| Unidade 2 | Módulo 1 | Tela 1 |
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- O que é argumentação
Leia atentamente a tira abaixo:
No primeiro quadrinho, o personagem afirma: “Eu não tenho como argumentar.” Você sabe o que significa isso? O que é argumentar? Argumentar é defender uma ideia. É apresentar razões para que as pessoas com quem estamos argumentando aceitem nossa ideia como a melhor, a mais acertada, a mais equilibrada, ou a mais verdadeira. Em outras palavras, sempre que argumentamos, temos o objetivo de convencer alguém a pensar como nós. Ou seja, o personagem não tinha como convencer a garota de que ela estava errada ou que suas razões não eram verdadeiras. Ao afirmar, no segundo quadrinho: “Eu não sabia que existiam tantas razões para uma garota não sair comigo”, o personagem admite que os argumentos, as razões da garota foram suficientes para convencê-lo. Um aspecto essencial, no momento da construção da argumentação, é a escolha do argumento. |
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Tela 2 |
E o que significa argumento?
Chamamos argumento a todo procedimento linguístico que visa a persuadir, a fazer o receptor aceitar o que lhe foi comunicado, a levá-lo a crer no que foi dito e a fazer o que foi proposto. Podemos afirmar, portanto, que aquilo que chamamos de argumento são as provas (raciocínio, dados, fatos...) apresentadas para demonstrar que a ideia que você pretende defender é a correta. Segundo Platão e Fiorin, “Um argumento não é necessariamente uma prova de verdade. Trata-se, acima de tudo, de um recurso de natureza linguística destinado a levar o interlocutor a aceitar os pontos de vista daquele que fala.” |
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Tela 3 |
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- Tipos de argumento
Ao estruturar um texto, convém diversificar os tipos de argumento. Porém, mais importante do que a diversidade e a quantidade de argumentos, é a utilização de argumentos fortes e bem fundamentados, que possam, de fato, persuadir o leitor. Para que você entenda como os diferentes tipos de argumento podem ser utilizados em um texto faremos, juntos, a leitura e análise do texto, cujo autor é Nelson Vitiello, ginecologista e presidente da Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana. Na condição de médico, e autoridade no assunto, Vitiello discute a questão da gravidez na adolescência, defendendo o ponto de vista de que, fisicamente, a gravidez da mulher jovem não é problema, mas é preocupante o grande número de gestações indesejadas de adolescentes imaturas. Para comprovar esse ponto de vista, o autor lança mão de diferentes meios, como a comparação, as relações de causa e efeito e a alusão histórica, entre outros. O texto que você irá ler em seguida é longo e, por isso, será analisado em fragmentos e cada um deles virá acompanhado de uma questão a ser respondida. Parte 1 do texto
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Tela 4 |
Parte 2 do texto
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Tela 5 |
Parte 3 do texto
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Tela 6 |
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Parte 4 do texto – Continuando a leitura e análise do texto
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Tela 7 |
Parte 5 do texto
Você percebeu
os diferentes tipos de argumento de que se valeu o autor para construir
o texto? Deles depende a qualidade do texto. Por isso, na elaboração
de textos orais e/ou escritos, é importante selecionar os argumentos
mais consistentes, aqueles capazes de fundamentar bem a tese e aprofundar
o ponto de vista defendido pelo autor. |
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Tela 8 |
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Tela 9 |
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Tela 10 |
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- Defeitos na argumentação
Ao argumentar, devemos ter bastante cuidado para que o raciocínio desenvolvido seja claro e objetivo. Um dos defeitos na argumentação com base no raciocínio lógico é fugir do tema. Ou seja, dissociar o desenvolvimento do raciocínio da questão tratada. Ao ser questionado, por exemplo, sobre o desvio de verbas da educação para uma grande obra, um político pode afirmar “o quanto esta obra será importante para a população”. Ou seja, ele fugiu ao tema da pergunta, mas, em contrapartida, induz o receptor a pensar sobre os benefícios que essa obra trará para a comunidade. Neste caso, o político utilizou argumentação falaciosa ou sofisma, para desviar o assunto focando no seu interesse. Cabe lembrar que esse
procedimento é um defeito de argumentação apenas
do ponto de vista lógico. Da perspectiva da persuasão em
sentido amplo, pode ser eficaz, pois pode convencer os ouvintes, levando-os
a relacionar aquilo que não tem relação necessária. Outro problema é a tautologia (erro que consiste em aparentemente demonstrar uma tese, repetindo-a com palavras diferentes), que ocorre quando se dá, como causa de um fato, o próprio fato exposto em outras palavras. Sabemos, por exemplo, que o fumo faz mal à saúde, mas afirmar que é porque prejudica o organismo (prejudicar o organismo é exatamente fazer mal à saúde) é se utilizar da tautologia. Há ainda outro
problema na argumentação: tomar como causa, explicação,
razão de ser de um fato o que, na verdade, não é
causa dele. Por exemplo: Após ter se encontrado com seu namorado,
Maria caiu da escada. Certamente a causa de Maria ter caído da
escada não foi o encontro que teve com seu namorado. Uma causa
é alguma coisa que ocasiona outra. Por isso, é preciso que
haja uma relação necessária entre ela e seu efeito.
