Unidade 2 Módulo 1
Tela 1
Módulo 01 - Definições, visão sistêmica e classificação dos sistemas de produção

1 - Lendo nas entrelinhas

Você lê uma receita de bolo da mesma forma que lê um romance? Há leitores que somente descobrem que o mocinho é de fato mocinho se essa informação estiver declarada no texto. Por outro lado, o leitor atento consegue distinguir o mocinho do bandido apenas observando as atitudes, a forma de pensar de ambos e outras características expostas ao longo da narrativa.

Não devemos ler do mesmo jeito os diferentes tipos de textos. Isso porque a natureza das informações apresentadas e a abordagem dos assuntos variam conforme os objetivos de cada texto, o que exige de nós, leitores atentos, a capacidade de adaptar nossos procedimentos de leitura ao texto a ser analisado.

Ao ler uma receita de bolo, facilmente se percebe que quem escreveu não espera que o leitor faça deduções. Todas as informações necessárias para que o bolo seja feito estão explícitas no texto. No romance, entretanto, muitas vezes o autor expõe as intrigas e alguns acontecimentos do enredo e deixa para o leitor a difícil – mas prazerosa – tarefa de montar o quebra-cabeças da trama e chegar às suas próprias conclusões. Cabe ao leitor imaginar situações, deduzir fatos e fazer suposições sobre os detalhes da trama. Afinal, que graça teria ler um romance em que não há o que ser desvendado?



Enredo é o conjunto de incidentes que constituem a ação de uma obra de ficção.



Tela 2
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É muito comum o leitor se deparar com textos que não registram todas as informações necessárias para a compreensão. Nesse momento é que o leitor deve demonstrar a habilidade de ler o que não está escrito, de modo que consiga compreender efetivamente o texto. Daí vem a famosa expressão “ler nas entrelinhas”.

Essas informações que não são ditas pelo autor, embora o texto ofereça indícios para que possamos identificá-las, são conhecidas como informações implícitas ou subentendidas.



Implícitos
(pressupostos e subentendidos) são recursos frequentes que envolvem o contexto e não são expressos claramente, mas são apenas sugeridos.

O leitor atento é aquele que percebe os implícitos. Essa habilidade é exigida em qualquer tipo de texto, até mesmo uma simples frase. Assim, quando ouvimos o noticiário avisando que “O tempo em todas as regiões continua chuvoso”, temos uma informação explícita: no momento da fala, o tempo é de chuva. Entretanto, o verbo “continuar” deixa perceber algo que não foi mencionado, uma informação implícita: o tempo já estava chuvoso.

Você é um leitor atento? Faça o teste e descubra.

Se você acertou a questão, é um sinal de que já desenvolveu habilidades de percepção dos implícitos. É um grande passo para a compreensão e interpretação de textos. Se você errou, não quer dizer que não saiba identificar os implícitos de um texto, mas talvez seja necessário dedicar um pouco mais de atenção à leitura.



Tela 3
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Acompanhe o diálogo.

Na frase “Deixei de fumar há dois meses” diz-se explicitamente que, no momento da fala, Dilma não fuma. O verbo “deixar”, entretanto, transmite a informação implícita de que Dilma fumava antes. Além disso, a pergunta feita por Léo dá evidências desse implícito, afinal, se a pessoa porta cigarros, espera-se que seja fumante. Mas, qual foi a resposta de Dilma à pergunta? A resposta é óbvia, mas não está explícita: Dilma não tem cigarros.

Percebe como as informações do contexto e os elementos explícitos podem nos ajudar a revelar as ideias implícitas? O que está implícito na frase “Você deveria seguir o exemplo”? A mensagem também é óbvia: você também deveria parar de fumar.

Vejamos outro exemplo. Leia atentamente a tira a seguir, de Luis Fernando Veríssimo:

Se você conseguiu compreender a mensagem, deve ter percebido o humor da tira. Se não compreendeu, não se preocupe, mais adiante faremos a análise. As tiras, as piadas e outros textos humorísticos sempre ocultam informações e o humor é feito com base naquilo que não se diz, mas se deixa sugerido, deixando que o leitor tire suas conclusões sozinho.



Tela 4
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Perceber os implícitos é determinante para se garantir uma boa leitura. Muitas vezes aquilo que é apenas sugerido, sem ser claramente dito, é muito mais importante do que aquilo que está expresso no texto, com todas as letras.

Se o leitor não desenvolveu a habilidade de compreender os implícitos, ficará limitado ao entendimento literal do enunciado, aquele em que as palavras valem apenas pelo que são, em seu sentido denotativo, não pelo que sugerem ou podem dar a entender.

A leitura de textos humorísticos, como tiras, é um exercício interessante para a aquisição da prática de percepção dos implícitos, bem como para desenvolver a habilidade de compreensão e interpretação.

Esse tipo de estrutura linguística exige certa agilidade de raciocínio e uma visão mais analítica, justamente por não oferecer muitos elementos explicativos. Em geral, o leitor está diante de três ou quatro quadrinhos e pouquíssimas falas trocadas entre os personagens e, com base nas informações do contexto e da explicitação de implícitos, deve realizar uma leitura mais completa.



Literal é o sentido restrito, rigoroso, exato da palavra. Trata-se do uso denotativo da linguagem, a palavra em “estado de dicionário”, cuja interpretação é objetiva e independe do conhecimento de mundo do leitor.



Tela 5
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Conotação e denotação
Em alguns textos nem sempre a linguagem apresenta um único sentido, aquele apresentado pelo dicionário. Empregadas em alguns contextos, elas ganham novos sentidos, figurados, impregnados de valores afetivos, sociais ou culturais.
Quando a palavra é utilizada com seu sentido comum (aquele que aparece no dicionário) dizemos que foi empregada denotativamente.

Quando é utilizada com um sentido diferente daquele que lhe é comum, dizemos que foi empregada conotativamente.
O sentido conotativo difere de uma cultura para outra, de uma classe social para outra, de uma época a outra. Por exemplo, as palavras senhora, esposa, mulher significam praticamente a mesma coisa, mas têm conteúdos conotativos diversos, sobretudo se considerarmos o prestígio que cada uma delas evoca.
Vejamos alguns exemplos. Nas receitas abaixo, as palavras têm, na primeira, um sentido objetivo, explícito, constante; foram usadas denotativamente. Na segunda, apresentam diversos sentidos, foram usadas conotativamente, em combinações inusitadas. Observa-se que os verbos que ocorrem tanto em uma quanto em outra – dissolver, cortar, juntar, servir, retirar, reservar – são aqueles que costumam ocorrer nas receitas; entretanto, o que faz a diferença são as palavras com as quais os verbos combinam.
TEXTO 1
                  
TEXTO 2


Bolo de arroz

3 xícaras de arroz
1 colher (sopa) de manteiga
1 gema
1 frango
1 cebola picada
1colher (sopa) de molho inglês
1colher (sopa) de farinha de trigo
1 xícara de creme de leite salsa picadinha

Prepare o arroz branco, bem solto.
Ao mesmo tempo, faça o frango ao molho, bem temperado e saboroso.
Quando pronto, retire os pedaços, desosse e desfie. Reserve.
Quando o arroz estiver pronto, junte a gema, a manteiga, coloque numa forma de buraco e leve ao forno.
No caldo que sobrou do frango, junte a cebola, o molho inglês, a farinha de trigo e leve ao fogo para engrossar.
Retire do fogo e junte o creme de leite.
Vire o arroz, já assado, num prato.
Coloque o frango no meio e despeje por cima o molho.
Sirva quente.

(Terezinha Terra)



Receita

Ingredientes

2 conflitos de gerações
4 esperanças perdidas
3 litros de sangue fervido
5 sonhos eróticos
2 canções dos beatles

Modo de preparar

Dissolva os sonhos eróticos
nos dois litros de sangue fervido
e deixe gelar seu coração.

Leve a mistura ao fogo,
adicionando dois conflitos
de gerações às esperanças perdidas.

Corte tudo em pedacinhos
e repita com as canções dos
beatles o mesmo processo usado
com os sonhos eróticos, mas desta
vez deixe ferver um pouco mais e
mexa até dissolver.

Parte do sangue pode ser
substituído por suco de
groselha, mas os resultados
não serão os mesmos.

Sirva o poema simples
ou com ilusões.

(Nicolas Behr)

 


Tela 6
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E como podemos perceber os implícitos no texto e as informações do contexto? Vamos ver como isso se dá, na prática, voltando à tira de Luis Fernando Veríssimo.

Na fala do primeiro quadrinho, a personagem Shirlei faz uma pergunta aparentemente simples. Da resposta dada no segundo quadrinho, somos induzidos a pensar que Flecha não é machista, ideia fortalecida na exclamação: “Que pergunta!” Note que essa fala exclui qualquer dúvida sobre a resposta de Flecha, passando a ideia de que seria um absurdo Shirlei pensar que ele é machista. Entretanto, o último quadrinho apresenta uma fala que muda completamente o sentido da tira: “Aliás, típica.”

E então, entendeu o implícito sobre o qual é construído o humor da tira? Veja só: se aceitarmos a afirmação de que, para Flecha, não existe qualquer diferença entre os sexos, logo, pensamos que ele não é machista. Com a frase “Que pergunta!” e, em seguida, o complemento “Aliás, típica.”, somos levados a explicitar o subentendido lógico: para Flecha, a pergunta de Shirlei é absurda e típica das mulheres.

Segundo o dicionário, machismo é uma atitude ou comportamento de quem não aceita a igualdade de homens e mulheres. Na verdade, o comentário de Flecha revela que, ao contrário do que disse, ele é machista, pois sugere que perguntas desse tipo sejam exclusivas às mulheres.



Tela 7
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É bom destacar que os elementos que a tira de Veríssimo nos ofereceu – implícitos e explícitos – foram suficientes para compreendermos o humor apresentado. Entretanto, outros elementos do contexto são dados acessórios para a confirmação das informações implícitas. É aí que entram os conhecimentos anteriores do leitor, aqueles que ele adquiriu com as leituras feitas cotidianamente.

