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1 - Conceitos: objetivos e organização As organizações são construídas para responder e satisfazer as necessidades humanas – ganhar dinheiro, produzir um bem ou serviço, educar alunos – e elas desenvolvem sistemas culturais distintos que giram em torno de seus objetivos e estrutura (TURNER, 2000).
Em contextos de elevada racionalidade, os objetivos servem
de padrões pelos quais os membros de uma organização
podem avaliar o êxito da organização,
ou seja, sua eficiência e seu rendimento.
É preciso separar os objetivos pessoais dos da
coletividade. O objetivo de um diretor, por exemplo.
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As organizações devem ter código formal, ou normas, explicitamente reconhecido e às vezes legalmente especificado, para estabelecer os objetivos iniciais e suas modificações. Estabelecem-se os objetivos por meio de:
Na prática, os objetivos são frequentemente estabelecidos em complicado jogo de poder, que inclui diversos indivíduos e grupos, dentro e fora da organização, pela referência dos valores que dirigem o comportamento em geral, e o comportamento específico dos indivíduos e grupos importantes numa determinada sociedade.
Dentro de uma empresa frequentemente encontramos um objetivo geral e vários específicos que variam de acordo com as diversas necessidades da organização e também em função das relações de poder. Algumas vezes podemos inclusive identificar objetivos conflitantes ou divergentes.
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- Substituição de objetivos
À medida que ocorrem modificações nas organizações, seus objetivos em geral necessitam ser redefinidos. A reavaliação dos objetivos torna-se cada vez mais difícil de ser realizada em contextos mais dinâmicos e ambientes organizacionais mais instáveis e quanto menos tangível for o produto da organização. Pode ocorrer uma substituição de objetivos quando a organização troca seu objetivo legítimo por outro, para o qual não foi criada, para o qual não foram distribuídos recursos ou ainda para um objetivo que não se sabe se será útil. A forma mais comum de substituição é o processo pelo qual a organização inverte a prioridade entre seus objetivos e meios, de maneira que estes se transformem naqueles, e os objetivos em meios.
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| Outra
forma para a substituição ocorre quando uma organização
enfrenta ou cria problemas que não necessariamente têm relações
com os objetivos declarados ou originais da organização, ou
são frequentemente opostos a eles.
Nesse contexto, algumas atividades passam a consumir proporção cada vez maior do tempo e dos pensamentos dos participantes, substituem, do ponto de vista do comportamento real — os objetivos declarados. A fixação nos problemas internos faz com que a organização, voltada para si mesma, já não alcance as finalidades propostas. Isso, com certeza, acarreta diminuição da eficácia dessa organização.
É mais frequente a sucessão do objetivo que fracassou, sendo preciso que a organização, para sobreviver, encontre o novo. É ainda mais frequente que, em tais condições, a organização estabeleça outros objetivos ou expanda o alcance de seus objetivos anteriores. Ao fazer isso, a organização procura aumentar a dedicação de seus membros e encorajar a mobilização de novos membros.
Os interesses da organização podem, portanto levá-la a:
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- Organizações com múltiplas finalidades
Há organizações que têm mais de um objetivo. Nas universidades, por exemplo, é comum encontrar instituições que combinam ensino e pesquisa. Embora alguns hospitais sejam, quase exclusivamente, lugares de tratamento para pessoas doentes, muitos hospitais universitários funcionam como centro de preparação para a profissão médica e alguns deles são também centros de pesquisa.
Existem razões para que as organizações de finalidade múltipla sejam potencialmente mais eficientes do que as de finalidade única. Primeiro - a busca de um objetivo frequentemente aumenta, dentro de certos limites, as possibilidades de atingir outro. Por exemplo, muitos pesquisadores se sentem estimulados ao ensinar alunos dedicados. Fazem-nos trazer novas ideias para o ensino, assim como o conhecimento novo adquirido pela experiência em pesquisa. Segundo - as organizações de finalidade múltipla apresentam maior atração que as de finalidade única; em parte porque a melhor qualidade está frequentemente associada à multiplicidade. É difícil encontrar muitos exemplos de organizações de finalidade única, com mais prestígio que suas correspondentes de finalidades múltiplas. Terceiro - embora haja pessoas que prefiram trabalhar exclusivamente em um serviço, muitos consideram a combinação de dois mais atraente, porque lhes permitem satisfazer maior número de necessidades. Dá, também, maior oportunidade a ajustamento de fases ou ciclos de vida; por exemplo, a acentuação da pesquisa nos primeiros anos e, depois, do ensino; ou o contrário. |
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No
entanto, convém considerar que há limites na capacidade
da organização para atingir múltiplos objetivos.
Entre outros motivos, pode-se citar:
1.A perda de eficiência parece ocorrer, por exemplo, quando todas as organizações de uma categoria específica, aceitam finalidades múltiplas. Em alguns campos — como a educação ou a medicina — que contam com agrupamento de atividades associadas, muitos especialistas preferem a combinação dessas atividades. Contudo, alguns especialistas dedicam toda a atenção a uma ou a outra, e têm atuação marcantemente melhor numa área que na outra. Por essa razão, a eficiência parece aumentar quando existem organizações de finalidade única e múltipla na profissão, a fim de permitir que os dois tipos de personalidade encontrem aplicação mais ajustada a suas capacidades e a suas necessidades psicológicas. 2. No interior de qualquer organização, os conflitos e a disputa de posições de poder são constantes. Nas organizações de finalidades múltiplas, alguns tipos de conflito são inevitáveis. Frequentemente, os diversos objetivos apresentam à organização, exigências incompatíveis, o que pode gerar:
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- Modelos de objetivos e de sistemas
A pergunta mais comum, feita a respeito de organizações é: até que ponto elas conseguem atingir seus objetivos? Como medir a eficiência organizacional? Pode-se responder a essas perguntas, por meio do estudo dos modelos: de objetivos ou de sistema. 1. O modelo de objetivo
O modelo de objetivo define o êxito como a realização completa ou, pelo menos, considerável do objetivo da organização. Embora a maneira de estudar as organizações, a partir da confrontação dos objetivos com os resultados alcançados, seja válida, esse modelo apresenta perigos. A maioria das organizações não atinge seus objetivos de forma evidente fazendo com que se produza, muitas vezes, análise limitada das causas dos problemas.
Tal abordagem espera que a eficiência da organização aumente com a atribuição de novos meios aos objetivos da organização. Na perspectiva do modelo do objetivo, é contradição sugerir que a organização possa tornar-se mais eficiente pela atribuição de número menor de recursos às atividades do objetivo. |
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| 2.