Frequentemente, usa-se como causa de um fato algo que veio antes.
Ora, o que vem depois não é necessariamente efeito do que
aconteceu antes. |
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Tela 11 |
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Tela 12 |
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- Estratégias argumentativas
Conforme vimos anteriormente, a teoria da comunicação esclarece que, para haver um ato comunicativo, é preciso que seis fatores intervenham:
No entanto, no ato de comunicação, o emissor e o receptor não são entidades neutras que devem produzir, receber e compreender a mensagem. Devemos diferenciar comunicação recebida e comunicação assumida. Comunicar é agir sobre o outro, ao comunicar, não se visa apenas que o receptor receba e compreenda a mensagem, mas também a que a aceite, ou seja, que creia nela e que faça o que nela se propõe.
A aceitação
depende de uma série de fatores: emoções, sentimentos,
valores, ideologia, visão de mundo, convicções políticas
etc. A persuasão é então o ato de levar o outro a
aceitar o que está sendo expresso, pois só quando ele o
fizer, a comunicação será eficaz. |
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Tela 13 |
| Há
diferentes estratégias persuasivas na argumentação,
que se constroem a partir de um ou mais de um desses elementos (emoções,
sentimentos, valores, ideologia, visão de mundo, convicções
políticas etc.).
Uma estratégia persuasiva focada no emissor é aquela que o credencia para um dado tipo de comunicação. No discurso eleitoral, os emissores apresentam-se como dotados de experiência administrativa ou parlamentar. Nessa estratégia discursiva, citam-se realizações, cria-se uma imagem favorável.
Observe que o candidato do quadrinho centra seu discurso nele mesmo. Ao afirmar “Eu não prometo nada!” sua intenção é convencer o leitor de que ele é diferente dos outros candidatos que fazem promessas, mas não cumprem. |
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Tela 14 |
| A estratégia
de argumentação focada no receptor é
aquela que cria imagens favoráveis daquele a quem se deseja persuadir.
Nesta publicidade, “o maior banco e a maior seguradora do país” são credenciados a cuidar do seu maior bem. Ou seja, para persuadir o receptor é preciso que ele acredite que só os melhores podem cuidar do maior bem que todos possuem: a saúde. |
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Tela 15 |
| A estratégia
de argumentação baseada no referente é
aquela que cita provas concretas, dados da situação, estatísticas,
experimentos, dados da realidade, conhecimento do mundo. É a estratégia
básica, por exemplo, dos editoriais de jornais.
Os dados dessa pesquisa
podem subsidiar um artigo de opinião, por exemplo, sobre o hábito
de o brasileiro dar um jeitinho em tudo. Basta olhar para a imagem
para deduzir que, entre os analfabetos, o índice dos que acham
certo dar esse jeitinho é muito superior do que entre os que têm
maior nível de escolaridade. |
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Tela 16 |
A estratégia de argumentação centrada na mensagem é aquela que procura convencer com base na construção rigorosamente concatenada do texto ou na articulação textual bem feita. Um enunciado bem construído fala por si mesmo.
A estratégia
de argumentação focada na estruturação do
texto é a intimidade com o receptor. Repare nas perguntas e no
conteúdo delas. Veja que o emissor fala, dialoga diretamente com
o receptor. |
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Tela 17 |
A estratégia de argumentação focada no código é aquela que busca explorar as oposições linguísticas, os significados antigos das palavras, as virtualidades da língua.