Para quem já conhece o casal de lesmas, personagens de Luís Fernando Veríssimo, sabe que Shirlei é inquieta e falante e Flecha é extremamente vaidoso. Em suas histórias, ambos trocam “farpas” e impressões sobre o mundo e também sobre a vida do casal. Se o leitor já tem essas informações, ficará mais fácil interpretar uma tira sobre as lesmas, mesmo que o tema seja inusitado.

Agora que você já desvendou os implícitos do texto e conhece um pouco mais sobre o contexto de Shirlei e Flecha, leia a tira abaixo com atenção.

Viu como foi bem mais fácil compreender essa tira? Você já tem informações sobre a personalidade de Flecha, o que é suficiente para concluir que ele se acha o máximo, chegando a ter a si próprio como ídolo.

Note que quanto mais dados você consegue extrair do contexto e das informações explícitas, mais fácil conseguirá perceber os implícitos e chegar à compreensão do texto.



Tela 8
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2 - Construindo significados

Na conversa com um amigo nem tudo é dito, pois ele sabe que algumas informações são tão óbvias que nem precisam ser explicitadas. Em geral, fala-se o suficiente para que a mensagem seja compreendida, pois, o que fica implícito é presumido pelo interlocutor. O mesmo ocorre em alguns textos.

Essas informações que não são dadas explicitamente e que permeiam grande parte das nossas comunicações do dia-a-dia são conhecidas como pressupostos.


Pressupostos
são aquelas ideias não escritas no texto, mas que o leitor é capaz de perceber a partir de palavras contidas nas frases. Trata-se de uma suposição baseada nas ideias explícitas e no contexto.

O pressuposto em um texto funciona como uma informação que busca sustentar o que está sendo dito pelo narrador e deve ser tomado como indiscutível. Quando o autor quer dizer algo, sem, contudo, comprometer-se, ele pode esconder-se sob os subentendidos, ou seja, ele sugere algo e deixa para o leitor a responsabilidade de entender o que foi dito e tirar suas próprias conclusões.



Tela 9
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Tornar explícitos os pressupostos de um texto significaria informar o óbvio, aquilo que já é esperado. Em algumas situações, entretanto, os pressupostos não são tão óbvios e conhecer esses termos implícitos pode nos ajudar a compreender melhor o que está sendo expresso.

Veja o exemplo a seguir:

Os dois primeiros quadrinhos nos apresentam informações simples:

1. a mãe de Mafalda recorta uma receita do jornal,
2. a receita é de sopa de peixe.

Observe que a pergunta de Mafalda, no segundo quadrinho – “De coisa gostosa?” – parte do pressuposto de que a resposta irá confirmar sua dúvida. Todavia, a resposta dada não apenas contradiz o seu pressuposto como provoca uma reação não esperada pelo leitor. Mafalda reclama, aos berros: “Abaixo a liberdade de imprensa!”

Para que possamos compreender o humor da tira, é necessário tentar entender a reação de Mafalda. O raciocínio é simples: graças à liberdade de imprensa é possível veicular qualquer tipo de informação nos jornais, incluindo críticas, opiniões e até receitas culinárias. Embora Mafalda não tenha dito que não gosta de sopa de peixe, essa informação fica subentendida.



Tela 10
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É interessante notar que quanto mais entendemos o contexto, melhor compreenderemos e interpretaremos os textos. Sendo assim, quanto mais soubermos sobre o contexto em que se passa o diálogo entre Mafalda e sua mãe, mais engraçada nos parecerá a tira.

Analisemos outras informações importantes para compreendermos o humor da tira. Vejamos:

  • sabemos que a liberdade de imprensa é um direito que garante a veiculação de notícias e informações sob os mais variados enfoques, incluindo sociais, econômicos e políticos em qualquer tipo de mídia, seja impressa, televisiva etc.;
  • talvez você não saiba, mas Mafalda é uma personagem famosa por seu senso crítico em relação a questões sociais e políticas e, portanto, conhecedora do direito de liberdade de imprensa;
  • Mafalda é uma criança de apenas 8 anos, que odeia a injustiça, a guerra, as armas nucleares, o racismo, as absurdas convenções dos adultos e, obviamente, a sopa.

Com essas informações, podemos perceber que a tira se torna ainda mais engraçada se considerarmos a reação exagerada de Mafalda ao “culpar” a liberdade de imprensa por uma eventual infelicidade no cardápio de casa. Provavelmente, uma criança comum iria resmungar, esboçar uma reclamação ou uma simples careta, demonstrando o seu desagrado, mas jamais evocaria a liberdade de imprensa.



Tela 11
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No próximo exemplo, extraído de um anúncio de roupas femininas, tente perceber o pressuposto.

Imagine a situação em que um diálogo como o sugerido pela propaganda ocorreria. Você deve ter percebido que, embora o marido não diga que não acha que a mulher esteja linda, isso fica subentendido pela resposta que dá a ela.

Compreender o jogo de pressuposição existente no texto é fundamental para que a própria propaganda possa ser entendida. A intenção do anúncio em questão é, portanto, levar a crer que a loja de roupas resolve o caso de mulheres como essa. Em outras palavras, a loja fará com que ela de fato esteja linda, autorizando o seu pressuposto.

Ao fazer a leitura de um texto, é muito importante perceber os pressupostos, pois se trata de um dos mecanismos argumentativos utilizados com o objetivo de induzir o leitor a aceitar o que está sendo dito. Ao introduzir uma informação sob a forma de pressuposto, o autor transforma o leitor em cúmplice, uma vez que essa informação não é posta em discussão e todos os argumentos colocados só contribuem para confirmá-la.



Tela 12
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Alguns tipos de texto exploram com astúcia e com intenções enganosas os pressupostos. Há casos em que, se você não fizer uma leitura atenta do texto, corre o risco de passar por cima de significados importantes e decisivos ou – o que é pior – pode concordar com coisas que você rejeitaria se as percebesse.

Um exemplo disso são as “verdades” indiscutíveis que embasam muitas alegações do discurso político. Observe:

O conteúdo explícito afirma:

- há necessidade de construção de mísseis;
- com o fim de defender a América contra o ataque norte-coreano.

O pressuposto, isto é, a informação que não se põe em discussão é: os norte-coreanos pretendem atacar a América. Note que isso não foi citado, mas leva o leitor a imaginar tal situação.

É possível, também, haver argumentos contra o que foi informado explicitamente nessa frase, tais como:

- os mísseis não são eficientes para conter o ataque norte-coreano;
- uma guerra de mísseis vai destruir o mundo inteiro e não apenas os americanos;
- a negociação com os norte-coreanos é o único meio de dissuadi-los de um ataque à América.

Como se pode perceber, os argumentos são contrários ao que está citado explicitamente, mas todos eles confirmam o pressuposto, isto é, todos os argumentos aceitam que os norte-coreanos pretendem atacar a América.

A concordância com o pressuposto é o que permite levar à frente o diálogo. Se o ouvinte/leitor disser que os norte-coreanos não têm intenção nenhuma de atacar a América, estará negando o pressuposto lançado pelo emissor/autor e então a possibilidade de diálogo fica comprometida irreparavelmente. Nenhum dos argumentos citados teria razão de ser. Isso quer dizer que, sem aceitação do pressuposto, não é possível o diálogo ou este não teria nenhum sentido.



Tela 13
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É necessário ficar atento a todos os elementos que compõem o texto, uma vez que os pressupostos apresentam-se, nas frases, por meio de vários indicadores linguísticos, como os que apresentamos a seguir.


A discriminação racial tornou-se caso de polícia.

Pressuposto: A discriminação racial, antes, não era caso de polícia.


As medidas econômicas ainda não surtiram efeito no bolso do brasileiro.


Pressuposto:
As medidas econômicas já deviam ter surtido efeito.
ou
Os efeitos vão surtir mais tarde.


Os partidos radicais acabarão com a democracia no Brasil.

Pressuposto: Existem partidos radicais no Brasil.



Quando se pratica uma ação, a palavra que representa essa ação, indicando o momento que ela ocorre, é o verbo. Saber +




Adjetivos são as palavras que caracterizam um substantivo, atribuindo-lhe qualidade, estado ou modo de ser. No caso em questão, o adjetivo radicais foi utilizado com sentido restritivo, ou seja, não se refere a todos os partidos, apenas àqueles que são radicais. Saiba + sobre adjetivos.



Tela 14
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Verbo
é a palavra que expressa ação, estado e fenômeno da natureza situados no tempo.

Flexão

O verbo é constituído, basicamente, de duas partes: radical e terminações.
Exemplo:
radical: escrev
terminações: o, es, e, emos, eis, em.
As terminações do verbo flexionam (variam) para indicar a pessoa, o número, o tempo, o modo.

