| Unidade 2 | Módulo 1 | Tela 1 |
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| 1 - Lendo nas entrelinhas Você lê uma receita de bolo da mesma forma que lê um romance? Há leitores que somente descobrem que o mocinho é de fato mocinho se essa informação estiver declarada no texto. Por outro lado, o leitor atento consegue distinguir o mocinho do bandido apenas observando as atitudes, a forma de pensar de ambos e outras características expostas ao longo da narrativa. Não devemos ler do mesmo jeito os diferentes tipos de textos. Isso porque a natureza das informações apresentadas e a abordagem dos assuntos variam conforme os objetivos de cada texto, o que exige de nós, leitores atentos, a capacidade de adaptar nossos procedimentos de leitura ao texto a ser analisado.
Ao ler uma receita de bolo, facilmente se percebe que quem escreveu não espera que o leitor faça deduções. Todas as informações necessárias para que o bolo seja feito estão explícitas no texto. No romance, entretanto, muitas vezes o autor expõe as intrigas e alguns acontecimentos do enredo e deixa para o leitor a difícil – mas prazerosa – tarefa de montar o quebra-cabeças da trama e chegar às suas próprias conclusões. Cabe ao leitor imaginar situações, deduzir fatos e fazer suposições sobre os detalhes da trama. Afinal, que graça teria ler um romance em que não há o que ser desvendado? |
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Tela 2 |
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É muito comum o leitor se deparar com textos que não registram todas as informações necessárias para a compreensão. Nesse momento é que o leitor deve demonstrar a habilidade de ler o que não está escrito, de modo que consiga compreender efetivamente o texto. Daí vem a famosa expressão “ler nas entrelinhas”.
O leitor atento é aquele que percebe os implícitos. Essa habilidade é exigida em qualquer tipo de texto, até mesmo uma simples frase. Assim, quando ouvimos o noticiário avisando que “O tempo em todas as regiões continua chuvoso”, temos uma informação explícita: no momento da fala, o tempo é de chuva. Entretanto, o verbo “continuar” deixa perceber algo que não foi mencionado, uma informação implícita: o tempo já estava chuvoso. Você é um leitor atento? Faça o teste e descubra.
Se você acertou a questão, é um sinal de que já desenvolveu habilidades de percepção dos implícitos. É um grande passo para a compreensão e interpretação de textos. Se você errou, não quer dizer que não saiba identificar os implícitos de um texto, mas talvez seja necessário dedicar um pouco mais de atenção à leitura. |
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Tela 3 |
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Acompanhe o diálogo.
Na frase “Deixei de fumar há dois meses” diz-se explicitamente que, no momento da fala, Dilma não fuma. O verbo “deixar”, entretanto, transmite a informação implícita de que Dilma fumava antes. Além disso, a pergunta feita por Léo dá evidências desse implícito, afinal, se a pessoa porta cigarros, espera-se que seja fumante. Mas, qual foi a resposta de Dilma à pergunta? A resposta é óbvia, mas não está explícita: Dilma não tem cigarros. Percebe como as informações do contexto e os elementos explícitos podem nos ajudar a revelar as ideias implícitas? O que está implícito na frase “Você deveria seguir o exemplo”? A mensagem também é óbvia: você também deveria parar de fumar. Vejamos outro exemplo. Leia atentamente a tira a seguir, de Luis Fernando Veríssimo:
Se você conseguiu compreender a mensagem, deve ter percebido o humor da tira. Se não compreendeu, não se preocupe, mais adiante faremos a análise. As tiras, as piadas e outros textos humorísticos sempre ocultam informações e o humor é feito com base naquilo que não se diz, mas se deixa sugerido, deixando que o leitor tire suas conclusões sozinho. |
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Tela 4 |
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Perceber os implícitos é determinante para se garantir uma boa leitura. Muitas vezes aquilo que é apenas sugerido, sem ser claramente dito, é muito mais importante do que aquilo que está expresso no texto, com todas as letras. Se o leitor não desenvolveu a habilidade de compreender os implícitos, ficará limitado ao entendimento literal do enunciado, aquele em que as palavras valem apenas pelo que são, em seu sentido denotativo, não pelo que sugerem ou podem dar a entender. A leitura de textos humorísticos, como tiras, é um exercício interessante para a aquisição da prática de percepção dos implícitos, bem como para desenvolver a habilidade de compreensão e interpretação.
