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1 - Aplicação dos conceitos: o túnel do tempo “Pessoalmente julgo que existe pelo menos um problema... que interessa a todos os homens que pensam: o problema de compreender o mundo, nós mesmos e o nosso conhecimento enquanto parte do mundo”. Karl Popper
Em geral, o pensamento sistêmico é caracterizado pelos seguintes princípios:
Relativity, M.C. Escher,1953 |
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O pensamento
sistêmico mostra os comportamentos que podem levar ao sucesso em
curto prazo ou as medidas de curto prazo que podem conduzir a melhorias
em longo prazo. Entretanto, a questão não que uma visão
de longo prazo seja melhor que uma visão de curto prazo. Afinal
de contas, imagine um garoto atravessando calmamente uma avenida enquanto
um ônibus está vindo a toda velocidade. Em termos de decisão,
o ideal é promover um balanceamento entre as duas visões,
considerando as opções de curto e longo prazo e analisar
o decurso das ações decorrentes das mesmas. Exemplo |
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Essa espécie de pressuposição de como o mundo funciona (também conhecida como modelos mentais) são poderosos direcionadores de nossas decisões.
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Resumindo,
a linguagem do pensamento sistêmico oferece um amplo caminho de
comunicação sobre a maneira como vemos o mundo e de como
se pode trabalhar mais produtivamente em equipe, compreendendo e solucionando
problemas complexos. |
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O objetivo desse exemplo é pensar em termos de um “grande quadro”, considerando as perspectivas de um problema tanto no curto como no longo prazo, identificando seus padrões e tendências e suas causas primárias.
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- Tarefas no processo de descoberta das estruturas O processo de descoberta das estruturas de um sistema envolve as seguintes tarefas:
Pensar sistemicamente é um processo que envolve tentativa e erro. As orientações disponibilizadas aqui são muito úteis, mas “pensar sistemicamente” na vida real é um processo muito mais complicado e complexo, exigindo constantes “idas e voltas”, ou seja, desenvolvimento e revisão. Pensar sistemicamente é um processo interativo de cuidadosa formulação de problemas, criação de hipóteses para intuir o que está ocorrendo, testes e reformulação do problema de acordo com os novos conhecimentos gerados. Formulação do problema – Imagine ter terminado um curso de pensamento sistêmico e tenha identificado um problema que deseje abordar. É possível aplicar as ferramentas do pensamento sistêmico para resolvê-lo? Evidente que sim. Todos os problemas têm origem sistêmica. O segredo é escolher um que seja apropriado e significativo para você. Algumas dicas: Uma forte razão para utilizar o pensamento sistêmico é o fato de o problema seja importante para você e sua organização, e muito esforço e tempo está sendo dispendido em sua solução.Provavelmente, o problema está sendo discutido ou você desconfia que ele possa ocorrer novamente. Exemplos |
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Orientações
para a formulação do problema – Uma vez que
se tenha determinado um problema para uma abordagem sistêmica, deve-se
trabalhar no desenvolvimento de maneira clara, com foco orientado ao problema.
Essa é a parte mais difícil do pensamento sistêmico,
mas é a que mais traz retornos. Quanto mais claramente você
se concentre no problema, maior será sua abordagem sistêmica.
Assegure-se de que as contribuições de outras pessoas sejam
orientadas à solução do problema. Se necessário,
elabore duas ou três visões do problema e aprenda com as
diferentes considerações, do mesmo, que você receber.
A formulação de problemas quase sempre inclui os seguintes componentes:
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3 - Identificando as variáveis Uma vez que
o problema tenha sido formulado é o momento de identificar as variáveis
chave. Lembre-se de que as variáveis chave são aquelas cujo
valor varia com o tempo, isto é, aumentam ou diminuem. Para iniciar,
descreva brevemente a história do problema. Ao fazer esse exercício,
concentre-se no comportamento dinâmico do problema, excluindo detalhes
que possam perturbar a compreensão do problema. Na A-to-Z, uma empresa de semicondutores, estamos tentando compreender uma série de eventos que ocorreram nos últimos três meses. Nós colocamos as metas de vendas para o trimestre e a maioria de nossas forças de vendas atingiu ou excedeu essas metas. Todos os produtos planejados para serem postos no mercado foram lançados e novos produtos estão prontos para serem lançados no mercado no próximo trimestre. Ao mesmo tempo, entretanto, nossos lucros declinaram pela primeira vez na história de nossa empresa, assim como uma parcela de nossos custos aumentou. Quais são as variáveis pertinentes para o caso da A-to-Z? Eis aqui uma lista delas, identificadas pelos gerentes da A-to-Z:
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Guia para identificação das variáveis – Decidir quais variáveis serão trabalhadas é tão importante quanto uma clara definição do problema, porque as variáveis escolhidas conduzirão o restante da análise. Da mesma forma que formular o problema, a identificação de variáveis é, usualmente, um processo interativo. Deve-se começar com uma lista geral e, após muitas discussões e troca de opiniões, decide-se pela exclusão ou inclusão de novas variáveis. Em alguns casos, pode ser necessário até mesmo retrabalhar o problema novamente, desde o início. Eis aqui algumas sugestões:
À medida que se desenvolve o processo do pensamento sistêmico, pode ser necessário voltar e revisar o problema se a lista de variáveis trouxer novas idéias sobre a natureza ou escopo do problema.
Guia para nomear as variáveis – Depois de escolhidas as variáveis, é o momento de atribuir-lhes nomes precisos. O guia abaixo é especialmente importante quando se pensa em construir um diagrama de ciclos causais.
