(Almirante
Otacílio Cunha, ex-presidente do
Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas)
O Brasil
não deve fabricar a bomba atômica.
A bomba
atômica não é elemento efetivo de segurança
nacional. Seu emprego como dissuasório, ainda que discutível,
só vale no plano das duas grandes potências nucleares,
que não são grandes porque têm a bomba atômica,
mas têm a bomba atômica porque são grandes. Nas
mãos de potências menores, a bomba atômica perde
muito desse sentido e representa mais um risco de guerra do que uma
garantia de paz. Sua presença no arsenal de países mal-organizados
e, portanto, sem a infra-estrutura não só militar, como
civil, que dá o sentido pleno de segurança nacional,
é uma tentação perigosa de querer compensar o
desequilíbrio efetivo por uma ação de surpresa.
A bomba atômica adquire nesse caso um sentido de ofensiva. Não
vejo como qualquer razão de segurança nacional poderia
levar o Brasil de hoje a uma aventura cara e ao mesmo tempo inútil.
A bomba
atômica também não é condição
necessária para o desenvolvimento nuclear de um país.
Apesar de certas pessoas - que deviam demonstrar menos ignorância
e mais senso - terem afirmado que o Brasil só entrará
na era atômica quando fabricar a bomba, um país pode
e deve realizar seu desenvolvimento no sentido de tirar da energia
nuclear os inúmeros benefícios que ela pode proporcionar,
sem se empolgar pelo prestígio ilusório e perigoso de
sua capacidade de fazer mal. Trabalhando para utilizar ao máximo
a energia nuclear em atividades pacíficas, conseguiremos com
maior economia e segurança atingir o estágio de desenvolvimento
que nos permitirá, se a tanto formos obrigados, construir a
bomba atômica. Nessa ocasião, o problema não será
mais o desenvolvimento científico, técnico e econômico,
mas simplesmente de ordem moral. E é nesse plano que está
a decisão futura.
Atualmente,
falta muita coisa ao Brasil, além da bomba atômica. Muita
coisa mais simples, mais útil e menos perigosa, que nos pode
ser proporcionada pela energia nuclear. E creio que, mercê de
Deus, falta-lhe principalmente o desejo de acrescentar aos tormentos
da humanidade mais uma fonte de inquietação e desesperança.
(Da
revista Realidade, apud Edson de Oliveira, A redação
no curso secundário.)
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