Unidade 1 Módulo 1
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Módulo 01 - Definições, visão sistêmica e classificação dos sistemas de produção

1 - A leitura além dos olhos

Como decifrar as mil faces de uma palavra? Você teria a chave que abre a compreensão das palavras e, consequentemente, do texto?

Ler é uma atividade que funciona como se fosse mágica. Você já percebeu que ao ler você transforma letras em significados? Palavras em histórias de vida e conhecimento? O que acontece quando estamos diante de um texto? O que é, afinal, esse ato que chamamos de ler?

A leitura começa com os olhos, mas vai muito além desse ato. A capacidade do ser humano compreender aquilo que lê depende da relação que existe entre os olhos e o cérebro.



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Observe estas letras:

NELCREPREMEDROE

Você as compreende? Elas têm significado para você?
Acreditamos que sua resposta é não, pois isso não faz sentido, não é mesmo?

E agora?

LER E COMPREENDER

São as mesmas letras. A diferença fundamental, no segundo caso, é que elas formam uma expressão que tem significado para quem a vê. Isso mostra que, quanto mais os olhos se apoiam no significado, maior a eficácia da leitura.

Não são os olhos que determinam o que e como vemos e sim o cérebro, que a partir de associações, interpreta o que vemos considerando nossos conhecimentos anteriores ou nosso repertório de informações. Em outras palavras: a gente vê e reconhece o que a gente já sabe.

É preciso considerar que há dois fatores básicos que determinam a leitura: o texto impresso, que é visto pelos olhos, e aquilo está por trás dos olhos de quem lê: os conhecimentos que o leitor já possui, e que possibilitam que ele seja capaz de interpretar e reconhecer o que está lendo.



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Observe o seguinte trecho:


“Com a metafísica se consuma uma reflexão sobre a essência do ente e uma decisão sobre a essência da verdade. A metafísica funda uma época, na medida em que lhe concede o fundamento da sua configuração essencial através de uma interpretação específica do ente e de uma acepção específica da verdade. (...) Reciprocamente, é preciso que o fundamento metafísico possa ser reconhecido nestas manifestações, para que haja uma reflexão apropriada sobre elas.”

Um filósofo consegue compreender esse texto com uma rápida leitura, pois possui conhecimentos sobre o assunto. Um leitor leigo em filosofia não tem o mesmo desempenho. Ele sabe dizer o significado de cada palavra ou expressão, mas não consegue decodificar, compreender a mensagem trazida pelo texto apenas com uma leitura rápida, pois não tem conhecimento anterior sobre o assunto.

E você? Compreendeu o texto?



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Em outra situação, o leitor pode saber muito sobre determinado assunto, mas se vê diante de um texto que não consegue decifrar.

Observe o trecho:

Pensemos naquele mesmo filósofo que entenderia o primeiro texto, no entanto, ele não lê, nem escreve alemão. Mesmo que saiba bastante sobre o assunto tratado, não conseguirá ler o texto, pois não dispõe dos recursos de decodificação necessários à leitura, neste caso, os conhecimentos do idioma alemão.

O mais provável é que você também não tenha conseguido ler o texto. O fato de o texto ser escrito em outra língua condiciona sua leitura a um número restrito de leitores: aqueles que sabem alemão.



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Por isso a leitura é tão mágica para nós. Não é apenas decifrar, ou tentar adivinhar, o sentido de um texto. É ser capaz de atribuir-lhe significações, conseguir relacioná-lo a outros textos significativos, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e, sobretudo, associá-lo à sua experiência, ao seu conhecimento. Essa é a chave.

O conhecimento prévio necessário à leitura não é apenas o conhecimento sobre o assunto tratado pelo texto lido. Você saberia responder quais são esses conhecimentos?



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2 - Objetivos de leitura

A intenção com que lemos um texto, ou seja, os objetivos da leitura são também um elemento norteador da interação entre o conteúdo do texto e o leitor.

Há um objetivo de leitura para cada texto que lemos.

Portanto, são os nossos objetivos que nortearão o modo de leitura. Esta poderá ser feita em mais ou menos tempo, atenção e interação.

Ninguém lê se não vê uma finalidade na leitura. Lemos para saber as notícias do dia, para desfrutar o prazer de uma história, para ampliar nossos conhecimentos, para fazer um bolo, para aprender as regras de um jogo, enfim, lê-se sempre para atender a uma necessidade pessoal.



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Qual é a necessidade pessoal que você está atendendo ao ler este módulo? Com que objetivo você o lê? Se o seu objetivo é estudo, algumas ideias você já deve ter anotado, pois o estudo pede uma leitura atenta.

Marque abaixo as ideias que correspondem ao seu objetivo de leitura, respondendo à questão: Por que estou lendo esse módulo do curso?