Leia atentamente a
chamada deste anúncio: Observe o significado
dado à palavra argola. Antigamente, eram os brincos dos piratas;
hoje, são algemas. A mensagem estabelece ainda a relação
de significação da palavra pirata como aquele que faz algo
fora da lei (por exemplo, pirataria de DVD, CD, bolsas e vestuário
de marcas famosas etc.). |
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Tela 18 |
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A estratégia de argumentação focada no canal é aquela que valoriza o veículo transmissor. É frequente, no discurso do senso comum, dar como prova da veracidade de um fato o seguinte argumento: “Deu na televisão”; “saiu no jornal X”... Todos sabemos que
a televisão, nos dias atuais, é o meio de comunicação
mais difundido da nossa sociedade. Usar um dado ou uma informação
que tenha sido veiculado pela televisão dá credibilidade
ao que estamos afirmando, sem contar que teremos o argumento de que milhares
de pessoas possuem essa mesma informação. |
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Tela 19 |
Para tornar o texto convincente, pouco adiantam manifestações de sinceridade do autor ou declarações de certeza expressas por construções como tenho certeza, estou seguro, creio sinceramente, afirmo com toda convicção, é claro, é óbvio, é evidente. Num texto, não se prometem sinceridade e convicção. Constrói-se o texto de forma que ele pareça sincero e verdadeiro. A argumentação é exatamente a exploração de recursos com vistas a fazer o texto parecer verdadeiro, para levar o leitor a acreditar no ponto de vista que defendemos.
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Tela 20 |
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5 - A argumentação falaciosa Para convencer ou persuadir procuramos o melhor argumento e a melhor estratégia de apresentar o texto para que o leitor ou interlocutor aceite o raciocínio que desenvolvemos e, desta maneira, seja levado a agir de uma forma específica. Nem sempre, contudo, os argumentos utilizados em textos persuasivos podem ser tomados como verdadeiros. É frequente, por parte de pessoas com grande habilidade retórica, o uso de raciocínios falaciosos, por exemplo, para tentar convencer seus interlocutores de algo que tenham interesse, ou de que têm razão ou de que devem fazer uma determinada coisa. Leia atentamente o anúncio publicitário reproduzido a seguir.
Este anúncio provocou polêmica à época de sua publicação e o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) proibiu sua veiculação. Após a leitura atenta do anúncio, percebe-se imediatamente seu caráter preconceituoso. A ação do Conar pressupôs o caminho da análise e da argumentação em relação aos elementos constitutivos do anúncio. Os anunciantes pretendem que o leitor aceite como argumento que o mundo nunca vai aceitar pessoas obesas, ao afirmarem: "O mundo nunca vai ser assim. Emagreça com Sanavita." O anúncio é
falacioso porque parte da premissa de que todas as pessoas podem escolher
entre a magreza e a obesidade. Embora a obesidade possa ser vista como
uma condição perigosa, que ameaça o bem-estar do
indivíduo, ela tem muitas causas, algumas das quais requerem tratamento
prolongado. Supor que basta tomar um produto "mágico"
para emagrecer é tão falso quanto imaginar que todas as
pessoas obesas chegaram a essa condição apenas por comerem
demais. |
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Tela 21 |
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6 - Juízo de fato e juízo de valor Um aspecto importante para a análise e compreensão do texto argumentativo é a oposição entre os chamados juízos de fato e os juízos de valor. Em muitas situações discursivas, sejam orais ou escritas, temos a necessidade de manifestar posições sobre questões polêmicas. Utilizamos diversos recursos para expor ou justificar nosso argumento diante de determinado assunto. O que devemos fazer para garantir que a análise apresentada sobre o tema seja bem fundamentada com argumentos lógicos e aceitáveis? Não devemos apenas dizer o que pensamos sobre o assunto, mas sustentar uma argumentação lógica que leve o leitor a aceitar nossa conclusão, ou seja, devemos expor um raciocínio claro e fundamentado. Entretanto, pode-se formar um juízo de valor sobre a polêmica, e este pode ser considerado descontextualizado, inconsistente ou inválido. Em situações como essa, muitas vezes, há uma dificuldade em perceber o que se chama de juízo de fato e juízo de valor. Para compreender a diferença entre os dois tipos de juízo, transcrevemos o seguinte texto de Marilena Chauí, que consta do livro Português: Língua, Literatura e Produção de Texto, de Maria Luiza Abaurre.
