embora muita experiência tenha sido obtida na área de modelagem como aprendizagem, parece-nos muito mais uma arte do que ciência construir modelos com grupos de clientes. Mesmo que o conhecimento acerca de como construir um modelo de sistemas dinâmicos esteja bem codificado, o conhecimento sobre como explicitar sistematicamente o conhecimento de um grupo e como alinhar eficientemente grupos dinâmicos é um tópico que tem recebido pouca atenção da literatura sobre sistemas dinâmicos. No módulo atual serão tratados aspectos de planejamento e condução das sessões de modelagem nas organizações.




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Módulo 01: Modelagem e simulação em equipe: arte e ciência

David F. Andersen e George P. Richardson, da Universidade de Albany, afirmam que a imagem para a fase de planejamento é a de preparação de uma apresentação de teatro ou para um concerto de jazz. Cada fase deve ser cuidadosamente descrita em detalhes, mas o próprio desenvolvimento do trabalho pode desviar os objetivos do script, produzindo momentos de grande criatividade como também de distrações improdutivas. Veja, a seguir, como estruturar um encontro para modelagem.

Entrevistas com gerentes chave – Pessoas que desempenham papel importante na organização desses encontros são os chamados gatekeepers. O gatekeeper ajuda a selecionar as pessoas apropriadas para participar desses encontros. Ele ajuda a estruturar os conceitos iniciais para a primeira sessão de modelagem mediante discussões prévias com essas pessoas, o que é uma tarefa essencial no planejamento e sucesso dos encontros.



Gatekeeper é a pessoa responsável pela manutenção da rede de contatos; atua dentro e fora da empresa, identifica a oferta tecnológica disponível no mercado e a canaliza para os objetivos da empresa, podendo proporcionar uma sólida interação entre a empresa e a universidade.




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Módulo 01: Modelagem e simulação em equipe: arte e ciência
Esclarecendo os objetivos dos encontros - O aspecto mais importante dos encontros é assegurar que as pessoas certas e necessárias estão presentes na sala de reuniões. Se os diretores são necessários para o encontro, devem abrir mão de suas outras atividades e tornarem-se presentes. Se pessoas de algum departamento ou setor serão posteriormente afetadas pelo trabalho desenvolvido, então estas pessoas também deverão estar presentes. A regra do jogo é que as pessoas chave devem estar conscientes e disponíveis para devotar dois ou três dias inteiros, sem interrupções, à tarefa de modelagem. Em alguns grupos é importante diferenciar os analistas de modelagem, que darão continuidade ao trabalho técnico de modelagem, dos especialistas organizacionais. As responsabilidades e papéis desempenhados por esses grupos serão diferentes.

Definindo os produtos - É importante que haja clareza sobre os produtos que serão obtidos ao final das sessões de modelagem. Os produtos finais podem ser desde um diagrama de ciclos causais da estrutura de feedbacks do sistema (diagrama qualitativo) até um modelo simulável (diagrama qualitativo/quantitativo), além de uma série de políticas organizacionais a serem implementadas. É especialmente aconselhável tentar construir um modelo para simulação por meio dos conhecimentos explicitados durante o tempo disponível.




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Módulo 01: Modelagem e simulação em equipe: arte e ciência

Layout da sala – O segundo fator crítico de sucesso é, provavelmente, a utilização de uma sala adequada com toda a infraestrutura necessária. A figura 1 mostra um layout típico, embora outras configurações também possam mostrar-se eficientes.

Fig. 1. Layout típico de uma sala para encontros de modelagem, mostrando amplos quadros brancos, flip-chart, cadeiras confortáveis arrumadas em forma de semicírculo e projetor multimídia ligado a um computador.
Fonte: David F. Andersen e George P. Richardson (1997).

As cadeiras devem ser soltas para permitir que os participantes se reúnam em grupos menores (três ou quatro pessoas). Pequenas mesas também podem ser muito úteis, principalmente porque muitas das tarefas podem envolver a realização de documentos escritos ou desenhos. Essas mesas, contudo, devem ficar fora do cenário de modelagem, pois podem interferir na dinâmica do processo.

Os quadros brancos servirão para desenhar as idéias e modelos que forem surgindo, já que desenhar no computador, diretamente nos aplicativos de simulação (Vensim, Powersim, iThink, etc.) pode inibir a criatividade e a participação dos profissionais que preferem a comunicação verbalizada ao invés da comunicação informatizada. O projetor deve ser utilizado para apresentações e para construir o modelo depois que este já tiver uma certa estrutura, próxima de seu formato final.




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Módulo 01: Modelagem e simulação em equipe: arte e ciência

Papéis desempenhados pelo grupo de modelagem – Além dos demais participantes, o grupo de modelagem normalmente é constituído de duas a cinco pessoas desempenhando os seguintes papéis: facilitador (o que vai procurar explicitar o conhecimento dos participantes), o modelador (que vai diagramando as idéias), um profissional de mapeamento de processos, um secretário (para ir redigindo as principais idéias – o quadro branco será apagado várias vezes) e o gatekeeper.