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Dessa maneira, fica mais fácil descrever as mudanças nas variáveis (“aumentando”, “diminuindo”, “crescendo”, “piorando” etc.) sem introduzir confusões. Por exemplo, dizer que “A satisfação com o trabalho diminuiu” do que “A insatisfação com o trabalho diminuiu”. Tenha em mente que as variáveis podem ser tanto entidades concretas como “chips de memória”, “construções” ou “trabalhadores” como intangíveis: “satisfação com o trabalho”, “satisfação” ou “alinhamento aos objetivos da empresa”. Desenhando o comportamento das variáveis – Uma vez que o problema tenha sido formulado e as variáveis escolhidas, o próximo passo é desenhar o comportamento das variáveis ao longo do tempo. Esses gráficos podem ser utilizados para construir hipóteses sobre o comportamento das variáveis ao longo do tempo, levando a uma compreensão mais profunda do problema. Para desenhar os Gráficos de Comportamento Dinâmico – GCD’s, recomenda-se seguir os três passos a seguir:
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Selecionando um horizonte de tempo – Escolher um horizonte de tempo para os gráficos é uma decisão importante porque o horizonte de tempo afeta a quantidade e tipo de informação presentes no seu modelo. Eis aqui algumas dicas:
Observe novamente a lista de variáveis. Visualize o comportamento ao longo do tempo para cada variável – desde o Passado recente até o Agora. Então, tente reconstruir o comportamento da variável desde o Passado. Agora, deve-se imaginar como será o comportamento Futuro dessa variável se nada mudar. Esses experimentos de “pensar o comportamento das variáveis ao longo do tempo” ajudam a construir uma “grande imagem”, como uma fotografia, das mudanças ocorridas. É preciso ter em mente que os GCD’s podem ter um formato mais livre e intuitivo do que gráficos baseados em dados estatísticos. A intenção é obter gráficos de comportamento qualitativo, muito mais do que valores precisos. Naturalmente, esses padrões poderão ser verificados com dados quantitativos mais tarde. |
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4 - Desenhando os gráficos Eis aqui algumas dicas de como desenhar um gráfico, uma vez que já tenha sido determinado o horizonte de tempo:
Caso se verifique uma série de eventos significativos associados às variáveis no gráfico, pode ser que tenha sido identificada uma nova variável a ser incluída na lista. Por exemplo, suponha que o gráfico mostre que a cada três anos um grande percentual de pessoas pediu demissão voluntariamente. Nesse caso, deve-se adicionar “Demissões voluntárias” como uma nova variável e incluir seu comportamento no gráfico. |
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5 - Utilizando o GCD para construir hipóteses Uma vez desenhado o GCD inicial, o próximo passo é desenvolver hipóteses para o comportamento das variáveis, outros GCD’s e mais hipóteses e teorias de como estas variáveis estão relacionadas. Nos primeiros estágios desse processo, pode vir a sensação de “estar andando para trás”. De fato, isso é uma qualidade iterativa do pensamento sistêmico e que agrega grande valor ao trabalho de análise de problemas à medida que pode gerar vários novos “insights”. Na história da fábrica de semicondutores A-to-Z os gerentes selecionaram um horizonte de tempo e desenharam uma linha representando o comportamento de cada variável. Assim, à medida que continuaram a examinar o problema, os gerentes foram construindo hipóteses sobre os relacionamentos entre as variáveis e desenhando novos gráficos. O gráfico inicial da A-to-Z representou o comportamento das vendas, da força de vendas, lucros e lançamento de novos produtos. Observe que, enquanto o comportamento das vendas é crescente, os lucros caem e o lançamento de novos produtos mantém o mesmo ritmo de crescimento (não acompanha as vendas). Os gerentes da A-to-Z desenvolveram a hipótese de que o problema poderia estar na relação entre o total de novos produtos e os custos relacionados ao desenvolvimento desses produtos. Uma segunda hipótese levantada foi a de que poderia haver uma relação entre uma queda na venda de novos produtos e o seu preço médio de venda. Essas duas hipóteses levaram-nos a criar um segundo gráfico, denominado “Pressão dos novos produtos em Desenvolvimento”. Observe que as variáveis, no segundo gráfico, são subconjuntos ou refinamentos das variáveis anteriores. Essas variáveis foram identificadas à medida que os gerentes colheram novos dados, discutiram seu comportamento e criaram o novo gráfico. Quando aplicar esses passos em outros casos, tenha em mente que pode ser necessário realizar várias tentativas para identificar o problema, as variáveis e desenhar os gráficos. O esforço compensa, por outro lado. Uma vez que tenha conseguido determinar o problema, o próximo passo é construir um diagrama de ciclos causais para demonstrar a estrutura do sistema.
As vendas da A-to-Z aumentaram a cada três meses nos últimos dez anos, mas os lucros vêm caindo lentamente há vários anos. Enquanto isso, o lançamento de novos produtos e a força de vendas vêm crescendo a cada ano.
Quando
os gerentes da A-to-Z observaram as vendas de seus produtos ao longo do
tempo, concluíram que, embora o número de produtos tenha
crescido significativamente, os custos de desenvolvimento também
cresceram a uma alta taxa. O desenho do GCD ajudou a identificar um ciclo
de retroalimentação no qual o aumento das vendas pressionava
o desenvolvimento de novos produtos que eram mais fáceis de serem
desenvolvidos, muito mais inovadores do que potencialmente mais lucrativos. |