Classificação
Os verbos admitem vários tipos de classificação, que englobam aspectos de sentido ou significado (semânticos) e de forma (morfológicos). Podem ser assim divididos:
Quanto à semântica
Verbos transitivos: designam ações voluntárias, causadas por um ou mais indivíduos, e que afetam outro(s) indivíduo(s) ou alguma coisa, exigindo um ou mais objetos na ação. Podem ser transitivos diretos se precedem diretamente o objeto, ou indiretos, se exigem uma preposição antes do objeto.
Exemplos: dar, fazer, vender, escrever, amar etc.
Verbos intransitivos: indicam ações voluntárias, causadas por um ou mais indivíduos, mas que não afetam outros indivíduos.
Exemplos: andar, existir, nadar, voar etc.
Verbos de ligação: são os verbos que, em vez de ações, designam situações. Servem para ligar o sujeito ao predicativo.
Exemplos: ser, estar, parecer, permanecer, continuar, andar, tornar-se, ficar, viver, virar etc.
Verbos impessoais: são verbos que indicam ações involuntárias. Geralmente, mas nem sempre, designam fenômenos meteorológicos e, portanto, não têm sujeito nem objeto na oração.
Exemplos: chover, anoitecer, nevar, haver (no sentido de existir) etc.
Quanto à morfologia
Verbos regulares: Flexionam sempre de acordo com os paradigmas da conjugação a que pertencem. Exemplos: amar, vender, partir, etc.
Verbos irregulares: Sofrem algumas modificações em relação aos paradigmas da conjugação a que pertencem. Exemplos: resfolegar, caber, medir ("eu resfolgo", "eu caibo", "eu meço", e não "eu resfolego", "eu cabo", "eu medo").
Verbos anômalos: São verbos que não seguem os paradigmas da conjugação a que pertence, sendo que muitas vezes o radical é diferente em cada conjugação. Exemplos: ir, ser, ter ("eu vou", "ele foi"; "eu sou", "tu és", "ele tinha", "eu tivesse", e não "eu io", "ele iu", "eu sejo", "tu sês", "ele tia", "eu tesse"). O verbo "pôr" pertence à segunda conjugação e é anômalo a começar do próprio infinitivo).
Verbos defectivos: São verbos que não têm uma ou mais formas conjugadas. Exemplos: reaver, precaver - não existem as formas "reavejo", "precavenha", etc.
Verbos abundantes: São verbos que apresentam mais de uma forma de conjugação. Exemplos: encher - enchido, cheio; fixar - fixado, fixo.
Quanto à conjugação
Na língua portuguesa, três vogais antecedem o "r" na formação do infinitivo: a-e-i. Essas vogais caracterizam a conjugação do verbo. Os verbos estão agrupados, então, em três conjugações:
primeira conjugação: são os verbos cuja vogal temática é a: molhar, cortar, relatar, etc.
segunda conjugação: são os verbos cuja vogal temática é e: receber, conter, poder etc. O verbo anômalo pôr (único com o tema em o), com seus compostos, também é considerado da segunda conjugação devido à sua forma antiga (poer).
terceira conjugação: são os verbos cuja vogal temática é i: sorrir, fugir, iludir etc.
Vozes do Verbo
Voz é a maneira como se apresenta a ação expressa pelo verbo em relação ao sujeito. São três as vozes verbais:
Ativa - o sujeito é o agente da ação, ou seja, é ele quem pratica a ação. Ex.: Ele plantou a árvore.
Passiva - o sujeito é paciente, isto é, sofre a ação expressa pelo verbo.
A voz passiva é dividida em:
Voz passiva analítica: apresenta o verbo auxiliar (ser, estar, ficar) + particípio do verbo indicador da ação. Ex.: A árvore foi plantada por ele.
Voz passiva sintética: apresenta verbo indicador da ação + o pronome apassivador SE. Ex.: Pintam-se casas.
Reflexiva - o sujeito é, simultaneamente, agente e paciente da ação verbal, isto é, ao mesmo tempo, pratica e sofre a ação expressa pelo verbo. Ex.: O jogador de futebol contundiu-se na partida.


Pessoa
: primeira (transmissor), segunda (receptor), terceira (mensagem).

1ª pessoa – é aquela que fala. (eu pago);
2ª pessoa – é aquela com quem se fala. (tu cantas);
3ª pessoa – é aquela de quem se fala. (eles venderam).



Número
: singular e plural.

Vendo – singular;
Venderam – plural.

Observe que número e pessoa estão interligados:

Eu pago – 1ª pessoa do singular;
Eles venderam – 3ª pessoa do plural.



Tempo
: os tempos verbais indicam fatos que acontecem no momento da fala, fatos conclusos, fatos não concluídos no momento em que estavam sendo observados e fatos que acontecem depois do momento da fala ou um fato futuro, mas ligado a outro, no passado.

Os tempos verbais dividem-se em:

Presente: indica que os fatos acontecem no momento da fala. Ex.: Cláudia faz os trabalhos domésticos.
Pretérito: expressam fatos passados, que ocorreram anteriormente à fala.

pretérito perfeito: expressam fatos conclusos. Ex.: Igor limpou a sala.
pretérito imperfeito: expressa fatos ou acontecimentos que não foram concluídos no momento em que estavam sendo observados. Ex.: Igor limpava a sala, quando Danilo chegou.
pretérito mais-que-perfeito: expressa fatos concluídos, mas que aconteceram antes de outros fatos concluídos. Ex.: Igor pintou a sala na qual fizera uma reforma.

Futuro: expressa fatos que acontecem depois do momento da fala ou um fato futuro, mas ligado a outro, no passado.

futuro do presente: expressa fatos que acontecem após o momento da fala. Ex.: Igor pintará; a sala.
futuro do pretérito: indica um fato futuro, mas relacionado a outro, no passado. Ex.: Igor pintaria a casa, mas foi chamado para uma reunião de trabalho minutos antes.



Modo
: os modos verbais indicam diferentes maneiras de um fato ser expresso. São, portanto, três modos verbais:

Indicativo (fato certo). Ex.: Tu partirás amanhã.
Subjuntivo (fato duvidoso, hipotético). Ex.: Se tu partisses amanhã...
Imperativo (ordem, pedido, conselho). Ex.: Não partas amanhã.



Tela 15
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Advérbio é a classe gramatical das palavras que expressam circunstâncias. Não se modificam conforme o gênero (masculino e feminino) ou número (singular e plural), por isso, dizemos que é invariável.
O advérbio acompanha e modifica o sentido de verbos, adjetivos ou outros advérbios.
Ex.: "O doente sofreu muito". (advérbio ligado ao verbo sofrer),
"A joia era muito brilhante". (advérbio muito ligado ao adjetivo brilhante),
"O trabalho ficou pronto muito tarde". (advérbio ligado ao advérbio tarde)
Os advérbios expressam circunstâncias, tais como:
• Afirmação (sim, realmente...)
• Dúvida (provavelmente, talvez...)
• Lugar (aqui, ali...)
• Intensidade (tão, muito...)
• Modo (delicadamente, rapidamente...)
• Negação (nunca, não, nem...)
• Tempo (ontem, sempre, amanhã...)
Quando há duas ou mais palavras com valor de advérbio, temos uma locução adverbial. Exemplo:
Rubens estava morrendo de medo. (locução adverbial que expressa a circunstância de causa);
A bela mulher apareceu na porta. (locução adverbial que expressa a circunstância de lugar)
Não se preocupe em memorizar os advérbios ou locuções adverbiais. O que faz com que uma palavra pertença a uma classe é a relação que ela estabelece com as outras. Por exemplo, a palavra meio pode ser advérbio, mas nem sempre o será. Veja:
"Estava meio atrasado" (advérbio)
"Resolvi dar meia volta" (numeral)
"O meio político era favorável para a disseminação daquelas ideias" (substantivo)



Tela 16
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Adjetivo
é o termo que indica as propriedades ou as qualidades que se encontram nos seres ou nas coisas.
Do ponto de vista semântico (de significado, sentido), o adjetivo é a palavra que designa qualidade do substantivo (ou palavra equivalente).
Do ponto de vista sintático (conforme o papel que exerce na oração), na frase, o adjetivo funciona como modificador do substantivo (ou palavra de valor substantivo). Ex.: tempo bom em Brasília.

Classificação

Quanto à origem e formação - os adjetivos podem ser classificados quanto à sua formação, bem como ao fato de serem originados ou não por outras palavras:
  • primitivo: é o que não resulta de outra palavra. Ex.: belo, alegre, feliz.
  • derivado: é o que resulta de outra palavra, normalmente de outra classe gramatical, chamada de palavra raiz ou radical. Ex.: amável, adorável, mortal.
  • simples: é o que só tem um radical. Ex.: brasileiro, suave, fraco, surdo.
  • composto: é o que tem mais de um radical. Ex.: surdo-mudo, luso-brasileiro, ultravioleta.
Quanto à semântica - a classificação semântica dos adjetivos pode variar de acordo com o tipo de característica que exprimem. Alguns exemplos:
  • restritivo: quando particulariza um subconjunto dentro de um conjunto de seres. Ex.: fogo azul, cidade moderna.
  • explicativo: quando não particulariza um subconjunto dentro de um conjunto de seres. Ex.: neve branca, fogo quente.
  • pátrio: designa a nacionalidade, procedência, origem da pessoa ou coisa representada pelo substantivo a que se refere: povo português, clima paulistano, Revolução Francesa.
Tem-se, ainda os adjetivos de cor, de forma, de qualidade, de defeito, de temperatura etc.

Flexão dos adjetivos

De uma forma geral, os adjetivos são flexionados para acompanhar e concordar com os substantivos que o acompanham e também para intensificar ou comparar o seu valor. O adjetivo assume flexões de gênero (feminino ou masculino), número (singular ou plural) e grau (intensidade ou comparação).
Flexão de gênero (masculino ou feminino) – o adjetivo deve assumir o gênero do substantivo que o acompanha. A classificação dos adjetivos quanto ao gênero compreende dois grandes grupos:
  • Uniforme – é aquele que tem uma só forma para os dois gêneros: forte (homem forte, mulher forte), fácil, inferior, dócil, veloz.
  • Biforme: é o que tem uma forma típica para cada gênero (uma forma para o masculino, outra para o feminino): belo/bela, alto/alta, bom/boa. Ex.: menino esperto, menina esperta.
Flexão de número (singular ou plural) – no caso dos adjetivos simples, a flexão para o plural segue as mesmas regras dos substantivos. Ex.: pessoa cordial, pessoas cordiais; criança feliz, crianças felizes.
A flexão para o plural de adjetivos compostos geralmente ocorre no último radical. Ex.: ele é afrodescendente, eles são afrodescendentes; tropa luso-brasileira, tropas luso-brasileiras; problema político-institucional, problemas político-institucionais.

Flexão de grau - a variação de grau nos adjetivos ocorre quando se deseja fazer uma comparação ou intensificar o seu valor. Alguns gramáticos classificam os graus do adjetivo em:
Grau comparativo – quando estabelece uma comparação entre dois seres de uma mesma característica que ambos possuem. Há três tipos de grau comparativo: de superioridade, de igualdade e de inferioridade.
Grau superlativo - usa-se o grau superlativo para intensificar uma determinada característica. Subdivide-se em:
  • superlativo absoluto, quando a característica expressa não é apresentada em relação a outros seres. Ex.: Era uma aluna muito bonita.
  • superlativo relativo, quando apresenta a característica do substantivo em relação a outros seres. Ex.: Júlia era a mais bonita da sala.