Esse tipo de estrutura linguística exige certa agilidade de raciocínio e uma visão mais analítica, justamente por não oferecer muitos elementos explicativos. Em geral, o leitor está diante de três ou quatro quadrinhos e pouquíssimas falas trocadas entre os personagens e, com base nas informações do contexto e da explicitação de implícitos, deve realizar uma leitura mais completa. |
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Tela 5 |
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Tela 6 |
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E como podemos perceber os implícitos no texto e as informações do contexto? Vamos ver como isso se dá, na prática, voltando à tira de Luis Fernando Veríssimo.
Na fala do primeiro quadrinho, a personagem Shirlei faz uma pergunta aparentemente simples. Da resposta dada no segundo quadrinho, somos induzidos a pensar que Flecha não é machista, ideia fortalecida na exclamação: “Que pergunta!” Note que essa fala exclui qualquer dúvida sobre a resposta de Flecha, passando a ideia de que seria um absurdo Shirlei pensar que ele é machista. Entretanto, o último quadrinho apresenta uma fala que muda completamente o sentido da tira: “Aliás, típica.” E então, entendeu o implícito sobre o qual é construído o humor da tira? Veja só: se aceitarmos a afirmação de que, para Flecha, não existe qualquer diferença entre os sexos, logo, pensamos que ele não é machista. Com a frase “Que pergunta!” e, em seguida, o complemento “Aliás, típica.”, somos levados a explicitar o subentendido lógico: para Flecha, a pergunta de Shirlei é absurda e típica das mulheres. Segundo o dicionário, machismo é uma atitude ou comportamento de quem não aceita a igualdade de homens e mulheres. Na verdade, o comentário de Flecha revela que, ao contrário do que disse, ele é machista, pois sugere que perguntas desse tipo sejam exclusivas às mulheres. |
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Tela 7 |
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É bom destacar que os elementos que a tira de Veríssimo nos ofereceu – implícitos e explícitos – foram suficientes para compreendermos o humor apresentado. Entretanto, outros elementos do contexto são dados acessórios para a confirmação das informações implícitas. É aí que entram os conhecimentos anteriores do leitor, aqueles que ele adquiriu com as leituras feitas cotidianamente. Para quem já conhece o casal de lesmas, personagens de Luís Fernando Veríssimo, sabe que Shirlei é inquieta e falante e Flecha é extremamente vaidoso. Em suas histórias, ambos trocam “farpas” e impressões sobre o mundo e também sobre a vida do casal. Se o leitor já tem essas informações, ficará mais fácil interpretar uma tira sobre as lesmas, mesmo que o tema seja inusitado. Agora que você já desvendou os implícitos do texto e conhece um pouco mais sobre o contexto de Shirlei e Flecha, leia a tira abaixo com atenção.
Viu como foi bem mais fácil compreender essa tira? Você já tem informações sobre a personalidade de Flecha, o que é suficiente para concluir que ele se acha o máximo, chegando a ter a si próprio como ídolo. Note que quanto mais dados você consegue extrair do contexto e das informações explícitas, mais fácil conseguirá perceber os implícitos e chegar à compreensão do texto. |
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Tela 8 |
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2 - Construindo significados Na conversa com um amigo nem tudo é dito, pois ele sabe que algumas informações são tão óbvias que nem precisam ser explicitadas. Em geral, fala-se o suficiente para que a mensagem seja compreendida, pois, o que fica implícito é presumido pelo interlocutor. O mesmo ocorre em alguns textos.
Essas informações que não são dadas explicitamente e que permeiam grande parte das nossas comunicações do dia-a-dia são conhecidas como pressupostos.
O pressuposto em um texto funciona como uma informação que busca sustentar o que está sendo dito pelo narrador e deve ser tomado como indiscutível. Quando o autor quer dizer algo, sem, contudo, comprometer-se, ele pode esconder-se sob os subentendidos, ou seja, ele sugere algo e deixa para o leitor a responsabilidade de entender o que foi dito e tirar suas próprias conclusões. |
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Tela 9 |
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Tornar explícitos os pressupostos de um texto significaria informar o óbvio, aquilo que já é esperado. Em algumas situações, entretanto, os pressupostos não são tão óbvios e conhecer esses termos implícitos pode nos ajudar a compreender melhor o que está sendo expresso. Veja o exemplo a seguir:
Para que possamos compreender o humor da tira, é necessário tentar entender a reação de Mafalda. O raciocínio é simples: graças à liberdade de imprensa é possível veicular qualquer tipo de informação nos jornais, incluindo críticas, opiniões e até receitas culinárias. Embora Mafalda não tenha dito que não gosta de sopa de peixe, essa informação fica subentendida. |
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Tela 10 |
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É interessante notar que quanto mais entendemos o contexto, melhor compreenderemos e interpretaremos os textos. Sendo assim, quanto mais soubermos sobre o contexto em que se passa o diálogo entre Mafalda e sua mãe, mais engraçada nos parecerá a tira. Analisemos outras informações importantes para compreendermos o humor da tira. Vejamos:
Com essas informações, podemos perceber que a tira se torna ainda mais engraçada se considerarmos a reação exagerada de Mafalda ao “culpar” a liberdade de imprensa por uma eventual infelicidade no cardápio de casa. Provavelmente, uma criança comum iria resmungar, esboçar uma reclamação ou uma simples careta, demonstrando o seu desagrado, mas jamais evocaria a liberdade de imprensa. |
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Tela 11 |
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No próximo exemplo, extraído de um anúncio de roupas femininas, tente perceber o pressuposto.
