Na verdade, por que desejamos, quase todos nós,
aumentar nossa renda? À primeira vista, pode parecer que
desejamos bens materiais. Mas, na verdade, os desejamos principalmente
para impressionar o próximo. Quando um homem muda-se para
uma casa maior num bairro melhor, reflete que gente "de mais
classe" visitará sua esposa, e que alguns pobretões
deixarão de freqüentar seu lar. Quando manda o filho
a um bom colégio ou a uma universidade cara, consola-se
das pesadas mensalidades e taxas pensando nas distinções
sociais que tais escolas conferem a pais e filhos. Em toda cidade
grande, seja na América ou na Europa, casas iguaizinhas
a outras são mais caras num bairro que noutro, simplesmente
porque o bairro é mais chique. Uma das nossas paixões
mais potentes é o desejo de ser admirado e respeitado.
No pé em que estão as coisas, a admiração
e o respeito são conferidos aos que parecem ricos. Esta
é a razão principal de as pessoas quererem ser ricas.
Efetivamente, os bens adquiridos pelo dinheiro desempenham papel
secundário. Vejamos, por exemplo, um milionário,
que não consegue distinguir um quadro de outro, mas adquiriu
uma galeria de antigos mestres com auxílio de peritos.
O único prazer que lhe dão os quadros é pensar
que se sabe quanto pagou por eles; pessoalmente, ele gozaria mais,
pelo sentimento, se comprasse cromos de Natal, dos mais piegas,
que, porém, não lhe satisfazem tanto a vaidade.
Tudo
isso pode ser diferente, e o tem sido em muitas sociedades. Em
épocas aristocráticas, os homens eram admirados
pelo nascimento. Em alguns círculos de Paris, os homens
são admirados pelo seu talento artístico ou literário,
por estranho que pareça. Numa universidade teuta é
possível que um homem seja admirado pelo seu saber. Na
Índia, os santos são admirados; na China, os sábios.
O estudo dessas sociedades divergentes demonstra a correção
de nossa análise, pois em todas encontramos grande percentagem
de homens indiferentes ao dinheiro, contanto que tenham o suficiente
para se sustentar; mas que desejam ardentemente a posse dos méritos
pelos quais, no seu meio, se conquista o mérito.
RUSSELL.
Bertrand. Ensaios céticos. 2. ed. São Paulo,
Nacional, 1957. p. 67-8.