Alguns adjetivos compostos, sobretudo os que dizem respeito a nome de cores, são invariáveis quanto ao número, outros poucos variam os dois radicais para o plural ou o primeiro. Veja alguns exemplos:

Invariáveis: camisa azul-marinho, camisas azul-marinho; meia azul-celeste, meias azul-celeste; papel vermelho-sangue, papéis vermelho-sangue; ele é o topa-tudo, eles são os topa-tudo; entre outros.
Variáveis nos dois radicais e outras exceções: rapaz surdo-mudo, rapazes surdos-mudos; ele é um autêntico joão-ninguém, eles são autênticos joões-ninguém; a moça é surda-cega; as moças são surdas-cegas.

Atenção: quando o último elemento é substantivo, não há flexão (Ex.: camisas verde-abacate, cortinas amarelo-ouro).




O grau comparativo de superioridade tem a seguinte composição:
Mais + ADJETIVO + que (do que)
Exemplos:

Gabriel é mais inteligente que João.
Esse carro é mais caro do que rápido.



O grau comparativo de igualdade tem a seguinte composição:
Tão + ADJETIVO + quanto (como)
Exemplos:

A Maria é tão bonita quanto a Luciana.
O Word é tão prático quanto o Excel.



O grau comparativo de inferioridade tem a seguinte composição:
Menos + ADJETIVO + que
Exemplos:

A sua sala é menos espaçosa que a minha.
João é menos estudioso que Pedro.



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Módulo 01 - Definições, visão sistêmica e classificação dos sistemas de produção

Resumo

O leitor atento não lê do mesmo jeito os diferentes tipos de textos. Ele deve ter a capacidade de adaptar os procedimentos de leitura a cada tipo de texto, conforme a natureza das informações apresentadas e a abordagem dos assuntos.

Alguns textos não registram todas as informações necessárias para sua compreensão e interpretação, o que exige do leitor a habilidade de “ler nas entrelinhas”, desvendando os implícitos com base nos dados explícitos e nas informações do contexto. Se o leitor não consegue desvendar os implícitos, fica limitado ao entendimento literal do texto e não compreende as pistas, aquilo que é apenas sugerido.

A leitura de diversos textos, sobretudo os humorísticos – por exigirem agilidade de raciocínio e capacidade analítica –, é um bom exercício para a aquisição da prática de percepção dos implícitos. Isso porque quanto mais você lê, maior será sua bagagem de informações e, consequentemente, melhor percepção você terá do contexto, tornando mais fácil a compreensão do texto.

Chamamos de pressupostos as ideias não escritas no texto, mas que são perceptíveis ao leitor devido às palavras contidas nas frases. O pressuposto em um texto funciona como uma informação que busca sustentar o que está sendo dito pelo narrador e deve ser tomado como verdade absoluta. Esse recurso é muito utilizado pelos autores quando querem passar informações sem, contudo, comprometerem-se. Assim, deixam para o leitor a responsabilidade de tirar suas próprias conclusões.

Pressupostos e implícitos são recursos frequentes utilizados por autores no momento da elaboração de seus textos. Para garantir uma boa leitura, você precisa estar atento a situações em que apenas a apreensão do sentido literal não é o bastante para a compreensão do texto.



Unidade 2 Módulo 2
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1 - Inferências: a busca de pistas

Observe a imagem e leia a legenda.

Ao olhar a foto, você pode imaginar as mais variadas situações e chegar a diversas conclusões, que são acionadas a partir do seu conhecimento prévio sobre o assunto, tais como:

– Não se pode mais passear de carro em segurança!
– A violência está tomando conta das ruas!
– Olha a cara dela! Nunca mais vai sair de casa.

E tantas outras mais. O conhecimento anterior sobre o assunto aciona todas estas informações a partir do que você lê nas imagens. Isto é a produção de inferências. Esse processo ocorre não apenas em relação ao texto visual, mas em qualquer tipo de texto, incluindo os gestos, as entonações na voz, os olhares durante uma simples conversa.


A inferência
pode ser definida como o processo de raciocínio segundo o qual se conclui alguma coisa a partir de outra já conhecida.



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Agora, leia atentamente a notícia que acompanha a imagem.


Mulher é atingida por bala perdida na Linha Amarela, no Rio.

Gabriela de Lemos Veras, de 35 anos, foi atingida por uma bala perdida ontem, no antebraço direito, quando seguia para o trabalho, no Tribunal de Justiça do Rio. Ela estava no banco do carona do carro dirigido pelo marido, o tenente da Marinha Irlan Viana Rodrigues, de 29. O casal estava parado em um sinal, na altura da Favela da Maré.

Conforme a resposta dada, é possível analisar o processamento cognitivo elaborado. Isso quer dizer que conseguimos verificar de que forma você assimilou a nova informação, se as agregou aos conhecimentos anteriores, se produziu novos conhecimentos, se observou os detalhes, se atentou mais para as informações da imagem ou do texto.

Portanto, ao fazer a leitura de um texto, você, leitor, deve procurar obter todas as informações e indícios que possibilitem a compreensão. Observe as pistas que o texto oferece e procure interpretá-las à luz de referências conhecidas para chegar a alguma conclusão. É assim que procede um leitor atento.



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Clique no link abaixo e leia com atenção o texto.


Caso encerrado, mas não resolvido

Embora não possamos afirmar que o detetive solucionou o caso adequadamente, é inegável que ele seja um perito em inferências.

De certa forma, no nosso dia a dia, agimos como um detetive que observa as pistas deixadas no cenário do ocorrido e as interpreta à luz de referências conhecidas para chegar a alguma conclusão.

Vamos explorar as possibilidades do tipo de raciocínio desenvolvido pelo detetive. Após uma observação dos procedimentos por ele adotados, a primeira conclusão a que se pode chegar é óbvia: ninguém pensa a partir do nada. Consciente desse fato, é fundamental que você procure obter sempre as informações ou indícios que, uma vez analisados, tornarão possível vislumbrar alguma conclusão.

O detetive observa uma série de indícios deixados: o tapete sujo de lama, a porta aberta – apesar do frio que fizera na noite anterior, o desaparecimento de um prato cheio de sanduíches. Essas pistas levam-no a inferir que havia um mistério a ser desvendado. Essa é uma conclusão a que ele chegou com base na análise dos indícios observados no local. Ela não está escrita – somente nós, leitores a temos –, não pode ser confirmada por meio de uma pergunta, pois ninguém estava em casa, além do escritor. Para chegar a essa conclusão, tudo de que o detetive dispõe são os indícios observados no local, as informações dadas pela empregada e o seu conhecimento sobre o comportamento humano. Ao confrontar indícios e conhecimento é que ele pode chegar a uma conclusão.

Pois bem, o procedimento de raciocínio que demonstramos com o auxílio do exemplo do detetive é, na verdade, a elaboração de uma inferência. Com os dados de que dispõe e o conhecimento que tem dos fatos referentes ao comportamento humano (hábito de fechar a porta para se proteger do frio, por exemplo), o detetive inferiu algo acerca das circunstâncias da morte do escritor.



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Eram mais ou menos 2 horas da madrugada, quando a porta se abriu e uma lufada de vento entrou pela sala, espalhando os papéis que estavam sobre a mesa. Atrás do vento entrou um homem horrível, com cara de macaco, orelhas grandes e cabeludas. Seu olhar era de faminto e sua expressão era a de um louco. Imenso, deu dois passos em direção ao dono da casa e, estendendo a mão enorme, disse com voz rouca:

— Eu quero comer.

O escritor, que estava escrevendo em sua pequena máquina portátil, levantou-se apavorado e caiu no chão, fulminado por ataque cardíaco. Aquele que entrara tão abruptamente, ficou indeciso no meio da sala, sem saber se pisava no tapete imaculadamente limpo com seus sapatos cambaios e sujos de barro, se socorria o outro ou dava o fora. Acabou optando pela última hipótese: atravessou a sala, apanhou um prato cheio de sanduíches, que estava ao lado da máquina de escrever, e saiu correndo, sem ter cuidado de fechar a porta.

No dia seguinte, pela manhã, a empregada encontrou o cadáver do escritor e chamou a Polícia. Pouco tinha a declarar. Ao comissário Jeff Thomas (famoso na localidade por jamais ter descoberto nenhum criminoso), explicou que chegara pela manhã, para o serviço, e encontrara o patrão morto. Trabalhava para ele havia mais de um ano e pouco sabia a seu respeito. Era escritor de contos de terror, que uma empresa americana editava com êxito. Sofria do coração e era um homem excêntrico. Morava sozinho naquela casa afastada da cidade e só recebia, de raro em raro, a visita do editor ou do médico, que o examinava regularmente. Não parecia ter inimigos, mas estava sempre com ar soturno, como a imaginar os personagens de seus contos misteriosos.

Jeff Thomas botou o cachimbo apagado no bolso (nunca fumava; usava cachimbo porque ouvira dizer que todo policial inglês usa cachimbo), agradeceu à empregada os esclarecimentos prestados, que, por sinal, não esclareciam nada, e pegou o laudo médico que o legista acabara de assinar. Lá estava: morte natural (colapso cardíaco).

Jeff sentiu que o caso estava encerrado. Embora estivesse certo de que alguém entrara naquela sala antes da empregada. O tapete sujo de lama (fora limpo na véspera, segundo a empregada), a porta escancarada, mesmo com o frio que fizera na noite anterior, o desaparecimento de um prato cheio de sanduíches, que a empregada garantiu que colocara ao lado da máquina do escritor — tudo isso lhe dava a certeza de que, naquele caso, havia um mistério qualquer.

Jeff gostava de ser detetive, mas não gostava de se chatear. O homem morrera do coração, não havia suspeitos, logo o melhor era mandar o corpo para o necrotério e avisar a família. Deu esta ordem aos seus auxiliares e — apenas por desencargo de consciência — apanhou o papel que estava na máquina de escrever, para juntar ao relatório que seria obrigado a fazer. Eram as últimas palavras escritas pelo escritor falecido. Jeff leu e não deu qualquer importância. Era, por certo, o início de mais uma história de terror e começava assim:

“Eram mais ou menos 2 horas da madrugada, quando a porta se abriu e uma lufada de vento entrou pela sala, espalhando os papéis que estavam sobre a mesa. Atrás do vento entrou um homem horrível, com cara de macaco, orelhas grandes e cabeludas. Seu olhar era de faminto e sua expressão era a de um louco. Imenso, deu dois passos em direção ao dono da casa e, estendendo a mão enorme, disse com voz rouca:

— Eu quero comer.”
PONTE PRETA, Stanislaw. Tia Zulmira e eu. Rio de janeiro, Codecri, 1968. p. 93


Tela 22
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Agora, façamos um pequeno exercício. Mas, lembre-se: as informações obtidas na leitura do texto devem ser confrontadas com o seu conhecimento da realidade. É esse o processo analítico que permite a elaboração de conclusões a partir do que se infere do texto.