Imagine a situação em que um diálogo como o sugerido pela propaganda ocorreria. Você deve ter percebido que, embora o marido não diga que não acha que a mulher esteja linda, isso fica subentendido pela resposta que dá a ela. Compreender o jogo de pressuposição existente no texto é fundamental para que a própria propaganda possa ser entendida. A intenção do anúncio em questão é, portanto, levar a crer que a loja de roupas resolve o caso de mulheres como essa. Em outras palavras, a loja fará com que ela de fato esteja linda, autorizando o seu pressuposto. Ao fazer a leitura de um texto, é muito importante perceber os pressupostos, pois se trata de um dos mecanismos argumentativos utilizados com o objetivo de induzir o leitor a aceitar o que está sendo dito. Ao introduzir uma informação sob a forma de pressuposto, o autor transforma o leitor em cúmplice, uma vez que essa informação não é posta em discussão e todos os argumentos colocados só contribuem para confirmá-la. |
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Tela 12 |
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Alguns tipos de texto exploram com astúcia e com intenções enganosas os pressupostos. Há casos em que, se você não fizer uma leitura atenta do texto, corre o risco de passar por cima de significados importantes e decisivos ou – o que é pior – pode concordar com coisas que você rejeitaria se as percebesse. Um exemplo disso são as “verdades” indiscutíveis que embasam muitas alegações do discurso político. Observe:
O conteúdo explícito afirma:
O pressuposto, isto é, a informação que não se põe em discussão é: os norte-coreanos pretendem atacar a América. Note que isso não foi citado, mas leva o leitor a imaginar tal situação. É possível, também, haver argumentos contra o que foi informado explicitamente nessa frase, tais como:
Como se pode perceber, os argumentos são contrários ao que está citado explicitamente, mas todos eles confirmam o pressuposto, isto é, todos os argumentos aceitam que os norte-coreanos pretendem atacar a América. A concordância com o pressuposto é o que permite levar à frente o diálogo. Se o ouvinte/leitor disser que os norte-coreanos não têm intenção nenhuma de atacar a América, estará negando o pressuposto lançado pelo emissor/autor e então a possibilidade de diálogo fica comprometida irreparavelmente. Nenhum dos argumentos citados teria razão de ser. Isso quer dizer que, sem aceitação do pressuposto, não é possível o diálogo ou este não teria nenhum sentido. |
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Tela 13 |
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É necessário ficar atento a todos os elementos que compõem o texto, uma vez que os pressupostos apresentam-se, nas frases, por meio de vários indicadores linguísticos, como os que apresentamos a seguir.
Pressuposto: A discriminação racial, antes, não era caso de polícia.