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Resumo O pensamento sistêmico caracteriza-se por: analisar os problemas como um “grande quadro”; balancear perspectivas de curto e longo prazo; reconhecer a natureza dinâmica, complexa e interdependente dos sistemas; considerar fatores tangíveis e intangíveis e ter em mente que todos fazemos parte de sistemas nos quais temos uma função e, à medida que os influenciamos estes também nos influenciam. Sem uma perspectiva ampla, corre-se o risco de não encontrar uma solução efetiva para os problemas. Ao invés de observar os intervalos em que aparecerão os resultados de suas atividades e a saúde da organização, algumas empresas fazem mudanças estratégicas – cortes nos custos de marketing, demitem ou contratam funcionários, elevam a produção – quando percebem uma necessidade imediata. O pensamento sistêmico mostra os comportamentos que podem levar ao sucesso em curto prazo ou as medidas que podem conduzir a melhorias em longo prazo. Entretanto, a questão não é que uma visão de longo prazo seja melhor que uma visão de curto prazo. Em termos de decisão, o ideal é balancear as duas visões, considerar as opções de curto e longo prazo e analisar o decurso das ações decorrentes das mesmas. Ao se observar o mundo sistematicamente, fica claro que todas as coisas são dinâmicas, complexas e interdependentes, ou seja, mudam o tempo todo, a vida é complexa e tudo está interligado. O pensamento sistêmico encoraja a utilização de informações mensuráveis, como o número de vendas, e informações difíceis de serem mensuradas, como motivação ou atitude dos clientes. Importante ressaltar que contribuímos para o surgimento de nossos próprios problemas. Quando se pensa os problemas como um “grande quadro”, e a longo prazo, percebemos que desempenhamos algum papel no surgimento desses problemas. O pensamento sistêmico tem qualidades únicas que o tornam uma poderosa ferramenta para a abordagem de sistemas complexos. Enfatiza a visão do todo e o papel das interconexões, reconhecendo-nos como parte do próprio sistema em que interferimos de forma que contribuímos na compreensão de como este funciona; é uma linguagem circular muito mais do que linear. O pensamento sistêmico tem um conjunto de regras que reduzem a ambigüidade e ruídos na comunicação, principalmente quando os problemas são discutidos em equipe e, por fim, oferece ferramentas visuais, como os diagramas de ciclos causais e a análise do comportamento de variáveis por meio de gráficos, os quais são ricos em conexões e favorecem os insights. A linguagem do pensamento sistêmico oferece um amplo caminho de comunicação sobre a maneira como vemos o mundo e como se pode trabalhar mais produtivamente em equipe, compreendendo e solucionando problemas complexos. O processo de descoberta das estruturas de um sistema envolve a formulação do problema, identificação das variáveis-chave da situação e o desenho do comportamento dessas variáveis em um gráfico. Todos os problemas têm origens sistêmicas. O segredo é escolher um que seja apropriado e significativo. A formulação de problemas inclui os seguintes componentes: o comportamento, uma descrição do comportamento do problema ao longo do tempo, uma medida de como o problema evoluiu através do tempo e o tempo de decurso do problema. Decidir as variáveis a serem trabalhadas é muito importante, pois estas conduzirão o restante da análise. A identificação de variáveis é um processo interativo. Inicia-se com uma lista geral e, após muitas discussões e troca de opiniões, decide-se pela exclusão ou inclusão de novas variáveis. Em alguns casos, pode ser necessário até mesmo retrabalhar o problema, desde o início. Uma vez que
o problema tenha sido formulado e as variáveis escolhidas, o próximo
passo é desenhar o comportamento das variáveis ao longo
do tempo. Gráficos podem ser utilizados para construir hipóteses
sobre o comportamento das variáveis ao longo do tempo, levando
a uma compreensão mais profunda do problema. |
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1 - Convertendo conhecimentos tácitos em explícitos
Vários setores, tanto públicos como privados, estão cada vez mais dependentes de processos gerenciados e operados por equipes multidisciplinares. Normalmente, esses sistemas são difíceis de serem gerenciados. Modelos, como os elaborados de acordo com a Dinâmica de Sistemas, estão sendo utilizados para ajudar os gerentes a compreenderem as origens de suas dificuldades e a elaborarem políticas organizacionais mais eficientes. Em geral, o conhecimento das pessoas que estão gerenciando um determinado sistema (não no sentido de sistemas computadorizados) precisa ser estruturado e parametrizado, convertendo-o em um modelo útil. Para desenvolver um modelo que seja útil e que tenha credibilidade junto a esses gerentes é necessário buscar dessas pessoas informações sobre a estrutura do sistema e políticas organizacionais utilizando-as para desenvolver o modelo. Muitos métodos de extrair informações de especialistas têm sido desenvolvidos e nas fases iniciais da modelagem ficaram conhecidos como articulação do problema, definição dos limites do modelo e mapeamento qualitativo das variáveis causais (Diagramas de Ciclos Causais). Esses métodos são sempre utilizados na modelagem conceitual (que não envolve um modelo simulável com suas equações) na formulação e testes de hipóteses e proposição de políticas organizacionais. |
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A maioria das informações sobre as estruturas de um sistema e processo de decisão residem nos modelos mentais dos indivíduos, sendo, portanto, conhecimentos tácitos. Comparados com os conhecimentos explícitos, os conhecimentos tácitos são subjetivos, pessoais e contextuais. São difíceis de serem descritos, examinados e utilizados. Alguém conhece, por exemplo, um livro que ensina a andar de bicicleta? Este é um bom exemplo de um conhecimento tácito dificilmente externalizável. Contudo, uma das atividades mais importantes da modelagem é a externalização, articulação e descrição dos conhecimentos residentes nos modelos mentais dos especialistas. Por especialistas compreende-se as pessoas que participam diretamente de processos operacionais ou gerenciais em uma organização. O módulo presente aborda um método de como explicitar esse tipo de conhecimento, desenvolvido por David N. Ford (professor de Dinâmica de Sistemas e pesquisador da University of Bergen, Noruega) e John D. Sterman (Professor de Administração do Massachusetts Institute of Technology – MIT). O método foi desenvolvido para orientar modeladores e seus clientes na especificação de parâmetros específicos e inter-relacionamentos de maneira prática para a modelagem. Os autores acrescentam, ainda, que a precisão e disciplina necessárias para a explicitação desses conhecimentos por meio deste método pode gerar insights valiosos para os modeladores e seus clientes mesmo quando não se chegar à construção de um modelo formal. O método é ilustrado com um exemplo de modelo de desenvolvimento de um produto de alta tecnologia. Como o exemplo utilizado no original é de grande complexidade, ele foi substituído para uma abordagem mais simples, no intuito de facilitar didaticamente a compreensão do método.