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Tela 22 |
| Você pode observar que, em determinadas situações, não podemos deixar de fazer e emitir juízos de valor, mas é importante que saibamos fundamentá-los, na tentativa de torná-los consistentes. No entanto, é preciso ter cuidado. Todo e qualquer juízo de valor que manifeste uma posição de desrespeito ou que evidencie uma postura preconceituosa em relação aos outros não deve ser usado em uma argumentação. Não importa se temos ou não o direito de ser preconceituosos. Devemos ter sempre em mente que, no caso da argumentação, juízos de valor que depreciam as pessoas e as coisas raramente são sustentáveis. Manifestações preconceituosas, muitas vezes, pretendem demonstrar como verdade argumentos que podem ser falsos e que por isto impossibilitam o raciocínio lógico, que exige a disponibilidade e disposição para discutir, analisar ou ponderar diferentes aspectos de uma mesma questão. Se iniciarmos uma
análise utilizando conceitos preestabelecidos, não estaremos
fazendo análise alguma, estaremos apenas apresentando uma conclusão
particular, individual acerca do assunto, porque partimos da ideia de
que já sabemos que a questão deve ser vista de determinada
forma. |
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Tela 23 |
Leia atentamente a tira abaixo. |
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Tela 24 |
7 - Fato e opinião A peça de publicidade abaixo foi veiculada em um jornal de grande circulação do estado de São Paulo. Leia-a atentamente.
Perguntamos, pois: apenas os jornalistas devem ser capazes de fazer essa diferenciação? Como deve se comportar o leitor diante de um fato ou da opinião a respeito desse fato? Como o leitor incorpora fatos e opiniões deste em sua visão de mundo? Ao lermos ou produzirmos um texto, oral ou escrito, avaliamos ou analisamos essas questões? Vamos tentar, juntos,
responder a essas e outras perguntas. |
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Tela 25 |
Para iniciarmos nossas análises de fato e opinião acerca desse fato, vamos resolver a questão seguinte. (PUC do Paraná
– 2005) – Leia a opinião de dois especialistas em resposta
à pergunta: Como o senhor avalia a ajuda de US$ 50 bilhões
do G8 à África?
TEXTO 2
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Tela 26 |
Quando lemos, não estamos somente em busca de informações sobre os mais variados assuntos. Queremos, em primeiro lugar, a partir de informações e elementos que o texto nos oferece, tirar algumas conclusões sobre essas informações, ou seja, é possível articular as informações e conclusões iniciais oferecidas, dando nova interpretação ao que foi lido.
Esse procedimento implica em levantar hipóteses sobre os motivos que levaram o autor do texto a selecionar determinadas informações e também sobre a opinião que ele tem sobre o assunto tematizado. Ao ler um texto pretendemos, ainda, formar a nossa própria opinião sobre o assunto, ou seja, formar um juízo. É isso, portanto, que se espera de um bom leitor, como último procedimento de um percurso de leitura autônomo e significativo. Ou seja: que ele tenha domínio sobre o texto que leu, tirando conclusões a partir das informações contidas no texto, a partir do ponto de vista defendido pelo autor, e desenvolva avaliação crítica sobre o assunto em questão, ou seja, elabore um juízo sobre este. É a partir
desse momento, ao atingir esse objetivo, que o leitor está verdadeiramente
apto a assumir o papel de escritor e a produzir um texto em que explicite
o seu ponto de vista sobre o assunto, assim como um juízo bem fundamentado. |
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Tela 27 |
Resumo Argumentar é defender uma ideia. É apresentar razões para que a nossa ideia seja aceita como a melhor, a mais acertada, a mais equilibrada, ou a mais verdadeira. Ao argumentarmos sobre um tema ou assunto, temos o objetivo de convencer alguém a compreender nosso raciocínio. Argumento é todo procedimento linguístico que visa a persuadir, a fazer o receptor aceitar o que lhe foi comunicado, a levá-lo a crer no que foi dito e a fazer o que foi proposto. São as provas (raciocínio, dados, fatos...) apresentadas para demonstrar que a ideia defendida é a correta. Para defender um ponto de vista, ou seja, desenvolver a argumentação, podemos utilizar alguns tipos de argumentos, tais como: a comparação, as relações de causa e efeito ou argumento com base no raciocínio lógico, a alusão histórica, os argumentos com provas concretas, os argumentos consensuais, o argumento de autoridade, entre outros. São alguns defeitos da argumentação: a fuga ao tema, a tautologia e o tomar como causa de um fato algo que não o é. Há diferentes estratégias