O modelo de sistema
Outra forma de considerar o desempenho de uma organização,
além de se deter exclusivamente nos objetivos, é por meio
do modelo de sistema. A análise, nesse modelo, se dá a partir
de várias possibilidades para se explicar o porquê de a organização
apresentar determinado resultado.
Um banco pode concentrar toda a sua atenção em ganhar dinheiro e ignorar completamente o moral de seus empregados. Essa falta de atenção às atividades não dirigidas para o objetivo pode provocar a insatisfação do grupo dirigente e exprimir-se em mau desempenho dos empregados. Isso pode provocar a redução da competência, ou mesmo uma onda de desvios de dinheiro que, finalmente, reduzem a eficiência do banco. O modelo de sistema não está livre de obstáculos; é mais rigoroso e dispendioso, quando utilizado para pesquisa. O modelo de objetivos exige, tão somente, que o pesquisador verifique os objetivos da organização. Se forem escolhidos objetivos explícitos, isso se torna comparativamente fácil. É mais difícil verificar os objetivos reais que a organização de fato procura atingir.
A pesquisa realizada com base no modelo de sistema exige mais esforço que o estudo de modelo de objetivo, mesmo quando este se centraliza em objetivos reais. |
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| O
modelo de sistema exige que o analista determine o que considera distribuição
eficiente de meios. Isso exige, frequentemente, grande conhecimento da maneira
pela qual funciona a organização em estudo.
A obtenção desse conhecimento é quase sempre difícil, podendo-se destacar:
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Ao estudar uma agência bancária, a partir do modelo de sistema, por exemplo, os pesquisadores construíram três índices; cada qual media um elemento fundamental do sistema. Para o estudo da eficiência da agência levou-se em consideração:
O resultado total de eficiência assim obtido entrava em comparação com as avaliações de eficiência, que diversos especialistas e "componentes” atribuíam à agência. Caso se comparasse agências entre si, por essas dimensões e não pelo quadro idealizado do que deveria ser uma agência bancária, chegar-se-ia ao nível de eficiência. |
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- Modelos de sobrevivência e eficiência
Um modelo de sistema constitui afirmação a respeito de relações que, se realmente existentes, permitiriam à organização manter-se e funcionar. Os dois principais subtipos de modelos de sistema são:
modelo de sobrevivência e modelo de eficiência.
Diferença entre os modelos de sobrevivência e de eficiência
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| Resumo
A organização tem objetivos que devem ser
perseguidos, mas não podem ser confundidos ou limitados a interesses
de um grupo determinado dentro da organização; tampouco
podem ser fruto de desejo pessoal. |
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- Novas organizações, novos objetivos
A diferença fundamental entre as organizações modernas e as de outros momentos da história resulta da busca permanente de métodos adequados aos fins desejados. Ou seja, é a busca ininterrupta para realizar os objetivos propostos a custo menor e em tempo menor. É claro que com isso os resultados tendem sempre a ser melhores, a aumentar a eficiência e, no caso das empresas, a aumentar o lucro. Com isso, o trabalhador teve que aprender a lidar com mudanças constantes. Para se ter ideia da velocidade das mudanças no mundo das organizações, basta lembrar o funcionamento dos bancos, há anos atrás, no Brasil. Em menos de uma década, houve a combinação de dois fatores que lhe redesenharam totalmente o funcionamento:
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As mudanças tecnológicas e as organizacionais referem-se à capacidade do sistema em permanentemente inovar. Não existe mudança no mundo organizacional sem inovações.
As organizações continuam mudando e, para sobrevivência no mercado, devem aumentar sua racionalidade, agora baseada no conhecimento e na ruptura com velhas formas de organização e controle. Tem havido radicalização e aprofundamento do aumento da racionalidade, por meio do uso de novas tecnologias, no mundo do trabalho (ou nas organizações).
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| Nas
últimas décadas, o modelo de racionalidade produtiva
baseada no fordismo e no taylorismo foi
posto em xeque. Novos modelos de gestão, inovações
tecnológicas impulsionadas pelo acirramento da competição
no mundo globalizado, impuseram às empresas a necessidade de repensar
o “jeito de fazer”. Atualmente o conhecimento é o ponto
de destaque, fundamental e diferenciado de outros momentos do capitalismo.
As principais armas no mundo globalizado para a supremacia econômica das nações ou corporações são as fundamentadas no conhecimento. São produtos da atividade mental, tais como: pesquisa científica e tecnológica, educação da força de trabalho, programas de computador sofisticados, administração inteligente, comunicações avançadas e atividades financeiras eletrônicas. Tudo o que auxilie na aquisição da vantagem competitiva. Esses parecem ser os recursos-chave do poder do amanhã; entre essas armas estratégicas está principalmente a organização do próprio conhecimento. |
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| A
separação radical entre planejamento (parte
pensante, que detém o conhecimento) e a execução
entrou em crise. A relação entre os dois pólos era
intermediada por um grupo de pessoas, os gerentes, que tinham como função
ser um canal, ou seja, fazer as informações fluírem.
A criação excessiva de departamentos (ou cubículos)
tornava o processo lento e muito fragmentado. Alvin Tofler afirma que o modelo da empresa baseado em canais (gerentes) e em cubículos (cada setor especializado separado dos demais), entrou em crise: eles estavam fundamentados em burocracia interna que impedia a tomada rápida de decisões.
No
setor empresarial, a campanha em favor de novos modelos organizacionais
está mais avançada. É comum a publicação
de artigos, livros ou palestras apontando os limites de um tipo de organização
ainda calcada no modelo taylorista ou fordista,
com suas formas de poder piramidal de cima para baixo. |
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| Ao
longo da década de 1980, muitas publicações encheram
as livrarias sobre casos de companhias que estavam experimentando novos
métodos organizacionais e sobre a instalação dos computadores
ou a utilização da tecnologia de forma ampla e democrática
nos espaços organizacionais. No entanto, milhares de fórmulas,
manias passageiras foram tentadas e descartadas. Mas de uma coisa se tinha
certeza: era necessário repensar a relação entre os
níveis hierárquicos estabelecidos, por exemplo, gerentes,
executivos e demais colaboradores. Era necessário, também,
imprimir rapidez às respostas que atendessem ao dinamismo da economia
globalizada. Foram estruturadas propostas como a reengenharia”, o sistema de qualidade total”; prestou-se mais atenção ao que se passavam nas grandes empresas japonesas (o chamado “modelo japonês”), às pequenas e bem-sucedidas empresas italianas (o “modelo italiano”). Todas essas novas propostas organizacionais apontavam os limites e entraves à maximização dos resultados no modelo de gestão taylorista/fordista. É
nesse sentido que o antigo modelo da organização burocrática
deixou de atender aos novos desafios do mercado globalizado. Descobriu-se
que não bastava aplicar recursos e mais recursos em desenvolvimento
de tecnologia, quando a cultura organizacional baseada no “manda
quem pode, obedece quem tem juízo”, se mantivesse. |
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- Infinidades de cubículos O controle das rotinas, nas organizações, tradicionalmente se realiza por meio dos “cubículos” e “canais”.