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Módulo 01: Modelagem e simulação em equipe: arte e ciência
2 - Estrutura dos tipos de tarefa a serem realizadas

O grupo de trabalho pode mover-se rapidamente por meio de tarefas individuais, trabalhos em pequenos grupos e sessões plenárias. As tarefas podem variar de divergentes (brainstorming, etc.) a convergentes (classificação e avaliação de aspectos organizacionais, mapeamento etc.). O ponto-chave é selecionar as tarefas de acordo com a estrutura do grupo para cada um dos passos do processo de modelagem. Isso evita o surgimento do “poço sem fundo”, no qual, por falta de planejamento, as pessoas vão trabalhando desordenadamente sem atingir nenhuma conclusão ou objetivo.

Tarefas divergentes – Tarefas de pensamentos divergentes (como obter o maior número de idéias possíveis em relação ao modelo referencial ou aos limites do modelo) são mais bem desenvolvidas por técnicas nominais de grupo. É interessante utilizar técnicas que requeiram dos indivíduos ou pequenos grupos seus conhecimentos na elaboração de uma lista de idéias ou conceitos. Técnicas nominais utilizam o método de atribuir a cada um dos grupos uma tarefa específica referente ao sistema como um todo e, em seguida, solicitar que cada grupo exponha sua melhor idéia em plenário. Essa técnica é mais efetiva quando se tem opiniões diferentes entre os participantes, evitando que idéias geradas com a participação de todos sejam inibidas por questões hierárquicas, políticas e pessoais, ou que os indivíduos, ao invés de gerarem novas idéias, se ancorem nas idéias já apresentadas individualmente.




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Módulo 01: Modelagem e simulação em equipe: arte e ciência
Tarefas convergentes – Depois que um número relevante de idéias tenha sido colhido, e estas analisadas e classificadas por meio de brainstorming ou outra técnica, a tarefa mais árdua para o grupo será estabelecer um “pensamento convergente”, mediante desenho do modelo, sua descrição ou a criação de políticas organizacionais para lidar com um dado problema.

Como regra geral, se uma tarefa precisa ser repetida muitas vezes pelo grupo (como a agregação de estruturas de feedback, setor por setor) é melhor que o grupo trabalhe todo junto em uma sessão plenária, de modo que todos possam participar, pergunto, questionando e compreendendo o modelo. Em outros casos, pequenos grupos podem desenhar partes do problema em separado e apresentar os resultados em plenária utilizando flip-charts, planilhas ou projeção.




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Classificação e avaliação – A avaliação e classificação das idéias surgidas das discussões constituem tarefa convergente que pode, muitas vezes, ser executada mediante uma simples votação. Cada membro pode dar um número fixo de “votos de importância” em favor de determinadas idéias, conceitos e decisões. O importante é utilizar uma técnica, não importa qual, que leve o grupo a um consenso e não se perca muito do valioso tempo dos encontros.


Fonte: http://www.systemdynamics.org/conf2002/pictures/021700SpecialSession10.jpg

Apresentações – Em pontos chave das sessões o modelador deve oferecer aos participantes informações sobre o andamento dos trabalhos. São oportunidades importantes para que a equipe tenha novos insights, expresse e discuta idéias ou simplesmente esclareça algum assunto complexo que não ficou bem compreendido. Um bom momento para isso é depois de um intervalo de um lanche, quando o grupo está “fresco”.




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3 - Planejamento do dia de trabalho

O planejamento do dia de trabalho é feito detalhadamente por meio de blocos de duração variada. Depois de realizado, o planejamento toma a forma de uma agenda pública a ser distribuída aos participantes previamente (pelo menos com 2 dias de antecedência). A figura a seguir mostra um exemplo de agenda pública para uma sessão de um dia. Obviamente, cada bloco de trabalho deve ser estimado de modo a atender às necessidades do grupo. Se necessário, pode-se consultar uma pessoa experiente no assunto para ajudar no planejamento.




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Orientações para o planejamento – Antes de discutir técnicas específicas é importante abordar alguns princípios gerais de orientação, para um bom resultado do trabalho.

Planejamento particionado – O planejamento, como mostrado na agenda, deve ser particionado em várias atividades. Isso mantém o grupo alerta e concentrado na tarefa. Grupos que realizam uma única tarefa o dia inteiro, tendem a ficar cansados e entediados, perdendo a produtividade.

Iniciar motivando – Uma das regras de ouro é que o grupo deve ser motivado a se concentrar intensivamente em uma atividade nos primeiros 30 minutos. Isso significa explicar, em meia hora, o que é o processo de modelagem e simulação e o que o grupo fará durante o dia. A utilização de modelos conceituais pode facilitar essa tarefa inicial.

Manter a consistência visual – É importante que o grupo conheça, logo no início, o significado de todos os símbolos que serão utilizados no trabalho. Além disso, também é importante que esses símbolos sejam os mesmos a serem utilizados no software de simulação, já que há pequenas variações entre eles.




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Esforçar-se para manter simplicidade visual – Embora o número de símbolos utilizados na construção de modelos seja relativamente pequeno, o nível de complexidade que pode surgir no desenho de um diagrama é um problema sério. Sempre que o quadro branco ou o flip-chart estejam muito densos de imagens e símbolos de um diagrama complexo, o modelador deve pedir uns cinco minutos e disponibilizar uma nova versão do diagrama mais simplificada.