persuasivas, que se constroem a partir de um ou mais de um elemento da comunicação e, se bem utilizados, favorecem a eficácia persuasiva do texto. São elas: focada no emissor, focada no receptor, focada no referente, focada na mensagem no código e no canal de comunicação. A argumentação é exatamente a exploração de recursos com vistas a fazer o texto parecer verdadeiro, para levar o leitor a acreditar no que está dito. As estratégias de persuasão podem estar centradas em um ou mais elementos da comunicação. Nem sempre os argumentos utilizados em textos persuasivos podem ser tomados como verdadeiros. É frequente a utilização de raciocínios falaciosos para tentar convencer o leitor. É preciso estar muito atento à oposição entre os chamados juízos de fato e os juízos de valor, pois não se trata apenas de dizer o que se pensa sobre uma determinada questão, mas sim de sustentar uma argumentação lógica que leve o leitor a aceitar a conclusão proposta. Ao ler um texto, buscamos
informações sobre os mais variados assuntos. A partir de
informações e elementos que o texto oferece, podemos tirar
algumas conclusões sobre essas informações, ou seja,
podemos articulá-las e analisar as conclusões iniciais oferecidas,
dando nova interpretação ao que foi lido, ou seja, formando
a nossa própria opinião sobre o assunto. |
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| Unidade 2 | Módulo 2 | Tela 28 |
1 - Procedimentos que auxiliam a leitura Já sabemos que a interpretação é uma habilidade exigida em todas as etapas da vida acadêmica - Ensinos Fundamental, Médio e Superior. Trata-se de uma habilidade básica em todas as áreas de conhecimento, pois se o aluno não sabe ler e interpretar, provavelmente não será capaz de concluir o estudo da disciplina e fazer uma boa avaliação. Uma vez fora dos muros
escolares, não estamos isentos do compromisso de desenvolver essa
habilidade, afinal, se você não souber interpretar, não
saberá resolver problemas simples do cotidiano, como, por exemplo,
fazer um bolo de chocolate a partir de uma receita. Para alguns, essa
afirmação pode parecer absurda, já que as receitas
apresentam informações como ingredientes, medidas e, em
detalhe, o modo de preparo. Entretanto, para outros, a leitura de uma
receita pode não ser tão simples assim e uma colher
de sobremesa de fermento em pó pode levar seu bolo ao fracasso
total. Note que essas informações, embora aparentemente simples, podem ser determinantes para a produção de um bom resultado, no caso, o bolo de chocolate. Agora, tente imaginar outras situações, tais como a leitura de um relatório de atividades ou de um balancete contábil de uma empresa, dos quais você deve extrair dados para a tomada de decisão. Nessas ocasiões, a compreensão das informações poderia gerar consequências exitosas ou desastrosas para a empresa. |
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Tela 29 |
| Como podemos
ver, a leitura e a interpretação estão ligadas diretamente
ao contexto, à experiência que acumulamos a partir de vivências
e de leituras anteriores.
Ao ler um texto, podemos destacar aspectos relevantes e observar se é possível responder aos problemas levantados ou às questões propostas. Se o texto possui muitos elementos complexos e não conseguimos estabelecer as relações ou responder às questões para sua interpretação, devemos salientar os pontos incompreensíveis e recorrer a outras fontes (dicionários, livros técnicos etc.). É importante, ao iniciar a leitura, fazer anotações para não perder os pontos mais importantes. Muitos pontos de vista podem ser levantados a partir de um mesmo tema, podendo um texto ser utilizado como referência para a escrita de outros. Algumas dicas são válidas para a leitura e compreensão de textos:
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Tela 30 |
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Ao realizar provas que exigem interpretação e análise de texto, são importantes mais algumas dicas:
O passo seguinte é resolver o problema ou responder às questões levantadas, conforme o caso, posicionando-se quanto ao contexto. |
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Tela 31 |
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| 2
- A diferença entre compreender e interpretar o texto
Apesar de serem tomados, muitas vezes, como sinônimos, os verbos compreender e interpretar, segundo o dicionário Houaiss, trazem significados diferentes. Observe:
Quando lemos o texto, podemos fazê-lo com o objetivo de compreender e/ou interpretar. As questões elaboradas para concursos, em geral, avaliam as duas habilidades separadamente, como mostra o exemplo a seguir. Responda à questão abaixo, extraída de um concurso público (AFT/ESAF/2003).