A burocracia é mais do que maneira de agrupar pessoas; é, também, maneira de agrupar “fatos”. A empresa dividida perfeitamente em departamentos, segundo a função, o mercado, a região ou o produto, é, no final das contas, uma coleção de cubículos nos quais são estocadas as informações especializadas e a experiência pessoal. Segundo esse
modelo, os canais, combinados com os cubículos, formam o sistema
de poder, a espinha dorsal da burocracia que está sendo bombardeada
nas grandes companhias, por toda parte. Segundo tal modelo, os dados relativos
à arquitetura vão para os arquitetos; os referentes à
compra, para o departamento de compras. |
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No processo de reestruturação organizacional, muitas empresas simplesmente aboliram o modelo departamental e, em seu lugar, estruturam equipes de trabalho que não são fixas. Novos modelos de gestão e controle nas organizações passaram a vigorar nas organizações contemporâneas.
A chegada dos computadores foi o primeiro impacto modelo da empresa “cubículo/canais”, forma pela qual o conhecimento era organizado para a produção de riqueza. O aparente equilíbrio do sistema “cubículos/canais” estava em que, em princípio, ele parecia poder expandir-se infinitamente. Em teoria, era possível ter uma infinidade de cubículos. |
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Na prática, porém, companhias e governos começaram a descobrir que existem limites rigorosos para esse tipo de especialização. Os limites ficaram aparentes pela primeira vez no setor público, quando órgãos do governo cresceram até atingir proporções consideráveis. Nesse sistema, a ênfase era dada aos processos (principalmente os referentes ao controle interno), deixando em segundo plano os resultados e o desempenho. À medida que as companhias privadas atingiam tamanhos gigantescos, também começaram a esbarrar nos limites da especialização organizacional. Hoje, parece que o sistema cubículos/canais não consegue mais responder às rápidas mudanças e começa, de fato, a desabar sob o próprio peso. Essa aceleração
de mudança torna o nosso conhecimento — sobre tecnologia,
mercados, fornecedores, distribuidores, moedas, taxas de juros, preferências
do consumidor e todas as outras variáveis econômicas —
rapidamente superado. |
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| Toda
a reserva de uma firma, no que diz respeito a dados, habilidades e conhecimento
está, assim, no estado constante de decadência e regeneração,
girando cada vez mais depressa. Isso significa que
Não é preciso ir muito longe para que se tenha ideia da radicalidade das mudanças que bombardeiam cotidianamente as organizações. Você mesmo está vivendo, neste momento, dentro de um ambiente de aprendizagem virtual. Há muito pouco tempo, seria inimaginável uma universidade virtual. Certamente pareceria conto de ficção científica estudar e se formar, sem presença em sala de aula.
Foi
necessário combinar desenvolvimento tecnológico a novos
modelos de gestão organizacional, modelo de cubículos/canais,
para que novos projetos fossem implementados. |
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| O
ambiente organizacional virtual quebra na coluna vertebral o modelo “cubículo/canais”.
A tendência das organizações é, cada vez mais,
trabalhar e transitar nesses espaços. Muitas empresas já não
têm sede fixa; seus funcionários não são obrigados
a bater o cartão de ponto, a casa passa a ser utilizada e valorizada
como espaço de trabalho; já se pode fazer compras e movimentar
contas nos bancos, sem sair de casa. Enfim, são mudanças realizadas
sob os olhares desconfiados do antigo gerente, que vê seu poder escorrer
pelas mãos, e de trabalhadores que se sentem ameaçados em
seus postos de trabalho. Daí porque muitos se sentem ameaçados
em seu poder pelas inovações e novas propostas organizacionais.
Talvez você esteja se perguntando:
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| As
mudanças não estão gerando ou aprofundando a desumanização,
à medida que cada casa, cada escritório, cada computador passa
a ser universo dos indivíduos que, muitas vezes, ficam horas a fio
diante da telinha, empobrecendo sua capacidade de relacionar-se? Os cubículos não se transferiram das empresas para dentro de nós mesmos? Todos os sociólogos das organizações chamam a atenção para o processo de individualização que tais mudanças estão gerando e para a necessidade de se pensar e prever os desdobramentos que podem gerar. Por certo e muitas vezes revolucionárias mudanças no mundo organizacional têm desdobramentos múltiplos, positivos e negativos. No entanto, uma coisa é certa: o modelo “cubículo/canais” não consegue mais se sustentar. É fácil reclassificar ou separar a informação estocada num computador, até copiar um arquivo em novo diretório; pessoas e orçamentos refletem o plano, qualquer tentativa de reprojetar a estrutura provoca explosivas lutas pelo poder.
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| 3
- Canais entupidos
À medida que a mudança se acelera, a “crise
dos cubículos” é aprofundada por interrupção
paralela nos “canais” de comunicações.
Os gerentes
também sabem que as pessoas de um departamento ou unidade raramente
falam com seus colegas de outra. De fato, precisamente essa falta de comunicação
recíproca dá poder aos gerentes de nível médio.
Uma vez mais, é o controle da informação que importa.
Ou seja, todo o poder dos gerentes tradicionais está justamente
no controle das informações. |
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| Os
gerentes de nível médio coordenam o trabalho
de várias unidades subordinadas, recolhendo relatórios dos
executivos especialistas que os chefiam. O gerente que recebe informação
de um subordinado e a repassa para outro subordinado está servindo
de elo formal entre dois cubículos. Ele também poderá
passar informações lateralmente para o gerente que chefia
outro grupo de unidades.
Em outras palavras, em toda burocracia, o conhecimento é feito horizontalmente, em pedaços, e remontado verticalmente. A estrutura do poder baseada no controle da informação era clara. Assim, enquanto os especialistas controlavam os cubículos, os gerentes controlavam os canais.
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| Tal
sistema funcionava bem quando os negócios andavam lentamente. Hoje,
as mudanças são tão aceleradas e a informação
necessária tão complexa, que os canais também estão
sobrecarregados, congestionados com as mensagens, muitas das quais são
enviadas para o lugar errado.