É muito importante que isso seja feito com o acompanhamento do facilitador para que ele possa compreender a nova estrutura e explicá-la aos participantes. Disciplina na fase de modelagem é crucial. Deve-se, por exemplo, manter as variáveis de um mesmo setor sempre próximas uma das outras para que o setor possa ser facilmente identificado.

Estar alerta às diferenças de linguagem – Diferenças de linguagem são comuns, principalmente quando os participantes são pessoas especializadas em uma determinada área. Assim, um grupo de advogados poderá querer denominar uma variável como “clientes”, enquanto outros dariam o nome de “suspeitos” ou “criminosos”. A variável “vagas disponíveis” pode referir-se tanto ao número de vagas para um curso como para um emprego. Essas diferenças, aparentemente pouco relevantes, podem provocar ruídos na compreensão geral do modelo.




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Evitar discursos longos – Deve-se evitar que o facilitador, modelador, cliente ou qualquer pessoa faça um discurso longo sobre seja o que for. Há exceções importantes para essa regra, por exemplo, quando há necessidade de clarear algum ponto obscuro, ou nas conclusões do trabalho. É importante que o facilitador e o modelador não falem muito, mas escutem os participantes e compreendam sua visão do problema.

Refletir após cada parte principal – Uma breve descrição ou o sumário dos trabalhos e decisões tomadas pelo grupo é uma ferramenta muito importante. O encontro pode não ser bem sucedido se alguém não for capaz de resumir os trabalhos realizados e expor de uma maneira digerível para todos. Se o grupo for deixado sozinho para lidar com a complexidade dos detalhes que invariavelmente aparecem como resultado dos exercícios de elucidação do sistema, todo o processo pode fracassar.

Abuse do poder do pincel (e do apagador) – O facilitador deve sempre responder aos interesses levantados pelo grupo, escrevendo no quadro branco ou no flip-chart importantes insigths que possam ser úteis ao modelo posteriormente.

Planejando e gerenciando a formação dos grupos – Nos encontros em que os participantes ainda não se conhecem muito bem, é importante alocar um tempo para se desenvolver um espírito de grupo. Algumas dinâmicas no início do encontro podem ajudar a apressar e facilitar este processo. Um exercício muito significativo de abertura envolve começar solicitando a cada participante que fale sobre seus sentimentos, expectativas e o que espera obter ao final do trabalho. Uma outra maneira é entregar a cada um uma folha de papel para que escrevam suas expectativas e seus receios em relação ao trabalho a ser realizado. O facilitador agrupa essas observações e discute com todo o grupo. Esse conjunto de expectativas e receios contribui para a construção do modelo e para a delimitação de seus limites. A equipe de modelagem deve estar alerta às possibilidades da formação de subgrupos contraprodutivos dentro do grupo maior. Técnicas simples, como sorteio, podem criar grupos aleatórios e heterogêneos que são importantes na quebra de paradigmas. Para alguns projetos, recomenda-se trabalhar junto com o gatekeeper na formação dos grupos, evitando concentrar, por exemplo, pessoal de um mesmo nível hierárquico ou que tenham modelos mentais semelhantes.

As pessoas desenvolvem uma visão mais positiva dos resultados do trabalho quando na última meia ou uma hora a equipe consegue atingir um alto clímax de satisfação. Isso pode ser feito demonstrando a importância do trabalho realizado e dos benefícios que podem advir para a empresa e para todos. Porém, isso só será possível se o trabalho foi planejado e estruturado de maneira que o resultado alcançado tenha sido realmente positivo.




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4 - Modelos Conceituais – Ensinando Dinâmica de Sistemas para os clientes

Uma vez que o objetivo do encontro de modelagem é aproximar-se o máximo possível de um modelo simulável, um problema que aparece é de que forma logo no início dos trabalhos, explicar o que é um modelo. De modo geral, os clientes não têm experiência com modelos ou com ferramentas de simulação.

A figura 3 é um exemplo de modelo conceitual. O objetivo do modelo conceitual é introduzir os conceitos de estoques, fluxos, variáveis e constantes e as ligações (feedbacks) entre esses componentes, e iniciar uma discussão sobre a estrutura e comportamento de um modelo real.

Exemplo de um modelo conceitual (NASCIMENTO, 2003)


O modelo deve ser visualmente simples e não conter apenas fórmulas simples, caso os participantes perguntem por elas.




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Existem muitas abordagens em pensamento sistêmico para elucidar problemas por meio de trabalhos em grupo. Mais à frente veremos as abordagens de Túnel do Tempo e de Gráficos de Comportamento Dinâmico.

Desenhando a estrutura do modelo conceitual – O desenho da estrutura de um sistema em estudo é, possivelmente, a tarefa principal do grupo. Deve-se iniciar com uma estrutura simples, adicionando-se, sucessivamente, camadas mais complexas. O trabalho pode ser iniciado tanto com a construção de Diagramas de Ciclos Causais, como diretamente a partir da representação do modelo que será o produto final, ou seja, um Diagrama de Fluxos e Estoques.