Com base no texto lido, indique V se a afirmativa for verdadeira e F se for falsa.



Eram mais ou menos 2 horas da madrugada, quando a porta se abriu e uma lufada de vento entrou pela sala, espalhando os papéis que estavam sobre a mesa. Atrás do vento entrou um homem horrível, com cara de macaco, orelhas grandes e cabeludas. Seu olhar era de faminto e sua expressão era a de um louco. Imenso, deu dois passos em direção ao dono da casa e, estendendo a mão enorme, disse com voz rouca:

— Eu quero comer.

O escritor, que estava escrevendo em sua pequena máquina portátil, levantou-se apavorado e caiu no chão, fulminado por ataque cardíaco. Aquele que entrara tão abruptamente, ficou indeciso no meio da sala, sem saber se pisava no tapete imaculadamente limpo com seus sapatos cambaios e sujos de barro, se socorria o outro ou dava o fora. Acabou optando pela última hipótese: atravessou a sala, apanhou um prato cheio de sanduíches, que estava ao lado da máquina de escrever, e saiu correndo, sem ter cuidado de fechar a porta.

No dia seguinte, pela manhã, a empregada encontrou o cadáver do escritor e chamou a Polícia. Pouco tinha a declarar. Ao comissário Jeff Thomas (famoso na localidade por jamais ter descoberto nenhum criminoso), explicou que chegara pela manhã, para o serviço, e encontrara o patrão morto. Trabalhava para ele havia mais de um ano e pouco sabia a seu respeito. Era escritor de contos de terror, que uma empresa americana editava com êxito. Sofria do coração e era um homem excêntrico. Morava sozinho naquela casa afastada da cidade e só recebia, de raro em raro, a visita do editor ou do médico, que o examinava regularmente. Não parecia ter inimigos, mas estava sempre com ar soturno, como a imaginar os personagens de seus contos misteriosos.

Jeff Thomas botou o cachimbo apagado no bolso (nunca fumava; usava cachimbo porque ouvira dizer que todo policial inglês usa cachimbo), agradeceu à empregada os esclarecimentos prestados, que, por sinal, não esclareciam nada, e pegou o laudo médico que o legista acabara de assinar. Lá estava: morte natural (colapso cardíaco).

Jeff sentiu que o caso estava encerrado. Embora estivesse certo de que alguém entrara naquela sala antes da empregada. O tapete sujo de lama (fora limpo na véspera, segundo a empregada), a porta escancarada, mesmo com o frio que fizera na noite anterior, o desaparecimento de um prato cheio de sanduíches, que a empregada garantiu que colocara ao lado da máquina do escritor — tudo isso lhe dava a certeza de que, naquele caso, havia um mistério qualquer.

Jeff gostava de ser detetive, mas não gostava de se chatear. O homem morrera do coração, não havia suspeitos, logo o melhor era mandar o corpo para o necrotério e avisar a família. Deu esta ordem aos seus auxiliares e — apenas por desencargo de consciência — apanhou o papel que estava na máquina de escrever, para juntar ao relatório que seria obrigado a fazer. Eram as últimas palavras escritas pelo escritor falecido. Jeff leu e não deu qualquer importância. Era, por certo, o início de mais uma história de terror e começava assim:

“Eram mais ou menos 2 horas da madrugada, quando a porta se abriu e uma lufada de vento entrou pela sala, espalhando os papéis que estavam sobre a mesa. Atrás do vento entrou um homem horrível, com cara de macaco, orelhas grandes e cabeludas. Seu olhar era de faminto e sua expressão era a de um louco. Imenso, deu dois passos em direção ao dono da casa e, estendendo a mão enorme, disse com voz rouca:

— Eu quero comer.”

PONTE PRETA, Stanislaw. Tia Zulmira e eu. Rio de janeiro, Codecri, 1968. p. 93.



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Vejamos mais um exemplo. Leia a tira a seguir, de Hagar, famoso personagem do escritor americano Dik Browne.

A primeira informação de que você dispõe para dar início ao raciocínio é a fala de Hagar esclarecendo que nem todos os vikings usam chifres. Na verdade, os chifres denotam importância.


No último quadrinho, quando a personagem Helga (esposa de Hagar) é apresentada, podemos observar o tamanho dos chifres que ela usa.

Qual seria, então, a conclusão? Se os chifres denotam importância e os de Helga são evidentemente maiores do que os de Hagar, podemos concluir que ela é mais importante do que ele.

Complete as lacunas do comentário abaixo, arrastando os nomes do quadro para o espaço adequado.

Quanto mais informações você tiver sobre o personagem, mais fácil será a compreensão da tira. Se você souber, por exemplo, que Hagar é um guerreiro que quer mais é salvar a pele nas batalhas e poder beber tranquilamente a sua cerveja, que volta para casa das duras guerras para obedecer à esposa, Helga, uma legítima mulher bárbara de pulso firme, então conseguirá compreender imediatamente o humor da tira.



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2 - O diálogo entre textos

Alguma vez, ao ver uma determinada propaganda ou ler um texto, você teve a impressão de já ter visto aquilo em algum lugar? Observe a imagem e leia com atenção o anúncio reproduzido a seguir.


O que há de familiar no anúncio? É fácil: a referência a uma famosa obra de arte.


Mesmo que a arte não seja sua especialidade, é muito difícil que você não conheça a Mona Lisa, famoso quadro de Leonardo da Vinci.

Qual é, porém, a relação existente entre a obra de Da Vinci e o anúncio da Bom Bril? Em princípio, não deveria haver qualquer relação, mas ela é estabelecida a partir do momento em que o texto do anúncio faz referência ao famoso quadro. O anúncio sugere ao leitor que o produto Mon Bijou deixa a roupa bem macia e perfumada, ou seja, uma verdadeira obra-prima, se referindo ao quadro de Da Vinci. O que ocorre, neste exato momento, é a construção de uma relação intertextual que liga a obra de Da Vinci ao texto do anúncio da Bom Bril.


Intertextualidade
é a relação que se estabelece entre dois textos, quando um deles faz referência a elementos existentes no outro. Esses elementos podem dizer respeito ao conteúdo, à forma, ou mesmo à forma e ao conteúdo.



Tela 25
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No caso do anúncio da Bom Bril, perceber a relação entre os dois textos é bastante simples. A questão é saber qual o motivo de o autor do anúncio desejar que ela seja feita por todos aqueles que lerem seu texto publicitário. Como você pode perceber, continuamos no campo dos significados implícitos, aqueles que, embora não ditos, são sugeridos para que o leitor, sozinho, se encarregue de estabelecer conclusões.

Leia, agora, o anúncio a seguir e tente identificar a intertextualidade.

A intertextualidade aqui está evidente: a referência a um sapatinho de cristal que teria enlouquecido um príncipe. É muito difícil encontrar alguém que, na infância, não tenha ouvido a história da Gata Borralheira ou Cinderela.

Qual pode ser o significado que o autor pretendeu sugerir com a construção dessa intertextualidade? Indique (V) se a afirmativa for verdadeira e (F) se for falsa.

Viu só? É exatamente nesse tipo de raciocínio que a propaganda investe e ele é todo construído a partir dos implícitos estabelecidos pela intertextualidade. A questão, na realidade, não é perceber ou não a existência de uma relação intertextual. O que ocorre é que o sentido do texto é construído a partir do estabelecimento dessa relação e se você não for capaz de identificá-la, não conseguirá entender o sentido do texto que está lendo.



Gata Borralheira

Famosa personagem dos contos de fada, a Gata Borralheira, também conhecida como Cinderela, era uma jovem pobre, linda e doce, explorada por suas irmãs e tratada como uma escrava. Com a ajuda de sua fada-madrinha, porém, vai a um importante baile em que o príncipe escolherá sua futura esposa. O príncipe fica encantado por ela, mas há um problema: à meia-noite em ponto, Cinderela deve voltar para casa, porque os encantamentos que transformaram uma abóbora na carruagem que a transportou irão se desfazer. Ao ouvir a primeira badalada do relógio, Cinderela corre, deixando para trás um príncipe atônito e um sapatinho de cristal.

No dia seguinte, o príncipe decide encontrar sua amada e sai a visitar todas as casas do reino à procura da dama cujo pé coubesse no sapatinho de cristal. Ao chegar à casa de Cinderela, é recebido pelas irmãs maldosas e interesseiras que tentam fazer seus pés entrarem no pequeno sapato. Percebendo a presença de uma linda moça que ainda não o havia experimentado, o príncipe insiste para que ela tente. Cinderela experimenta o sapato que, como já sabemos, cabe direitinho em seu minúsculo pé. Pronto! Era o que faltava para que a história chegasse ao fim com a reunião dos amantes que serão eternamente felizes.

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É necessário ter o hábito da leitura para perceber as relações intertextuais e, portanto, ter condições de entender o verdadeiro sentido do texto em que essas relações se fazem. É óbvio! Se a intertextualidade é o estabelecimento de relações entre dois ou mais textos, você precisa construir um conjunto de referências de leitura que permitam a identificação dessas relações.

Observe o anúncio a seguir.


E então, entendeu o anúncio? Conseguiu perceber a intertextualidade estabelecida? Se sua resposta é sim, parabéns! Mas não se envergonhe se a resposta for negativa em ambos os casos. Este não é um exemplo fácil. O anúncio faz referência a um famoso poema intitulado “No meio do caminho”, de Drummond.