Pressuposto:
Existem partidos radicais no Brasil. |
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Resumo O leitor atento não lê do mesmo jeito os diferentes tipos de textos. Ele deve ter a capacidade de adaptar os procedimentos de leitura a cada tipo de texto, conforme a natureza das informações apresentadas e a abordagem dos assuntos. Alguns textos não registram todas as informações necessárias para sua compreensão e interpretação, o que exige do leitor a habilidade de “ler nas entrelinhas”, desvendando os implícitos com base nos dados explícitos e nas informações do contexto. Se o leitor não consegue desvendar os implícitos, fica limitado ao entendimento literal do texto e não compreende as pistas, aquilo que é apenas sugerido. A leitura de diversos textos, sobretudo os humorísticos – por exigirem agilidade de raciocínio e capacidade analítica –, é um bom exercício para a aquisição da prática de percepção dos implícitos. Isso porque quanto mais você lê, maior será sua bagagem de informações e, consequentemente, melhor percepção você terá do contexto, tornando mais fácil a compreensão do texto. Chamamos de pressupostos as ideias não escritas no texto, mas que são perceptíveis ao leitor devido às palavras contidas nas frases. O pressuposto em um texto funciona como uma informação que busca sustentar o que está sendo dito pelo narrador e deve ser tomado como verdade absoluta. Esse recurso é muito utilizado pelos autores quando querem passar informações sem, contudo, comprometerem-se. Assim, deixam para o leitor a responsabilidade de tirar suas próprias conclusões. Pressupostos e implícitos são recursos frequentes utilizados por autores no momento da elaboração de seus textos. Para garantir uma boa leitura, você precisa estar atento a situações em que apenas a apreensão do sentido literal não é o bastante para a compreensão do texto. |
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| Unidade 2 | Módulo 2 | Tela 18 |
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1 - Inferências: a busca de pistas Observe a imagem e leia a legenda.
Ao olhar a foto, você pode imaginar as mais variadas situações e chegar a diversas conclusões, que são acionadas a partir do seu conhecimento prévio sobre o assunto, tais como:
E tantas outras mais. O conhecimento anterior sobre o assunto aciona todas estas informações a partir do que você lê nas imagens. Isto é a produção de inferências. Esse processo ocorre não apenas em relação ao texto visual, mas em qualquer tipo de texto, incluindo os gestos, as entonações na voz, os olhares durante uma simples conversa.
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Agora, leia atentamente a notícia que acompanha a imagem.
Conforme a resposta dada, é possível analisar o processamento cognitivo elaborado. Isso quer dizer que conseguimos verificar de que forma você assimilou a nova informação, se as agregou aos conhecimentos anteriores, se produziu novos conhecimentos, se observou os detalhes, se atentou mais para as informações da imagem ou do texto. Portanto, ao fazer a leitura de um texto, você, leitor, deve procurar obter todas as informações e indícios que possibilitem a compreensão. Observe as pistas que o texto oferece e procure interpretá-las à luz de referências conhecidas para chegar a alguma conclusão. É assim que procede um leitor atento. |
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Clique no link abaixo e leia com atenção o texto. Embora não possamos afirmar que o detetive solucionou o caso adequadamente, é inegável que ele seja um perito em inferências. De certa forma, no nosso dia a dia, agimos como um detetive que observa as pistas deixadas no cenário do ocorrido e as interpreta à luz de referências conhecidas para chegar a alguma conclusão.
Vamos explorar as possibilidades do tipo de raciocínio desenvolvido pelo detetive. Após uma observação dos procedimentos por ele adotados, a primeira conclusão a que se pode chegar é óbvia: ninguém pensa a partir do nada. Consciente desse fato, é fundamental que você procure obter sempre as informações ou indícios que, uma vez analisados, tornarão possível vislumbrar alguma conclusão. O detetive observa uma série de indícios deixados: o tapete sujo de lama, a porta aberta – apesar do frio que fizera na noite anterior, o desaparecimento de um prato cheio de sanduíches. Essas pistas levam-no a inferir que havia um mistério a ser desvendado. Essa é uma conclusão a que ele chegou com base na análise dos indícios observados no local. Ela não está escrita – somente nós, leitores a temos –, não pode ser confirmada por meio de uma pergunta, pois ninguém estava em casa, além do escritor. Para chegar a essa conclusão, tudo de que o detetive dispõe são os indícios observados no local, as informações dadas pela empregada e o seu conhecimento sobre o comportamento humano. Ao confrontar indícios e conhecimento é que ele pode chegar a uma conclusão. Pois bem, o procedimento de raciocínio que demonstramos com o auxílio do exemplo do detetive é, na verdade, a elaboração de uma inferência. Com os dados de que dispõe e o conhecimento que tem dos fatos referentes ao comportamento humano (hábito de fechar a porta para se proteger do frio, por exemplo), o detetive inferiu algo acerca das circunstâncias da morte do escritor. |
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Agora, façamos um pequeno exercício. Mas, lembre-se: as informações obtidas na leitura do texto devem ser confrontadas com o seu conhecimento da realidade. É esse o processo analítico que permite a elaboração de conclusões a partir do que se infere do texto. Com base no texto lido, indique V se a afirmativa for verdadeira e F se for falsa.
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Vejamos mais um exemplo. Leia a tira a seguir, de Hagar, famoso personagem do escritor americano Dik Browne.