Esse primeiro modelo conceitual, realizado em 20 a 30 minutos é um formato muito simplificado do que será obtido ao final do encontro.




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A abordagem por setor/subsistemas – Uma sugestão de tarefa é solicitar ao grupo que pense no modelo em termos de setores (produção, marketing, finanças etc.) e suas interligações. Essa abordagem leva o grupo a pensar sistemicamente e a manter essa perspectiva quando estiverem desenhando a estrutura de um simples setor.

Exemplo: Subsistemas de uma indústria de semicondutores:



Em síntese, os subsistemas representam o processo produtivo de semicondutores utilizando capital (fixo e circulante), mão de obra e estoques de matérias-primas que determinam o custo de produção. A indústria possui uma política de formação de preços verificando os recursos alocados e o preço dos produtos dos concorrentes. O fluxo de caixa e a variação do balanço patrimonial determinam o valor da empresa no mercado, permitindo contratar ou liquidar empréstimos para manutenção do capital empatado e aplicação em programas de qualidade. Finalmente, o desenvolvimento de novos produtos é garantido pelo suporte da equipe de Pesquisa e Desenvolvimento amparado pelos programas de qualidade.




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É fundamental manter todos os setores à vista no quadro, à medida que sejam desenhados. Efeitos oriundos de um determinado setor que afetam algum outro poderão, então, ser facilmente desenhados mantendo a visão sistêmica dos participantes, de forma a visualizar um mapa conceitual do sistema ou problema, gerando os diagramas de ciclos causais.

Exemplo:
DCC de uma indústria de semicondutores

 

Estoques e fluxos por setor – Todo trabalho de modelagem de um Diagrama de Fluxos e Estoques deve ser iniciado pela identificação e desenho desses estoques e fluxos.
Quando há uma idéia clara dos estoques e fluxos, esta tarefa não é difícil para o grupo de clientes e não gera introspecção nos participantes. Quando algum membro do grupo é especialista em apenas uma parte do sistema, costuma ser bastante participativo quando sua parte do sistema está sob a discussão. Por outro lado, aprende muito quando outros setores do sistema estão sob discussão.

Exemplo:

Iniciando DFE de uma indústria de semicondutores


























































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Dando nomes para variáveis e setores – Este é um problema que surge quando se detecta que um grupo não está alinhado em relação à linguagem que está sendo utilizada para explicar um ou mais elementos chave do sistema. O grupo pode ter problemas em conceituar alguma variável, setor, ou função dentro do modelo. Neste momento, é importante fazer uma abordagem rápida e dividir o grupo em grupos menores ou pares de indivíduos, dando-lhes a tarefa de nomear a variável ou o conceito sob discussão. Se esta tarefa tiver sucesso, o grupo torna-se mais alinhado e tem uma linguagem comum para referenciar um conceito importante do sistema. Se o problema não é resolvido, o grupo deve ser alertado para uma potencial discordância dentro do mesmo, e resolver a diferença é, provavelmente, muito mais complicado do que simplesmente nomear uma variável ou um setor. A experiência tem demonstrado que os grupos que não podem concordar com nomes de uma variável ou de um setor com este simples exercício estão correndo riscos de não terminarem o exercício de modelagem no período planejado.




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Como identificar e desenhar as estruturas de feedback – A tarefa de identificar e desenhar as estruturas de feedback e levar o grupo a pensar em detalhes sobre os enlaces causais formadores dos ciclos de retroalimentação chaves que controlam o sistema é, normalmente, muito difícil. A seguir são abordadas duas técnicas que têm obtido sucesso:

Identificação direta dos ciclos de retroalimentação – Essa técnica consiste em escolher uma variável chave do modelo (uma variável central do Diagrama de Fluxos e Estoques) e solicitar ao grupo que diagrame as influências causais culminando com um ciclo fechado que controla essa variável. Esse trabalho pode ser facilitado se o modelador já tem uma idéia de como será essa estrutura. Um dos problemas dessa técnica é que as pessoas não estão acostumadas com as estruturas de feedback. Em conseqüência, pode acontecer de o modelador tomar a liderança do processo e induzir uma estrutura que não é real, pois os clientes não terão participado e concordarão por serem incapazes de compreender o que está sendo realizado. A participação do facilitador, nesse caso, é fundamental. Ele deve interagir com o grupo de maneira que eles compreendam aos poucos e naturalmente essas estruturas de controle do sistema e ganhem confiança em seu trabalho.

Como identificar feedbacks?