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O desenvolvimento de produtos é um dos muitos processos acelerados pelos efeitos da globalização, pelo desenvolvimento tecnológico e pela sofisticação das necessidades dos clientes. Isso resulta em um dramático aumento na complexidade e no surgimento de problemas relacionados a aumento de custos, atrasos, qualidade etc. Devido à pressão para lançar novos produtos rapidamente (e a preços baixos) as organizações estão recorrendo a técnicas de desenvolvimento concorrente (tarefas sendo realizadas simultaneamente e não seqüencialmente) e equipes multifuncionais e multidisciplinares. O desenvolvimento concorrente de produtos requer processos suportados por conhecimentos, como o design, que fornece informações sobre o produto final a ser obtido e garantias de qualidade. O efetivo desenvolvimento de produtos depende do conhecimento desses processos críticos de inter-relacionamentos, que são dinâmicos, afetados pelas perspectivas e objetivos individuais e condicionados pela experiência, o que agrega muitos componentes e relacionamentos aos modelos. As descrições dos processos e relacionamentos não estão, geralmente, disponíveis nos bancos de dados das organizações, mas armazenados nos modelos mentais dos especialistas. Diferenças entre esses modelos mentais dos membros de uma equipe podem constranger o desenvolvimento dos trabalhos e gerar conflitos. É muito comum, por exemplo, a divergência dos modelos mentais dos gerentes de marketing com os modelos mentais dos engenheiros de design. Os modelos dinâmicos desses sistemas devem incluir o processo de conhecimento dos especialistas, evitando os conflitos. A complexidade do processo de desenvolvimento de novos produtos disponibiliza, assim, um campo fértil para testar o método de externalização de conhecimentos para especificar e parametrizar modelos formais de simulação. |
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2 - Considerações sobre metodologias de explicitação de conhecimentos Grande parte das pesquisas em sistemas dinâmicos para explicitar conhecimentos de especialistas para a construção de modelos tem-se focado na identificação dos componentes do sistema e nas inter-relações causais para construir modelos conceituais. As técnicas são utilizadas para a definição de problemas, construção de modelos conceituais e definição dos limites do modelo. Os fatores identificados até então para orientar o processo de explicitação do conhecimento são:
Contudo, a modelagem formal e o processo de explicitação dos conhecimentos tácitos com a riqueza de detalhes e a precisão requerem a exploração dos modelos tácitos mentais e a descrição das relações no nível operacional, isto é, o nível que descreve características especiais relacionadas aos elementos individuais do sistema. A modelagem formal necessita de mais precisão do que oferecem os modelos conceituais. Ela exige a especificação dos estoques e das estruturas de fluxo, estruturas funcionais e uma estimação numérica dos parâmetros e comportamento dos relacionamentos. |
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Apesar de vários métodos contribuírem para ajudar modeladores, pesquisadores e estudantes a trazerem à tona o conhecimento necessário para a modelagem, muitas das habilidades envolvidas na avaliação dos comportamentos não-lineares das variáveis permanecem tácitas, ou seja, não explicitadas. Por exemplo, Nonaka e Takeuchi (1995) descrevem a explicitação do conhecimento tácito e sua transformação em conhecimento explícito mediante três etapas de conversão do conhecimento para gerar conhecimento organizacional orientados ao desenvolvimento de produtos nas organizações. As etapas são as seguintes:
Os autores oferecem evidências das duas primeiras etapas em experiências desenvolvidas com equipes de desenvolvimento de empresas japonesas. Contudo, Nonaka e Takeuchi utilizam a modelagem somente para construir “rascunhos” ou desenhos. Embora seja um método efetivo para o desenvolvimento de um contexto para o desenvolvimento de produtos, o modelo-metáfora-analogia produz descrições de conhecimento que não são explícitas ou específicas o suficiente para serem utilizadas na construção de modelos formais. De maneira similar, Burchill e Fine (1997) descrevem um método quantitativo para a geração de conceitos e discutem, também, a utilização de diagramas de ciclos causais – DCC para mapear feedbacks relacionados ao desenvolvimento de novos produtos. O método é bem adequado para a codificação das falas das equipes envolvidas, é rico na captura das crenças de como os processos governam a dinâmica de mercado, por meio dos DCC’s, mas não disponibiliza nenhuma informação quantitativa necessária para especificar e testar essas hipóteses. |
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O método descrito logo em seguida é motivado pelas características das fontes de informação para a modelagem. Forrester (1994) categoriza as fontes de conhecimento para a modelagem dinâmica como mentais, escritas ou numéricas e analisa as forças e fraquezas de cada uma dessas fontes. Modelos mentais são amplos em escopo e ricos em informações disponíveis. Descrições escritas de conhecimento têm a vantagem de serem codificadas da linguagem e mais acessíveis do que o conhecimento obtido por meio de modelos mentais e facilitam o processo de abstração. Porém, são limitadas pela riqueza do que descrevem, pela falta de habilidade dos modeladores em compreender e expandir, e o que está codificado em termos de linguagem escrita. Os dados numéricos são considerados por Forrester como a mais restrita das três fontes, não fornecendo a informação contextual necessária da própria estrutura gerada por eles. Contudo, dados numéricos são críticos para estimar determinados parâmetros para a modelagem, estabelecendo padrões de comportamento para alguns tipos de modelo. Forrester vê valores nas três fontes de conhecimento para modelagem e critica algumas escolas de modelagem pelo equívoco de não fazerem uso dos modelos mentais e das fontes escritas. Contudo, Forrester não indica como os modeladores podem ter acesso aos benefícios das três fontes de conhecimento, evitando, ao mesmo tempo, suas fraquezas. O método a ser exposto ajuda na descrição dos conhecimentos focando no desenvolvimento de um modelo formal como produto de um esforço. A hipótese é de que estimular os especialistas a descrever os relacionamentos de um modelo de simulação ajuda-os a clarearem e explicitarem seu conhecimento, mais do que se eles trabalhassem em nível mais abstrato utilizando ferramentas como Diagramas de Ciclos Causais. Acredita-se que isso seja verdade, mesmo que um modelo formal não chegue a ser construído, pois o processo de pensar o modelo formal quase sempre amplia os insights sobre um determinado problema. O método aqui apresentado também difere das abordagens de explicitação de conhecimentos que procuram criar uma imagem compartilhada de um grupo de especialistas por meio de abstração e consenso. |
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3 - O método de explicitação do conhecimento O método é estruturado na descrição de conhecimentos em três fases seqüenciais: posicionamento, descrição e discussão. A fase de posicionamento – O objetivo da fase de posicionamento é estabelecer o contexto e objetivos para a descrição dos processos. É dividida em 3 passos: 1. Estabelecimento do contexto – O facilitador cria um ambiente de explicitação no qual fará breves descrições do objetivo do modelo, seus sub-sistemas e interações, o papel das estruturas dos subsistemas e os relacionamentos a serem caracterizados. O contexto provê os especialistas de uma razão para desenvolverem suas descrições, limites e escopo do modelo, um foco inicial de atenção e um período de transição entre suas atividades cotidianas e o workshop de modelagem. O contexto prepara os especialistas da mesma maneira que Morecroft e van der Heijden (1994) “condicionaram” um grupo de especialistas da indústria de petróleo a explicitarem seus conhecimentos para a construção de um modelo. Antes disso, será necessário realizar a articulação do problema, definição dos limites e também um início dos trabalhos de simulação. Naturalmente, os modelos iniciais, limites e a definição do problema serão provisórios e podem alterar as interações do processo de modelagem, detectando inadequações na definição do problema, nos limites do modelo e nas formulações do próprio método aqui exposto. |
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A fase de descrição – A fase de descrição orienta os especialistas por meio do desenvolvimento seqüencial de quatro diferentes descrições de relacionamentos. Cada descrição assume uma forma diferente e serve a um único propósito no processo de transformarem seus conhecimentos tácitos em explícitos (utilizáveis). Durante a fase de descrição, os especialistas são direcionados a utilizar suas próprias imagens e a não interagir com os demais especialistas.
