(Noticiário - Seleção Diária de Notícias Nacionais 22/Maio/2007)

“Os dados comparados de 2004 e 2003 mostram que houve uma significativa queda no endividamento das grandes empresas brasileiras. É o que mostram os indicadores para 112 grandes empresas industriais que o Iedi pesquisa regularmente. O endividamento geral, que pode ser avaliado por meio da relação entre o endividamento oneroso líquido e o capital próprio, acusou um recuo significativo: de 1,70 para 1,34, considerando o total da amostra, e de 1,72 para 1,37, levando em conta o total das empresas industriais exceto a Petrobras. Os destaques foram os setores de Alimentos, em que essa relação caiu de 3,18 para 2,18; Bebidas (de 1,97 para 0,93); Química (de 2,13 para 1,59); Siderurgia (de 1,70 para 1,45); e Petróleo e Gás (de 1,72 para 1,30).

A estrutura de capitais refletiu essa redução do endividamento, com os recursos próprios passando a representar 42,8% das fontes de recursos em 2004, contra 37% em 2003. Paralelamente, uma outra mudança teve lugar: o endividamento empresarial de curto prazo encolheu como proporção da dívida total, o que também pode ser interpretado como uma melhora no perfil do endividamento. Considerando as empresas pesquisadas, respectivamente, com e sem Petrobras, a participação dos empréstimos de curto prazo nas dívidas totais das empresas passa de 33% para 28% e de 39% para 34%, entre 2003 e 2004. Ou seja, não somente o endividamento empresarial caiu como melhorou sua qualidade no período em tela.

Os dados sugerem ainda uma expressiva melhora no desempenho operacional das empresas industriais. O lucro da atividade sobre a receita líquida para o total das empresas sem a Petrobras subiu de 15,5%, em 2003, para 21,1%, em 2004. Note-se que a relação entre o lucro líquido (que inclui o resultado não-operacional) e a receita líquida cresceu de 10,7% para 13,5%.

Em termos de rentabilidade (relação entre o lucro líquido e o patrimônio líquido), essa aumentou expressivamente para o conjunto das empresas. Não considerando a Petrobras, a evolução foi de 20, 8% em 2003 para 25,5% em 2004; levando em conta a Petrobras, o aumento foi menor, mas ainda assim a rentabilidade manteve um nível excepcional: 26,3% em 2003 e 26,6% em 2004. Um último dado deve ser sublinhado: o aumento de 33,1% no valor do lucro líquido acumulado das empresas selecionadas, um percentual significativamente mais elevado do que o crescimento da receita líquida, de 23,8%. Note que a variação do IGP-M no período foi de 12,4%.

Em grande parte, esses importantes avanços no desempenho e na estrutura de capitais das empresas brasileiras em 2004 podem ser atribuídos à recuperação da demanda doméstica e à expressiva ampliação das exportações. Esses fatores levaram ao aumento da utilização da capacidade instalada das empresas que tanto assusta (mas não deveria fazê-lo) as autoridades econômicas brasileiras, pois, diferentemente do que muitos imaginam, a maior utilização de capacidade é um fator que, além de incentivar o investimento, amortece tensões de preços. Também contribui para ampliar a rentabilidade, na medida em que abre oportunidade para que as empresas diluam seus custos fixos de produção. A maior produtividade da indústria, que, segundo dados preliminares dos estudos do Iedi, evoluiu cerca de 6% em 2004, foi certamente um outro fator destacado que contribuiu para que o setor melhorasse significativamente seu desempenho e rentabilidade. Boa lucratividade e redução (além da melhora do perfil) das dívidas significa que as empresas ganharam capacidade de investir, seja porque passaram a dispor de mais expressivas fontes internas de recursos, seja porque se habilitaram novamente a se endividar como meio alternativo de financiamento dos eventuais novos investimentos. Ou seja, no presente momento, a restrição financeira das empresas brasileiras é menor, pelo menos no que se refere à grande empresa.

É relevante preservar essa capacitação financeira porque essa é uma precondição para o aumento do investimento na economia brasileira, embora não seja a única, pois perduram dúvidas sobre a segurança do investimento de longo prazo e se a economia brasileira de fato apresenta uma boa perspectiva de aumento de demanda. Em particular, as incertezas ainda presentes dizem respeito à segurança que se pode atribuir a um investimento de longo prazo como em infra-estrutura e, sobre a demanda, persiste a indagação se ela será contida em nome do controle inflacionário ou se terá prosseguimento a sua evolução. “A política econômica em curso poderia dedicar maiores esforços para, no que depender de sua ação, deixar ambas as questões esclarecidas”.

Disponível em www.iedi.org.br  Data:10/05/07



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