Explicação


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Informações Contábeis e Novas Tendências Profissionais

Vn são variáveis (n = 1 a 11)
Imagine que você possua um problema X (passo 1)

Você deve identificar as causas desse problema (passo 2)
V3 e V4 influenciam diretamente o problema, sendo que V3 também causa modificação em V4.
V3 é alterado por V1 e V4 é alterado por V2.
V1 também altera V2.
Por enquanto apenas apresentamos as causas do problema: um conjunto de variáveis relacionados numa seqüência de causa e efeito que modificam o problema.
O passo 3 é identificar as conseqüências que meu problema causa na realidade investigada.
X influencia diretamente V5, V6 e V7. V5 influencia 3 variáveis: V8, V9 e V10. V7 influencia V11.
Tudo que foi demonstrado nesses passos caracteriza um sistema cartesiano, de simples causa e efeito entre variáveis. Existem variáveis encadeadas que produzem um determinado resultado.
O passo 4 é característico da Dinâmica de Sistemas. Suponha que a variável V8 (conseqüência do meu problema) altere a variável V3 (causa do meu problema). Nesse momento configura-se um ciclo de retroalimentação, isto é, a variável V3 que modifica o problema, causa modificação em V5 e V8 e V8 modifica V3, intrinsecamente ligadas em um loop.
É um ciclo de retroalimentação: V3: X-V5-V8-V3
Outros ciclos de retroalimentação:
V3: V4-X-V5-V8-V3
V4: X-V7-V11-V4
V4: X-V5-V8-V3-V4
Finalizado o modelo, obtemos a classificação de variáveis deste sistema:
Variáveis exógenas – àquelas que causam modificação, mas não são modificadas por outras variáveis (V1).
Variáveis endógenas lineares – são modificadas por outras variáveis, porém não participam de ciclos de retroalimentação (V2, V9, V10, V6).
Variáveis endógenas cíclicas – participam dos loops (ciclos de retroalimentação).
Variáveis excluídas – estão presentes na realidade investigada, mas não participam do modelo devido a dificuldade de determinar relacionamentos com as variáveis do sistema.
Esse trabalho pode ser facilitado se o modelador já tem uma idéia de como será essa estrutura. Um dos problemas dessa técnica é que as pessoas não estão acostumadas com as estruturas de feedback. Em conseqüência, pode acontecer de o modelador tomar a liderança do processo e induzir uma estrutura que não é real, pois os clientes não terão participado e concordarão por serem capazes de compreender o que está sendo realizado. A participação do facilitador, nesse caso, é fundamental. Ele deve interagir com o grupo de maneira que eles compreendam aos poucos e naturalmente essas estruturas de controle do sistema e ganhem confiança em seu trabalho.





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Técnica comparativa – Uma das melhores técnicas compreende escolher dois estoques do modelo (que tenham relacionamento entre si, embora não desenhado ainda) e solicitar ao grupo que dê um nome para essa comparação. É interessante perguntar, também, o que aconteceria se esses dois estoques estiverem desalinhados (Ex. Estoque de produtos prontos para entrega e Estoque de produtos em produção). Estas simples questões trazem naturalmente uma série de histórias que serão narradas pelos participantes e servirão de insumo para a construção dos ciclos de retroalimentação. A figura 4 mostra um modelo que pode ser muito útil, pois, tratando-se de um problema comum, os laços de feedback podem ser compreendidos naturalmente, sem explicação. Além disso, esse diagrama mostra os dilemas enfrentados pelas prefeituras das grandes cidades. Se forem construídas mais casas, isso atrairá ainda mais imigrantes, o que diminuirá os recursos da prefeitura para construir novas casas. Se as famílias são deixadas nas ruas, aumenta os problemas sociais e a necessidade de investir verbas para minimizá-los, o que diminui os recursos da prefeitura.

Os sem-teto e o dilema das prefeituras das grandes cidades. As setas em vermelho indicam feedbacks negativos.




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Estrutura de arquétipos – As estruturas de arquétipos são diagramas de ciclos causais, demonstrando padrões de comportamento organizacionais que podem ser de muita utilidade na construção das estruturas de feedback. Construídos por Peter Senge e publicados em seu livro A 5ª Disciplina, serão objeto de estudo no módulo 3 desta Unidade. 10 arquétipos foram construídos por Peter Senge e publicados em seu livro A 5ª Disciplina com ênfase aos feedbacks e defasagens comumente encontrados nas organizações, contudo, não detalham as causalidades entre as variáveis. Segue o resumo de cada arquétipo extraído do livro SENGE, Peter M. A Quinta Disciplina, São Paulo, SP Ed. Best Seller, 1998. 443p:

I - Processo de Equilíbrio com Defasagem

 

Descrição da estrutura: Para concretizar uma meta, as organizações ajustam seu comportamento em resposta a um feedback com defasagem. Se não estiverem conscientes da defasagem, podem realizar mais ações corretivas do que o necessário ou simplesmente desistirem, pois não vêem progresso algum sendo realizado

Sugestão: Em um sistema lento, a agressividade produz instabilidade. Seja paciente ou torne o sistema mais responsivo.

Exemplos:
• Construtores realizam empreendimentos e quando o mercado “desaquece” já existem vários empreendimentos em curso, gerando superabundância.
• Elevados ciclos de produção e estoque devido ao longo tempo de fabricação.
• Altas e baixas inesperadas nas ações.




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II – Limites ao Crescimento

Descrição da estrutura: Um processo produz uma expansão acelerada, retroalimentado pelo feedback positivo. O ritmo de crescimento pode desacelerar, parar ou até entrar em colapso. A desaceleração surge devido à existência de uma condição limitante no sistema: falta de recursos ou uma resposta interna ou externa ao crescimento.