Qual seria, então, a conclusão? Se os chifres denotam importância e os de Helga são evidentemente maiores do que os de Hagar, podemos concluir que ela é mais importante do que ele. Complete as lacunas do comentário abaixo, arrastando os nomes do quadro para o espaço adequado.
Quanto mais informações você tiver sobre o personagem, mais fácil será a compreensão da tira. Se você souber, por exemplo, que Hagar é um guerreiro que quer mais é salvar a pele nas batalhas e poder beber tranquilamente a sua cerveja, que volta para casa das duras guerras para obedecer à esposa, Helga, uma legítima mulher bárbara de pulso firme, então conseguirá compreender imediatamente o humor da tira. |
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No caso do anúncio
da Bom Bril, perceber a relação entre os dois textos é
bastante simples. A questão é saber qual o motivo de o
autor do anúncio desejar que ela seja feita por todos aqueles
que lerem seu texto publicitário.
Como você pode perceber, continuamos no campo dos significados
implícitos, aqueles que, embora não ditos, são
sugeridos para que o leitor, sozinho, se encarregue de estabelecer conclusões.
Qual pode ser o significado que o autor pretendeu sugerir com a construção dessa intertextualidade? Indique (V) se a afirmativa for verdadeira e (F) se for falsa.
Viu só? É exatamente nesse tipo de raciocínio que a propaganda investe e ele é todo construído a partir dos implícitos estabelecidos pela intertextualidade. A questão, na realidade, não é perceber ou não a existência de uma relação intertextual. O que ocorre é que o sentido do texto é construído a partir do estabelecimento dessa relação e se você não for capaz de identificá-la, não conseguirá entender o sentido do texto que está lendo. |
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É necessário ter o hábito da leitura para perceber as relações intertextuais e, portanto, ter condições de entender o verdadeiro sentido do texto em que essas relações se fazem. É óbvio! Se a intertextualidade é o estabelecimento de relações entre dois ou mais textos, você precisa construir um conjunto de referências de leitura que permitam a identificação dessas relações. Observe o anúncio a seguir.
E então, entendeu o anúncio? Conseguiu perceber a intertextualidade estabelecida? Se sua resposta é sim, parabéns! Mas não se envergonhe se a resposta for negativa em ambos os casos. Este não é um exemplo fácil. O anúncio faz referência a um famoso poema intitulado “No meio do caminho”, de Drummond. O autor desenvolve o texto com frases repetidas, em um contínuo desafio ao leitor, tantas são as vezes em que a frase se repete. No poema, Drummond atribui dimensão alegórica à palavra pedra, que pode ser entendida como símbolo dos obstáculos que a gente encontra na vida. A intenção do autor do anúncio, nesse caso, seria atribuir à caneta uma importância maior, como se o seu uso tornasse mais fácil o alcance do sucesso. Ou, se formos mais adiante, o sucesso só será possível se utilizarmos a caneta anunciada, já que esta se encontra na fronteira, um local por onde precisamos passar para avançar em nosso caminho. |
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Relações intertextuais como a que acabamos de examinar acabam sendo, no fundo, uma conversa de leitores privilegiados. Só os conhecedores do poema de Drummond compreenderão a mensagem passada pelos anunciantes da caneta. Em muitos casos, o que se constata é que a capacidade de perceber as relações intertextuais cria uma espécie de grupo privado, ao qual só têm acesso pessoas que dispõem de um referencial de leitura acumulado ao longo da vida e que, por essa razão, identificam prontamente as relações estabelecidas. Nesse grupo, há um pressuposto partilhado por todos os membros: a leitura é condição necessária para participação. Fazem parte do ‘‘grupo” todos aqueles que, por terem experimentado, ao longo da vida, o prazer de passar horas e horas lendo livros, dispõem agora de um conjunto variado de referências, ao qual recorrem, sempre que necessário.