Devido a isso, um número de executivos maior do que nunca está saindo dos canais para contornar o sistema, reter informações que deveriam ser passadas a seus superiores e pares, passando-as lateralmente de forma oficiosa, comunicando-se por “canais clandestinos”, operando em “duas pistas” (uma formal, a outra não), acrescentando fogo e confusão às guerras cruentas que agora destroçam mesmo as burocracias de melhor direção. O que vemos, então, é uma crise que brota no coração da burocracia. A mudança em alta velocidade não apenas sobrecarrega a sua estrutura de cubículos e canais, mas ataca o pressuposto no qual se baseava o sistema. Esse pressuposto é a teoria de que é possível preespecificar quem, na companhia, precisa saber o quê.
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| Hoje,
sabe-se que as organizações não são semelhantes
a uma máquina, são humanas, e, no ambiente turbulento, cheio
de reversões revolucionárias, surpresas e perturbações
competitivas, já não é mais possível especificar
com antecedência aquilo que cada um precisa saber. É necessário,
portanto, muitas vezes, a criatividade baseada no conhecimento.
As
companhias tentam impor ordem à comunicação, projetando
sistemas de informação gerencial computadorizados. Alguns
desses sistemas têm a intenção de reforçar
o velho sistema ao empregar elos de computadores e informações
simplesmente para expandir os cubículos e a capacidade dos canais
de comunicação. Outros têm a finalidade de propiciar
mudanças, uma vez que procuram acabar com o sistema de cubículos
e canais e substituí-lo pela informação que flua
livremente. |
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| A
utilização de microcomputadores em todos os setores das empresas
criou novo contexto organizacional. Pela primeira vez, colocou inteligência
em milhares de computadores de mesa, distribuindo bancos de dados e poder
de processamento. Mas, apesar de causar abalos, não ameaçou
seriamente a organização burocrática. A razão disso era que, embora houvesse muitos bancos de dados computadorizados, em vez de um banco central gigante, o conhecimento neles armazenado ainda era enfiado em rígidos cubículos pré-designados.
Assim como
as novas formas de armazenagem de informações golpeiam contra
a especialização, as novas formas de comunicação
passam por cima da hierarquia. As duas fontes-chave do poder burocrático
— cubículos e canais — estão sendo combatidas. |
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| Quando
o conhecimento era considerado especializado e hierárquico, as empresas
eram projetadas para serem especializadas e hierárquicas. Tão logo a organização burocrática de conhecimento encontra expressão concreta em instituições verdadeiras — empresas, escolas, ou governos —, as pressões políticas, os orçamentos e outras forças imobilizam os cubículos e canais nos seus lugares. Hoje, a mudança em alta velocidade requer decisões igualmente em alta velocidade, mas as lutas pelo poder tornam as burocracias lentas. Concorrência requer inovação contínua e maior poder burocrático esmaga a criatividade. O novo ambiente empresarial exige intuição e análise cuidadosa, mas as burocracias tentam eliminar a intuição e substituí-la por normas mecânicas.
Mas as condições ambientais que permitiam o florescimento das burocracias — e até as tornavam motores altamente eficientes — estão mudando tão rápida e radicalmente, que elas já não podem realizar as funções para as quais foram criadas.
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| Como
o ambiente empresarial de hoje está em convulsões provocadas
pela surpresa, perturbações, reversões e turbulência
generalizada, é impossível saber com precisão e antecedência
quem, numa organização, irá precisar de que tipo de
informações.
Em consequência, a informação de que precisam os executivos e os empregados para fazer bem o seu trabalho, com inovação e qualidade, não pode chegar aos gerentes da linha de frente e aos empregados pelos velhos canais oficiais. Isso explica por que milhões de empregados inteligentes, que trabalham com afinco, descobrem que não podem executar suas tarefas, não podem abrir novos mercados, criar produtos, projetar tecnologia melhor, tratar de forma mais adequada os fregueses, ou aumentar os lucros, a não ser burlando as regras, rompendo com procedimentos formais. Quantos empregados, hoje, precisam fechar os olhos para violações de procedimentos formais e, dessa forma, conseguirem que suas tarefas sejam realizadas? Assim, a informação começa a transbordar dos canais formais para as redes informais, sistemas de mexericos e fontes de informações confidenciais, que as burocracias procuram abafar. Simultaneamente, empresas gastam bilhões para construir alternativas eletrônicas para as velhas estruturas de comunicações. Mas tudo isso requer enormes alterações na organização de fato, na maneira pela qual as pessoas são classificadas e agrupadas. Por
todas essas razões, é gigantesca e irresistível a
reestruturação empresarial. Especialistas e administradores
verão seu poder ameaçado, à medida que perdem o controle
de seus cubículos e canais. Quando alteram as relações
entre o conhecimento e a produção, abalam-se as fundações
da vida econômica e política. |
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- Novos problemas e desafios As
necessidades de mudanças começam quando as turbulências
no mercado, na economia ou na sociedade despertam tipos de problemas e
oportunidades inteiramente novos para a empresa. De repente, os tomadores
de decisões enfrentam situações para as quais não
existe nenhuma informação guardada em cubículos.
Quanto mais acelerada a mudança na atividade empresarial, e ela
se acelera diariamente, maior o número de situações,
sem igual, que surgem. Casos como
esses alertam para as mudanças que sacodem o mundo organizacional.
Os consumidores adquirem consciência crescente dos seus direitos;
o meio ambiente passa a ser protegido por legislações nacionais
e internacionais; enfim, nova conjuntura impõe às empresas
a necessidade de se criarem mecanismos internos para lidar com novas e
inusitadas situações.
Quando surgem situações que não podem ser facilmente encaminhadas aos cubículos informacionais pré-projetados, os burocratas ficam grosseiros. Começam a brigar por território, dinheiro e gente... e pelo controle das informações.
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| Resumo
Na era da globalização, o modelo de gestão baseado em cubículos e canais entra em crise. A velocidade das mudanças e os novos desafios impostos por novas conjunturas impuseram às organizações a necessidade de repensar as estruturas. A introdução de novas tecnologias, como a utilização de microcomputadores de mesa e a internet, abre espaço para a crise no modelo de gerência, que domina e controla todas as informações. Por outro lado, as mudanças na cultura organizacional, que se fundamenta no medo e no controle, foram fundamentais para as empresas redefinirem seus padrões de racionalidade e eficiência. O modelo de organização baseado em “cubículos”
e “canais” entra em crise, porque a realidade passa a exigir
respostas e mudanças que não podem esperar os processos
lentos de decisão do modelo de organização tradicional.
