De forma semelhante, na obra clássica Ilíada, Homero descreve o dilema de Heitor, defensor de Tróia, que sai a enfrentar Aquiles, mesmo sabendo-se mais fraco e que provavelmente encontraria a morte, como efetivamente teria ocorrido segundo a narrativa mitológica. Homero reconhece em Heitor o heroísmo, redigindo uma das mais belas páginas da literatura clássica. Uma questão de fundo surge: nunca houve o registro de algo semelhante em honra às formigas-soldados da África. Qual a diferença entre as duas situações?

A diferença é que as formigas lutam e morrem porque têm de fazê-lo de forma irrecorrível. Heitor, por outro lado, enfrentou Aquiles porque quis. Formigas não alteram seus comportamentos, pois encontram-se submetidas a um procedimento instintivo, um imperativo natural que as faz agir assim como que programadas. Heitor poderia criar formas sutis de se esquivar ao dever (não seria mais útil defender a cidade nos muros, abater outros inimigos? Simular uma doença?), mas a verdade é que não o fez. Ele foi ao combate porque assim decidiu, por um ato de vontade.

Nesse ponto da argumentação, o autor chega à discussão de um conceito de liberdade. Animais realizam aquilo a que sua natureza os conduz. De certa forma nós, seres humanos, somos semelhantes: não temos liberdade para beber soda cáustica, nem para nos lançarmos do vigésimo andar de um prédio sem alguma forma de proteção. Respeitamos, também, uma certa “programação” cultural. Tais limitações conduzem a certa previsibilidade em nossos atos.

Enfim, a liberdade deve ser compreendida, pelo menos para os fins deste estudo, segundo duas condicionantes:




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