Sugestão: Não force o crescimento para tentar eliminar a fonte de limitação.

Exemplos:

• Um novo empreendimento cresce rapidamente até chegar a um tamanho que requer uma gestão mais profissional.
• O lançamento de um novo produto por uma equipe funciona muito bem até que seu sucesso a faz incorporar um número excessivo de novos membros que não compartilham do mesmo estilo de trabalho.




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III – Transferência de responsabilidade

Descrição da estrutura: Opta-se por resolver o sintoma de um problema com uma ‘solução’ de curto prazo que produz resultados imediatos, aparentemente positivos. Persiste-se em soluções sintomáticas, contudo ficam ineficazes com o tempo. Somente a solução fundamental pode identificar e eliminar a verdadeira causa do problema.

Sugestão: se a defasagem adiar a implementação da solução ideal por um longo período, adote a solução sintomática para ganhar tempo e implementar, posteriormente, a solução fundamental.

Exemplos:


• Vender mais para clientes já existentes, em vez de ampliar a base de clientes.
• Pagamento das contas mediante empréstimos, em vez de praticar disciplina orçamentária.
• Uso de álcool, drogas ou até algo benigno, como prática de exercícios, para aliviar o estresse do trabalho, evitando controlar a carga de trabalho.




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IV – Transferência de responsabilidade para o interventor

Descrição da estrutura: A intervenção tenta melhorar os sintomas óbvios do problema e faz isso com tanto sucesso que as pessoas dentro do sistema nunca aprendem a lidar com os problemas por si próprias.

Sugestão: “Não dê o peixe, ensine as pessoas a pescar”. Caso necessite de interventores, estes devem ser estritamente limitados a uma única intervenção.

Exemplos:

• Depender de terceiros em vez de treinar seu próprio pessoal.
• Ajuda governamental estimula dependência dos cidadãos.
• Programas habitacionais atraem pessoas carentes para a cidade.
• Auxílio alimentar reduz a taxa de mortalidade e aumenta o crescimento educacional.




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V – Metas Declinantes

Descrição da estrutura: Um tipo de estrutura de transferência de responsabilidade na qual a solução de curto prazo envolve permitir o declínio de uma meta fundamental de longo prazo.

Sugestão: “Mantenha a visão”.

Exemplos:

• Pessoas bem sucedidas que reduzem as expectativas para si mesmas e aos poucos se tornam menos bem sucedidas.
• Empresas que optam por reduzir seus padrões de qualidade em vez de investir no desenvolvimento de novos processos para produzir com mais qualidade (e provavelmente custos menores).




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VI - Escalada

Descrição da estrutura: Duas organizações vêem sua prosperidade como dependente de uma vantagem relativa sobre a outra. Toda vez que um lado sai na frente, o outro fica mais ameaçado e age de forma mais agressiva para restabelecer a vantagem. Conseqüentemente, o primeiro reage com mais agressividade.

Sugestão: “Procure o ganha-ganha”, buscando soluções que amenizem a ameaça ao concorrente.

Exemplos:


• Guerra de anúncios: Intelig x Embratel.
• Dissolução de um casamento.
• A luta de dirigentes para se fazerem ouvir pelo presidente da empresa.
• Expectativas de aumento orçamentário induzem a um determinado grupo aumentar suas estimativas e geram o mesmo reflexo do outro grupo, cada um para obter uma “fatia maior do bolo”.




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VII – Sucesso para os bem-sucedidos

Descrição da estrutura: Duas atividades competem por apoio ou por recursos limitados. Quanto mais bem sucedida uma delas se torna, mais apoio ganha, deixando a outra com recursos reduzidos.

Sugestão: procure o objetivo geral para uma conquista equilibrada das duas atividades.

Exemplos:

• Dois produtos competem por recursos financeiros limitados. Um é sucesso imediato no mercado e recebe mais investimentos em detrimento do outro.
• Um aluno tímido tem um mau começo na escola, é rotulado de lento e recebe cada vez menos estímulo e atenção do que seus colegas mais extrovertidos.




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VIII – Tragédia dos comuns

Descrição da estrutura: Indivíduos utilizam um recurso comumente disponível, porém limitado, exclusivamente com base nas suas necessidades individuais. Inicialmente, eles são recompensados por usá-lo; acabam obtendo reforços cada vez menores, o que faz intensificar seus esforços. Por fim, o recurso acaba sendo plenamente utilizado.

Sugestão: crie formas de regulamentar a distribuição de recursos, preferencialmente, com a participação dos interessados.

Exemplos:

• Esgotar um recurso natural por empresas concorrentes que o exploram.
• Exaustão de uma equipe de secretárias compartilhadas.
• Uma cadeia de varejo, altamente bem sucedida, estabelece parcerias com fabricantes para comercialização de elevados volumes a preços reduzidos, que acarretam em redução no lucro dos fabricantes.




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IX - Consertos que estragam

Descrição da estrutura: Uma solução eficaz no curto prazo tem conseqüências imprevistas a longo prazo, e que talvez exijam uma utilização ainda maior da mesma solução.