Nesse modelo, os especialistas controlavam os cubículos e os gerentes
controlavam os canais. O
sistema funcionava bem quando os negócios andavam lentamente. Hoje,
as mudanças são tão aceleradas e a informação
necessária tão complexa, que os canais também, exatamente
como os cubículos, estão sobrecarregados, congestionados
com as mensagens; muitas delas enviadas para o lugar errado. |
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| 1
- Necessidade de inovação
Parece haver compreensão generalizada de que, a
partir da última metade do século XX, o mundo viveu período
de grandes transformações. Entre os fatores responsáveis,
destaca-se a aceleração do desenvolvimento tecnológico.
Cerca de 90% das descobertas acumuladas em três séculos,
desde a Revolução Industrial, foram realizadas por pessoas
que ainda se encontram vivas.
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| As
inovações não vêm ocorrendo no mesmo ritmo e
intensidade em todos os setores. Ao contrário, há um conjunto
limitado de tecnologias básicas, em que as inovações
são fortemente concentradas e, por isso desencadeiam transformações
radicais que são depois canalizadas para o resto do setor produtivo
e para os serviços públicos. Pode-se destacar como tecnologias
a microeletrônica e suas aplicações na informática,
telecomunicações, robótica, etc., a biotecnologia,
a química fina e os novos materiais.
Os livros publicados a respeito expressam um amplo consenso quanto a serem esses os setores sobre os quais se apoiará, cada vez mais, o desenvolvimento capitalista nos próximos anos. A aceleração tecnológica se evidenciava
já nos anos 1970, simultaneamente com crise econômica, nos
países de capitalismo avançado, que se revelou longa e aguda.
Em termos econômicos, a década de 1970 pôs fim a um
dos mais longos períodos de crescimento nos países capitalistas
centrais, desde a Revolução Industrial. |
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| Os
chamados “30 gloriosos anos”, iniciados logo no fim da guerra,
caracterizaram-se por taxas significativas de crescimento real do produto
e da renda per capita, com benefícios para o conjunto da sociedade.
O sucesso das políticas keynesianas e de bem-estar social chegaram
a dar, a muitos, a impressão de que se havia encontrado com John
Maynard Keynes, uma espécie de chave para administrar-se
a economia e garantir o crescimento perpétuo. Os anos 1970 alteraram esse quadro, por dois motivos básicos:
A crise, além disso, acirrou a concorrência internacional entre os próprios países avançados, principalmente entre a Comunidade Econômica Européia e o Japão, em consequência da compressão dos mercados. A conjunção desses fatores (crise e desenvolvimento tecnológico) determinou novo padrão de concorrência internacional, em intensidade e forma, que passou a orientar o ajustamento das unidades produtivas individuais; isto é, das empresas e das economias nacionais. Embora ainda pouco claro em seus contornos, esse novo padrão de concorrência tem como principal característica a globalização dos mercados. |
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John Maynard Keynes (1883-1946) foi o mais importante economista da primeira metade do século XX. Filho de um professor de economia, John Neville Keynes, influenciou massivamente a economia de seu país, a Grã-Bretanha, e a dos Estados Unidos, com o impacto sobre o pensamento político e a formulação da política em quase todas as nações capitalistas. O último e mais importante de seus escritos sobre a teoria econômica surgiu em 1936, intitulado "The General Theory of Employment, Interest and Money" (Teoria Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro). Keynes provocou adorações de uns e severa crítica de outros. Foi elogiado pela maioria das coisas boas e considerado culpado por muitas das más, que se tornaram parte da política nacional, durante as duas últimas décadas. A dinâmica de suas teorias provocou a formação de forte grupo pró-Keynes; os pontos vulneráveis delas, juntamente com o que expressam ou implicam no tocante à ação governamental, produziram forte grupo anti-Keynes. Anterior ao pensamento revolucionário keynesiano, a "microeconomia" pressupunha que as forças de oferta e de procura provocariam automaticamente ajustes para o equilíbrio em todos os preços e valores, plena utilização dos fatores de produção e preço de equilíbrio para o uso de cada um. Os desvios desses níveis eram considerados temporários. De modo geral, a análise anterior do preço e do valor assentava-se em hipóteses baseadas no laissez faire e a aplicação de tal teoria implicava em uma política de laissez faire e a perfeita mobilidade dos fatores no seio de economia autorreguladora. Poder-se-ia exemplificar como casos específicos da microeconomia, a procura pelo trigo ou o nível salarial de uma determinada indústria. Por outra visão, a "macroeconomia" cuidava dos totais ou agregados. Tratava da renda nacional total afetada pelos gastos e poupanças totais. A microeconomia está incorporada a essa renda; observa o comportamento da economia total e reconhece que o dano de uma das partes é prejudicial ao todo. A ideia de fluxo é da mais alta importância, pelo fato de que a renda total nacional da sociedade deve ser mantida em certos níveis, para garantir os níveis desejados de investimentos, economias e emprego. É uma espécie de conceito de equilíbrio geral: todo elemento da economia depende de todos os demais elementos. Contrariando a microeconomia, não aceita o laissez faire, considerando-o, na verdade, uma filosofia inteiramente indigna de confiança e que pode ser julgada grandemente responsável pelas violentas perturbações no nível das atividades comerciais e pelo desemprego subsequente. |
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A conferência de Bretton Woods foi realizada em New Hampshire (Estados Unidos), em 1944. Nela, 44 países aliados na II Guerra Mundial assinaram os artigos do acordo do Fundo Monetário Internacional (FMI). Sob as influências do período de entre guerras, eles tentaram estabelecer um sistema monetário internacional que propagaria o pleno emprego, a estabilidade de preços, permitindo que os países alcançassem balanços externos, sem impor restrições ao comércio internacional. Na mesma conferência, o Banco Mundial foi criado, com o fito de auxiliar na reconstrução das economias dos países devastados pela guerra. A idéia de criar uma Organização de Comércio Internacional não foi aprovada pelos participantes; mas posteriormente, em 1947, o GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) foi instituído para ser um fórum temporário para a redução multilateral das barreiras ao comércio. O sistema elaborado pelo acordo de Bretton Woods estabeleceu taxas de câmbio fixas, em relação ao dólar norte-americano, e um preço em dólares de ouro invariável – US$ 35, por onça. Os países membros mantinham suas reservas internacionais oficiais, em grande parte na forma de ativos em ouro ou dólares, e tinham o direito de vender dólares para o Federal Reserve (o banco central norte-americano), em troca de ouro ao preço oficial. O sistema era um padrão câmbio-ouro, com o dólar como sua principal moeda de reserva; o dólar era a "enésima moeda". Em março de 1973, vários países adotaram o sistema de taxa de câmbio flutuante, devido principalmente aos movimentos especulativos de capital, especificamente em relação ao dólar - para escapar à importação da inflação dos Estados Unidos. Surgiu o problema de confiança, resultando em que os estoques oficiais estrangeiros de dólares inevitavelmente crescessem e excedessem os estoques de ouro dos EUA, e o privilégio da posição estadunidense. |
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- As políticas tecnológicas tradicionais
Talvez a marca mais importante do contexto histórico em que se adotavam as políticas tecnológicas no pós-guerra tenha sido a guerra fria. Havia como pressuposto básico para a ação governamental a questão da segurança. Isto é, ampliou-se preocupação de desenvolver equipamentos militares mais sofisticados que os do bloco socialista. Foi adotada a tese de segurança tecnológica da economia e da sociedade como um todo. A ideia da existência de um conjunto de técnicas, que deveriam ser dominadas pelo país, transbordava para as relações intercapitalistas.