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A fase de discussão – A fase de discussão procura testar, compreender e melhorar as descrições dos diferentes especialistas. Essa fase é baseada no protocolo de estimar-retroalimentar-falar sugerido por Vennix e Gubbels (1994), apenas mudando o enfoque de construção de consenso para o de explicitação de conhecimentos. A fase de discussão inicia-se pela apresentação dos gráficos contendo as descrições geradas pelos diferentes especialistas.
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O processo de explicitação dos conhecimentos tem o foco centrado na modelagem formal de um único relacionamento para preparar os especialistas a converterem seus conhecimentos tácitos para formas aplicáveis de conhecimento. Especialistas individuais desenvolvem múltiplas descrições de um mesmo conhecimento em diferentes formatos. Essas descrições são testadas em sua comparação com as demais. Esse método apresenta muitas vantagens sobre outros, como entrevistas ou grupos de modelagem em busca de consenso. Exemplo: explicitando conhecimentos por meio do processo de desenvolvimento de um produto.
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4 - Aplicação Específica a Circuitos Integrados – AECI O método de explicitação de conhecimentos descrito foi utilizado para modelar relacionamentos no processo de desenvolvimento de um produto (aqui denominado Cascavel) que deu origem a uma aplicação moderadamente complexa: o AECI (Aplicação Específica a Circuitos Integrados) para uma empresa fictícia de semi-condutores. O desenvolvimento de projetos complexos consiste de múltiplas fases como design, prototipação e testes. A habilidade dos engenheiros responsáveis por iniciar e completar o projeto com sucesso depende do tempo e da qualidade do trabalho realizado para eles por outras equipes. Por exemplo, a construção do protótipo não pode iniciar até que um número de informações do design tenha sido enviado. Algumas vezes uma atividade pode ser iniciada com informações parciais ou incompletas, em outros casos todo o trabalho de uma fase deverá ter sido completado para que uma outra atividade seja iniciada. No projeto e construção de modelos dinâmicos para o desenvolvimento de produtos, os relacionamentos descrevem o grau em que as atividades podem ser organizadas, em paralelo ou seqüencialmente. Desenvolvedores e gerentes do projeto Cascavel foram convidados a participar dos workshops. Os especialistas tinham uma experiência média de dez anos em desenvolvimento de chips de computadores e um mínimo de cinco anos no desenvolvimento de produtos para organização. Muitos desenvolvedores na organização do projeto Cascavel também exerciam funções gerenciais em desenvolvimento de projetos, tornando a distinção entre gerentes e desenvolvedores muitas vezes um pouco confusas. Os especialistas tinham familiaridade com a abordagem da Dinâmica de Sistemas aplicada a projetos de desenvolvimento de produtos e muitos haviam recebido treinamento em pensamento sistêmico. Poucos dos especialistas já conheciam a descrição conceitual de um modelo e nenhum tinha conhecimento da estrutura formal de um modelo ou descrições de especificação de relacionamentos utilizados em modelo formal. O número de participantes em cada workshop variou de três a cinco, dependendo primariamente do número de pessoas em cada uma das fases do desenvolvimento e se o relacionamento concorrente a ser estimado era interno ou externo. |
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A fase de posicionamento do projeto AECI – O facilitador descreveu o objetivo do modelo como sendo a modelagem de processos de desenvolvimento de um único projeto para melhorar a compreensão de como esses processos afetam a performance do desenvolvimento de produtos. Um diagrama facilitou a descrição da estrutura geral do modelo como um conjunto de ligações entre os módulos da fase de desenvolvimento (Figura 1). Isso ajudou os especialistas a focarem as quatro fases usadas no modelo: definição do produto, design, teste do protótipo e controle qualidade/segurança.
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A descrição de cada fase como uma estrutura genérica, que é customizada para especificar os estágios de desenvolvimento do produto, incluiu uma revisão geral dos quatro subsistemas que interagem entre si para guiar a performance do projeto (Figura 2).
O desenvolvimento de processos descreve o movimento e acumulação do trabalho de desenvolvimento baseado nas quatro atividades de cada fase: desenvolvimento inicial, garantia de segurança, interação e coordenação. Os recursos são alocados para as atividades baseados nas pressões relativas de cada atividade percebida pelos desenvolvedores e gerentes. Os subsistemas definem o tamanho das fases e a necessidade relativa de mudanças no trabalho. Os objetivos dos subsistemas descrevem os objetivos do projeto e sua performance por meio de três medidas tradicionais (tempo, qualidade e custo). As interações do primeiro subsistema incluem as estruturas dos objetivos, as restrições de recursos e a geração de demanda de recursos pelo processo de desenvolvimento. A parte do processo de desenvolvimento do modelo foi identificada como o foco dos esforços de descrição. O facilitador explicou a importância da inclusão do conhecimento dos especialistas no modelo e a natureza tácita desse conhecimento como a razão para utilizar workshops na descrição, objetivando obter dados além de entrevistas prévias envolvendo a maioria dos participantes do workshop. |
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A fase de descrição do projeto AECI – O facilitador descreveu e definiu primeiro os relacionamentos e suas unidades de medida. O relacionamento escolhido foi entre a variável Recursos (Quantidade, Alocação entre o desenvolvimento das atividades e Efetividade) e a performance do projeto (Tempo do ciclo, Taxa de defeitos e Custos). Após as descrições visuais, verbais e textuais, um dos especialistas apresentou o gráfico mostrado na Figura 3.