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3 - Estratégias de leitura

Qualquer que seja o objetivo da leitura, não se trata simplesmente de decodificar letra por letra, palavra por palavra. Ler é uma atividade que implica compreensão. É só observar a própria leitura para perceber que a decodificação é apenas uma das estratégias usadas. A leitura fluente envolve uma série de outras estratégias.

As estratégias de leitura são recursos que o leitor usa para construir significado enquanto lê e usa esses recursos, mesmo sem se dar conta disso.

Observe a seguinte manchete de jornal:

Quando o leitor lê a manchete para saber apenas o assunto da matéria jornalística, por exemplo, está usando uma estratégia, que permite que ele se atenha aos índices úteis, desprezando aqueles que não são importantes. Ao ler, fazemos isso o tempo todo: nosso cérebro “sabe”, por exemplo, que não precisa se deter na letra ou na palavra, pois ela não é importante para o entendimento do texto.



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Leia a frase:

A le-tur- r-avi-a a -emória e n-s col-ca a pa- do de-conh-cido.

Algumas letras estão faltando, mas ainda assim é possível lê-la.

Veja como é fácil!

Isso mostra que, quando a linguagem não é complicada e o conteúdo não é difícil, é possível compreender o texto mesmo com a ausência de algumas letras, sílabas ou até palavras; a compreensão não fica prejudicada.



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O leitor fluente faz algumas eliminações automaticamente durante a leitura, que, dessa maneira, fica muito mais ágil. Isso se dá também pelo uso da estratégia da seleção, que escolhe o que é e o que não é necessário focalizar.

Se a linguagem não for muito rebuscada e o conteúdo não for muito novo, nem muito difícil, é possível eliminar letras em cada uma das palavras escritas em texto, e até mesmo uma palavra a cada cinco outras, sem que a falta de informações prejudique a compreensão. Além das letras, sílabas e palavras, antecipamos significados.



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Observe a figura a seguir:

Apenas essa imagem permite que o leitor antecipe significados, ou seja, é previsível que encontremos, neste livro, determinados personagens, certas palavras da astronomia e que, certamente, alguma travessura acontecerá. É possível descobrir o que ainda está por vir, com base nas informações explícitas e também em suposições. O gênero, o autor, o título e muitos índices nos informam o que é possível encontrarmos em um texto.

O leitor vai fazendo adivinhações à medida que lê. Elas se baseiam tanto nas pistas dadas pelo próprio texto, como no conhecimento que ele já tem sobre o assunto lido. É uma coisa que não está escrita no texto explicitamente, mas que, mesmo assim, surge na cabeça do leitor.

Agora é a sua vez. Observe, atentamente, a capa do livro e julgue cada item como V (verdadeiro) ou F (falso).











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Você gosta de tiras de humor? Leia o texto abaixo.

Para entender o humor da tira, o leitor necessita de outras informações, que fazem parte do seu conhecimento prévio e que não constam do texto.

No primeiro quadrinho, Helga faz uma pergunta clássica ao espelho. Você se lembra, é claro, em qual história essa pergunta foi feita e por quem, não é? Isso mesmo: na história da Branca de Neve, a madrasta má faz essa pergunta ao espelho.

No segundo quadrinho, o espelho, antes de responder à Helga, faz uma advertência: “Lembre-se de que, se me quebrar, terá sete anos de azar!”

Na história da Branca de Neve, você se lembra o que o espelho respondeu? Ele dá a mesma resposta à madrasta? Não. A resposta dada foi: “A mais linda de todas as mulheres é Branca de Neve.”

Por que, então, o espelho responde à Helga com essa advertência? Na resposta do espelho está o humor da tira. Ele adverte Helga porque não responderá o que ela quer ouvir e sabe que ela pode quebrá-lo por isso. Ou seja: Helga não é a mais linda de todas as mulheres. Espelho esperto, não?



Visite o endereço www.contandohistoria.com/brancadeneve.htm e divirta-se, relendo a história de Branca de Neve.



Há milhares de anos, acreditava-se que a imagem de uma pessoa, seja numa pintura ou mostrada em um reflexo, era parte dela própria, e qualquer coisa que acontecesse com a imagem, sucederia também a ela. Mais adiante, os gregos tinham o costume de ler o futuro a partir da imagem de uma pessoa refletida sobre uma tigela com água. Se o pote quebrasse, era “azar na certa”. Os romanos herdaram esse hábito, acrescentando que a má sorte se estenderia por cerca de sete anos. Quando os espelhos de vidro surgiram, no século XVI em Veneza, na Itália, por um preço suportado apenas pelas pessoas de posses, a superstição ganhou novas dimensões, pois os nobres avisavam a seus serviçais que, se porventura eles quebrassem um, estariam fadados a viver sete anos de mau agouro. Daí em diante, uma série de superstições foram incorporadas ao histórico do espelho.



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A estratégia de ativar os conhecimentos prévios permite ao leitor captar o que não está citado no texto de forma explícita. Lemos, mas não está escrito. São conjecturas baseadas tanto em pistas dadas pelo próprio texto como em conhecimentos que o leitor possui. Às vezes, elas se confirmam e às vezes não; de qualquer forma, não são aleatórias.