Sugestão: mantenho o foco no longo prazo. Esqueça as soluções no curto prazo, se possível, ou utilize-as apenas para ganhar tempo enquanto trabalha em uma solução de longo prazo.

Exemplos:

• Obter empréstimos para pagar juros, garantindo que pagarão juros adicionais do empréstimo adicional.
• Redução no cronograma de manutenções para redução dos custos, acarretando em paralisações de máquinas e maiores custos, que pressionam a redução de custos.




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X – Crescimento e sub-investimento

Descrição da estrutura: Para um determinado patamar de produção, o investimento deve ser agressivo e rápido, ou jamais será feito. Às vezes as empresas reduzem metas para justificar o sub-investimento. Metas menores levam a expectativas menores resultantes do sub-investimento.
Sugestão: para uma expectativa de crescimento, desenvolva a capacidade antes da demanda (criação de demanda)

Exemplos:
• Empresas que deixam a qualidade do serviço ou do produto cair, culpando os concorrentes e os gerentes de vendas por não se esforçarem para manter vendas.
• Pessoas com visões grandiosas que nunca avaliam realisticamente o tempo e o esforço necessários para concretizar sua visão.

Considerações finais

• O comportamento observado de cada arquétipo, sem ações corretivas, determina o insucesso nas organizações
• É importante certificar que os comportamentos podem ocorrer simultaneamente nas organizações, exigindo aos tomadores de decisão monitorar as variáveis que deflagram os feedbacks. Uma vez instalado um feedback que compromete a sustentabilidade da organização, seguramente, será necessário um elevado montante de recursos físicos e emocionais para revertê-lo.




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Estrutura de arquétipos – As estruturas de arquétipos são diagramas de ciclos causais, demonstrando padrões de comportamento organizacionais que podem ser de muita utilidade na construção das estruturas de feedback.

Estimando os dados – Se o encontro de dois dias estiver indo bem, perto do fim do primeiro dia haverá, provavelmente, uma boa parte da estrutura detalhada no quadro para começar a construir um modelo formal da simulação. Usando um pincel de quadro branco, devem-se listar os estoques, os fluxos e os parâmetros principais do diagrama com que o grupo tem trabalhado. Essa lista é transferida para o computador, impressa, copiada e distribuída a todos os participantes. Usando uma técnica nominal do grupo, solicita-se que os participantes preencham os valores numéricos para cada variável do modelo. Todas as estimativas de todos os participantes são coletadas e mostradas ao grupo. Na prática, é comum um consenso apertado nos valores numéricos para aproximadamente três quartos das variáveis sob discussão. Para o outro quarto, o grupo pode discordar por uma ordem de valor ou mais. Ou os participantes não têm uma definição comum para a variável listada ou há uma confusão conceitual, ou concordam com as variáveis escolhidas, mas não têm uma idéia boa de como mensurá-las. Esse exercício de estimar os valores das variáveis pode ser feito enquanto o modelador desenha o modelo no software. Os dados são utilizados para iniciar os estoques e outros parâmetros do modelo.

Refinamento do modelo – Após ser construída a primeira versão do modelo no computador, devem ser distribuídas cópias para cada um dos participantes. O modelo deve ser revisado por pequenos grupos e, posteriormente, possíveis modificações e sugestões devem ser discutidas em plenário.




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Desenvolvendo políticas organizacionais – De acordo com os pesquisadores David F. Andersen e George P. Richardson, a menos que uma sessão de modelagem possa se orientar em direção à implementação de novas políticas organizacionais e novos insights sobre a organização, as pessoas terão perdido o seu tempo.

O facilitador deve pedir ao grupo para, a partir de todo o trabalho realizado, sugerir novas políticas organizacionais para sanar o problema estudado. Mais uma vez, este trabalho terá melhores resultados se for aplicado a pequenos grupos e depois discutido em plenária.




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Depois de geradas uma série de políticas organizacionais as mesmas devem ser discutidas e priorizadas. Para isso, deve-se construir uma matriz colocando no alto das colunas os nomes das variáveis chave identificados no modelo. Nas linhas, devem ser listadas as políticas organizacionais levantadas pelo grupo. Essa atividade tanto pode ser realizada no quadro branco como em planilhas a serem distribuídas para os participantes, que poderão trabalhar individualmente ou em pequenos grupos.

A tarefa agora é decidir se uma determinada política organizacional (listada nas linhas), se implementada, proporcionará um grande crescimento nas variáveis listadas nas colunas. Caso isso ocorra, marcar a célula da variável com a política com um sinal de “+ +”. Se a variável vai crescer pouco, marcar um “+”. Se não vai haver impacto sobre a variável, marcar com um “0”. Da mesma forma, caso a variável venha a diminuir muito, marcar com “– –”, diminuir pouco com “–” e se não houver impacto, marcar com um “0”.

Os resultados desse trabalho devem ser consolidados no quadro branco. Se o grupo como um todo não concordar com a direção ou magnitude do impacto, uma discussão deve ser iniciada para resolver as diferenças. As decisões resultantes contribuirão significativamente para o trabalho desenvolvido.