A questão que você acabou de resolver é um modelo de questão de interpretação de texto. Observe que o objetivo consiste em saber o que se infere (conclui) do que está escrito. As questões de interpretação levam o leitor a tirar conclusões, deduzir o que o texto pretende transmitir. |
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Tela 32 |
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| As questões
de compreensão de texto, por outro lado, buscam
analisar o que realmente está escrito, ou seja,
avaliam se o leitor é capaz de coletar dados do
texto.
Vamos ver se você desenvolveu essa habilidade? Leia o texto a seguir e responda à questão.
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Tela 33 |
| 3
- Falhas na compreensão de um texto
Ao levantar as diversas questões propostas nos procedimentos que auxiliam a leitura, a compreensão e a interpretação, deve-se também ter em mente que é necessário estar atento às possíveis falhas na compreensão ou na interpretação de determinado texto. Reconhecer os erros de entendimento, conhecer o processo lógico que ocorre em cada um deles, é de importância vital para superá-los, ou seja, para que suas respostas sejam claras e coerentes com a sua fonte de informação. Vamos identificá-los? Leia, com atenção, o texto a seguir.
O texto acima é dissertativo. Ao analisar esse tipo de texto, o primeiro passo é identificar o argumento principal, aquele que fundamenta a opinião exposta. Em seguida, identifique as consequências decorrentes do que está sendo afirmado e por fim, a conclusão, que é a reafirmação do argumento principal.
Nas opções
de resposta do exercício anterior, apresentam-se os três
erros clássicos de interpretação: extrapolação
(opção b), redução (opção
a), contradição (opção d). |
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Tela 34 |
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Extrapolação: dizer mais que o texto
Leia a tira a seguir, do personagem Calvin, de Bill Watterson.
Sempre que é forçado a fazer alguma coisa, Calvin se imagina como um destemido viajante espacial, dando asas à imaginação e extrapolando os limites da realidade. A extrapolação
também pode ocorrer na interpretação de um texto.
Como o próprio nome indica, o erro de extrapolação
acontece quando saímos do contexto, quando acrescentamos ideias
que não estão presentes no texto, generalizando o que é
particular. Ao extrapolar, vamos além dos limites do
texto, fazemos outras associações, viajamos além
de suas margens, acrescentamos novos elementos, ativamos nossa imaginação
e nossa memória, deixando de lado o texto que era o nosso objeto
de interpretação. |
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Tela 35 |
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Em geral, o processo de extrapolação se realiza por associações evocativas, por relações analógicas: uma ideia lembra outra semelhante e viajamos para fora do texto. Às vezes, a extrapolação acontece devido à preocupação do leitor em descobrir os pontos de partida bem anteriores ao pensamento expresso no texto, ou, ainda, pela preocupação de se tirar conclusões decorrentes das ideias do texto, mas já pertencentes a outros contextos, a outros campos de discussão. Veja um exemplo simples. Suponhamos que um texto em análise contenha a seguinte informação: Os franceses Charles e Tierry são simpáticos. A questão de interpretação apresenta o enunciado: O texto afirma que os franceses são simpáticos. Percebeu que a questão apresenta um erro de extrapolação? O texto diz que aqueles (dois) franceses são simpáticos. A questão diz que todos os franceses são simpáticos. Ao reconhecer os momentos
de extrapolação - sejam analógicos ou lógicos
– você terá desenvolvido uma maior capacidade de compreensão
objetiva dos textos e do contexto em questão. Essa lucidez, além
de necessária, é criadora: significa, inclusive, uma maior
liberdade de imaginação e de raciocínio, porque as
“viagens” para fora dos textos se tornarão intencionais
e conscientes, e não mais por incapacidade de diferenciar as suas
próprias ideias das ideias apresentadas pelo texto
em questão. |
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Tela 36 |
• Redução: ater-se a uma parte do texto, esquecendo outras importantes Acompanhe a tira a seguir, do personagem Calvin, desta vez, conversando com seu amigo Haroldo. Apesar de o diálogo ensejar questões filosóficas, note que Haroldo, o tigre, após refletir sobre a “razão de viver” indagada por Calvin, abreviou a questão a apenas um aspecto: frutos do mar. Se os frutos do mar são ou não uma boa razão para viver, não importa neste momento. O que interessa é que, talvez movido pela fome, Haroldo reduziu drasticamente toda a discussão e reflexão acerca da morte. Sua resposta ficou sem sentido, fora do contexto. Esse fenômeno,
conhecido como redução ou particularização
indevida, também ocorre na interpretação
de texto e é o oposto à extrapolação. Neste
caso, ao invés de acrescentarmos outros elementos, fazemos o inverso:
abordamos apenas um detalhe, um aspecto do texto, dissociando-o do contexto.