Além do significado, conjecturamos também palavras, sílabas ou letras. Boa parte do conteúdo de um texto pode ser antecipada em função do contexto.

O contexto, na verdade, contribui decisivamente para a interpretação do texto e, com frequência, até mesmo para adivinhar a intenção do autor.

Esse controle que o leitor faz de suas previsões também é uma estratégia de leitura, é a verificação. Ela torna possível o controle da eficácia ou não das demais estratégias, permitindo confirmar, ou não, as especulações realizadas. Esse tipo de checagem para confirmar – ou não – a compreensão está ligado à leitura.

Utilizamos todas as estratégias de leitura mais ou menos ao mesmo tempo, sem ter consciência disso. Só nos damos conta do que estamos fazendo se formos analisar com cuidado nosso processo de leitura, como estamos fazendo ao longo desse estudo.



Contexto é a relação entre o texto e a situação em que ele ocorre.



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4 - Aprenda a dar sentido ao que é lido

Espera-se que o leitor atento processe, critique, contradiga ou avalie a informação trazida pelo texto, que dê sentido e significado ao que lê. Para isso, ele deve utilizar-se das estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação.

A título de exemplo, faremos uma simulação de como nós, leitores, recorremos a essas estratégias no processo de construção de sentido. Selecionamos o miniconto intitulado História malcontada, de Carlos Drummond de Andrade, publicado no livro Contos plausíveis.

Nossa atividade de leitores ativos, que interagem com o autor e o texto começa com antecipações e hipóteses construídas com base naquilo que conhecemos sobre:

O título faz parte do texto e, ao nos depararmos com ele, fazemos antecipações, levantando hipóteses, que, durante a leitura, serão confirmadas ou rejeitadas.

Nesse caso, as hipóteses serão reformuladas e, de novo, testadas. A nossa atividade de leitor baseia-se em conhecimentos que guardamos na memória sobre a língua, o mundo ou outros textos e que serão retomados durante a leitura.



Inferência é o processo intelectual de chegar a uma determinada conclusão, a partir de proposições e de sua ligação com informações já conhecidas.



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No título História malcontada, nossa leitura destaca a palavra malcontada e o seu significado. Isso quer dizer que essa história já foi contada, ou seja, já a conhecemos; o que significa que teremos de resgatar conhecimentos que temos acerca de histórias. E também significa que ela não foi contada da forma como se passou. Motivados pelo título, fazemos previsões e prosseguimos na atividade de leitura e produção/construção de sentido:

Esse trecho apresenta-nos uma personagem: Chapeuzinho Vermelho, a qual conhecemos desde crianças. Dessa forma, a previsão que fizemos ao ler o título é confirmada: conhecemos essa história. Os outros personagens, a avozinha e o lobo, confirmam essa previsão. Por outro lado, a leitura suscita uma dúvida: por que, como afirma o título, essa é uma história “malcontada”?



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Nesse trecho, o autor começa a mostrar para o leitor a razão pela qual ele acha que a história é “malcontada”. Nossos conhecimentos sobre a história de Chapeuzinho Vermelho são acionados e, à medida que prosseguimos a leitura, constatamos que, sem eles, não entenderíamos o texto.

Drummond introduz uma informação à história original: Chapeuzinho vencera na escola o campeonato infantil de corrida a pé e esse elemento sustenta a ideia de que ela não poderia ter chegado depois do lobo.



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A seguir novas informações são levadas ao leitor, que, diante do que leu, já antecipa um novo desenvolvimento para a história.

Nossa hipótese estava correta: a versão do autor é outra, mas nós só podemos confirmá-la porque conhecemos a original. Somos surpreendidos pelo fato de que o lobo sente dores, afinal, na história que conhecemos, ele amedronta Chapeuzinho, pois é ágil e forte.

Neste momento, o autor nos situa no tempo e no espaço. O tempo é o começo do século, que pode ser qualquer um, mas sabemos, conforme nossa experiência, que é o século vinte. O espaço: Macaé, cidade do Rio de Janeiro. Temos, então, uma história próxima de nós, no nosso país, no nosso contexto. Nesse trecho somos despertados para o aspecto afetivo da contação de história: Tia Nicota. Todas as crianças tiveram ou têm uma figura carinhosa que lhes contava ou conta histórias.



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De repente, novos acontecimentos nos surpreendem:

É... por essa ninguém esperava: Chapeuzinho se casar com o lobo? Essa hipótese estaria descartada se não antecipássemos que essa história é diferente, que ela descarta a história original, mas resgata elementos de outras histórias. Em muitas histórias desse tipo o casamento entre as personagens é o que espera o leitor: “Casaram-se e foram felizes para sempre”.

Há, também, a ideia de que o lobo seria um príncipe, fato que acontece na maioria das histórias.