Quando não compreendemos determinadas piadas ou algumas propagandas, é bem possível que isso seja em razão da falta de referências suficientes para compreender o humor ou a mensagem que se deseja transmitir. De certa forma, não dispor das referências necessárias pode nos aproximar da condição dos analfabetos, que não leem porque desconhecem o valor simbólico das letras. Aqui, não lemos porque não somos capazes de compreender as relações intertextuais, embora conheçamos todos os símbolos usados para representá-las. |
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Resumo Na leitura de textos podemos observar a ocorrência de significados implícitos, aqueles que, embora não ditos, são sugeridos para que o leitor se encarregue de estabelecer conclusões sozinho. Isso ocorre porque o conhecimento anterior sobre o assunto aciona todas as informações a partir do que é lido nos textos. Esse processo, conhecido como produção de inferências, ocorre não apenas em relação ao texto visual, mas em qualquer tipo de texto, incluindo os gestos, as entonações na voz, os olhares durante uma simples conversa. A inferência pode ser definida como o processo de raciocínio segundo o qual se conclui alguma coisa a partir de outra já conhecida. Ao fazer a leitura de um texto, o leitor deve procurar obter todas as informações e indícios que possibilitem a compreensão. É importante observar as pistas que o texto oferece e interpretá-las à luz de referências conhecidas para chegar a alguma conclusão. O leitor também pode captar informações implícitas caso consiga compreender a intertextualidade. Intertextualidade é a relação que se estabelece entre dois textos, quando um deles faz referência a elementos existentes no outro. Esses elementos podem dizer respeito ao conteúdo, à forma, ou mesmo à forma e ao conteúdo. É necessário ter o hábito da leitura para perceber as relações intertextuais e, portanto, ter condições de entender o verdadeiro sentido do texto em que essas relações se fazem. Se a intertextualidade é o estabelecimento de relações entre dois ou mais textos, é fundamental construir um conjunto de referências de leitura que permitam a identificação dessas relações. |
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| Unidade 2 | Módulo 3 | Tela 29 |
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1 - Identificando o tema de um texto Para que lemos? Lemos para atender a uma necessidade pessoal: saber quais são as notícias do dia, que novidades a revista traz, qual é a receita de um prato, como montar um equipamento, quais as regras de um jogo, obter novos conhecimentos, apreender os encantos de um poema ou as emoções de um livro de aventuras. A leitura é um processo dinâmico entre o leitor e o texto propriamente. O leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto a partir do que está buscando nele, dos conhecimentos que já possui a respeito do assunto, do autor e do que sabe sobre a língua – características do gênero, do portador, do sistema de escrita. Ou seja, ninguém pode extrair informações do texto escrito decodificando letra por letra, palavra por palavra.
Se você analisar sua própria leitura de cada texto, vai constatar que a decodificação é apenas um dos procedimentos que utiliza para ler: a leitura fluente envolve uma série de outras estratégias, isto é, de recursos para construir significado; sem elas, não é possível alcançar rapidez e apreensão. |
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O gênero, o autor, o título e muitos outros elementos nos informam o que é possível que encontremos em um texto. Assim, se formos ler um texto de Jorge Amado (por exemplo, Capitães da Areia), é previsível que encontraremos determinados personagens, certas palavras e lugares da Bahia, ou especificamente de Salvador. E se conhecermos esse autor um pouco mais, certamente já teremos uma noção de seu universo e que este poderá abordar questões sociais.
Esse exercício se torna automático, e cada leitor pode inferir diferentes contextos em paralelo ao texto lido, de acordo com suas referências, com o conhecimento que tem do assunto e com o universo vocabular que possui. E, quanto mais lemos, mais passamos a compreender os diversos pontos de vista relacionados ao assunto abordado por determinado autor. |
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Vejamos, na prática, a leitura de um texto de Rubem Alves:
Bem... o que lemos aqui? O texto fala de qual assunto? Que elementos identificam o tema deste texto? Vamos pensar um pouco sobre o texto e os elementos que o autor utiliza para construir suas ideias. |
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Com base no texto de Rubem Alves, responda às questões seguintes, assinalando verdadeiro (V) ou falso (F):
A partir das reflexões deste exercício você percebeu que o autor utiliza diversos elementos para construir suas ideias, por exemplo, a comparação, a metáfora, entre outros recursos estilísticos. Até mesmo a pontuação pode ser um recurso, certo? E cada autor utilizará recursos diversos, o que fica mais evidente em seu estilo pessoal. |
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No mesmo texto que fala do jardim, podemos ler claramente que Rubem Alves fala, na verdade, de sonhos: esse é o assunto, ou seja, o tema do texto, o que move o autor a construir as ideias seguintes. O autor também fala das diferenças entre os sonhos de cada um, a diferença entre as muitas formas de sonhar, e compara os sonhos a um jardim, um Paraíso, não é mesmo? Observe que essa ideia, de que os sonhos nascem diferentemente em cada um, e por isso são comparados ao jardim, é a tese do texto, ou seja, é o conjunto de ideias que ele expõe para falar sobre o assunto “sonhos”. Continuando nossa análise, chegamos à conclusão do autor:
Sem dúvida, essa é uma bela forma de dizer que devemos nos entregar aos sonhos, vivê-los, deixar que vivam, que se transformem em lindos jardins ao nosso redor, pois do contrário eles se transformam em tristezas, frustrações. Observe, também, que no texto do Rubem há várias ideias relacionadas a outros assuntos (que conhecemos ou não) que ele utilizou para construir sua bela ideia de jardim de sonhos e é possível, ainda, fazermos várias referências com outras ideias. Lembrando: as informações obtidas na leitura do texto devem ser confrontadas com o nosso conhecimento da realidade. É esse o processo analítico que permite a elaboração de conclusões a partir do que se infere do texto. |
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2 - Diferenciando tema e tese Diante de um texto ou uma informação, não basta apenas ler para identificar o tema, o assunto de que fala o texto: é preciso compreender aquilo que o autor disse, pois nem sempre seus argumentos estão claros ou apresentados de maneira ordenada e explícita ao longo do texto, ou seja, muitas ideias podem estar implícitas. E como um autor pode “dizer coisas” sem escrevê-las explicitamente? Vejamos o quadrinho abaixo, Mafalda, do argentino Quino:
Com base no texto da tirinha acima, da Mafalda, assinale VERDADEIRO ou FALSO.