O autor desenvolve o texto com frases repetidas, em um contínuo desafio ao leitor, tantas são as vezes em que a frase se repete. No poema, Drummond atribui dimensão alegórica à palavra pedra, que pode ser entendida como símbolo dos obstáculos que a gente encontra na vida. A intenção do autor do anúncio, nesse caso, seria atribuir à caneta uma importância maior, como se o seu uso tornasse mais fácil o alcance do sucesso. Ou, se formos mais adiante, o sucesso só será possível se utilizarmos a caneta anunciada, já que esta se encontra na fronteira, um local por onde precisamos passar para avançar em nosso caminho.



No Meio do Caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Carlos Drummond de Andrade



Alegoria é a exposição de um pensamento sob forma figurada.



Tela 27
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Relações intertextuais como a que acabamos de examinar acabam sendo, no fundo, uma conversa de leitores privilegiados. Só os conhecedores do poema de Drummond compreenderão a mensagem passada pelos anunciantes da caneta.

Em muitos casos, o que se constata é que a capacidade de perceber as relações intertextuais cria uma espécie de grupo privado, ao qual só têm acesso pessoas que dispõem de um referencial de leitura acumulado ao longo da vida e que, por essa razão, identificam prontamente as relações estabelecidas. Nesse grupo, há um pressuposto partilhado por todos os membros: a leitura é condição necessária para participação. Fazem parte do ‘‘grupo” todos aqueles que, por terem experimentado, ao longo da vida, o prazer de passar horas e horas lendo livros, dispõem agora de um conjunto variado de referências, ao qual recorrem, sempre que necessário.

Quando não compreendemos determinadas piadas ou algumas propagandas, é bem possível que isso seja em razão da falta de referências suficientes para compreender o humor ou a mensagem que se deseja transmitir.

De certa forma, não dispor das referências necessárias pode nos aproximar da condição dos analfabetos, que não leem porque desconhecem o valor simbólico das letras. Aqui, não lemos porque não somos capazes de compreender as relações intertextuais, embora conheçamos todos os símbolos usados para representá-las.



Tela 28
Módulo 01 - Definições, visão sistêmica e classificação dos sistemas de produção

Resumo

Na leitura de textos podemos observar a ocorrência de significados implícitos, aqueles que, embora não ditos, são sugeridos para que o leitor se encarregue de estabelecer conclusões sozinho. Isso ocorre porque o conhecimento anterior sobre o assunto aciona todas as informações a partir do que é lido nos textos. Esse processo, conhecido como produção de inferências, ocorre não apenas em relação ao texto visual, mas em qualquer tipo de texto, incluindo os gestos, as entonações na voz, os olhares durante uma simples conversa.

A inferência pode ser definida como o processo de raciocínio segundo o qual se conclui alguma coisa a partir de outra já conhecida. Ao fazer a leitura de um texto, o leitor deve procurar obter todas as informações e indícios que possibilitem a compreensão. É importante observar as pistas que o texto oferece e interpretá-las à luz de referências conhecidas para chegar a alguma conclusão.

O leitor também pode captar informações implícitas caso consiga compreender a intertextualidade. Intertextualidade é a relação que se estabelece entre dois textos, quando um deles faz referência a elementos existentes no outro. Esses elementos podem dizer respeito ao conteúdo, à forma, ou mesmo à forma e ao conteúdo.

É necessário ter o hábito da leitura para perceber as relações intertextuais e, portanto, ter condições de entender o verdadeiro sentido do texto em que essas relações se fazem. Se a intertextualidade é o estabelecimento de relações entre dois ou mais textos, é fundamental construir um conjunto de referências de leitura que permitam a identificação dessas relações.



Unidade 2 Módulo 3
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1 - Identificando o tema de um texto

Para que lemos? Lemos para atender a uma necessidade pessoal: saber quais são as notícias do dia, que novidades a revista traz, qual é a receita de um prato, como montar um equipamento, quais as regras de um jogo, obter novos conhecimentos, apreender os encantos de um poema ou as emoções de um livro de aventuras.

A leitura é um processo dinâmico entre o leitor e o texto propriamente. O leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto a partir do que está buscando nele, dos conhecimentos que já possui a respeito do assunto, do autor e do que sabe sobre a língua – características do gênero, do portador, do sistema de escrita. Ou seja, ninguém pode extrair informações do texto escrito decodificando letra por letra, palavra por palavra.

Se você analisar sua própria leitura de cada texto, vai constatar que a decodificação é apenas um dos procedimentos que utiliza para ler: a leitura fluente envolve uma série de outras estratégias, isto é, de recursos para construir significado; sem elas, não é possível alcançar rapidez e apreensão.



Tela 30
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O gênero, o autor, o título e muitos outros elementos nos informam o que é possível que encontremos em um texto. Assim, se formos ler um texto de Jorge Amado (por exemplo, Capitães da Areia), é previsível que encontraremos determinados personagens, certas palavras e lugares da Bahia, ou especificamente de Salvador. E se conhecermos esse autor um pouco mais, certamente já teremos uma noção de seu universo e que este poderá abordar questões sociais.

Esse exercício se torna automático, e cada leitor pode inferir diferentes contextos em paralelo ao texto lido, de acordo com suas referências, com o conhecimento que tem do assunto e com o universo vocabular que possui. E, quanto mais lemos, mais passamos a compreender os diversos pontos de vista relacionados ao assunto abordado por determinado autor.



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Vejamos, na prática, a leitura de um texto de Rubem Alves:


Bachelard
se refere aos “sonhos fundamentais“ da alma. “Sonhos fundamentais“: o que é isso? É simples. Há sonhos que nascem dos eventos fortuitos, peculiares a cada pessoa. Esses sonhos são só delas: sonhos acidentais, individuais. Mas há certos sonhos que moram na alma de todas as pessoas. Jung deu a esses sonhos universais o nome de “arquétipos“. Esses são os sonhos fundamentais. O fato de termos, todos, os mesmos sonhos fundamentais, cria a possibilidade de “comunhão“. Ao compartilhar os mesmos sonhos descobrimo-nos irmãos.

Um desses sonhos fundamentais é um “jardim“. Faz de contas que a sua alma é um útero. Ela está grávida. Dentro dela há um feto que quer nascer. Esse feto que quer nascer é o seu sonho. Quem engravidou a sua alma eu não sei. Acho que foi um ser de um outro mundo... Imagino que o tal de “Big Bang“ a que se referem os astrônomos foi Deus ejaculando seu grande sonho e soltando pelo vazio milhões, bilhões, trilhões de sementes. Em cada uma delas estava o sonho fundamental de Deus: um jardim, um Paraíso... Assim, sua alma está grávida com o sonho fundamental de Deus...

Mas toda semente quer brotar, todo feto quer nascer, todo sonho quer se realizar. Sementes que não nascem, fetos que são abortados, sonhos que não são realizados, se transformam em demônios dentro da alma. E ficam a nos atormentar. Aquelas tristezas, aquelas depressões, aquelas irritações - vez por outra elas tomam conta de você – aposto que são o sonho de jardim que está dentro e não consegue nascer. Deus não tem muita paciência com pessoas que não gostam de jardins...

Bem... o que lemos aqui? O texto fala de qual assunto? Que elementos identificam o tema deste texto?

Vamos pensar um pouco sobre o texto e os elementos que o autor utiliza para construir suas ideias.



Em cosmologia, o Big Bang é a teoria científica que diz que o universo emergiu de um estado extremamente denso e quente há cerca de 13,7 bilhões de anos. Em um sentido mais estrito, o termo Big Bang designa a fase densa e quente pela qual passou o universo. Essa fase marcante de início da expansão foi assim chamada pela primeira vez ao ser comparada a uma explosão.



Em cosmologia, o Big Bang é a teoria científica que diz que o universo emergiu de um estado extremamente denso e quente há cerca de 13,7 bilhões de anos. Em um sentido mais estrito, o termo Big Bang designa a fase densa e quente pela qual passou o universo. Essa fase marcante de início da expansão foi assim chamada pela primeira vez ao ser comparada a uma explosão.



Carl Jung foi um dos maiores psiquiatras do mundo. Fundador da Escola Analítica de Psicologia, Jung introduziu termos como extroversão, introversão e o inconsciente coletivo e arquétipos. Jung ampliou as visões psicanalíticas de Freud, interpretando distúrbios mentais e emocionais como uma tentativa do individuo de buscar a perfeição pessoal e espiritual.



Carl Jung foi um dos maiores psiquiatras do mundo. Fundador da Escola Analítica de Psicologia, Jung introduziu termos como extroversão, introversão e o inconsciente coletivo e arquétipos. Jung ampliou as visões psicanalíticas de Freud, interpretando distúrbios mentais e emocionais como uma tentativa do individuo de buscar a perfeição pessoal e espiritual.



Gaston Bachelard, filósofo e poeta francês, estudou, sucessivamente, as Ciências e a Filosofia. Seu pensamento está focado sobretudo em questões referentes à Filosofia da Ciência.



Gaston Bachelard, filósofo e poeta francês, estudou, sucessivamente, as Ciências e a Filosofia. Seu pensamento está focado sobretudo em questões referentes à Filosofia da Ciência.



Tela 32
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Com base no texto de Rubem Alves, responda às questões seguintes, assinalando verdadeiro (V) ou falso (F):

A partir das reflexões deste exercício você percebeu que o autor utiliza diversos elementos para construir suas ideias, por exemplo, a comparação, a metáfora, entre outros recursos estilísticos. Até mesmo a pontuação pode ser um recurso, certo? E cada autor utilizará recursos diversos, o que fica mais evidente em seu estilo pessoal.



Bachelard se refere aos “sonhos fundamentais“ da alma. “Sonhos fundamentais“: o que é isso? É simples. Há sonhos que nascem dos eventos fortuitos, peculiares a cada pessoa. Esses sonhos são só delas: sonhos acidentais, individuais. Mas há certos sonhos que moram na alma de todas as pessoas. Jung deu a esses sonhos universais o nome de “arquétipos“. Esses são os sonhos fundamentais. O fato de termos, todos, os mesmos sonhos fundamentais, cria a possibilidade de “comunhão“. Ao compartilhar os mesmos sonhos descobrimo-nos irmãos.