Quer dizer, então, que para ler é preciso conhecer muitas histórias ou muitos outros elementos? A resposta é sim, só conseguimos uma efetiva interação com o texto quando dispomos de muitos elementos para estabelecermos essas relações entre o que se lê e o que já se conhece. A avozinha opôs-se ao enlace, por quê? É só nos lembrarmos de que, na maioria das histórias, sempre há um conflito para se chegar ao final feliz.



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As histórias trazem sempre a figura do príncipe como homem ideal. Drummond desconstrói essa imagem ao afirmar que o lobo não era príncipe e, ao contrário do que supúnhamos, Chapeuzinho deixará de ser a menina boa para se transformar numa loba.

Nesse ponto, nós leitores já formulamos inúmeras hipóteses que fogem ao senso comum, pois percebemos que, apesar de conhecermos muitas histórias, essa definitivamente não repete o mesmo enredo. Confirmamos também a antecipação que fizemos no início do texto: o autor trouxe a história para o nosso contexto. Isso nos aproxima da narrativa e passamos a ver de forma diferente a ambientação das histórias, ou seja, elas podem acontecer em qualquer lugar.

Leia agora o texto completo:



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Resumo

Ler é uma atividade complexa que envolve operações mentais sofisticadas, que exige do leitor mais conhecimentos do que a simples decodificação de letras e palavras. Ler não é apenas decifrar ou tentar adivinhar o sentido de um texto. É ser capaz de atribuir-lhe significações, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e, sobretudo, associá-lo a sua experiência, ao seu conhecimento.

As estratégias de leitura são recursos que o leitor usa para construir significado enquanto lê e usa esses recursos mesmo sem se dar conta disso. O leitor se utiliza das seguintes estratégias quando lê: seleção, ou seja, escolhe o que é e o que não é necessário focalizar; antecipação, na qual o leitor vai fazendo adivinhações à medida que lê; conjecturas, ou seja, ativar os conhecimentos prévios permite ao leitor captar o que não está citado no texto de forma explícita, e por fim a verificação, que é o controle que o leitor faz de suas previsões.

A intensidade e a qualidade da interação autor/leitor/texto serão estabelecidas de acordo com os conhecimentos do leitor. Na atividade de leitura, ativamos conhecimentos prévios que são adquiridos por meio de vivências, valores, lugar social que ocupamos, relações com o outro, conhecimentos textuais e a visão de mundo que construímos a partir das nossas experiências de leitura.



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1 - Conceituando texto

A palavra texto provém do latim textum, que significa tecido, entrelaçamento.

Vemos, dessa forma, que já na origem da palavra encontramos a ideia de que o texto resulta de um trabalho de tecer, de entrelaçar várias partes menores a fim de se obter um todo inter-relacionado. Pode-se afirmar, portanto que a textura ou tessitura de um texto é a rede de relações que garantem sua coesão, sua unidade. O texto é a concretização dos discursos, das falas, proferidas nas mais variadas situações cotidianas.



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Ao nos comunicarmos, a cada ato de interação verbal, o que fazemos nada mais é que produzir textos. O texto pode apresentar-se de várias maneiras, ou em variados formatos, tudo dependerá das nossas intenções discursivas, de quem seja o nosso interlocutor (pessoa com quem nos comunicamos), do nosso contexto social e, enfim, da situação comunicativa na qual estamos inseridos.

Para que haja a concretização de uma situação comunicativa é preciso uma interação com o outro que resulte na construção de significados. O leitor, ao ler e produzir textos, tira dessa relação não apenas um sentido, mas também um significado.

Na nossa vida escolar, aprendemos e trabalhamos sempre com textos escritos, especialmente os textos literários. Os textos do dia a dia, orais ou visuais são pouco valorizados, mas, se o texto é concretização das diferentes e variadas situações comunicacionais, precisamos dar atenção a qualquer manifestação que tenha unidade de sentido, cujos elementos se entrelacem. As placas de trânsito são um bom exemplo disso. Observe:

Note que, apesar de não ter qualquer palavra escrita nas placas, os símbolos falam por si, emitem significados – pelo menos para aqueles que possuem carteira de habilitação - portanto, podem ser considerados textos.



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O texto, portanto, pode ser:

  • oral - conversas telefônicas, notícias de telejornal ou de rádio etc.

visual - pinturas, desenhos etc.

escrito - cartas, e-mails, romances, receitas, etc.

multimodal - algumas propagandas, edição de entrevistas nos jornais e revistas, quadrinhos, etc.



Multimodal
é o texto construído com várias linguagens: imagens, palavras, cores, sons, gráficos, etc. O sentido dos textos multimodais é construído a partir da leitura de todos os seus elementos (palavras, imagens, sons, etc.) em um único texto.