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Tela 37 |
A redução consiste em privilegiarmos uma determinada informação que, embora faça parte do texto, não é suficiente diante do conjunto, fazendo com que se percam de vista os elementos e as relações principais. Desta forma, particulariza-se o que é geral e despreza-se o contexto, entendendo uma parte com outro significado. Acompanhe o exemplo a seguir. Um texto apresenta a seguinte informação: O estudo dá prazer, por isso deve ser cultivado. A questão para análise afirma que: Quando se estuda bem, o estudo dá prazer. Observe que houve erro de redução na interpretação porque o texto diz que o estudo dá prazer e não condicionou isso a um determinado modo de estudar (se bem ou mal, ou pouco...). Reconhecer o processo
de redução é mais um passo para desenvolver a capacidade
de ler e entender textos, assim como a capacidade de perceber e compreender
conjuntos de tipos diversos, reconhecendo seus elementos e suas relações. |
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Tela 38 |
• Contradição: tirar conclusões opostas ao que diz o texto Onde está a contradição no texto abaixo?
Ora, ninguém pode se julgar cético (descrente, incrédulo) em relação às influências dos astros (estrelas) na sua vida e se dizer capricorniano, uma vez que capricórnio é um signo astral. Isso seria uma contradição. A contradição também ocorre nas interpretações de texto e é um erro grave. Por algum motivo, chegamos a uma conclusão contrária ao texto, seja pela leitura desatenta, a não percepção de algumas relações, a incompreensão de um raciocínio, o esquecimento de uma ideia, a perda de uma passagem no desenvolvimento do texto. Por apresentar ideias opostas às ideias expressas pelos textos, esse erro tende a ser mais facilmente reconhecido. As questões de interpretação muitas vezes são organizadas com uma espécie de armadilha: uma alternativa apresenta muitas palavras do texto, inclusive expressões inteiras, mas com um sentido contrário. Um leitor desatento ou/e ansioso provavelmente escolherá essa alternativa, por ser a mais “parecida” com o texto, por ser a que apresenta mais “ao pé da letra” elementos presentes no texto, entretanto, não percebe que foram omitidas passagens importantes para fugir ao sentido original. Por exemplo, um texto diz que: O homem, racional, quando sob o domínio do ódio, pode agir como um animal selvagem. A questão de interpretação afirma que: O homem é racional, porque pode agir como um animal. Note a contradição:
o texto diz que o homem, embora racional, pode agir como
irracional. A questão diz que o homem é racional, porque
pode agir como irracional. |
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Tela 39 |
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Vamos ver se você consegue identificar os erros clássicos de interpretação de texto? Leia com muita atenção o texto a seguir. Faça uma primeira leitura para entrar em contato, e, depois, faça uma segunda leitura, captando as ideias centrais. Procure fazer um pequeno resumo do texto, destacando as ideias principais. Em seguida, enumere as colunas conforme a interpretação dada ao texto.
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Tela 40 |
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4 - Identificando erros de interpretação em textos poéticos O entendimento de um poema, em geral, é uma experiência mais complexa do que a interpretação da prosa, porque a linguagem poética é carregada de metáforas com intensidade de significações. Ela apresenta imagens que precisam ser sentidas e interpretadas. Não se pode ler um poema em sentido literal, apenas. Um texto poético tem muitas dimensões e muitas faces. É necessário ir além do sentido denotativo, objetivo.
O poema sugere muitos sentidos: a isso é dado o nome de polissemia ou plurissignificação. É preciso desenvolver a sensibilidade para as múltiplas significações da linguagem poética. Pode-se perceber, portanto, que o risco da extrapolação é muito maior. A interpretação correta fundamenta-se em significados que pertencem ao campo de possibilidade do poema - que é múltiplo, aberto, mas não é arbitrário (que independe de lei ou regra), nem aleatório (acidental, casual).