O especialista entende que, durante a realização de um projeto, a quantidade de recursos aumenta e depois cai em função da aproximação do término do projeto. Ele também entende que a alocação de recursos entre as diferentes atividades não é precisa, oscilando através do tempo. Esta afetará, de modo proporcional, a efetividade das tarefas realizadas (se a alocação aumentar, a efetividade também vai aumentar), enquanto que o tempo do ciclo de cada tarefa, a taxa de defeitos e os custos, se comportarão de modo inversamente proporcional (quando a alocação diminuir, o tempo do ciclo, a taxa de defeitos e os custos irão aumentar). |
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A fase de discussão do projeto AECI – Tendo todos os especialistas apresentados seus produtos do workshop, o trabalho tomou a forma de preenchimento e complementaridade dos conhecimentos explicitados. Nenhum esforço foi desenvolvido no sentido de harmonizar ou obter um consenso entre os especialistas. Os conhecimentos explicitados, mas não complementados com outros, constituem-se em rico material de análise do modelador, inclusive para testes e verificação das complementaridades realizadas. O modelo final elaborado após a execução dos mesmos procedimentos para todos os relacionamentos e apresentado não sob a forma de um modelo perfeito (que não existe), mas de um modelo que procurou incorporar a maioria dos conhecimentos explicitados pelos especialistas. A fase final tem o objetivo de, perante todos os especialistas, promover um refinamento do modelo, que é confrontado com a realidade do projeto. Finalizando, a explicitação de conhecimentos de especialistas para a modelagem formal resulta em diferentes produtos em relação à utilização da modelagem conceitual ou de decisões baseadas em consenso. O método foca o processo de uma forma apropriada para a modelagem formal e para que os especialistas façam melhor uso de seus conhecimentos tácitos, disponibilizando-os para avaliação e para melhorias. O método foi construído como uma ferramenta efetiva para promover o desenvolvimento de modelos formais e ajudar equipes de desenvolvimento a utilizarem melhor seus modelos mentais. Desenvolver as habilidades de transformar conhecimentos tácitos em conhecimentos explícitos pode ter efeitos importantes tanto na pesquisa como na prática. Pesquisadores podem utilizar o método para aumentar a qualidade e quantidade de conhecimentos dos especialistas para construir modelos mais completos e acurados. Consultores podem expandir sua consciência, compreensão e uso dos conhecimentos tácitos que geram comportamentos dinâmicos organizacionais e oferecem meios de lidar com as disfunções administrativas. A integração desse método com outras técnicas de explicitação de conhecimentos pode abrir o caminho para o desenvolvimento de tecnologias mais eficazes de explicitação de conhecimentos. |
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Resumo Em geral, o conhecimento das pessoas que gerenciam determinado sistema precisa ser estruturado e parametrizado, convertendo-o em um modelo útil. Para desenvolver um modelo que seja útil e possua credibilidade, é necessário buscar informações sobre a estrutura do sistema e políticas organizacionais utilizando-as para desenvolver o modelo. Muitos métodos de extrair informações de especialistas têm sido desenvolvidos e nas fases iniciais da modelagem são conhecidos como articulação do problema, definição dos limites do modelo e mapeamento qualitativo das variáveis causais (Diagramas de Ciclos Causais). Esses métodos são sempre utilizados na modelagem conceitual e na formulação e testes de hipótese e proposição de políticas organizacionais. O método apresentado foi desenvolvido para orientar modeladores e seus clientes na especificação de parâmetros específicos e inter-relacionamentos de maneira prática para a modelagem. Os autores acrescentam ainda, que a precisão e disciplina necessárias para a explicitação desses conhecimentos mediante este método pode gerar insights valiosos para os modeladores e seus clientes mesmo quando não se chegar à construção de um modelo formal. O método foi ilustrado com um exemplo de modelo de desenvolvimento de um produto de alta tecnologia. Ajuda na descrição dos conhecimentos focando no desenvolvimento de um modelo formal como produto de um esforço. A hipótese desenvolvida foi de que estimulando os especialistas a descrever os relacionamentos de um modelo de simulação ajuda-os a clarearem e explicitarem seu conhecimento mais do que se eles trabalhassem em nível mais abstrato utilizando ferramentas como Diagramas de Ciclos Causais. O método é estruturado na descrição de conhecimentos em três fases seqüenciais: posicionamento, descrição e discussão. A fase de posicionamento estabelece o contexto e objetivos para a descrição dos processos. A fase de descrição orienta os especialistas mediante o desenvolvimento seqüencial de quatro diferentes descrições de relacionamentos. Cada descrição assume uma forma diferente e serve a um único propósito no processo de transformarem seus conhecimentos tácitos em explícitos (utilizáveis). Durante a fase de descrição, os especialistas são direcionados a utilizar suas próprias imagens e a não interagir com os demais especialistas. A fase de discussão procura testar, compreender e melhorar as descrições dos diferentes especialistas. O método de explicitação de conhecimentos descrito foi utilizado para modelar relacionamentos no processo de desenvolvimento de um produto (Cascavel) que deu origem a uma aplicação moderadamente complexa: o AECI (Aplicação Específica a Circuitos Integrados) para uma empresa fictícia de semicondutores. O desenvolvimento de projetos complexos consiste de múltiplas fases como design, prototipação e testes. A explicitação de conhecimentos de especialistas para a modelagem formal resulta em diferentes produtos em relação à utilização da modelagem conceitual ou de decisões baseadas em consenso. O método foca o processo de uma forma apropriada para a modelagem formal e para que os especialistas façam melhor uso de seus conhecimentos tácitos, disponibilizando-os para avaliação e para melhorias. O método foi construído como uma ferramenta efetiva para promover o desenvolvimento de modelos formais e ajudar equipes de desenvolvimento a utilizarem melhor seus modelos mentais. Desenvolver as habilidades de transformar conhecimentos tácitos em conhecimentos explícitos tem efeitos importantes tanto na pesquisa como na prática. Pesquisadores podem utilizar o método para aumentar a qualidade e quantidade de conhecimentos dos especialistas para construir modelos mais completos e acurados. Consultores podem expandir sua consciência, compreensão e uso dos conhecimentos tácitos que geram comportamentos dinâmicos organizacionais e oferecem meios de lidar com as disfunções administrativas. A integração desse método a outras técnicas de explicitação de conhecimentos abre caminho para o desenvolvimento de tecnologias mais eficazes de explicitação de conhecimentos. |