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O que determina o tamanho de um texto é a sua função, ou seja, por que e para que ele foi produzido. Sendo assim, uma palavra pode ser um texto. O contexto de uma biblioteca, por exemplo, permite-nos afirmar que a inscrição “Silêncio!” é um texto. E por quê? Porque entendemos, pelo contexto, que naquele ambiente existem pessoas lendo, estudando, pesquisando e, para tanto, todas as pessoas nele presentes devem compartilhar de um respeito mútuo. Nesse caso, “Silêncio!” nos quer dizer tudo isso e, portanto, “Silêncio!” é um texto, e não uma simples palavra.

Em alguns casos, há também as figuras, convencionadas por nossa sociedade, que têm o sentido da palavra. Se nos deparamos com a figura acima, na biblioteca, sabemos exatamente o que significa. Ela é também um texto.

Além dessas diferenças, na linguagem também ocorrem formas diferentes de expressão, o que chamamos de linguagem formal e linguagem informal.

Entretanto, é importante lembrar que não existe um padrão de certo e errado, mas a linguagem deve ser adaptada de acordo com a situação e o tipo de mensagem ou texto. E há também graus de formalidade para o uso da linguagem, a qual poderá conter expressões e termos técnicos de acordo com o contexto e as necessidades de comunicação.



Na linguagem formal usamos o padrão formal de Língua, ou seja, a linguagem que se ensina na Gramática, o Português clássico. É usada em situações em que é importante ater-se à forma culta.

E a linguagem informal, ou coloquial, é aquela usada em situações que não requerem tanto rigor, como nas conversas íntimas, com amigos e familiares.





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2 - Gêneros e tipos textuais

No ato de interação, os textos se realizam por meio de diversos gêneros do discurso ou gêneros textuais, e cada gênero existe para atender às diferentes necessidades de comunicação. Todo gênero sempre deve estar de acordo com o contexto em que atuamos na condição de produtores de texto.

A leitura de um jornal é uma situação cotidiana. Muitas pessoas, no entanto, ao lê-lo, não têm consciência de quantos gêneros textuais há dentro dele: anúncios, editorial, reportagem, carta, artigo, notícia, obituário, crítica literária, programação cultural, resenhas de livros e filmes, receitas, poemas etc. Portanto, gênero discursivo ou textual é a forma que um texto assume.



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Agora, observe atentamente as figuras a seguir. São capas de livros e revistas. O que será que eles “escondem” em seu interior? Quais gêneros textuais encontraremos neles? Essas respostas são fáceis. Basta lembrar-se de que a própria imagem, por si, já permite que o leitor antecipe significados. É possível prever o que ainda está por vir, com base em informações explícitas e em suposições.

Escolha uma, dentre as capas abaixo, e liste as possibilidades de gêneros textuais que seriam encontrados ao serem abertos e lidos.



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Os gêneros textuais existem em quantidade relativa ao número de situações em que atuamos na interação social, ou seja, os textos variam para cada situação ou contexto em que são produzidos.

Assim como ocorre com os textos, os gêneros discursivos também podem ser orais, escritos, visuais ou multimodais. Todo gênero tem uma forma linguística, uma estrutura e um vocabulário próprios, ao mesmo tempo em que é uma ferramenta usada em uma situação de comunicação. Sem essas formas estabelecidas, a comunicação seria muito complicada. Se você não soubesse como é o gênero carta familiar, como poderia escrever cartas aos seus parentes e amigos?

Outra noção importante é a de tipos textuais, que são sequências linguísticas que fazem parte da estrutura de qualquer gênero do discurso. Diferentemente dos gêneros, os tipos textuais existem em número bastante reduzido, são eles: a narração, a descrição, a argumentação, a injunção.



A narração consiste em arranjar uma sequência de fatos, na qual os personagens se movimentam num determinado espaço à medida que o tempo passa.
O texto narrativo baseia-se na ação que envolve personagens, tempo, espaço e conflito. Seus elementos são: narrador, enredo, personagens, espaço e tempo.

Exemplo: “Toda a gente tinha achado estranha a maneira como o Capitão Rodrigo Cambará entrara na vida de Santa Fé. Um dia chegou a cavalo, vindo ninguém sabia de onde, com o chapéu de barbicacho puxado para a nuca, a bela cabeça de macho altivamente erguida e aquele seu olhar de gavião que irritava e ao mesmo tempo fascinava as pessoas. Devia andar lá pelo meio da casa dos trinta, montava num alazão, trazia bombachas claras, botas com chilenas de prata e o busto musculoso apertado num dólmã militar azul, com gola vermelha e botões de metal.” (Érico Veríssimo. Um certo capitão Rodrigo)




A descrição se caracteriza por ser o retrato de pessoas, objetos ou cenas. A descrição, entretanto, não se resume a uma enumeração pura e simples. É essencial revelar também traços distintivos, ou seja, aquilo que distingue o objeto descrito dos demais. Dificilmente você encontrará um texto exclusivamente descrito (isso ocorre em catálogos, manuais e demais textos instrucionais). O mais comum é haver trechos descritivos inseridos em textos narrativos e dissertativos. Em romances, por exemplo, que são textos narrativos por excelência, você pode perceber várias passagens descritivas, tanto de personagens como de ambientes.