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Após o exercício com a tirinha da Mafalda, você percebeu que é preciso interpretar aquilo que o autor escreveu, muitas vezes buscando as ideias implícitas e em outras referências? Viu como há muitas ideias que estão explicitas, implícitas ou ainda que podem ser comparadas às ideias “escritas”? É importante confrontar o texto com o conhecimento acumulado por você mesmo até no momento da leitura, a partir das “pistas” dadas pelo autor.
Quando alguém escreve, expõe uma ideia (o que, em linguagem técnica, chama-se hipótese), busca demonstrar a validade, a coerência dessa ideia, ou seja, defende uma tese. Todos já ouvimos falar que defender uma tese é o que se faz, por exemplo, em um trabalho de pós-graduação, ou seja, a partir de uma hipótese, deve-se demonstrar com argumentos e conceitos a validade das ideias sobre determinado assunto ou tema. E como faremos para captar a tese, identificá-la? E, também, como saber exatamente a diferença entre o tema e a tese? Uma das formas é separar os seus aspectos formais e as ideias principais do texto. Assim, podemos reconstruir o raciocínio do autor, recuperando suas etapas mais importantes, o que um simples resumo não permite fazer. Podemos fazer um fichamento com esses aspectos, e também relembrar rapidamente os argumentos utilizados pelo autor para defender sua tese. Além disso, podemos comparar a tese de um autor com a de outro autor, aprender com as semelhanças e com as diferenças. Esse é um ótimo exercício para compararmos ideias, fazermos referências e inferências. |
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Bem, até aqui percebemos que podemos ver algumas ideias “gerais” e “retirar delas” uma especificação que seja uma tese. Observe que muitas vezes as pessoas utilizam “título”, “tema” e “tese” como sinônimos, mas não é bem assim. Apesar de serem partes de um mesmo tipo de composição, são elementos bem diferentes.
Vejamos a diferença entre tema, tese e título nos exemplos abaixo:
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3 - As relações entre título, tese e tema Ao analisarmos os exemplos de título, tese e tema, percebemos que os títulos podem ser generalizados, abrindo-se um leque de temas a serem desenvolvidos. Para o título "A criança e a televisão", por exemplo, é possível definir outros temas, como "Novos programas de TV são criados especialmente para encantar as crianças", ou ainda "Os pais, envoltos com seus problemas, não perceberam ainda o perigo da televisão para as suas crianças". O importante é você usar a criatividade para desenvolver ideias relacionadas ao tema proposto e até mesmo ao escolher o título de sua redação. É melhor pensar no título após o rascunho estar pronto, fica mais fácil. Assim, não há o risco de se tornar escravo do título.
Ao participar de algum concurso, teste ou prova com habilidade de texto ou dissertação, observe a proposta e/ou instruções. Muitas vezes, o próprio comando da questão explicita o tema ou título; e às vezes é sugerido apenas o assunto. Cabe a você elaborar as ideias que faltam para desenvolver o assunto proposto. |
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Para um melhor entendimento de qualquer texto, é importante o exercício de separar ideias, de “desvendar” os diversos aspectos, ou possíveis abordagens que um tema permite, e isso pode ser feito com todos os tipos de texto, desde uma publicidade, um quadrinho, um poema a um texto técnico. Observe o seguinte material publicitário.