Um desses sonhos fundamentais é um “jardim“. Faz de contas que a sua alma é um útero. Ela está grávida. Dentro dela há um feto que quer nascer. Esse feto que quer nascer é o seu sonho. Quem engravidou a sua alma eu não sei. Acho que foi um ser de um outro mundo... Imagino que o tal de “Big Bang“ a que se referem os astrônomos foi Deus ejaculando seu grande sonho e soltando pelo vazio milhões, bilhões, trilhões de sementes. Em cada uma delas estava o sonho fundamental de Deus: um jardim, um Paraíso... Assim, sua alma está grávida com o sonho fundamental de Deus...

Mas toda semente quer brotar, todo feto quer nascer, todo sonho quer se realizar. Sementes que não nascem, fetos que são abortados, sonhos que não são realizados, se transformam em demônios dentro da alma. E ficam a nos atormentar. Aquelas tristezas, aquelas depressões, aquelas irritações - vez por outra elas tomam conta de você – aposto que são o sonho de jardim que está dentro e não consegue nascer. Deus não tem muita paciência com pessoas que não gostam de jardins...



Tela 33
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Metáfora é a figura de palavra em que um termo substitui outro em vista de uma relação de semelhança entre os elementos que esses termos designam. Essa semelhança é resultado da imaginação, da subjetividade de quem cria a metáfora. A metáfora também pode ser entendida como uma comparação abreviada, em que o conectivo comparativo não está expresso, mas subentendido.
Na comparação metafórica (ou símile), um elemento A é comparado a um elemento B por meio de um conectivo comparativo (como, assim como, que nem, qual, feito etc.). Muitas vezes a comparação metafórica traz expressa no próprio enunciado a qualidade comum aos dois elementos.
Exemplo:


Já na metáfora, a qualidade comum e o conectivo comparativo não são expressos e a semelhança entre os elementos A e B passa a ser puramente mental, observe:
No exemplo acima, do ponto de vista lógico, a criança é uma criança, e um touro é um touro. Uma criança jamais será um touro. Mas quando se diz “a criança é forte como um touro” significa que a criança teria a sua força comparada à de um touro, por isso é uma comparação metafórica.

Agora, veja o exemplo da metáfora abaixo:
“O tempo é uma cadeira ao sol, e nada mais.” (Carlos Drummond de Andrade)
Neste exemplo, a associação do tempo a uma cadeira ao sol é puramente subjetiva. Cabe ao leitor completar o sentido de tal associação, a partir da sua sensibilidade, da sua experiência. Essa metáfora, portanto, pode ser compreendida das mais diferentes formas. Isso não quer dizer que ela possa ser interpretada de qualquer jeito, mas que a compreensão dela é flexível, ampla.
Observe a transformação de comparações metafóricas (ou símiles) em metáforas:

O Sr. Vivaldo é esperto como uma raposa.
(comparação metafórica)

O Sr. Vivaldo é uma raposa.
(metáfora)

A vida é fugaz como chuva de verão.
(comparação metafórica)

A vida é chuva de verão.
(metáfora)



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Módulo 01 - Definições, visão sistêmica e classificação dos sistemas de produção

Na linguagem cotidiana, deparamo-nos com inúmeras expressões como:
cheque-caubói
cheque-borrachudo
cheque-procissão
manga-espada
manga-coração-de-boi

Nos exemplos, fica clara a comparação subjetiva, que depende do contexto e da experiência do leitor. Alguns leitores, por exemplo, podem ter dúvidas quanto a um dos exemplos acima (cheque-caubói, por exemplo, que faz alusão à ideia de “se não sacar rápido, dança”; ou cheque-borrachudo, o que “bate e volta” ou cheque-procissão, aquele que “dá uma volta na praça e volta”). Diante de fatos e coisas novas, que não fazem parte da sua experiência, o homem tem a tendência de associar esses fatos e essas coisas a outros fatos e coisas que ele já conhece. Em vez de criar um novo nome para um peixe, ele o associa a um objeto da sua experiência (espada) e passa a denominá-lo peixe-espada. O mesmo acontece com peixe-boi, peixe-zebra, peixe-pedra, etc. (Se quiser fazer uma experiência, abra o dicionário na palavra "peixe" e verá quantas expressões são formadas a partir desse processo.)

Muitos verbos também são utilizados no sentido metafórico. Quando dizemos que determinada pessoa "é difícil de engolir", não estamos cogitando a possibilidade de colocar essa pessoa estômago adentro. Associamos o ato de engolir (ingerir algo, colocar algo para dentro) ao ato de aceitar, suportar, aguentar, em suma, conviver.
Alguns outros exemplos:

A vergonha queimava-lhe o rosto.
As suas palavras cortaram o silêncio.
O relógio pingava as horas, uma a uma, vagarosa mente.
Ela se levantou e fuzilou-me com o olhar.
Meu coração ruminava o ódio.
Até agora, vimos apenas casos de palavras que assumiam um sentido metafórico. No entanto, existem expressões inteiras (e até textos inteiros) que têm sentido metafórico, como:
ter o rei na barriga: ser orgulhoso, metido
saltar de banda: cair fora, omitir-se
pôr minhocas na cabeça: pensar em bobagens , pensar em tolices
dar um sorriso amarelo: sorrir sem graça
tudo azul: tudo bem
ir para o olho da rua: ser despedido, ser mandado embora
Como se pode perceber, a metáfora afasta-se do raciocínio lógico, objetivo. A associação depende da subjetividade de quem cria a metáfora, estabelecendo uma outra lógica, a lógica da sensibilidade.
Fonte: http://www.colegioweb.com.br/portugues


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No mesmo texto que fala do jardim, podemos ler claramente que Rubem Alves fala, na verdade, de sonhos: esse é o assunto, ou seja, o tema do texto, o que move o autor a construir as ideias seguintes. O autor também fala das diferenças entre os sonhos de cada um, a diferença entre as muitas formas de sonhar, e compara os sonhos a um jardim, um Paraíso, não é mesmo?

Observe que essa ideia, de que os sonhos nascem diferentemente em cada um, e por isso são comparados ao jardim, é a tese do texto, ou seja, é o conjunto de ideias que ele expõe para falar sobre o assunto “sonhos”.

Continuando nossa análise, chegamos à conclusão do autor:


Sementes que não nascem, fetos que são abortados, sonhos que não são realizados, se transformam em demônios dentro da alma. E ficam a nos atormentar. Aquelas tristezas, aquelas depressões, aquelas irritações – vez por outra elas tomam conta de você – aposto que são o sonho de jardim que está dentro e não consegue nascer Deus não tem muita paciência com pessoas que não gostam de jardins...

Sem dúvida, essa é uma bela forma de dizer que devemos nos entregar aos sonhos, vivê-los, deixar que vivam, que se transformem em lindos jardins ao nosso redor, pois do contrário eles se transformam em tristezas, frustrações.

Observe, também, que no texto do Rubem há várias ideias relacionadas a outros assuntos (que conhecemos ou não) que ele utilizou para construir sua bela ideia de jardim de sonhos e é possível, ainda, fazermos várias referências com outras ideias.

Lembrando: as informações obtidas na leitura do texto devem ser confrontadas com o nosso conhecimento da realidade. É esse o processo analítico que permite a elaboração de conclusões a partir do que se infere do texto.



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2 - Diferenciando tema e tese

Diante de um texto ou uma informação, não basta apenas ler para identificar o tema, o assunto de que fala o texto: é preciso compreender aquilo que o autor disse, pois nem sempre seus argumentos estão claros ou apresentados de maneira ordenada e explícita ao longo do texto, ou seja, muitas ideias podem estar implícitas.

E como um autor pode “dizer coisas” sem escrevê-las explicitamente? Vejamos o quadrinho abaixo, Mafalda, do argentino Quino:

Com base no texto da tirinha acima, da Mafalda, assinale VERDADEIRO ou FALSO.



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Após o exercício com a tirinha da Mafalda, você percebeu que é preciso interpretar aquilo que o autor escreveu, muitas vezes buscando as ideias implícitas e em outras referências? Viu como há muitas ideias que estão explicitas, implícitas ou ainda que podem ser comparadas às ideias “escritas”? É importante confrontar o texto com o conhecimento acumulado por você mesmo até no momento da leitura, a partir das “pistas” dadas pelo autor.


Lembre-se
: o leitor não é obrigado a concordar com a visão do autor; é possível (e também muito importante) discordar, discutir, questionar. Só assim nosso raciocínio se desenvolve e o conhecimento avança. Em textos maiores e mais complexos, e com um pouco de treino, você poderá confrontar o que foi citado por um autor com o que outros autores disseram, ou mesmo com ideias paralelas ao assunto.

Quando alguém escreve, expõe uma ideia (o que, em linguagem técnica, chama-se hipótese), busca demonstrar a validade, a coerência dessa ideia, ou seja, defende uma tese. Todos já ouvimos falar que defender uma tese é o que se faz, por exemplo, em um trabalho de pós-graduação, ou seja, a partir de uma hipótese, deve-se demonstrar com argumentos e conceitos a validade das ideias sobre determinado assunto ou tema.

E como faremos para captar a tese, identificá-la? E, também, como saber exatamente a diferença entre o tema e a tese?

Uma das formas é separar os seus aspectos formais e as ideias principais do texto. Assim, podemos reconstruir o raciocínio do autor, recuperando suas etapas mais importantes, o que um simples resumo não permite fazer. Podemos fazer um fichamento com esses aspectos, e também relembrar rapidamente os argumentos utilizados pelo autor para defender sua tese. Além disso, podemos comparar a tese de um autor com a de outro autor, aprender com as semelhanças e com as diferenças. Esse é um ótimo exercício para compararmos ideias, fazermos referências e inferências.



Tese

Para captar a tese contida em cada texto (pois, como dissemos anteriormente, nem sempre os objetivos do texto e suas ideias principais se encontram explicitadas) é preciso reconstruir argumentos do autor, retomar o encadeamento que ele estabeleceu entre seus argumentos, ainda que algumas vezes seja preciso inverter a ordem (a sequência) em que esses argumentos aparecem, para que possamos apreender-lhe o sentido.



Fichamento
é uma forma de investigação que se caracteriza pelo ato de fichar (registrar) todo o material necessário à compreensão de um texto ou tema.