Exemplo: "Ao lado do meu prédio construíram um enorme edifício de apartamentos. Onde antes eram cinco românticas casinhas geminadas, hoje instalaram-se mais de 20 andares. Da minha sala vejo a varandas (estilo mediterrâneo) do novo monstro. Devem distar uns 30 metros, não mais. E foi numa dessas varandas que o fato se deu." (Mário Prata. 100 Crônicas. São Paulo, Cartaz Editorial, 1997)




A argumentação é um recurso que tem como propósito convencer alguém, para que esse tenha a opinião ou o comportamento alterado.

Sempre que argumentamos, temos o intuito de convencer alguém a pensar como nós.

No momento da construção textual, os argumentos são essenciais, esses serão as provas que apresentaremos, com o propósito de defender nossa ideia e convencer o leitor de que essa é a correta.

Exemplo: “É difícil, atualmente, viver nos centros urbanos. Eles não proporcionam um padrão de vida adequado à maioria de seus habitantes. Essas são algumas das afirmações ouvidas com maior frequência a respeito dos problemas que envolvem a população de uma metrópole.”





A injunção se caracteriza por ser um texto que indica como realizar uma ação; que aconselha. É também utilizado para predizer acontecimento e comportamentos. Utiliza linguagem objetiva e simples.

Exemplo: Antes de você partir para a violência, pare e pense, com violência você vai sair mal falado e pode até acabar na cadeia. A violência não é o melhor caminho para você seguir. Pense nisso!




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Leia o texto a seguir, do escritor e Jornalista Affonso Romano de Sant’Anna.


“Melhor que teorizar sobre o prazer de ler é narrar fatos, casos concretos de vidas que se transformaram através da leitura.

São algumas estórias que recolhi não apenas em minha atividade de escritor-leitor, mas, sobretudo, vivências de quando na presidência da Fundação Biblioteca Nacional dirigíamos um programa destinado a levar o país a ler.

Levar o país a ler não só para agregar um novo prazer à vida do cidadão, mas comprovar que através da leitura podia-se melhorar individualmente a vida de cada pessoa e até mesmo aumentar a produtividade no seu trabalho ou atividade.

Estatísticas feitas tanto na Europa quanto em São Paulo demonstraram que a produtividade dos trabalhadores aumentava quando eles desenvolviam sua capacidade de leitura dos textos e de leitura da realidade. Sabendo ler, se acidentavam menos no trabalho. Sabendo ler, cuidavam melhor de sua saúde e defendiam melhor seus interesses. Sabendo ler, potencializavam seu imaginário.

A questão básica em torno da leitura, uma vez resolvida a questão do analfabetismo é resolver um outro tipo de analfabetismo chamado de "analfabetismo funcional”. Ou seja, o indivíduo consegue ler, mas pouco aprende do que lê.”

Você saberia responder a que gênero textual pertence esse texto? Em que situação foi produzido? Qual a sua função? Que tipo textual predomina na sua estrutura?

Lembre-se de que a leitura depende do texto impresso, que os olhos veem, dos conhecimentos prévios do leitor, do que se sabe sobre a organização do texto, sobre o autor, enfim, ela depende de recolhermos tudo o que pudermos para dar significado ao texto.



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3 - A relação texto e contexto

Leia, atentamente, os textos abaixo e procure colocar-se no lugar daquele que produz ou recebe o texto. Identifique a situação em que eles foram produzidos, relacionando-os com a pessoa para a qual foram escritos. Para isso, arraste os círculos coloridos para o espaço adequado.



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O sentido de um texto não existe até que o leitor interaja com ele, ou seja, o sentido é construído na interação sujeito/texto. Dessa forma, na e para a produção de sentido é necessário levar em conta o contexto. Mas o que significa considerar o contexto no processo de leitura e produção de sentido? Para responder a essa pergunta, observe o texto a seguir.

Na leitura e produção de sentido do texto, o leitor deve considerar:

• todas as informações escritas e visuais: palavras, cores, imagens;
• o gênero textual charge e sua função;
• o título e a situação na qual se insere;
• o meio no qual o texto é veiculado.


O termo charge é proveniente do francês “charger” (carregar, exagerar). Sendo fundamentalmente uma espécie de crônica humorística, a charge tem o caráter de crítica, provocando o hilário, cujo efeito é conseguido por meio do exagero. Ela se caracteriza por ser um texto visual humorístico e opinativo, que critica um personagem ou fato específico.




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O texto que analisamos pertence ao gênero charge, cujo objetivo é a crítica humorística de um fato ou acontecimento específico.

Outro elemento bastante importante para a leitura desse texto é o título, o qual nos remete a outro gênero que conhecemos, que é o jogo dos erros. Normalmente, esse tipo de jogo é encontrado em jornais e revistas e são classificados como passatempo.