Tais políticas tendiam a ser estáticas, no sentido de que não se planejava relação mais orgânica entre o resultado do programa e o processo social como um todo. Atingido o alvo desejado, selecionavam-se outros. Algum dos mais célebres programa já realizados constituem bons exemplos dessa concepção de política tecnológica: o programa Manhattan. Também fazia parte da mentalidade prevalecente
à época a ideia de que o desenvolvimento científico
e tecnológico se espalharia naturalmente para o conjunto da economia
e da sociedade, garantindo o bem-estar social e o crescimento econômico.
Assim, implementar políticas tecnológicas significava, antes
de tudo, definir alvos, de forma competente e garantir recursos no orçamento. |
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Observe alguns traços gerais dos modelos vigentes nos Estados Unidos, na Europa e no Japão: |
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- Tipos de inovação
O conceito de inovação foi revitalizado nos anos 70, devido às profundas transformações dos processos produtivos verificadas em escala mundial.
Atualmente, utiliza-se a expressão inovação organizacional para o caso de alterações nas formas de gestão e organização da produção. Ou seja, todos os modelos de gestão são inovações organizacionais. As inovações podem ser: Inovações
marginais - são as inovações que ocorrem
constantemente, segundo o ritmo de cada setor. São simples melhorias
da gama de produtos e de processos existentes, também denominadas
inovações incrementais ou secundárias.
Há vários exemplos de inovações
marginais. |
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O creme dental que se utiliza todos os dias. Pode notar-se, que, nos últimos anos várias inovações foram incorporadas ao produto: a tampa fixa, tubos mais flexíveis, produto novo na sua composição. Como outro exemplo temos as caixas de leite que passaram a ter lacre de alumínio e abertura superior para o líquido sair, diminuindo o desperdício e os riscos de contaminação, em relação aos saquinhos de leite.
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| Inovações
radicais - são episódios intermitentes, cuja difusão
pode, seguidamente, ser cíclica e inscrever-se na dinâmica
dos ciclos longos. Pode citar-se, como exemplo. Revolução tecnológica – as inovações causadoras de revoluções tecnológicas encontram-se no centro da teoria schumpeteriana sobre ciclos longos. Essas inovações não se limitam a criar novos produtos e processos, mas originam toda uma série de novas atividades, afetando todos os segmentos econômicos e alterando a estrutura de custos dos meios de produção e de distribuição. A introdução da eletricidade ou da microeletrônica são exemplos dessas transformações profundas. A preocupação com a inovação tecnológica, a introdução de progresso técnico e das mudanças tecnológicas assume papel central na teoria econômica, à medida que ocorre uma aproximação mais sistemática entre ciência, técnica e produção. Esses vínculos, que se esboçam já no final do século XIX, fortalecem-se em consequência da Segunda Guerra Mundial, por intermédio da participação do Estado nos grandes programas de pesquisa. |
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Já
no final do século XVIII, os economistas clássicos, em particular
Adam Smith, estavam perfeitamente conscientes da conexão
entre avanços científicos e progresso técnico na
indústria. Karl Marx enfatizou o papel da inovação
na elevação da taxa de lucro e na concorrência intercapitalista.
Nesse caso, a inovação que ainda não tivesse se generalizado
permitiria uma posição privilegiada de uma empresa com relação
às demais.
Essa é, no entanto, uma trajetória linear, em que a pesquisa fundamental aparece como possibilidade de lançamento de uma inovação. Na realidade, cada uma dessas etapas possui autonomia relativa; suas relações são interativas. A pesquisa fundamental, por exemplo, vai, muitas vezes, além de suas possibilidades de aplicação, que, por sua vez, dependem de avanços verificados nas etapas “posteriores” (desenvolvimento de instrumentos científicos, por exemplo). Além disso, a introdução de inovação obedece à lógica econômica por sua própria natureza. |
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| Resumo
A necessidade de políticas de inovações
ficou clara a partir da década de 1970. Dois motivos básicos:
os impactos violentos sobre o sistema econômico (principalmente
a crise do petróleo) e os problemas no funcionamento da economia,
como a queda acentuada da produtividade industrial, sobretudo nos Estados
Unidos. |
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1 - Tecnologia e Estado A crise econômica da década de 1970 e a aceleração violenta do progresso tecnológico renovam a necessidade de se reestudar os mecanismos do desenvolvimento capitalista, o que tem sido feito pelo surgimento de novas questões e pelo recurso a autores clássicos. Entre os escritores classicos, talvez o mais buscado seja Joseph Alois Schumpeter. Provavelmente a razão maior seja que os dois elementos estão presentes em suas obras, mediante teoria dos ciclos econômicos e teoria da inovação tecnológica. Articuladas em um corpo único, permitiram a Schumpeter oferecer um sentido coerente para o desenvolvimento capitalista.
O autor entende o termo desenvolvimento como a transformação qualitativa endógena do sistema econômico, ou seja, de condições internas ao próprio desenvolvimento. A mudança ocorre quando há perturbação do fluxo circular da renda e da tendência ao equilíbrio, resultante da introdução de inovações por empresários.
