Vamos ler, juntos, o texto abaixo para ficar bem claro o que é contexto.


Conversa de mãe e filha

— Manhê, eu vou me casar.
— Ah? O que foi? Agora não, Anabela. Não está vendo que eu estou no telefone?
— Por favor, por favoooooor, me faz um lindo vestido de noiva, urgente?
— Pois é, Carol. A Tati disse que comprava e no final mudou de idéia. Foi tudo culpa da...
— Mãe, presta atenção! O noivo já foi escolhido e a mãe dele já está fazendo a roupa. Com gravata e tudo!
— Só um minutinho, Carol. Vestido de... casar?! O que é isso, menina, você só tem dez anos? Alô, Carol?
— Me ouve, mãe! Os meus amigos também já foram convidados! E todos já confirmaram presença.
— Carol, tenho que desligar. Você está louca, Anabela? Vou já telefonar para o seu pai.
— Boa! Diz para ele que depois vai ter a maior festança. Ele precisa providenciar pipoca, bolo de aipim, pé-de-moleque, canjica, curau, milho na brasa, guaraná, quentão e, se puder, churrasco no espeto e cuscuz. E diz para ele não esquecer: quero fogueira e muito rojão pra soltar na hora do: "Sim, eu aceito". Mãe? Mãe? Manhêêê!!! Caiu pra trás!
Vinte minutos depois.
— Acorda, mãe... Desculpa, eu me enganei, a escola vai providenciar os comes e bebes. O papai não vai ter que pagar nada, mãe, acoooooorda. Ô vida! Que noiva sofre, eu já sabia. Mas até noiva de quadrilha?!

BRAS, Tereza Yamashita; BRAS, Luiz. Folha de S.Paulo, 21 maio 2005. Folhinha, p. F8.

O diálogo entre mãe e filha nos mostra que cada uma fez uma contextualização diferente a respeito de uma mesma situação. A mãe contextualizou a fala da filha de acordo com sua experiência de casamento. A filha, por sua vez, havia contextualizado sua fala segundo um modelo de festa junina. Tais contextualizações estão claras nos elementos lingüísticos utilizados (vestido de noiva, noivo, convidados etc.), que usamos para construir sentido baseados no contexto pressuposto pela mãe. No entanto, “desconfiamos” que o sentido é outro a partir da descrição da filha do que deve compor a festa (pipoca, canjica, quentão, fogueira etc). É o nosso conhecimento de mundo que nos diz que esses elementos são comuns a uma festa junina e não a um casamento tradicional.

O texto nos ofereceu pistas para mudarmos o sentido e nos situarmos em um outro contexto. Caracteriza-se, dessa forma, a participação ativa do leitor na construção do sentido, que são decorrentes dos conhecimentos que ele possui. O contexto é, portanto, um conjunto de suposições, baseadas nos saberes dos interlocutores, mobilizadas para a leitura e interpretação de um texto.



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