A pergunta “Quantos erros existem na imagem abaixo?” conduz o leitor a avaliar a imagem e supor que realmente existem erros: um urso polar numa região desértica, com sol escaldante. No entanto, a resposta que aparece no canto inferior da figura: “Resposta: Nenhum” – que, apesar de estar escrita em ordem inversa ao que se lê, permite uma leitura rápida e eficiente –, leva o leitor a rever o texto e, com base em seus conhecimentos prévios, reformular sua leitura. É sabido que o planeta está sofrendo com o aumento de temperatura. O aquecimento global é um fato. Com base nisso, é possível aceitar que, por causa das altas temperaturas no planeta, a situação retratada no texto se concretize.

A informação sobre o meio no qual o texto foi veiculado complementa a leitura e a produção de sentido: o site www.humortadela.com.br. Sabemos que essa inscrição é um endereço na internet e o jogo que se faz com as palavras humor e mortadela, misturando as duas, remete-nos ao que é engraçado e muito consumido.

Todos esses conhecimentos constituem diferentes tipos de contextos, ou seja, para que os significados do texto se tornem claros, é preciso levar em conta, tanto na fala como na escrita, o uso de inúmeros recursos, muito além das palavras e imagens, que compõem o texto e as experiências que o leitor tem.





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4 - Os elementos da comunicação

O texto deve ser entendido como unidade comunicativa e significativa. Todo ato de comunicação pressupõe elementos. São os seguintes elementos que compõem o ato da comunicação.

Assim, quando você usa a língua portuguesa (código), para escrever uma mensagem sobre uma situação (contexto), usando como meio (canal) o texto, está se posicionando como emissor (escritor). Quem lê seu texto é o receptor.



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Módulo 01 - Definições, visão sistêmica e classificação dos sistemas de produção

Quando lemos, realizamos uma atividade de produção de sentidos e significados que é feita com base nos elementos linguísticos presentes no texto e na sua organização. Essa atividade requer a mobilização de vários conhecimentos.

Tanto na fala como na escrita, os produtores de texto usam inúmeros recursos, muito além das simples palavras que compõem as estruturas. Dessa forma, a produção de sentido se faz à medida que o leitor considera aspectos contextuais que dizem respeito ao conhecimento da língua, do mundo, da situação comunicativa etc.

Ao entrarmos em interação (ato comunicativo), trazemos, cada um a seu modo, uma bagagem de conhecimentos que, por si só, é um contexto. No decorrer dessa interação, esse contexto é alterado, ampliado e nos vemos obrigados a nos ajustarmos aos novos contextos. É o que acontece sempre que lemos um livro: aprendemos algo novo, ainda que seja uma única palavra da qual não tínhamos conhecimento antes.

Imagine uma situação, que acontece com muita frequência. Suponha que você tenha nascido numa pequena e pacata cidade do sertão da Bahia. Com um sotaque peculiar, hábitos e costumes, vocabulário etc., muda-se para o centro da cidade de Porto Alegre. Além da necessidade de habituar-se ao clima frio da cidade, você também deverá se acostumar ao novo vocabulário, à alimentação, aos hábitos e demais costumes próprios da região. É possível que, com alguns anos ou até meses, você modifique o seu sotaque, adquira novos hábitos como, por exemplo, tomar chimarrão (uma bebida típica da região). Tudo isso terá acontecido sem que você tenha esquecido sua terra natal e suas características.



Os elementos linguísticos são todos os componentes necessários para a elaboração de frases corretas e interessantes. Sua finalidade é tornar compreensível o que é ouvido ou lido. Para que um texto tenha coerência, não basta que ele trate somente de um assunto. É preciso também que os seus parágrafos estejam relacionados e não apresentem contradições. Finalmente, ele deve oferecer ao leitor ou ao ouvinte uma mensagem completa, superior à simples reunião de orações e períodos.



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Frase, Oração e Período

Toda palavra ou conjunto de palavras que, em uma situação de comunicação, transmite uma mensagem completa é considerado uma frase.

A frase pode ter verbo ou não. Caso não tenha verbo é considerada uma frase nominal. Exemplo: Socorro!

Se tiver verbo, é chamada de frase verbal ou oração.
Exemplo: Ajudem-no!

A oração é o enunciado organizado em torno de um verbo. A principal característica da oração não é o sentido completo (ainda que possa ter), mas sim o verbo:

Ele estuda muito. (Uma oração)
Ele quer que sejamos felizes. (Duas orações)

Período é todo e qualquer enunciado de sentido completo, terminado por pausa gráfica forte e que possui pelo menos uma oração. O período pode ser:

1. Simples - o que só possui uma oração:
Sentíamos o perfume das flores.

2. Composto - o que possui mais de uma oração:
Alguns cantavam e outros dançavam.
Quando ela chegou, não nos disse se tivera êxito.