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Terminando com um clima favorável – Uma abordagem potencialmente poderosa para o encerramento de uma sessão de modelagem é fazer uma revisão do modelo desenvolvido, apresentando setor por setor, enfatizando os detalhes no sentido de levar aos participantes informações particionadas para que os mesmos construam o significado e o conhecimento sobre o modelo.




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Resumo

Estudos relacionados ao impacto dos modelos computadorizados nas políticas organizacionais revelam dois fatos: esse impacto é conceitual, mais do que instrumental; grande parte da aprendizagem ocorre no desenvolvimento do modelo, mais do que quando o modelo é terminado.

Embora a extensa experiência obtida na área de modelagem como aprendizagem, construir modelos com grupos de clientes é mais uma arte do que ciência. O planejamento de uma sessão de modelagem deve ser criterioso e cada fase deve ser detalhada. O próprio desenvolvimento do trabalho pode produzir momentos de grande criatividade como também de distrações improdutivas.

O gatekeeper desempenha papel importante na organização e ajuda a selecionar as pessoas apropriadas a participar dos encontros, estrutura os conceitos iniciais, por meio de discussões prévias, tarefa essencial no planejamento e sucesso dos encontros.

É importante a clareza acerca dos produtos a serem obtidos nas sessões de modelagem. Os produtos finais podem ser um diagrama de ciclos causais da estrutura de feedbacks do sistema (diagrama qualitativo) ou mesmo um modelo simulável (diagrama qualitativo/quantitativo), além de políticas organizacionais a serem implementadas. É aconselhável construir um modelo para simulação por meio dos conhecimentos explicitados durante o tempo disponível.

Em relação à sala, cadeiras devem ser soltas permitindo a reunião de grupos de três ou quatro pessoas sendo muito úteis pequenas mesas. Os quadros brancos servem para desenhar as idéias e modelos, não sendo muito produtivo desenhar diretamente nos aplicativos de simulação (Vensim, Powersim, iThink, etc.). O projetor é utilizado nas apresentações e construção do modelo em seu formato final.

O grupo de modelagem prescinde de dois a cinco profissionais: o facilitador, o modelador, um profissional de mapeamento de processos, um secretário e o gatekeeper.

Tarefas de pensamentos divergentes são bem desenvolvidas por técnicas nominais de grupo. É interessante utilizar técnicas que requeiram dos indivíduos ou pequenos grupos seus conhecimentos na elaboração de uma lista de idéias ou conceitos. Depois de colher, analisar e classificar as idéias, o grupo estabelecerá um “pensamento convergente”, por meio do desenho do modelo, sua descrição ou a criação de políticas organizacionais para lidar com um dado problema. A avaliação e classificação das idéias surgidas é tarefa convergente, muitas vezes executada por simples votação.

O planejamento do dia de trabalho é feito por meio de blocos de duração variada. Depois de realizado, o planejamento toma a forma de uma agenda pública a ser distribuída aos participantes pelo menos 2 dias de antes. O planejamento deve ser particionado em atividades, para manter o grupo alerta e concentrado. Uma única tarefa pode tornar o dia cansativo e entediante, e o grupo perde a produtividade.

O grupo deve ser motivado a se concentrar em uma atividade nos primeiros 30 minutos, explicitando-se nesse tempo o que é o processo de modelagem e simulação e o que o grupo irá fazer. A utilização de modelos conceituais pode facilitar essa tarefa inicial

Embora pequeno o número de símbolos utilizados na construção de modelos, o nível de complexidade surgido no desenho de um diagrama pode ser um problema. Se o quadro branco ou o flip-chart apresentarem-se muito densos de imagens e símbolos de um diagrama complexo, o modelador deve disponibilizar nova versão, simplificada.

É importante a breve descrição ou o sumário dos trabalhos e decisões tomadas pelo grupo. O encontro pode não ser bem sucedido se alguém não for capaz de resumir os trabalhos realizados e expor de uma maneira digerível para todos.

O desenho da estrutura de um sistema em estudo é a tarefa principal do grupo. Inicia-se com uma estrutura simples, adicionando-se, sucessivamente, camadas mais complexas. O trabalho pode ser iniciado pela construção de Diagramas de Ciclos Causais ou a partir da representação do modelo que será o produto final, ou seja, um Diagrama de Fluxos e Estoques.

É muito difícil identificar, desenhar as estruturas de feedback e levar o grupo a pensar sobre os enlaces causais que dão forma aos ciclos de retroalimentação que controlam o sistema. Duas técnicas têm tido sucesso na identificação direta dos ciclos de retroalimentação: a técnica comparativa e a estrutura de arquétipos.

A primeira versão do modelo no computador deve ser distribuída a cada participante, o qual deve ser revisado por pequenos grupos e as possíveis modificações e sugestões discutidas em plenário.

Uma abordagem excelente para encerrar uma sessão de modelagem é a revisão do modelo desenvolvido, enfatizando os detalhes setor por setor, no sentido de levar informações segmentadas para que os próprios participantes construam o significado e o conhecimento sobre o modelo.