É senso comum que se deve evitar conflitos de natureza física, o envolver-se em brigas é condenável. Contudo, ao se enxergar uma jovem indefesa, prestes a ser violentada, devemos nos omitir a pretexto de não se envolver? Enfim, o que é mal pode parecer um bem, e um bem surgir como mal, a depender das circunstâncias.

Uma observação basilar, e também óbvia, é a de que, se em nossas vidas todos os fatos estivessem pré-determinados, tais considerações sobre o que é certo e o que é errado não teriam a menor justificativa de ser, o que conduz a interessante reflexão se compararmos a natureza humana à dos animais.

Castores fazem diques em rios, abelhas constroem colmeias: não há castores que produzam colmeias, nem abelhas que se dediquem a represas. Na natureza, os animais desempenham seus papeis, sem considerações sobre serem bons ou maus seus atos.

Um notável exemplo apresentado pelo mestre basco é o de formigas brancas africanas, que de forma semelhante a cupins, constroem enormes formigueiros, de vários metros de altura.

Tal estrutura, formada de barro endurecido, fornece proteção à comunidade, pois seus corpos são frágeis, não possuindo as características de exoesqueletos resistentes como o de outros animais da ordem dos insetos.

Ao ocorrer qualquer evento que abra fendas nessa carapaça coletiva, grandes formigas de outras espécies, mais fortes e resistentes, mas desejosas de invadir um espaço protegido, tentam conquistar o formigueiro ainda que danificado. Formigas-soldados do formigueiro atacado, embora frágeis e mais fracas, sacrificam-se, utilizando os próprios corpos como uma barreira que tenta atrasar o progresso das atacantes para possibilitar às formigas-operárias o tempo necessário ao reparo da estrutura. As formigas-operárias, ao consertarem o dano, prendem as formigas-soldados na parte externa, negando-lhes a possibilidade de sobrevivência. Devemos considerar as formigas-soldados heroínas? Não é justo reconhecer-lhes a valentia?



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