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1 - Dificuldades em trabalhar com variáveis intangíveis
A importância do capital intelectual e dos ativos intangíveis tem sido foco de muitas publicações, eventos e discussões. O valor imaterial das empresas como os relacionamentos entre parceiros, marcas, clientes, sistemas etc. e a habilidade de inovar, bem como a capacidade de multiplicar conhecimentos, têm crescido de modo significativo nas últimas décadas. Infelizmente, os instrumentos de gestão financeira e contábil não estão ainda aptos a capturar esses valores e disponibilizá-los de maneira efetiva. São necessárias ferramentas que permitam às empresas gerenciar esses ativos de maneira sistemática, convertendo-os em valores agregados aos seus produtos e serviços. Empresas – como a Skandia, na Suécia – adotaram o conceito de contabilizar esses ativos em seus relatórios anuais para os acionistas desde o início da década de 1990. De acordo com o consultor empresarial Juergen H. Daum, esse procedimento é, desde 1º de janeiro de 2002, parte das regras de contabilidade das empresas dinamarquesas. Isso aumenta a capacidade dos investidores compreenderem melhor o valor potencial dos recursos intelectuais de uma organização, colaborando em julgamentos mais precisos sobre o desempenho futuro das mesmas. A Dinâmica
de Sistemas sempre se ocupou (e se preocupou) em atribuir valores a variáveis
intangíveis, como motivação, qualidade, liderança,
sinergia entre equipes, informação, conhecimento etc. Não
que seja fácil quantificar essas variáveis, mas é
praticamente impossível construir modelos organizacionais úteis
sem levar em consideração algumas delas. |
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| A
Dinâmica de Sistemas se apresenta como uma metodologia extremamente
útil na abordagem dessas variáveis – também conhecidas
como soft variables – porque, antes de quantificá-las,
é possível analisar o seu comportamento sobre as organizações
e o ambiente. Desse modo, a princípio, torna-se indiferente atribuir
valores de 0 a 10 ou de 0 a 100, ou mesmo de 0 a 1000 ao valor do conhecimento,
por exemplo, dentro de uma organização. O que realmente importa
em um primeiro plano é a compreensão de seu comportamento
dinâmico, como afirma Verna Lee na citação inicial desse
módulo. Essa compreensão dinâmica torna-se a base da
aprendizagem de processos de conversão de comportamentos de variáveis
intangíveis em valores tangíveis.
Muitas afirmam orgulhosamente que “as pessoas são nossos maiores ativos”. No serviço público e em muitas empresas de serviços, as pessoas são, praticamente, as únicas geradoras de valores. Dependendo do problema que está sendo tratado, simular tomadas de decisão em organizações como essas implicam, quase que necessariamente, utilizar variáveis intangíveis como motivação, produtividade ou qualidade do trabalho. Contudo, a utilização dessas variáveis deve ser feita de forma contenciosa, tanto na modelagem de sistemas dinâmicos como em outras áreas das ciências sociais. Existe certa
separação entre o que os pensadores sistêmicos dizem
e os modelos que desenvolvem, nos quais tem prevalecido a utilização
de métodos lineares, relacionamentos entre variáveis que
não formam ciclos causais fechados e uma orientação
fortemente baseada em dados quantitativos. As principais razões
para esse fato seriam a simplicidade e o forte relacionamento do que a
empresa realiza com o que pensa. Em outras palavras, se a empresa pensa
linearmente, tenderá a aceitar apenas modelos lineares para explicar
seu comportamento. Trata-se, na verdade, de uma indução
ao processo de modelagem e o modelador que se submete ao pensamento linear
está criando modelos para confirmar a crença dos gerentes
da organização e não para questioná-la, que
é base da inovação. |
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Em um artigo recente, Karl-Erik Sveiby, Keith Linard e Lubomir Dvorsky relatam uma interessante discussão entre alguns especialistas em Dinâmica de Sistemas, sobre o assunto discutido neste módulo. O Professor Geoff Coyle iniciou o artigo argumentando que:
O professor George Richardson, da University of Albany, respondeu que:
Posteriormente, Jay Forrester, criador da Dinâmica de Sistemas, deu uma opinião taxativa sobre o assunto:
Forrester deseja afirmar que é preferível não colocar uma variável intangível no modelo do que colocá-la e atribuir-lhe um valor insignificante. |
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- Exemplo simplificado de variável intangível: a competência
individual
A “família” das competências individuais consiste da competência do profissional e da competência da equipe técnica de um lado e do suporte e da equipe gerencial de outro, incluindo as áreas de P&D, produção, vendas e marketing. Em resumo, incluídos todos os profissionais em contato com os clientes ou cujo trabalho influencia diretamente a visão que estes têm da organização. A distinção feita entre o profissional e o técnico, e o suporte e o gerencial é feita devido aos diferentes papéis que assumem e como se relacionam entre si e com o ambiente externo. Tal classificação é útil para a formulação de estratégias e planejamento de ações. De acordo com os autores do artigo citado, consultores em grandes empresas prestadoras de serviços iniciam sua carreira logo após o término da faculdade como consultores juniores, podendo atingir até a condição de sócios. Contudo, muitos se perdem no caminho. Menos de 1 em 20 dos consultores juniores chegam a sócios (Observação do autor: não há referência explícita da fonte e origem dessa informação). A figura 1 ilustra o desenvolvimento profissional desses consultores considerando-se suas competências.
Figura 1 Desenvolvimento da carreira de consultores com base em suas competências
(adaptado de SVEIBY et all, 2002), NASCIMENTO (2004) |
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| No
modelo apresentado, a carreira dos consultores é função
de suas competências individuais nos diferentes níveis (consultor,
consultor sênior, diretor e sócio). Mas o que define essa variável
intangível: competência?