Do que se trata? Uma teia de artérias construída com inúmeros nomes de pessoas. Observe que, para reforçar esta imagem, foi utilizado o título “Quando se doa sangue, vidas renascem”. Eis o conceito da campanha criada pela Agência Decisão para o seu cliente Dimas (concessionária Ford e Hyundai) em homenagem ao Dia Internacional do Doador Voluntário de Sangue. É uma ideia importantíssima para a sociedade, além de propiciar uma “leitura” diferente com a proposta da imagem da teia de artérias com os nomes associados às vidas que necessitam de sangue. |
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Ao ler o texto da publicidade da teia de artéria, falamos também de conceito, mas o que é conceito? Um conceito é uma maneira de definir alguma coisa que existe na realidade, mas que não se confunde com a realidade (pois não é capaz de reproduzi-la). Por exemplo: o conceito de flor se refere às diversas espécies de flores existentes no planeta. Quando se fala em flor, sabemos do que se está falando, podemos imaginar uma flor em nossa mente. Assim como podemos imaginar uma casa, quando ouvimos a palavra casa. Mas, e quando se fala de cultura, de poder, de Estado, de valores, de mercado? Como você poderá ver, cada tradição teórica define esses termos de uma maneira determinada, e cada disciplina aborda essas questões a partir de enfoques e de referenciais teóricos distintos. E uma dica: quando você tiver contato com um texto "novo", com certeza seu pensamento o levará ao sentido de outros textos que leu, ou ao sentido referencial que você já possua sobre determinado assunto. Assim, a leitura e as interpretações que fizer do texto serão comparadas às interpretações feitas em outros contextos e você poderá recusar ou aceitar tais interpretações, sobrepondo a elas interpretações frutos de diálogos com o texto, com outros textos e consigo mesmo. Cada leitor tem sua própria marca, seu estilo. Cada pessoa tem seu próprio mundo de compreensão e experiência historicamente condicionado no qual interage, a partir de seu ponto de vista. O mundo de um não é idêntico ao mundo do outro: é uma visão de realidade que não se repete. Entretanto, embora pareça paradoxal, são essas diferenças que devem permitir as compreensões, ou seja, são as diferenças que, em vez de definirem horizontes condicionados e limitados, transpõem barreiras e fecundam campos para que outros pontos de vista floresçam, ou seja, permitam "outras leituras". A interpretação não é exclusiva ao leitor, mas também não há uma autoridade suprema do autor em relação à interpretação do texto que escreve. No exercício de uma reinterpretação, os leitores se apossam do texto e tornam-se sujeitos de suas leituras, reescrevendo os sentidos. A leitura é um produto da época em que é realizada, e também é produto de outras leituras e das convicções dos diferentes leitores. |
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Resumo A leitura é um processo dinâmico entre o leitor e o texto propriamente. Assim, o leitor é ativo na construção do significado do texto a partir do que está buscando nele, dos conhecimentos que já possui a respeito do assunto, do autor e do que sabe sobre a língua. A leitura fluente envolve uma série de outras estratégias, isto é, recursos para construir significado, para se alcançar rapidez e apreensão. É importante, pois, não apenas ler as ideias, mas identificar o tema, o assunto de que fala o texto: é preciso compreender aquilo que o autor disse. Quando alguém escreve, expõe uma ideia e busca demonstrar a validade, a coerência dessa ideia, ou seja, defende uma tese a partir de uma hipótese, demonstrando com argumentos e conceitos a validade das ideias sobre determinado assunto ou tema. “Título”, “tema” e “tese” não são sinônimos e, apesar de serem partes de um mesmo tipo de composição, são elementos bem diferentes. O tema é o assunto, já delimitado, a ser abordado; a ideia que será defendida e que deverá aparecer logo no primeiro parágrafo. O título é uma expressão (ou apenas uma só palavra) centrada no início do trabalho; ele é uma vaga referência ao assunto (tema). E a tese é o enfoque que dará suporte à discussão de determinado tema, podendo ser uma ideia ou várias ideias. Cada leitor tem sua própria marca, seu estilo. Cada pessoa tem seu próprio mundo de compreensão e experiência historicamente condicionado, no qual interage a partir de seu ponto de vista. O mundo de um não é idêntico ao mundo do outro: é uma visão de realidade que não se repete. E a interpretação pode ser ampliada e oferecer outras oportunidades de visão, ou seja, outras leituras. |
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