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Joseph Alois Schumpeter nasceu na Áustria em 1883 — o mesmo ano em que Keynes nasceu —, de origem sólida, mas não ilustre. Seu pai morreu quando ele tinha quatro anos; sete anos mais tarde sua mãe casou-se com um general e o pequeno Schumpeter foi enviado para Theresianum, uma exclusiva escola para os filhos da aristocracia. A exposição dos jovens a uma camada totalmente diferente da sociedade era, segundo acreditava-se na época, de importância decisiva para sua formação. Schumpeter logo adotou os modos e gostos dos colegas, adquirindo ares aristocráticos que o acompanharam por toda a vida. Irritou os companheiros, em mais de uma universidade, comparecendo às reuniões da faculdade em trajes de cavalgar e gostava de afirmar que sempre tivera três desejos: ser grande amante, grande cavaleiro e grande economista. Ele entrou na Universidade de Viena, centro de aprendizado da economia na época; logo se tornou estrela. Nunca foi um principiante na opinião do famoso economista Artur Spiethof, mas era também um enfant terrible, arriscando seu futuro ao discordar abertamente do professor Eugen von Bohm-Bauwerk, que era ainda mais famoso do que ele. Depois de Viena, viveu um período na Inglaterra, que o levou a um breve e infeliz casamento e, em seguida, à lucrativa posição como conselheiro financeiro de uma princesa do Egito. Schumpeter realizou o milagre de diminuir pela metade as despesas das propriedades da princesa; ao mesmo tempo dobrava seus rendimentos, simplesmente não cobrando pelos trabalhos prestados mais do que lhe era realmente devido. Mais importante ainda, enquanto estava no Egito, publicou seu primeiro livro sobre a natureza da teoria econômica, um livro que lhe valeu o cargo do professor na Áustria e, três anos depois, com vinte e sete anos, publicou The Theory of Economic Development, instantaneamente reconhecido como obra-prima. The Theory of Economic Development parece, análise do que veio a denominar-se mundo subdesenvolvido. Mas, em 1912, o status econômico especial e os problemas desse “mundo” ainda não tinham aparecido – aquela ainda era a época do colonialismo desbragado. |
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A
preocupação teórica com os ciclos tem como antecedentes
as frequentes crises econômicas, que marcam o desenvolvimento capitalista
durante o século XIX.
A pergunta fundamental de Schumpeter é: Por que ocorrem os ciclos econômicos? Para ele, o essencial não é explicar as crises do capitalismo, mas o porquê das flutuações das mudanças. O economista acredita que os ciclos decorrem das mencionadas perturbações, resultantes das mudanças ocasionadas pela introdução, em conjunto, de inovações tecnológicas em momento determinado, causando ruptura com o período anterior. Se as mudanças fossem distribuídas uniformemente, no tempo, não ocorreriam tais perturbações na atividade econômica; nem, por conseguinte, os ciclos, que são caracterizados pela ruptura. Por outro lado, o aparecimento das inovações depende da iniciativa empresarial.
Schumpeter explica tal fenômeno pelo mecanismo de reação em cadeia, ou seja:
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2 - Os neoschumpeterianos e os regulacionistas Os chamados
autores neoschumpeterianos retomam essa concepção, dando
maior ênfase ao estudo da mudança tecnológica em si.
Admitindo, implicitamente, como dado o nexo causal entre inovação
e ciclos econômicos, procuram identificar os padrões de regularidades
no processo de inovação tecnológica. Para esses autores,
o agrupamento de inovações, em um momento particular, tem
menos a ver com o comportamento de imitação dos empresários
em relação ao líder, que com o fato de se processarem
dentro da mesma lógica. |
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A superação do paradigma, ao contrário, ocorre no momento de uma revolução tecnológica. Inovações poderosas levam ao nascimento de novos setores líderes do processo de acumulação, e têm impacto profundo em muitos outros setores da economia pela transformação de métodos de produção e da estrutura de custos. A máquina a vapor e a eletricidade seriam exemplos dessas revoluções. Além dos aspectos técnicos, alguns autores avançam na questão dos elementos socioinstitucionais predominantes, durante a vigência de um paradigma. Nos períodos de prosperidade, deve haver perfeita sintonia entre o quadro socioinstitucional e o sistema técnico. As formas socioinstitucionais incluem a organização da produção e do trabalho, o sistema educacional e de treinamento de mão de obra, as práticas gerenciais, o mercado financeiro e o de capitais e, mesmo os sistemas legal e político, bem como as relações internacionais.
Durante uma revolução tecnológica, o quadro institucional se torna incompatível com as inovações perturbadoras introduzidas e agrava a crise, até que outro, adequado à nova realidade, surja. |
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Os autores da Regulação concordam com os neoschumpeterianos, quanto a considerar que os períodos de expansão econômica tendem a ocorrer apenas quando há compatibilidade entre o modo de regulação (a intervenção do Estado) e o paradigma tecnológico. Analogamente, desconexões entre ambos tendem a ocorrer em períodos de crise.
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Em que pesem as diferenças, há um ponto em comum entre os regulacionistas e neoschumperianos e refere-se à compreensão que ambas as correntes teóricas atribuem ao estágio de desenvolvimento, considerando-o de transição. De acordo com os regulacionistas, as formas de intervenção do Estado constituem um dos elementos de regulação. Como tal, não permanece constante no tempo, mas varia em interação com os demais elementos, à medida que se sucedem os modos de regulação. A questão da intervenção estatal tem sido colocada, ao longo do tempo, sob o prisma da discussão da sua eficácia. E nos períodos sucessivos, a compreensão dessa eficácia tem variado, a cada momento, imaginando-se ter achado uma resposta satisfatória e definitiva. No período absolutista, a ação do Estado parecia eficaz e imprescindível, tendo assumido a forma do mercantilismo. Depois da primeira revolução industrial, no auge do liberalismo, seu peso passa a ser considerado opressivo para a economia. O Estado eficaz deveria ser circunscrito, voltado para garantir os contratos e a ordem pública em geral, onde a iniciativa privada pudesse operar livremente. A crise de 1929 e o keynesianismo trazem para o primeiro plano a noção da eficácia da intervenção estatal. |
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O Estado assume novas funções, apoiado sobre a visão de conjunto e dispondo de quatro instrumentos:
A ideia dos regulacionistas era que os ciclos e as crises poderiam ser vencidos graças ao aprimoramento da análise econômica e, com os novos instrumentos, o Estado poderia administrar a economia de maneira a garantir o crescimento permanente. A crise dos anos 1970, com desemprego e inflação elevados, trouxe a sensação generalizada da impotência do keynesianismo e da ação do Estado e abre espaço para o neoliberalismo. Recoloca-se, mais uma vez, com muita intensidade, a questão da eficácia da intervenção pública na economia. O surgimento das políticas de inovação nos países desenvolvidos ocorre no contexto dessa discussão. |
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3 - Políticas de Inovação As políticas de inovação, tal como a expressão é entendida, surgem nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE no final dos anos 1970, do Século XX, como um dos instrumentos utilizados pelos governos para superar a crise econômica e resguardar a posição dos parques industriais, na divisão internacional do trabalho. Ao contrário das políticas tecnológicas tradicionais - C&T passa a ser vista dentro de um quadro mais sistêmico, em que seu papel está primordialmente ligado à manutenção da competitividade internacional das empresas nacionais, públicas ou privadas. Além disso, o crescimento deixa de ser percebido como vinculado automaticamente à pesquisa científica, para depender do domínio de um sistema técnico, que se nutre largamente de fatores sócio-organizacionais.