De acordo com os autores, os diferentes níveis de competência são influenciados por:
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A competência do consultor poderia, então, ser calculada conforme mostrado na figura 2:
Figura 2 – Desenvolvimento da competência de consultores (adaptado de SVEIBY et all, 2002), NASCIMENTO (2004) O estoque Competência do consultor pode, então, ser calculado da seguinte maneira:
Caso se deseje calcular as competências dos consultores da empresa em cada nível, basta multiplicar o número de consultores em cada nível pela média das competências individuais dos consultores. Uma pergunta esperada seria: “Muito bem! Mas como transformar todas essas variáveis intangíveis em uma fórmula algébrica para simular o modelo?” Algumas indicações já foram dadas na própria explicação das variáveis. Cabe à organização desenvolver seus indicadores internos mediante suas experiências ao longo dos anos. Caso isso não seja possível, pode-se utilizar gráficos de comportamentos esperados com escalas proporcionais ou atribuir valores escalares aleatórios mas que possuam padrão de comportamento conhecido e controlável. Um exemplo
de utilização de variáveis intangíveis será
demonstrado por meio de um estudo de caso. |
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- Estudo de caso: desenvolvendo modelo com variáveis intangíveis
A Biotech é uma pequena empresa e a quarta tentativa de uma grande empresa farmacêutica para entrar na área de produção de produtos baseados em biotecnologia. As empresas anteriores – que decretaram falência – haviam seguido um caminho muito similar: depois de obter alguns êxitos científicos lançando novas linhas de produtos, a matriz foi obrigada a fechá-las devido aos fortes prejuízos apresentados periodicamente. Decidiu-se, então, montar um modelo de Dinâmica de Sistemas para analisar o problema. Os consultores foram até a empresa e realizaram entrevistas com quatro diretores de diferentes áreas, com o objetivo de obterem informações para o processo de modelagem. As entrevistas estão relatadas a seguir.
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- O modelo desenvolvido e as fórmulas
A Figura 3 mostra o modelo desenvolvido pelos consultores.
Figura. 3 – Modelo da empresa Biotech (adaptado de GARCIA, Juan Martin 2004), NASCIMENTO (2004) As fórmulas utilizadas no modelo são listadas a seguir:
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- Compreendendo as fórmulas e o modelo
É interessante ressaltar as principais informações coletadas nas entrevistas para melhor compreensão das fórmulas e do modelo. Diretor de Pesquisas: A empresa atua em um ambiente muito dinâmico, duplicando o nível científico a cada cinco anos. (13)
desenvolvimento tecnológico do ambiente = 0.012
(24)
pesquisas internas = 1.25
(07)
Conhecimento científico próprio = INTEG (descobertas próprias,
120)
(18)
lançando produtos = PULSE TRAIN(12,1, prazo de lançamento,
60)
(28)
"produtos/linha" = 10
(01)
aumentando a qualidade = IF THEN ELSE (lançando produtos = 1, Conhecimento
científico próprio-Qualidade,0) |
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| Para
simular esse processo foi necessário utilizar a função
PULSE TRAIN do Vensim. O formato geral dessa função é:
PULSE TRAIN(
{start} , {duration} , {repeattime} , {end} ) PULSE TRAIN (período inicial, duração, período de repetição, período final) Traduzindo: até o mês 11 o valor da variável lançando produtos será 0. No mês 12 será 1 (lançamento da primeira linha de produtos), depois será zero novamente até o mês 23. No mês 24 será 1 e depois zero novamente, repetindo-se a cada 24 meses. O modelo irá interpretar o valor 1 como tendo sido lançada uma nova linha de produtos e zero como nenhum lançamento. Assim, teremos lançamentos de linhas de produtos nos meses 12, 36 e 60, conforme pode ser observado na Figura 4 a seguir.
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| Diretor
Comercial: Os produtos da empresa possuem uma margem de qualidade
expressa pela diferença entre a qualidade dos produtos e o nível
de conhecimento geral.
(21) margem de qualidade = Qualidade-Conhecimento
científico geral
(26)
preço = margem de qualidade*1000 Diretor de Produção: Produz-se em função dos pedidos dos clientes se a capacidade de produção permitir. (02)
capacidade de produção = produtos* "capacidade/produto" Diretor Financeiro: O faturamento é resultado das entregas realizadas, que é igual ao número de pedidos recebidos (entregues ao cliente) multiplicado pelo preço atual do produto. (15)
faturamento = preço*entregas As demais
fórmulas são óbvias, não sendo necessárias
maiores explicações. |
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- Comportamento do modelo
Foi realizada uma simulação para analisar algumas das variáveis intangíveis do modelo, como pode ser observado na Fig. 5.
Figura 5: Comportamento de algumas variáveis intangíveis do modelo da Biotech. Pode-se observar que o conhecimento adquirido pela empresa promoveu saltos de qualidade a cada lançamento de uma nova linha de produtos, fazendo que o seu conhecimento próprio ficasse sempre acima do conhecimento científico geral |
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- Um passo adiante
Apesar de ser um exemplo simples, o modelo da Biotech mostra como trabalhar com variáveis intangíveis. Existem muitas outras formas de atribuir valores a esses tipos de variáveis, as quais serão conhecidas ou mesmo criadas à medida que se aplique os conceitos de modelagem e se ganhe experiência. Faça a simulação e procure analisar, no mínimo, as variáveis a seguir:
Divulgue seu modelo vpm no fórum. |
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Resumo A importância do capital intelectual e dos ativos intangíveis tem sido foco de muitas publicações, eventos e discussões. O valor imaterial das empresas como os relacionamentos entre parceiros, marcas, clientes, sistemas etc. e a habilidade de inovar, bem como a capacidade de multiplicar conhecimentos, tem crescido de modo significativo nas últimas décadas. Infelizmente, os instrumentos de gestão financeira e contábil não estão ainda aptos a capturar esses valores e disponibilizá-los de maneira efetiva. São necessárias ferramentas que permitam às empresas gerenciar esses ativos de maneira sistemática, convertendo-os em valores agregados aos seus produtos e serviços. A Dinâmica de Sistemas sempre se ocupou (e se preocupou) em atribuir valores a variáveis intangíveis, como motivação, qualidade, liderança, sinergia entre equipes, informação, conhecimento etc. Não que seja fácil quantificar essas variáveis, mas é praticamente impossível construir modelos organizacionais úteis sem levar em consideração algumas delas. A Dinâmica de Sistemas se apresenta como uma metodologia extremamente útil na abordagem dessas variáveis, também conhecidas como soft variables, porque, antes de quantificá-las é possível analisar o seu comportamento sobre as organizações e o ambiente. Neste módulo, foram apresentados dois modelos de tratamento de variáveis intangíveis: o primeiro modelo é conceitual e trata das competências dos gerentes da organização e como elas podem ser representadas em diagrama de fluxos e estoques – DFE. Já o segundo modelo é um exemplo prático com todas as fórmulas, mostrando como proceder para simular variáveis intangíveis, como o conhecimento e a pesquisa, e transformá-los em valores agregados aos produtos. |
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