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Tela 41 |
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Vamos, agora, reconhecer exemplos dos erros de interpretação, fazendo a leitura e a compreensão de textos poéticos. Essas são apenas algumas dicas. Vale lembrar que a convivência com os poemas e a prática da leitura são processos insubstituíveis para se aprender a interpretar os textos poéticos (sem, todavia, estar com a ilusão de que “esgotaremos” o poema...). Leia o poema a seguir.
Agora, tente identificar os erros de interpretação do poema, arrastando os retângulos abaixo ao local correspondente.
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Tela 42 |
| Leia o poema a seguir.
Considere as afirmativas abaixo e identifique os erros cometidos na análise do poema.
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Tela 43 |
| 5
- Erros de compreensão de texto por desconhecimento gramatical
Em alguns casos, o desconhecimento de aspectos gramaticais pode levar o leitor a cometer erros de compreensão e interpretação do texto. Leia o texto a seguir.
Observe que Hagar cometeu um equívoco gramatical em sua fala. Entretanto, o erro não prejudicou o entendimento da mensagem pelo interlocutor. Na linguagem
escrita, esses equívocos tornam-se mais evidentes e podem prejudicar
a compreensão do texto, bem como a interpretação.
Há casos em que o texto está corretamente escrito, no entanto,
por falta de conhecimentos gramaticais do leitor, a mensagem não
é compreendida. |
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Tela 44 |
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| Alguns conhecimentos
gramaticais nos ajudam a compreender melhor o texto. Um exemplo disso é
a capacidade de identificar os casos de ocorrência ou não da
crase,
pois a utilização de um simples acento grave pode modificar
por completo o sentido da frase.
Acompanhe o exemplo a seguir.
Qual das duas frases está correta? Ambas estão corretas, se considerarmos a semântica, ou seja, o sentido da frase. O fato de não estarem ligadas a um contexto específico nos permite interpretá-las conforme nossa conveniência. Observe:
É necessário,
portanto, na interpretação do texto, considerar
o contexto para descobrir o sentido em que o verbo está
sendo empregado. |
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Tela 45 |
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Outro ponto que também merece atenção - e está diretamente ligado ao uso da crase – são os conhecimentos de regência verbal, ou seja, a aplicação semântica dos verbos. O desconhecimento das regras de regência pode levar o leitor ao não entendimento da mensagem. Observe a oração: Favor anexar à sua declaração de isento a sua identidade. Pergunta-se: é possível omitir o acento indicativo da crase, sem provocar, no texto, alterações sintático-semânticas?
Agora, observe o texto sem o acento indicativo de crase: Favor anexar a sua declaração de isento a sua identidade. Se retirarmos o acento
grave, a oração ficará com sentido ambíguo.
Anexar o que a quê? Voltando à pergunta inicial, podemos
concluir, portanto, que não é possível omitir o acento
indicativo da crase, pois isso provocaria alterações no
sentido (semântica) da frase, bem como em sua forma gramatical (sintática). |
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| Resumo
A leitura e a interpretação do texto estão ligadas
diretamente ao contexto e à experiência que acumulamos. Com
a leitura, podemos extrair dados para a resolução dos problemas
do cotidiano, mas é necessário que tenhamos compreendido
bem o texto lido. Para isso, vale recorrer a fontes adicionais como dicionários
ou livros técnicos e pode-se, também, seguir algumas dicas
simples, tais como: ler atentamente, procurando identificar a ideia
central do texto, os argumentos que lhe dão sustentação
e as objeções (aspectos contraditórios), interpretar
as palavras desconhecidas por meio do contexto apresentado, sublinhar
os exemplos que forem empregados como ilustração da ideia
central e considerar o texto como um todo, sem se ater às partes
isoladas.
Os erros de compreensão e interpretação também são cometidos com textos poéticos. Interpretar um texto poético é bem mais complexo que um texto em prosa porque a linguagem poética não pode ser entendida de maneira literal, ela possui múltiplas significações. Mas não é por isso que podemos interpretá-lo de qualquer maneira, precisamos encontrar os significados que realmente fazem parte do poema. O desconhecimento
gramatical pode, também, levar o leitor a cometer erros de compreensão
e interpretação do texto. A regência verbal e o uso
da crase são conhecimentos necessários à compreensão
do texto, pois a utilização de um mero acento grave pode
modificar por completo o sentido da frase. |
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