Em fins dos anos 60 do Século XX, os estudos sobre inovação foram retomados mais intensamente pela necessidade prática de avaliar as políticas tecnológicas e determinar os retornos e benefícios que os gastos públicos em pesquisa e desenvolvimento traziam, efetivamente, à economia e à sociedade como um todo. |
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O Science and Technology Policy Research - SPRU tornou-se reduto de expressivo grupo de autores neoschumpeterianos. Essa referência histórica ajuda a compreender os fundamentos teóricos das políticas de inovação dos países industrializados. A reflexão teórica precedeu o interesse mais concreto dos Governos em relação ao assunto, levando-os a pensar em novas estratégias quando pressionados pelo quadro econômico. O trecho a seguir de J-J Salomon, apesar de longo é reproduzido por sintetizar muito bem, para o caso europeu, o momento de inflexão das políticas tecnológicas tradicionais para o novo enfoque 1 e 2. A política científica se dirige as questões vinculadas à formação científica, ao ensino superior e à pesquisa universitária. A política de inovação supõe um elenco de atores, instituições e problemas bem mais amplos; que vai da indústria e do sistema bancário à atividade profissional e mesmo à cultura técnica. Foi tomando em conta essas dimensões, que os Ministros de Ciência e Tecnologia da OCDE afirmaram em 1981 "a necessidade de integrar as políticas científicas e tecnológicas aos outros aspectos da ação governamental, em particular as políticas econômica, industrial, energética e social", políticas para a educação e mão de obra. Desde então, a OCDE substituiu os seus exames das políticas científicas nacionais pelos exames das políticas nacionais de inovação (em 1986, da França; 1987 Espanha e Irlanda; 1988 Iugoslávia). |
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4 - Elementos das políticas de inovação A nova realidade, portanto, corresponde ao novo conceito de intervenção do Estado. A ação governamental passa a movimentar um conjunto de variáveis, na tentativa de canalizar o esforço social para fazer valer, mais do que nunca o processo de destruição criadora”. A partir da crise dos anos 1970, os países vêm tentando realizar experiências alternativas, que possam prover os ganhos de produtividade, logo, de competitividade, e retomar o crescimento que havia ocorrido até a década de 1960. O essencial dessas iniciativas é que emanam dos próprios capitalistas individuais, ou seja, das empresas. O Estado não permanece alheio ao processo de reestruturação. Ao contrário, assume papel ativo na definição dos novos padrões de acumulação, curiosamente no momento em que muito se fala da retração do Estado na economia.
Em junho de 1980, realizou-se na sede da OCDE, em Paris, um seminário sobre políticas de inovação. O encontro, que teve a participação de membros de governo e de cientistas dos principais países da organização, objetivava avaliação conjunta de questões atinentes ao tema, dos problemas comuns e de possíveis estratégias para resolvê-los. Os anais do seminário foram publicados em 1982, sob o título Innovation Policy: trends and perspectives. |
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Esquematicamente, as políticas foram divididas em três grandes categorias de medidas, que, na realidade, não são separadas, mas se interpenetram. São medidas relacionadas:
A destinação de fundos públicos para a pesquisa e desenvolvimento constitui forma das mais antigas, da ação do Estado no setor da atividade social. O Estado se vale da aplicação direta de recursos orçamentários e de incentivos fiscais a empresas que invistam em P&D, da concessão de créditos subsidiados para cobrir riscos, entre outras coisas. Questões de duas naturezas se colocam para os governos nesse campo:
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Tornou-se lugar comum entre os governos da OCDE reconhecer o papel das pequenas e médias empresas de alta tecnologia, nos processos de reestruturação industrial e do próprio crescimento. Todos os países instituíram mecanismos de apoio às pequenas empresas de alta tecnologia. O método mais frequente é o das chamadas encubadeiras de empresas. A importância desse tipo de empresa reside não apenas no processo de difusão, ou seja, a transferência de novas tecnologias dos centros de pesquisa para o setor produtivo, mas também pela valorização do sistema científico e tecnológico nacional. Ao maximizar investimentos em P&D e desenvolver produtos de alto valor agregado; ao incentivar o surgimento dessas empresas, o Estado busca, na verdade, recriar o empresário inovador schumpeteriano.
Outro sustentáculo
das políticas de inovação são as novas relações
entre as instituições públicas de ensino e pesquisa
e a indústria, para contribuírem mais diretamente no processo
de inovação.
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Resumo A crise econômica da década de 1970 e a aceleração do progresso tecnológico recolocam a necessidade de reestudar os mecanismos do desenvolvimento capitalista. Para Schumpeter, o termo desenvolvimento indica a transformação qualitativa endógena do sistema econômico, ou seja, de condições internas ao próprio desenvolvimento. As inovações tecnológicas seriam de cinco tipos: um novo bem, um novo método de produção ou de comercialização, abertura de novo mercado, surgimento de nova fonte de matérias-primas ou insumos e reorganização de uma indústria. A política de inovação supõe um elenco de atores, instituições e problemas bem mais amplos; que vai da indústria e do sistema bancário à atividade profissional e mesmo à cultura técnica. A OCDE afirma “a necessidade de integrar as políticas científicas e tecnológicas aos outros aspectos da ação governamental, em particular as políticas econômica, industrial, energética e social, políticas para a educação e mão de obra. O Estado não permanece alheio ao processo de reestruturação. Ao contrário, assume papel ativo na definição dos novos padrões de acumulação, curiosamente no momento em que muito se fala da retração do Estado na economia. As políticas foram divididas em três grandes categorias de medidas, que, na realidade, não são separadas, mas se interpenetram. São relacionadas: ao investimento e ao financiamento das atividades de pesquisa e desenvolvimento, à aquisição e difusão do saber técnico, por meio da sociedade e às condições gerais de competição. Fatores básicos das políticas de inovação: a aceleração da rotatividade dos insumos tecnológicos nos produtos e o valor de mercado crescente da ciência básica permitem que tais instituições encontrem fundos complementares para seu financiamento. Outro sustentáculo das políticas de inovação são as novas relações entre as instituições públicas de ensino e pesquisa e a indústria, para contribuírem mais diretamente no processo de inovação. |
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