Além
do discurso direto e do discurso indireto, há, também, o
discurso indireto livre. É resultado da mistura
entre os dois outros discursos. Observe:
Carolina já não sabia o que fazer. Estava desesperada,
com a fome encarrapitada. Que fome! Que faço?
Mas parecia que uma luz existia…
A fala da personagem – em negrito, para que você possa enxergá-la
– não foi destacada no texto original. Cabe ao leitor atento
a sua identificação.
Esse tipo de citação exige muita atenção do
leitor, porque a fala do personagem não é destacada por
aspas, nem introduzida por verbo dicendi, dois pontos ou travessão.
A fala surge de repente, no meio da narração, como se fossem
palavras do narrador. Mas, na verdade, são as palavras do personagem,
que surgem inesperadamente, sem qualquer aviso.
Há dois pressupostos básicos para que aconteça nas
narrativas:
a) narrador em
terceira pessoa;
b) narrador
onisciente.
Veja outros exemplos:
Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça.
Forjara planos. Tolice, quem é do chão não se
trepa. (...)
Entregue aos arranjos da casa, regando os craveiros e as panelas de
losna, descendo ao bebedouro com o pote vazio e regressando com o pote
cheio, deixava os filhos soltos no barreiro, enlameados como porcos. E
eles estavam perguntadores, insuportáveis. Fabiano dava-se
bem com a ignorância. Tinha o direito de saber? Tinha? Não
tinha. (...)
(Vidas
Secas - Graciliano Ramos)
Na condição
de leitores, é de suma importância identificar as falas no
discurso para compreendermos o enredo. Na condição de escritores,
devemos saber utilizar cada discurso conforme o contexto em que estamos
inseridos, não apenas em narrativas, mas também em situações
cotidianas.
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