>Saiba mais sobre fichamento.



Módulo Gramática
Fichamento

Como podemos elaborar um fichamento? Vejamos alguns passos:

• Identificar o tema do texto: tema é o assunto do qual se fala. O tema é geralmente muito amplo (por exemplo: Eutanásia).

• Assim, o autor escolhe um objeto de pesquisa no interior desse tema (por exemplo: A Eutanásia e o direito à vida). O objeto constitui, assim, uma especificação do tema.

• Identificar o problema que o autor se propõe a resolver: todo texto parte de uma questão, ainda que ela não se encontre colocada de maneira explícita no início do texto. O problema é a motivação, aquilo que levou o autor a escrever um dado texto (também pode ser chamado de objetivo). O autor pode, por exemplo, indagar: A eutanásia realmente deve ser proibida porque ninguém pode violar o direito à vida?

• Identificar a(s) hipótese(s) com que o autor trabalha: hipótese é a resposta dada ao problema. Podemos supor que, no exemplo acima, o autor formule a hipótese de que “com a legalização da eutanásia, um hospital poderá utilizar o espaço que um paciente desenganado está ocupando para atender a alguém que tem reais chances de sobrevivência”. Ele poderia, porém, trabalhar com outra hipótese, contrária à legalização da eutanásia, e o autor poderia afirmar que “o direito à vida é inviolável e não se justifica a economia ou a intransigência quanto a um paciente terminal ou em estado vegetativo”.

Como você pode verificar, essa hipótese, de que “o direito à vida é inviolável”, é completamente distinta da anterior, que é favorável à legalização da eutanásia. Ou seja, hipótese é mais do que uma opinião, é mais do que um mero “eu acho”: é preciso apresentar dados e informações pertinentes para sua comprovação. De forma que a hipótese é sempre provisória, pois, se o autor não reunir elementos suficientes para demonstrá-la, significa que ela não responde o problema e deve ser reelaborada.

• Identificar os argumentos principais: o autor precisa recorrer a uma série de elementos para demonstrar sua hipótese. Esses elementos podem ser teóricos (conceitos) e empíricos (dados quantitativos e qualitativos).

• Identificar os argumentos secundários: são elementos que servem de apoio/complemento aos principais.



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Bem, até aqui percebemos que podemos ver algumas ideias “gerais” e “retirar delas” uma especificação que seja uma tese.

Observe que muitas vezes as pessoas utilizam “título”, “tema” e “tese” como sinônimos, mas não é bem assim. Apesar de serem partes de um mesmo tipo de composição, são elementos bem diferentes.


O tema é o assunto, já delimitado, a ser abordado; a ideia que será por você defendida e que deverá aparecer logo no primeiro parágrafo. Já o título é uma expressão, ou até uma só palavra, centrada no início do trabalho; ele é uma vaga referência ao assunto (tema). E a tese é o enfoque que dará suporte à discussão de determinado tema, podendo ser uma ideia ou várias ideias.

Vejamos a diferença entre tema, tese e título nos exemplos abaixo:



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3 - As relações entre título, tese e tema

Ao analisarmos os exemplos de título, tese e tema, percebemos que os títulos podem ser generalizados, abrindo-se um leque de temas a serem desenvolvidos. Para o título "A criança e a televisão", por exemplo, é possível definir outros temas, como "Novos programas de TV são criados especialmente para encantar as crianças", ou ainda "Os pais, envoltos com seus problemas, não perceberam ainda o perigo da televisão para as suas crianças".

O importante é você usar a criatividade para desenvolver ideias relacionadas ao tema proposto e até mesmo ao escolher o título de sua redação. É melhor pensar no título após o rascunho estar pronto, fica mais fácil. Assim, não há o risco de se tornar escravo do título.

Ao participar de algum concurso, teste ou prova com habilidade de texto ou dissertação, observe a proposta e/ou instruções. Muitas vezes, o próprio comando da questão explicita o tema ou título; e às vezes é sugerido apenas o assunto. Cabe a você elaborar as ideias que faltam para desenvolver o assunto proposto.



Elaborar as ideias

Com relação ao título e ao tema há algumas regras importantes: o título deve ser colocado no centro da folha, logo no início de sua dissertação, com inicial maiúscula; uma linha é suficiente para separar o título do corpo de sua redação. Nada mais deve ser acrescentado (nunca coloque nada óbvio, do tipo "Título:"); comece diretamente pelo título (a expressão escolhida por você para dar nome a sua redação pode ser uma palavra, duas ou uma frase). Observe, também, se é pedido um título ao texto.




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Para um melhor entendimento de qualquer texto, é importante o exercício de separar ideias, de “desvendar” os diversos aspectos, ou possíveis abordagens que um tema permite, e isso pode ser feito com todos os tipos de texto, desde uma publicidade, um quadrinho, um poema a um texto técnico.

Observe o seguinte material publicitário.

Do que se trata? Uma teia de artérias construída com inúmeros nomes de pessoas.

Observe que, para reforçar esta imagem, foi utilizado o título “Quando se doa sangue, vidas renascem”. Eis o conceito da campanha criada pela Agência Decisão para o seu cliente Dimas (concessionária Ford e Hyundai) em homenagem ao Dia Internacional do Doador Voluntário de Sangue. É uma ideia importantíssima para a sociedade, além de propiciar uma “leitura” diferente com a proposta da imagem da teia de artérias com os nomes associados às vidas que necessitam de sangue.



Agência Decisão

Alexandre Guedes, diretor de criação da Agência Decisão, em comunicado à imprensa, ressaltou: “Acho que além de surpreender visualmente, a campanha enfatiza uma questão importantíssima da doação de sangue: a de possibilitar que outras pessoas possam continuar a viver. A partir de agora, a nossa estratégia com o cliente Dimas é estar presente em datas relevantes, ressaltando a importância dos temas para a sociedade”.



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Ao ler o texto da publicidade da teia de artéria, falamos também de conceito, mas o que é conceito?

Um conceito é uma maneira de definir alguma coisa que existe na realidade, mas que não se confunde com a realidade (pois não é capaz de reproduzi-la). Por exemplo: o conceito de flor se refere às diversas espécies de flores existentes no planeta. Quando se fala em flor, sabemos do que se está falando, podemos imaginar uma flor em nossa mente. Assim como podemos imaginar uma casa, quando ouvimos a palavra casa.

Mas, e quando se fala de cultura, de poder, de Estado, de valores, de mercado? Como você poderá ver, cada tradição teórica define esses termos de uma maneira determinada, e cada disciplina aborda essas questões a partir de enfoques e de referenciais teóricos distintos.

E uma dica: quando você tiver contato com um texto "novo", com certeza seu pensamento o levará ao sentido de outros textos que leu, ou ao sentido referencial que você já possua sobre determinado assunto. Assim, a leitura e as interpretações que fizer do texto serão comparadas às interpretações feitas em outros contextos e você poderá recusar ou aceitar tais interpretações, sobrepondo a elas interpretações frutos de diálogos com o texto, com outros textos e consigo mesmo.

Cada leitor tem sua própria marca, seu estilo. Cada pessoa tem seu próprio mundo de compreensão e experiência historicamente condicionado no qual interage, a partir de seu ponto de vista. O mundo de um não é idêntico ao mundo do outro: é uma visão de realidade que não se repete.

Entretanto, embora pareça paradoxal, são essas diferenças que devem permitir as compreensões, ou seja, são as diferenças que, em vez de definirem horizontes condicionados e limitados, transpõem barreiras e fecundam campos para que outros pontos de vista floresçam, ou seja, permitam "outras leituras".

A interpretação não é exclusiva ao leitor, mas também não há uma autoridade suprema do autor em relação à interpretação do texto que escreve. No exercício de uma reinterpretação, os leitores se apossam do texto e tornam-se sujeitos de suas leituras, reescrevendo os sentidos. A leitura é um produto da época em que é realizada, e também é produto de outras leituras e das convicções dos diferentes leitores.



Enfoques e referenciais distintos:

Uma teoria articula vários conceitos coerentes entre si, que fazem sentido em seu interior, ou seja, em seu universo de aplicação. Tanto o conceito quanto a teoria constituem abstrações, isto é, simplificações do real. A abstração é um procedimento necessário para que possamos nos referir aos elementos comuns, às regularidades dos acontecimentos e fenômenos concretos (ou empíricos). Portanto, o conceito de árvore se aplica a todas as árvores, independentemente de suas diferenças, das características decorrentes da espécie à qual pertencem. Mas o conceito de capital aberto é referente a área específica: da Economia ou das finanças.



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Resumo

A leitura é um processo dinâmico entre o leitor e o texto propriamente. Assim, o leitor é ativo na construção do significado do texto a partir do que está buscando nele, dos conhecimentos que já possui a respeito do assunto, do autor e do que sabe sobre a língua.

A leitura fluente envolve uma série de outras estratégias, isto é, recursos para construir significado, para se alcançar rapidez e apreensão. É importante, pois, não apenas ler as ideias, mas identificar o tema, o assunto de que fala o texto: é preciso compreender aquilo que o autor disse.

Quando alguém escreve, expõe uma ideia e busca demonstrar a validade, a coerência dessa ideia, ou seja, defende uma tese a partir de uma hipótese, demonstrando com argumentos e conceitos a validade das ideias sobre determinado assunto ou tema.

“Título”, “tema” e “tese” não são sinônimos e, apesar de serem partes de um mesmo tipo de composição, são elementos bem diferentes. O tema é o assunto, já delimitado, a ser abordado; a ideia que será defendida e que deverá aparecer logo no primeiro parágrafo. O título é uma expressão (ou apenas uma só palavra) centrada no início do trabalho; ele é uma vaga referência ao assunto (tema). E a tese é o enfoque que dará suporte à discussão de determinado tema, podendo ser uma ideia ou várias ideias.

Cada leitor tem sua própria marca, seu estilo. Cada pessoa tem seu próprio mundo de compreensão e experiência historicamente condicionado, no qual interage a partir de seu ponto de vista. O mundo de um não é idêntico ao mundo do outro: é uma visão de realidade que não se repete. E a interpretação pode ser ampliada e oferecer outras oportunidades de visão, ou seja, outras leituras.