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Vamos ler, juntos, o texto abaixo para ficar bem claro o que é contexto.


Conversa de mãe e filha

— Manhê, eu vou me casar.
— Ah? O que foi? Agora não, Anabela. Não está vendo que eu estou no telefone?
— Por favor, por favoooooor, me faz um lindo vestido de noiva, urgente?
— Pois é, Carol. A Tati disse que comprava e no final mudou de ideia. Foi tudo culpa da...
— Mãe, presta atenção! O noivo já foi escolhido e a mãe dele já está fazendo a roupa. Com gravata e tudo!
— Só um minutinho, Carol. Vestido de... casar?! O que é isso, menina, você só tem dez anos? Alô, Carol?
— Me ouve, mãe! Os meus amigos também já foram convidados! E todos já confirmaram presença.
— Carol, tenho que desligar. Você está louca, Anabela? Vou já telefonar para o seu pai.
— Boa! Diz para ele que depois vai ter a maior festança. Ele precisa providenciar pipoca, bolo de aipim, pé de moleque, canjica, curau, milho na brasa, guaraná, quentão e, se puder, churrasco no espeto e cuscuz. E diz para ele não esquecer: quero fogueira e muito rojão pra soltar na hora do: "Sim, eu aceito". Mãe? Mãe? Manhêêê!!! Caiu pra trás!
Vinte minutos depois.
— Acorda, mãe... Desculpa, eu me enganei, a escola vai providenciar os comes e bebes. O papai não vai ter que pagar nada, mãe, acoooooorda. Ô vida! Que noiva sofre, eu já sabia. Mas até noiva de quadrilha?!

BRAS, Tereza Yamashita; BRAS, Luiz. Folha de S.Paulo, 21 maio 2005. Folhinha, p. F8.

O diálogo entre mãe e filha nos mostra a contextualização de cada uma foi diferente a respeito de uma mesma situação. A mãe contextualizou a fala da filha de acordo com sua experiência de casamento. A filha, por sua vez, havia contextualizado sua fala segundo um modelo de festa junina. Tais contextualizações estão claras nos elementos linguísticos utilizados (vestido de noiva, noivo, convidados etc.), que usamos para construir sentido com base no contexto pressuposto pela mãe. No entanto, “desconfiamos” que o sentido é outro a partir da descrição da filha do que deve compor a festa (pipoca, canjica, quentão, fogueira etc). É o nosso conhecimento de mundo que nos diz que esses elementos são comuns a uma festa junina e não a um casamento tradicional.

O texto nos ofereceu pistas para mudarmos o sentido e nos situarmos em outro contexto. Caracteriza-se, dessa forma, a participação ativa do leitor na construção do sentido, a partir de relações e elementos que são decorrentes dos conhecimentos que ele possui. O contexto é, portanto, um conjunto de suposições, fundadas nos saberes dos interlocutores, mobilizadas para a leitura e interpretação de um texto.



Interlocutor é a pessoa com quem se fala, no processo de comunicação entre indivíduos. É o destinatário de uma mensagem. Em situação discursiva, dizemos que todos os indivíduos que tomam a palavra para se pronunciarem ou participarem numa conversa ou diálogo são interlocutores. Pode também representar o indivíduo que fala em nome de um grupo por quem foi nomeado interlocutor.



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Resumo

A textura ou tessitura de um texto é a rede de relações que garantem sua coesão, sua unidade. O texto é a concretização dos discursos, das falas, proferidas nas mais variadas situações cotidianas.

Ao nos comunicarmos, a cada ato de interação verbal, produzimos textos. O texto pode apresentar-se de várias maneiras, ou em variados formatos: tudo dependerá das nossas intenções discursivas, de quem seja o nosso interlocutor, do nosso contexto social e, enfim, da situação comunicativa na qual estamos inseridos. O leitor ao ler e produzir textos tira dessa relação não apenas um sentido, mas também um significado.

O texto pode ser: oral (conversas telefônicas, notícias de telejornal ou de rádio etc.); escrito (cartas, e-mails, romances, receitas, etc.) visual (pinturas, desenhos etc.) e multimodais (algumas propagandas, edição de entrevistas nos jornais e revistas, quadrinhos, etc.). O sentido dos textos multimodais é construído a partir da leitura de todos os seus elementos (palavras, imagens, sons, etc.).

Tipos textuais são sequências linguísticas que fazem parte da estrutura de qualquer gênero do discurso. Diferentemente dos gêneros, os tipos textuais existem em número bastante reduzido, são eles: a narração, a descrição, a argumentação, a injunção.

Os elementos que compõem o ato da comunicação são: Emissor, Receptor, Mensagem, Canal, Código e Contexto.

Tanto na fala como na escrita, os produtores de textos usam inúmeros recursos, muito além das simples palavras que compõem as estruturas. Dessa forma, a produção de sentido realiza-se à medida que o leitor considera o contexto, que é o conhecimento da língua, do mundo, da situação comunicativa etc.